As cidades
domingo, 31 de dezembro de 2023
O desafio da montanha (VI)
o desafio da montanha (V)
Pelas estradas dos Caminhos
o desafio da montanha (IV)
As muralhas de pedra
O desafio da montanha (III)
...como eram íngremes as subidas e descidas de cada dia.
Morro acima...
Uma vida decente.
J.P. Coutinho na sua crônica semanal para a Folha (23.11.23) sugere alguns compromissos éticos que definiriam um padrão de decência para nossos vidas. Foram legados pelo cristianismo e moldaram a civilização ocidental. independente do fato de sermos de esquerda ou de direita, crentes, agnósticos ou ateus.
- Compaixão pelos mais fracos;
- Capacidade de perdão;
- Responsabilidade moral por seus atos;
- Respeito pela dignidade de todo o ser humano.
Assino embaixo. Creio que não faço feio em três quesitos, mas enfrento dificuldades especiais com o segundo. Perdoar é um bocado difícil prá mim.
2023 ficando na poeira...
A passagem de ano é sempre uma oportunidade para pensar no tempo. Quem é afinal essa entidade? Ele tem existência física como queria o poeta Drummond quando falava em fatiar o tempo ou não passa de uma intuição pura a priori, uma grandeza infinita que a tudo abrange à semelhança do espaço, como o classificou Kant. Passamos por ele ou ele passa por nós?
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...mas deixemos de lado poesia e filosofia. O fato é que :
O tempo passa,
O tempo voa,
e a vida continua numa boa!
como cantava-se num versinho de uma campanha publicitária que fez muito sucesso no passado. Como passa e voa rápido, digo eu no alto - ou seria baixo? - dos meus 72 anos. As impressões fortes do ano construiram-se a partir dela.
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Como morreram contemporâneos, tanto pessoas do bairro, como vizinhos e também aquelas pessoas públicas que compuseram o caldo de cultura da minha geração. Lembro apenas um nome dada sua importância para nós brasileiros: Pelé. Parafraseando Maysa devo admitir que meu mundo está a cair.
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A ano trouxe-me o convencimento - já era hora! - de que arroubos juvenis, planos utópicos, decisões do tipo - apostar contra a banca... navegar contra a corrente... - tanto no plano dos relacionamentos pessoais, quanto institucionais trazem mais sofrimento do que satisfação. Um projeto de vida só terá consistência se fundamentado no que a vida é e não no que deveria ser.
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.... não é bem o que um velho deveria estar dizendo!
Mais uma vez estou remando rio acima... desafiando o coro dos contentes... Sou incorrigível, mesmo!
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O ano revelou-me também o quanto Millor Fernandes estava acertado ao escrever: - Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem. Haja fraternidade cristã prá aturar as idiossincrisias daqueles que nos são próximos! É o surplus que deve ser acrescentado àqueles quatro ítens indispensáveis para se ter uma vida decente citados em post anterior.
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Além do sentimento de perda e das dolorosas constatações, há o sentimento de satisfação por uma meta buscada desde o final da pandemia e alcançada quase ao final do ano:completar o Caminho da Fé, solito no más, com uma mochila de 6,5kg nas costas no seu trecho canônico: Águas da Prata/Aparecida. Foi uma longa preparação, várias desistências em função de limitações físicas impostas pela idade, mas finalmente o caminho foi completado. Arrumei duas hérnias inguinais somando preparativos e a própria aventura e devo submeter-me a uma cirurgia em janeiro para os devidos reparos. Mas valeu a pena...
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E viver continua valendo a pena? Sei lá... vamos caminhando. Sou expert em resiliência.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
O desafio da montanha (II)
... tornou-se realidade. Com muito suor, algum sangue e nenhuma lágrima.
Foi a grande realização pessoal do ano. Projeto acalentado desde a aposentadoria e postergado devido a uma série de problemas: pandemia, impedimentos físicos e até climáticos. Inicialmente seria o Caminho de Santiago, depois surgiu a idéia do Caminho da Fé como um laboratório - na realidade ele é muito mais, dado seu maior grau de dificuldade.
