terça-feira, 20 de maio de 2025

Periferias existenciais

Termo contundente usado pelo papa Francisco para referir-se ao caldo de cultura  que impera nos nossos dias, particularmente entre boa parte dos bacanas - nossas elites intelectuais, econômicas e sociais. Ser considerado periferia dever ser afrontoso prá esse pessoal - um esculacho prá usar um termo em voga.  Leão XIV na homilia da sua primeira missa como papa aos cardeais do conclave assim as definiu: 

Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer. São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena.

O velho e bom Aristóteles no lixo.

 

A virtude não está mais no meio, mas em um dos extremos, o nosso. A moderação não é mérito, mas demonstração de fraqueza, covardia e indulgência. No radicalismo, habitam a autenticidade, a pureza de convicções e a generosidade. Na moderação, fazem morada a hipocrisia, a corrupção (pois se transige com o mal) e os nocivos interesses ocultos e negados. Quem pede para baixar as armas é, evidentemente, colaboracionista.

Wilson Gomes , Folha (07.07.22) 

Pau que dá em Chico, dá em Francisco.

 ...pode até ser aplicado aos portugueses, criadores do ditado , mas não para seus descendentes do lado de cá do Atlântico. Por aqui, igualdade só no discurso e nos manuais. A começar pela Justiça, onde os rigores da lei ficam confinados aos despossuidos de qualquer influência nos andares superiores da nossa sociedade. A turma do andar de cima - endinheirados, aqueles bem relacionados e próximos aos Poderes da República - invariavelmente conseguem dela  se evadir. O fracasso - pelo menos jurídico - da operação LavaJato mostra com eloquência que ricos e poderosos continuam impunes. 

As batatas aqui pertencem aos vencedores como já vaticinara Quincas Borba, personagem machadiano. À Pasárgada de Drummond, só tem acesso os amigos do rei, aqueles que circundam o poder feito as mariposas em torno da luz. Roberto da Matta, um estudioso da nossa incapacidade em lidar com a  impessoalidade da lei,  descreve algumas dessas figurinhas carimbadas em seu artigo semanal  para O Globo.