sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Que te vayas, 2020 !

Estou passando de ano, ouvindo Strauss (Marcha Radetzki, valsas, polkas..) executado pela orquestra de Viena,  na programação especial elaborada pela rádio MEC para a data. A intenção deve ser entrar o ano com astral alto; nenhuma novidade já que é o que se pede a cada passagem. Há também as mandingas: vestir amarelo, comer lentilha... para dar sorte. Nunca me liguei nesses ritos e crenças. 

2020 é um ano prá ficar na história da humanidade devido à pandemia. Eu  tirei de letra porque o isolamento não me trouxe nem angústia, nem ansiedade. Enfrentei só meus demônios a maior parte da vida  e não seria  uma pandemia que iria me assustar. Há motivos mais nobres para ser assaltado por tais sentimentos.

Na minha história pessoal, 2020 fica marcado por outros motivos. Perdi minha mãe em fevereiro e em julho vesti o pijama - na real a bermuda e o calção! -   depois de 42 anos de trabalho. Poderiam ser dois cataclismos, entretanto, não me abalaram tanto. 

A morte da mãe já estava precificada - para usar um termo corrente do mercado - dada a precariedade do seu estado na última vez que a vi, no Ano Novo de 2019. Se sua morte não doeu tanto, como dói sua ausência.

A aposentadoria livrou-me do fardo do trabalho a que me dediquei e  para o qual nunca fui talhado. Porque o escolhi é uma boa questão, mas foram 42 anos de imensos sacrifícios pessoais. Longe daquela obrigação, sinto-me melhor. Em função da pandemia, troquei um centro de pesquisa, pela pia e fogão na cozinha, pelo tanque e pelo ferro de passar. São esses afazeres domésticos que ocupam a maior parte do meu dia e que me fazem pensar como foi heróica a vida da minha mãe. Esta foi sua rotina por - pelo menos -  70 anos. Eu, que  nunca havia dado valor, só agora constato o quanto estava equivocado.

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