Fi-lo por motivos religiosos em parte, mas acima de tudo com o intuito de testar meus limites físicos, mentais e anímicos. Afinal...sou um velhinho; navego por 72 anos nesta vida.
Mais do que um exercício físico, é um exercício mental pois há uma Serra para cada dia exceto o último, com trechos que incluiam subidas e descidas íngremes em cada uma delas. Era necessário dosar a energia com parcimônia para não correr o risco de acabar estourado e ser obrigado a abandonar o caminho. Foi o que ocorreu na minha primeira tentativa em julho, quando desisti no 2o dia com uma torção no pé esquerdo provocada pelos excessos físicos e equívocos mentais.
O fato é que depois de muitas idas e vindas - literalmente - atingi meu objetivo. Alcancei Aparecida-SP partindo de Águas da Prata-SP (caminho-raíz), depois de 14 dias, que poderiam ter sido 13, caso não tivesse parado um dia para uma visita a uma vinícola em Andradas. Foram quase 300km por estradas não-asfaltadas (85/90% de um percurso com gráu de dificuldade média/alta), caminhando sozinho com uma mochila que começava a jornada pesando 6,5 kg e a terminava com peso de 5,0kg. Saia no raiar do dia e parava no máximo por volta das 13:00h. Com exceção dos dias iniciais, enfrentei altas temperaturas, particularmente nos dois dias finais e nenhuma chuva, fato inusitado para a época.
Foram muitos litros de suor, algum sangue - no último dia fui acometido de rabdomiólise (informação do meu médico), uma síndrome provocada pelo esforço físico extremo que provoca o rompimento das fibras musculares e as joga na urina, dando-lhe um aspecto de sangue - e nenhuma lágrima. O forte calor do dia final desgastou-me brutalmente; estive a ponto de desfalecer quando recebi meu certificado de participação no Santuário.
....e nenhuma bolha no pé; tampouco o joelho esquerdo incomodou. Era uma preocupação pois optei por fazer o Caminho sem os bastões de caminhada.
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Perrengues? Eles não poderiam estar ausentes em 14 dias de caminhada.
...como um ataque de cachorros. Foi no trecho Andradas/Barra, quando dois deles surgiram de um cafezal. Não fosse a intervenção do dono que apareceu logo após, teria encontrado dificuldades para deles me livrar. Um bastão de caminhada teria sido útil para afastá-los, mas como tinha optado por não levar...
...ou um esquecimento, tão familiar nesta fase da vida. Deixei meu celular na capela da Nha Chica no trecho entre Inconfidentes e Borda da Mata. Dei-me conta da sua falta depois de ter caminhado 1,5km, com uma subida íngreme na parte final. Retornei meio desesperado,. Para minha sorte, ele ainda estava lá. Eram as primeiras horas da manhã e pouca gente ou ninguém deviam ter passado pela capela. Além da preocupação, custaram 3kms de caminhada.
Mais para o inusitado e contando com a ajuda da sorte, foi o que aconteceu na descida da Porteira do Céu quando saí do caminho. Ao dar-me conta, depois de caminhar 2/3 km, busquei informação mas não encontrei ninguém em todas as casas próximas. Estava um desalento só uma vez que teria que retornar por um trecho íngreme de subida. Eis que do nada surge na estrada um carro preto, - acho que um velho Chevette - dirigido por uma senhorinha - Graça ou Rosa não lembro - que retornava de uma cidade próxima para a fazenda/sítio em que morava e que estava localizada junto ao Caminho. Ela me deu uma carona e - voilà! - eu reencontrava o rumo. Sorte ou milagre? Sou cético demais para acreditar em milagres, mas muitas pessoas para quem contei o episódio, disseram que estava diante de um deles. Graça ou Rosa, pediu orações para quando chegasse ao Santuário. Foi atendida. Era o agradecimento possível.
