foi o que ouvi no dia da Consciência Negra de um gaúcho entrevistado pela CBN. Huuum!
terça-feira, 30 de novembro de 2021
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Parem as máquinas!
sábado, 20 de novembro de 2021
Rodrigueana
...é minha secretária - eufemismo criado pela consciência culpada da classe média para empregada - Lurdinha*. Com as taxas de vacinação assumindo valores que permitem uma maior circulação das pessoas ela voltou a trabalhar duas vezes na semana. Aposentado, fico mais tempo em casa e com isso as possibilidades de trocar uma ideia com ela aumentaram. Ontem ela saiu-se com essa:
- Se eu fosse bonita, trabalharia como prostituta.
Até aí tudo bem, afinal ela é de maior, vacinada e dona do seu nariz. O detalhe é que - pelo menos nas aparências - ela é terrivelmente evangélica. Enquanto trabalha, é comum ouvi-la cantando hinos religiosos. Conheço pouco de Nelson Rodrigues, mas certamente a Lurdinha deve estar retratada em alguma das suas personagens. Se não, certamente poderia ser considerada uma delas.
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Ontem ajudei-a a limpar as estantes da minha biblioteca e caiu-me à mão um dos livros de Nelson: Meu Destino é Pecar. Mostrei-o e sugeri, em tão de blague, sua leitura. Ela olhou-me com um olhar maroto, quase aceitou mas acabou recusando, com o argumento de que não gosta de ler. Depois acabou levando um livro com poucas páginas de Epicuro sobre a felicidade e - pasmem! - outro livro pequeno composto por aforismos do José Maria Escrivá, fundador da Opus Dei, que tinha ganho de um amigo meu, militante da causa. Não é tudo muito rodrigueano?
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* Nome fictício.
Milicianos da linguagem.
Em 1976, Cacá Diegues denunciou as patrulhas ideológicas, rebatendo as criticas endereçadas por certos setores puristas da esquerda a seu filme Xica da Silva.
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Hoje há patrulhas - milícias, termo mais apropriado para nossos tempos - ativas, para todos os gostos. Vou ficar com a que se dedica à linguagem. Os ativistas de raça e gênero em especial, estão extremamente atentos à carga histórica associada ao vocabulário que utilizamos.
São muitas as palavras incluídas no index carga histórica pesada. Cuidado, por exemplo, com o uso de palavras como judiar e mulato. Melhor não empregá-las em ambientes progressistas pois certamente o carimbo de antissemita ou racista será colocado na sua testa. Não conta a intencionalidade. Passa pela tua cabeça que Zeca Pagodinho seja antissemita por ter escrito o samba Judia de Mim? Ou que Martinho da Vila que cantava o refrão salve a mulatada brasileira na década de 70 seja racista?
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É muito excesso de zelo, beligerância barata, considerar ofensivo o uso de palavras como mulato e judiar, e a partir daí, carimbar pessoas pelo fato de as terem utilizado na maior parte das vezes por desconhecimento, distração ou sem segundas intenções. O caráter ofensivo de uma palavra depende muito do contexto em que é usada e da intenção da pessoa que a usa. A turma do barulho, entretanto, advoga que basta sentir-se ofendido para estar com a razão. No que me toca, é fácil perceber quando alguém me chama de velho se o faz com afeto ou maldade. O patrulheiro - ops! miliciano - não quer saber, passa a régua. E como os fins justificam os meios, considere-se um felizardo, se além disso você não acabar sendo alvo de cancelamento ou lacração.
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Seria a linguagem um palco para lutas políticas como escreve Sergio Rodrigues no seu artigo para a Ilustríssima de 28.11? Fico com a opinião - um pouco encima do muro! - do linguista John McWorther, por ele citado, de que a linguagem não molda o pensamento da maneira como se supõe, mas que palavras podem empurrar idéias para certas direções. O exemplo que ele propõe, considero bem razoável: ao invés de usar escravo - substantivo que denota condição essencial - mais adequado seria o uso de escravizado - adjetivo que denota contingência.
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É mais um capítulo da guerra cultural que a esquerda deflagrou na segunda metade do século passado, que está tendo a resposta da direita neste século. Não sou otimista quanto ao seu desfecho.
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Fico aqui pensando se terei que abolir do meu vocabulário palavras como denegrir e esclarecer. Elas ainda não foram incluidas no index, mas estão fazendo força para tal.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
Por que a LavaJato incomoda?
