Um país torto!
Brasileiro tem uma péssima relação com o que é público. Vai aí uma palhinha do que o Roberto da Matta, escreveu em O Globo (11.04.2011) (o negrito é meu):
Alguns dos nossos políticos têm dupla personalidade, mas, como eu tentei mostrar em Carnavais, Malandros e Heróis, o Brasil tem uma duplicidade de raíz. Ele é feito de leis universais (válidas para todos), mas, tal o barqueiro napolitano de Max Weber, nós não podemos cobrar dos parentes, cobramos menos dos amigos, cobramos demasiado dos desconhecidos, e cobramos estupidamente (com a devida comissão para pessoas e partido) quando o passageiro é o governo.
Dois pesos e medidas levados ao extremo acabam em despotismo ( os nossos fazem apenas malfeitos e são blindados);destituem de ética e impessoalidade do que é público. Até hoje não admitimos que um homem público simplesmente não tem vida privada porque ele não é gerente de coisas sem dono; é - isso sim - um administrador do que pertence a coletividade.
É falsa essa apropriação do público pelo privado porque os eleitos não são donos de coisa alguma; são simplesmente responsáveis pelo que é de todos. O problema é que vemos como anomalias um traço de um Brasil que até hoje não quer saber se é um país de família, um clube de compadres e amigos - ou um sistema de instituições públicas.
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É impossível deter Cachoeiras de desejos, sobretudo quando são proibidos por lei, mas aceitos placidamente pelos costumes da terra, como a amizade e a malandragem. Essas coisas que viciam, como disse um deputado mineiro que construiu um castelo feudal. E, mais do que isso, a certeza de que o governo tem muito mais do que pode administrar. Sobretudo quando se sabe que aquilo que é de todos (ainda) não é de ninguém. Como prender bandidos num país onde mentir em causa própria é um princípio constitutivo do sistema legal?
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