Outra ajuda fundamental aconteceu no trecho entre Consolação e Paraisópolis. Desta vez uma moça bonita que dirigia um carro de apoio de um pessoal de bike cedeu-me gentilmente um litro de água; graças a ele livrei-me de maus momentos ao enfrentar trechos íngremes de subida que não haviam sido previstos, naquela hora de dia e com aquele calor. O apoio no trecho era precário e aquele litro de água que relutei em aceitar no início, revelou-se salvador.
O fato hilário deu-se no último dia na Rodoviária de Aparecida - SP enquanto aguardava o ônibus para retornar ao Rio. Ficou por conta de um meio-bebum que ao se deparar comigo vestido com a indumentária do caminho (ver nas fotos abaixo) chamou-me de Indiana Jones. Corolário perfeito para o final da aventura!
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Foi uma experiência incrível, como muitos relatam? Provocou uma mudança radical na minha vida? Não. Pelo menos até o momento. Aprendi com o caminho a ser paciente com as dificuldades que iam surgindo a cada dia da jornada e a trabalhar com um grau baixo de expectativa para não ser surpreendido pelo imprevisível, quando ocorresse.
Os 14 dias de caminhada também desmentiram aquela frase feita de que um projeto é construido paciente e linearmente como o colocar dos tijolos para erguer uma edificação. No caminho, para cada subida havia uma descida. Colocava-se os tijolos para em seguida retirá-los diariamente. Tem muito mais a ver com o mito de Sísifo dos velhos gregos que sabiam muito mais das coisas do que os (pós)-modernos coachers espirituais. Por se achar mais esperto que os deuses, Sísifo foi condenado a carregar eternamente uma pedra até o alto de uma montanha do Hades, que deixada no topo era de lá rolada para baixo.
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Projetos para o futuro?
Em princípio, percorrer a pé a Estrada Real no trecho Ouro Preto/Paratí em abril/maio e para setembro/outubro, o roteiro principal do Caminho de Santiago. Conseguirei?
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Selecionei uma série de fotos para ilustrar a aventura. Dado seu número elevado as distribuirei por várias postagens. Nesta coloco as que marcaram o início e o fim da caminhada.
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
...e todos estão a se ir!
Foi-se o dono da barraca de jornais da esquina da Barata Ribeiro com a Praça Cardeal Arcoverde. Tricolor de coração partiu antes de ver seu Fluminense disputar o título mundial interclubes. Foi-se a portuguesa falante, dona da sapataria da Inhangá, que não largava do balcão um momento sequer. Em questão de meses, foi-se o casal que morava no apartamento acima do meu; ela uma fumante despudorada que ia à janela e fazia do meu apartamento seu cinzeiro. Com um viés de humor negro...a última foi uma partida que de alguma maneira trouxe-me algum ganho.
Com tantas perdas, cresce a sensação de finitude e de que a hora se aproxima.
A Marca da Maldade/ Movidos pelo Ódio
São títulos traduzidos para o português de dois filmes de grandes diretores do passado: Touch of Evil de Orson Welles, e The Arrangement de Elia Kazan. Definem bem o atual capítulo do conflito palestino-israelense. Difícil simpatizar com a causa de qualquer um deles depois do que o Hamas perpetrou em 7 de outubro e da destruição e morte de civis (crianças em particular) que a retaliação israelense tem provocado em Gaza. A cena apocalíptica da foto abaixo traça o contorno real da tragédia.
sábado, 21 de outubro de 2023
"Brasilianices"
Passam os anos mas nós não perdemos o cacoete. Nos achamos. Dois exemplos recentes.
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A propalada saída dos 26 brasileiros da Faixa de Gaza, com avião da FAB de stand-by e cantada em prosa e verso pela imprensa desde os dias iniciais do conflito não deve acontecer tão cedo. Se para negociar a entrada de 20 caminhões com víveres e remédios - devem ser necessários dez vezes mais, pelo que noticia a imprensa - foi necessária a mão pesada dos Estados Unidos e negociações de vários dias, porque 26 pessoas de um país bem distante e com pouca influência política na área iriam sair antes? Por vários dias lia-se e ouvia-se na imprensa que a liberação era iminente. Não aconteceu e temo não acontecerá tão cedo.