Aprendi com a vida e com os livros de que este é um país para poucos. Os donos do poder - tomo emprestada as palavras do título do livro de Raimundo Faoro, indispensável para entender o Brasil - são um Country Club seletíssimo, composto pelos donos do dinheiro no campo ou cidade, pelo mundo político, dobradinha que se legitima através de um tertius - nosso mundo jurídico que mata no peito o arcabouço legal, manipulando-o de acordo com as conveniências dos outros membros do clube. É o trio de maiorais que diz para que lado o vento sopra em Pindorama.
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A assim chamada LavaJato foi talvez a primeira iniciativa que tentou desestabilizar esse clube de bacanas que nos garroteia desde sempre. Ousou colocar em cana, grandes empresários, banqueiros e políticos; investigava representantes do Judiciário quando sobreveio a reação. Desafortunadamente, naufragou pelos próprios erros e pela reação do trio que se sentindo ameaçado existencialmente - na feliz expressão do cientista político Luciano Da Ros na sua entrevista para a Folha em 8/11 - abriu artilharia pesada contra a operação. Interessante notar que um dos aríetes do contra-ataque à operação foi o PT. Em seus governos a força-tarefa foi criada com a intenção de pegar os outros, mas o feitiço acabou virando contra o feiticeiro e o próprio Lula acabou na cadeia. Em resposta, o partido dos fracos e oprimidos juntou-se ao status quo na tarefa de destruí-la.
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Os erros imputados à operação por seus críticos no mundo jurídico referem-se em boa parte à forma como os processos foram conduzidos. O rito na jurisprudência - não sei se apenas na nossa! - é tão importante quanto o conteúdo. Estranho mundo esse, em que forma e conteúdo equivalem-se e pior, a inobservância de algum rito pode levar a anulação do conteúdo, isto é, das provas, e ao encerramento do processo.
Se o conteúdo é irrefutável, busque uma inconformidade nos ritos! Vale lembrar que tentou-se anular um processo - não sei se conseguiram - de um dos envolvidos com o Petrolão, porque testemunhas de defesa foram ouvidas em sequência considerada incorreta daquelas de acusação.
Caso os estratagemas não se revelem efetivos na primeira instância, há a possibilidade de recorrer para a segunda, a terceira.... ao STF! Os anos vão se passando - nossa Justiça anda a passos de cágado - e o crime prescreve. Basta ter dinheiro e boas relações. Prá poucos!
É o ordenamento jurídico garantindo a impunidade para os poderosos. Foi o que aconteceu com boa parte dos acusados no Petrolão, Lula incluído. É o que está acontecendo agora com Flávio Bolsonaro. Julgamento do processo em foro inadequado foi um dos motivos que levaram à anulação dos processos. Os mal-feitos do Petrolão e das rachadinhas brilham mais do que a luz do sol mas seus autores circulam leves, livres e soltos. Eduardo Cunha está dando seus pulinhos por aí; lançou livro, com direito a noite de autógrafos; li, não lembro onde, que planeja retornar à política como deputado por São Paulo. É mole?
Erros processuais levaram a esse desfecho, segundo os scholars do mundo jurídico. Os ritos, sempre eles! Os fatos? Danem-se os fatos!
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Neste mês, a decisão de alguns dos integrantes da operação entrar para a política desencadeou pesado fogo de artilharia dos bacanas - status quo de 500 anos + esquerda - e dos seus representantes na imprensa. Alguns exemplos:
O ex-juiz Moro foi acusado de ter fragilizado a Petrobras e responsabilizado pela atual política de preços da empresa por - ora, pois! - Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
Mathias Alencastro em sua coluna no UOL de 14.11 colocou Moro e Bolsonaro no mesma quadratura; ambos pertencem ao polo conservador e tem desprezo pelas normas republicanas.
Bernardo Mello Franco em O Globo classificou sua candidatura como segunda via do bolsonarismo.
Na Folha de 18.11, Maria Herminia Tavares chama o ex-juiz de Sergio Quadros de Mello, comparando-o a Janio Quadros e Fernando Collor.
A charge da Folha de 18.11 sintetiza a opinião dos dois colunistas:
sábado, 6 de novembro de 2021
Vivo em uma bolha?
É o sentimento que me invade depois da repercussão nas redes de notícias da TV da morte em acidente aviatório da cantora Marília Mendonça. Ocuparam-se o dia todo com o fato. A Globo cancelou seu programa de grande audiência no sábado para transmitir os funerais. A sensação é de que o país havia parado. A julgar pelo destaque dado pela midia, talvez tenha mesmo!
Nada conhecia a seu respeito. Mais informado agora, sei que era cantora sertaneja, rainha da sofrência, ícone do feminejo, e que teve uma live na pandemia que bateu o recorde de assistência no mundo: 3,3 milhões de pessoas simultaneamente. Caramba...e eu totalmente por fora.
