Fala-se muito das relações profundas entre o bolsonarismo e os milicianos do Rio, Acredito que elas existam. Inclusive tem virtudes em comum: a truculência, a boçalidade e até a agressão física... Entretanto, pouco se fala da atitude miliciana em outro grau, de grupos identitários identificados com a esquerda e autoproclamados progressistas, muitos deles abrigados em coletivos, onde campeia solta a intolerância, o discurso fragmentário e até a violência física - em número bem menor do que a deflagrada pelas milícias bolsonaristas. A imprensa faz uma cobertura amigável desse pessoal porque se identifica com muitas das suas idéias; abriga - inclusive - muitos colunistas simpáticos à causa.
Há poucos dias li a blogueira Nina Lemos na UOL (06/12/2019) afirmar que o barraco digital entre a Joyce Hasselman e a Carla Zambelli onde a baixaria comeu solta, reproduzia o machismo mais básico aprendido quando elas eram crianças. Francamente, só convertidos para acreditar em análise tão distorcida.
Na mesma época a Folha publicava uma notícia - que não consigo recuperar - a respeito de um bar paulistano cujas proprietárias eram simpatizantes das políticas identitárias - não lembro se pertenciam a um desses grupos minoritários estridentes - que declararam haver homens que frequentavam seu bar mas que elas preferiam que eles não aparecessem por lá. Imagina se algum dono de bar branco, hétero, declarasse que o pessoal LBGTQ+ não seria bem vindo em um dos seus estabelecimentos... o mundo cairia na sua cabeça! Como a declaração partiu de um reduto "progressista", qual o problema afinal? Ousa criticar, para ver o tamanho do rebote!
A complacência para esse tipo de comportamento é tamanha e a liberdade para achincalhar e ofender é tanta que até um Antônio Risério que jamais poderia ser confundido com um bolsonarista escreveu para a Folha classificando o discurso do lugar da fala como um fascismo identitário. Não é preciso dizer que o gato subiu no telhado. Afinal, essa turma é cheia de certezas, não admite contestação e parte para a briga. Não lembram o bolsonarismo mais radical?
Risério, fecho com você.
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.... e por falar em lugar da fala, leio um artigo assinado por Yara Frasteschi - livre docente em filosofia pela Unicamp - em resposta a Jorge Coli que escreveu na Folha de 30/06/2019 que o único lugar da fala admissível quando se trata de conhecimento e reflexão é o da universalidade racional. Ela rebate que racionalidade universal tem se prestado como argumento de autoridade e manutenção do poder epistemológico; de que não reconhecer que o sujeito do conhecimento assim como o sujeito moral e político estão situados no tempo e no espaço, de que tem corpo histórico, cultura, experiência e afetos é resultado de uma demanda moderna por neutralidade, legitimidade e universalidade e que esse sujeito abstrato é na verdade masculino, branco e proprietário.
E rebatendo à frase de que o lugar da fala se presta para calar a boca dos que estão em desacordo ela cita Grada Kilomba (Memórias da Plantação - Ed. Cobogó) para quem a boca se torna o órgão de opressão por excelência, representando o que as/os brancos querem e precisam controlar e consequentemente, o órgão que historicamente tem sido severamente censurado.
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Tudo é sempre historicizado, relativizado, adjetivado. Não há realidades substantivas, universais. Quem estudou história das idéias sabe que movimentos com esse enfoque da realidade levam a um impasse epistemológico. Dele sairemos mais cedo ou mais tarde, afinal são as sístoles e diástoles da história. Entretanto, o estrago será grande.
E nem falei da polarização opressor/oprimido que perpassa toda a narrativa - monocórdia - dessa turma. É um discurso que transborda ressentimento contra um passado que eles consideram de opróbio. Julgam-se devedores e agora querem cobrar a conta de nós - brancos, heteronormativos, abrigados sob o cânone ocidental.
Não vou pagar pelo que não fiz. Aqui, oh! prá vocês.
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.... e por falar em lugar da fala, leio um artigo assinado por Yara Frasteschi - livre docente em filosofia pela Unicamp - em resposta a Jorge Coli que escreveu na Folha de 30/06/2019 que o único lugar da fala admissível quando se trata de conhecimento e reflexão é o da universalidade racional. Ela rebate que racionalidade universal tem se prestado como argumento de autoridade e manutenção do poder epistemológico; de que não reconhecer que o sujeito do conhecimento assim como o sujeito moral e político estão situados no tempo e no espaço, de que tem corpo histórico, cultura, experiência e afetos é resultado de uma demanda moderna por neutralidade, legitimidade e universalidade e que esse sujeito abstrato é na verdade masculino, branco e proprietário.
E rebatendo à frase de que o lugar da fala se presta para calar a boca dos que estão em desacordo ela cita Grada Kilomba (Memórias da Plantação - Ed. Cobogó) para quem a boca se torna o órgão de opressão por excelência, representando o que as/os brancos querem e precisam controlar e consequentemente, o órgão que historicamente tem sido severamente censurado.
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Tudo é sempre historicizado, relativizado, adjetivado. Não há realidades substantivas, universais. Quem estudou história das idéias sabe que movimentos com esse enfoque da realidade levam a um impasse epistemológico. Dele sairemos mais cedo ou mais tarde, afinal são as sístoles e diástoles da história. Entretanto, o estrago será grande.
E nem falei da polarização opressor/oprimido que perpassa toda a narrativa - monocórdia - dessa turma. É um discurso que transborda ressentimento contra um passado que eles consideram de opróbio. Julgam-se devedores e agora querem cobrar a conta de nós - brancos, heteronormativos, abrigados sob o cânone ocidental.
Não vou pagar pelo que não fiz. Aqui, oh! prá vocês.
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