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Vinicius Jr. é tido e havido como um dos melhores jogadores de futebol do mundo... pela nossa imprensa, é claro! Dias atrás saiu a lista dos 10 indicados para o The Best - o outro é o Bola de Ouro - e ele não constava. O chororô foi geral, mas devo concordar que os números do seu desempenho são bem superiores ao de vários indicados. Eu também o incluiria na lista.
Seria preciso conhecer os critérios utilizados porque sabe-se quem escolhe : um board de ex-jogadores de diversos continentes; havia brasileiro e argentino representando o nosso continente. Logo, bairrismo não deve ser a causa. Ou será que bairristas seriam as análises dos nossos comentaristas esportivos ?
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Mesmo com toda a reversão de expectativas provocada por fatos e dados da década passada continuamos pensando que somos primus inter pares e o povo abençoado por Deus - os judeus, que me perdoem!.
quarta-feira, 18 de outubro de 2023
Vai uma "ppk" aí?
E não é que a Daiane Tomazoni - mora em Curitiba, nomeada recentemente a capital da direita brasileira. É ou não, uma ironia? - resolveu comerciar uma réplica da própria ppk com a vantagem de permitir seu uso. Tudo por módicos R$ 499,00. Veja a singeleza das palavras da moça ao comentar o fato no Instagram:
Isso me deixa feliz em poder gerar uma interação ainda mais próxima de você, meu seguidor.(sic)
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Tá legal... tá tudo bem... mas eu fico me perguntando o que leva um ser humano a tamanha exposição? Aliás, a matéria do UOL publica que a musa do OnlyFans - o que é isso? - já publicou cenas explícitas de sexo que fez com um tenente-coronel do Exército. Nada mais natural para quem na Copa de 2022 no Catar, publicava uma foto nua a cada gol da seleção brasileira.
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Parafraseando Pablo Neruda devo dizer do alto dos meus recém-comemorados 72 anos:
- Confesso que viví... para assistir tamanha bizarrice.
E me pergunto:
- O que será que as curitibanas nos reservam para o futuro próximo?
sábado, 14 de outubro de 2023
"Upgrade" prá motor 7.2
Foi um aniversário prosaico, ao estilo de vida que levo. De manhã uma caminhada solitária de 26km pelas belezas que o Rio tem de sobra (fotos abaixo), com uma mochila de 6kg nas costas, preparando-me para os Caminhos da Fé, caminhada abortada uma série de vezes pelos motivos os mais variados e que dá a impressão de que nunca sairá. Depois o almoço com um velho companheiro de andanças - figuradamente - pelos caminhos da vida. E foi tudo!
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A mensagem mais original que recebi foi a de um irmão meu. Adequada para os anos que vivo e ao estilo de vida que levo. Deixo-a aqui:
- Carlinhos! Motor 7.2 exige combustível especial: Romanée-Conti!
Oxalá um dia eu beba uma taça! Sei não se mereço... Romanée-Conti é para motores Ferrari, Mercedes, BMW. O meu não é assim top.
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E, atrasadinha... - prá variar! - a sobrinha mandou-me uma foto de alguns anos atrás, que me emocionou à beça só de ver aquela velhinha feliz da vida, lá no final da fila. Em primeiro plano, meu sobrinho vestindo o manto sagrado do time do coração que tem sido ávaro em me dar alegrias ultimamente.
segunda-feira, 2 de outubro de 2023
É "gourmet" prá todo o lado...
Dissonâncias trágicas da vida
Das minhas vadias leituras.
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O intelecto humano é impotente contra a vida pulsional.
S. Freud
Só os ingênuos acreditam que as relações humanas, sentimentais e conjugais são arenas de igualdade.
J. Pereira Coutinho
De uma madeira tão retorcida da qual o homem é feito, nada pode se fazer de reto
I. Kant
sábado, 30 de setembro de 2023
Da Assessora Especial do Ministério da Igualdade Racial