sábado, 25 de agosto de 2012

O vício exportado.


George Bush Intercontinental Airport (Houston, Tx).
 (huumm....) Intercontinental ? Será que o texano tem a mania de grandeza feita a do brasileiro?
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Aguardava minha vez,  atrás da linha amarela que mantém a fila  afastada do guichê, para ser chamado pelas atendentes responsáveis pelo embarque do vôo UA129 (Houston-Rio).  Devolveria, como é de praxe, meu documento de permanência nos States.
De repente... surge do nada um grupo buliçoso, alegre... adivinhem de quem? Sim...eles mesmo... brasileiros! (afinal, alegria não é com a gente mesmo?) Instalaram-se  sem cerimônia  no espaço entre a faixa amarela e o guichê (afinal não somos informais?)  e... ao chamado das funcionárias se apresentaram para o atendimento. Passaram  na minha cara sua esperteza.
Perdera outra vez. Fora furado na fila... no exterior!...  e por quem?
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Será que nossa inventividade estará exportando essa instituição nacional de desrespeito à fila? Seria, sem dúvida, mais uma valiosa contribuição verde-amarela aos habitantes desse planeta. Enfim, não fomos na última década, alçados ao papel de protagonistas no cenário internacional?
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...mas estamos melhorando! Já conseguimos manter certa disciplina e respeitar os grupos de embarque. Apesar de uma funcionária ainda ter sido obrigada a berrar para manter alguns apressadinhos (ou seriam malandros?)  no lugar, pois tentavam entrar logo após os vips.
 Lembro-me de que, quando a medida foi instituida, ela não era respeitada nos vôos de volta ao Brasil. Formava-se uma aglomeração na porta de embarque que impedia qualquer organização de grupos (lembrava-me  uma manada tentando pular a cerca...) E os mais espertos, se acotovelavam na frente tentando se dar bem...
 Será que um dia a gente chegaremos lá?

Coda

A propósito o Roberto da Matta ( O Globo, 8.8.2012) tem uma teoria interessante para explicar essa nossa incapacidade atávica de lidar com a igualdade:
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Digo semirrepública porque a expressão reitera o que, em 1979, no livro Carnaval, malandros e heróis, eu chamei de dilema brasileiro. A oscilação de uma nação que quer igualdade perante a lei, mas na qual o Estado jamais deixou de isentar alguns de seus cargos de responsabilidade pública, abandonando para a sociedade o papel de burro de carga de um sofisticado drama no qual ela sempre desempenhou um papel subordinado.
Quando passamos do Império para a República, continuamos hierárquicos e aristocráticos, mas até um certo ponto; e já republicanos adotamos a igualdade, mas com uma tonelada de sal, inventando todas as excepcionalidades que impedem a punição dos poderosos e condenam os subordinados ao castigo.
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Temos não muitas formas de igualdade e diversos estilos de aristocratizar. Nosso maior problema não é a desigualdade; é, isso sim, a nossa mais cabal alergia e repulsa à igualdade! Quando sabemos quem é o dono, ficamos tranquilos, mas quando todos são nivelados e postos em julgamento, entramos em crise. Em toda a situação reinventamos a hierarquia, mostrando quem é inferior. Nas tão odiadas (e igualitárias!) filas, isso é mais que patente. No trânsito uma igualdade estrutural é, infelizmente, como digo em Fé em Deus e pé na tábua, e o resultado é esse escândalo de acidentes e imprudências, todos capitulados na mestiçagem das leis que igualam de um lado para excepcionalizar de outro.
Não foi fácil nesse Brasil de Pedros (de Avis e Bragança), criar um padrão de troca único, nivelador e confiável, e, por isso, as nossas doutrinas políticas mais chiques até hoje odeiam o mercado e a sua igualdade competitiva que implica em meritocracia.

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