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Também tive essa sensação meses atrás, quando faleceu o ator Paulo Gustavo vitimado pela COVID. Foi comoção parecida, embora mais restrita ao Rio de Janeiro. Só faltaram canonizá-lo... O fato de ter constituido uma família gay, adotado duas crianças, ajudou a midia a magnificar ainda mais os fatos. Em Niterói, onde nasceu, uma das principais ruas da cidade passou a se chamar Paulo Gustavo.
Mal o conhecia de uma peça publicitária que fazia para o Banco do Brasil.
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Fico a me perguntar se vivo em uma bolha, mal-informado e desconectado dos acontecimentos ou se o mundo tribalizou-se de tal maneira que se tornou um conjunto de bolhas com raros vasos comunicantes entre elas.
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Nelson Rodrigues, classificava-se como um homem inatual; penso queria referir-se à visão conservadora que tinha do mundo. Queria apropriar-me do termo para definir minha condição de alheamento com o fluxo dos acontecimentos, ou pelo menos com o que a midia consumida pelos bem-pensantes considera como tal. Vivo ainda estou, mas sinto que não me banho no rio da vida.
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Septuagenário (III)
MORRER... DORMIR...
Morrer... dormir... não mais! Termina a vida,
E com ela terminam nossas dores;
Um punhado de terra, algumas flores,
E, às vezes, uma lágrima fingida!
Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
- Algozes vis de uma alma consumida.
Tudo é podre no mundo! Que me importa
Que ele amanhã se esb’roe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!
É tempo já que o meu exílio acabe...
Vem, pois, ó Morte, ao nada me transporta...
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?
Francisco Otaviano
Septuagenário (II)
TESTAMENTO
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros – perdi-os...
Tive amores – esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezai: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino.
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Cia. José Aguilar, 1967, p.308-309.
terça-feira, 2 de novembro de 2021
Devastadora...
é a paisagem nas ruas de Copacabana.
Mendigos aboletam-se sob as marquises da N. Sra. de Copacabana, da Barata Ribeiro e transversais num espetáculo de arrebentar o coração. Há de tudo... famílias inteiras e pior!, jovens mães com crianças de colo, jovens e é claro, muitos idosos... Não faltam cachorros, talvez as criaturas com os olhos menos desanuviados em todo esse cenário de miséria.
Dói-me a consciência diante de tanto desamparo. Classe média que sou e privilegiado neste país tão desigual, sinto que terei que tomar alguma atitude, abandonar a inércia... colocar a mão na massa. Um trabalho voluntário? Colocar-me a serviço de alguma obra social...Não sei...Nada fazer é uma insensibilidade que desautoriza qualquer critica que porventura desejarmos desferir contra a situação social do país. Gostemos ou não, somos parte do problema.
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
Intolerância em dois tempos.
Manifestar desacordo com uma tira de quadrinhos, agora é crime? Quando o tema é identidade de gênero ou raça, parece que é. Que o diga o criminoso Mauricio Souza, jogador de vôlei do Minas Tênis Clube e da seleção brasileira. As redes sociais e os progressistas da midia não deixaram barato a contrariedade manifesta por ele com o fato do filho do Superman ter sido caracterizado como bissexual. Foi acusado de homofóbico e homofobia é crime! Sair dos cânones do discurso dominante sobre o assunto, custa caro. Maurício já provou do veneno: perdeu seu emprego.
Inicialmente - dada a pressão! - parecia que iria recuar, mas felizmente manteve a posição. Opinião não é crime. Se não traçarmos uma linha para além da qual não podemos transigir, logo, teremos um codex para o que poderemos dizer ou não em termos de raça e gênero. Nos tempos da ditadura a imprensa também tinha um código para o que poderia escrever em termos de política. Definitivamente não há nada de novo debaixo do céu. Ora é a direita, ora é a esquerda....E elas se criticam ferozmente.
A estátua de George Washington, foi retirada da sala das assembléias da Câmara Municipal de Nova Iorque a pedido de vereadores latinos e negros, pois ele chegou a possuir cerca de 600 escravos. Será transferida para outro lugar. Pelo menos não teve o destino de outras que foram simplesmente derrubadas ou então foram vandalizadas. Já aconteceu por aqui com estátuas de bandeirantes.
... e tudo bem. Desde que esses caras que julgam com critérios do presente o que aconteceu no passado, aceitem o fato de serem julgados no futuro pelos mesmos critérios. As estátuas que erguerem no presente provavelmente virão abaixo também. Afinal... não é tudo relativo?