quinta-feira, 12 de junho de 2025

Algo e/ou alguém está fora de lugar

O algo descrevo abaixo;  o alguém, per supuesto soy yo. Não sei se estou  sendo atropelado pelo tempo, ou se certas manifestações/comportamentos  sociais que observo por aqui,  estão ultrapassando todas as medidas do que é razoável e lógico para os arquétipos que construi ao longo da vida. O fato é que ultrapassam minha compreensão.

... e vamos aos fatos.

**********

MC Poze do Rodo (!?!), é um funkeiro carioca com mais de 15 milhões de seguidores.  Foi preso,  acusado de apologia ao tráfico e envolvimento com o Comando Vermelho - e solto uma semana depois através de habeas-corpus. Sua soltura provocou tumulto em frente ao  Complexo de Gericinó, com ônibus tomados pela multidão e a polícia tendo que atuar com spray de pimenta, gás lacrimogênio, cassetete e Batalhão de Choque para conter a confusão. 

Apoteose para MC Poze do Rodo - (Vitor Chapetta/Agnews)

Em cima de um deles, para dar as boas-vindas ao nosso herói,  outra grande figura do pedaço, o rapper Oruam - o filho do dono, como ele mesmo se define em uma de suas letras. O dono é Marcinho VP, chefe do Comando Vermelho condenado a 44 anos de prisão por assassinato, associação ao tráfico e formação de quadrilha. Cumpre pena na prisão de segurança máxima de Catanduvas-SP. O filhote que  já pegou cana  por duas vezes, tem 8,7 milhões de seguidores no Instagram e teve hit no topo das paradas do Spotify por 20 dias, dos 61 em que esteve disponível. Já cantou no Rock in Rio e no Lolapalooza, onde vestia uma camiseta com a foto do dono e a palavra Liberdade.

Sinistro (no sentido literal) o nosso Oruam.

***********

Apreciem a excelência das  letras de alguns de seus hits, com claro apelo sexual e  apologia ao crime:

Rolé na favela de nave,

 o som no último volume,

 vou brotar no baile mais tarde, 

vou usar um lança perfume,

 botar a Glock pra dar um rolé pras piranha vê um volume,

 é que na selva do urso sabe que nós é o assunto

(Rolé na Favela de Nave - Oruam)

O Estado é genocida com o morador. 

Não tenho medo, eu sou filho do dono.

 Maior responsa de sujeito homem, 

de carro bicho eu fiz ela endoidar.

 E hoje onde eu passo todas quer me dar.

(Oruam)

Oi, na VK os menor te acerta/

Só soldado bom de guerra/

Que te mira e não te erra/

Só AKzão na favela/

Com vários pentão reserva/

Aonde entrar, cês leva(...)

É bala nos três cu, é bala nos três cu/

De 62 é só papum e os alemão aqui nem tenta/

De Glock e de radin, fumando um baseadin/

Destrava o G3zão que se piar, nós quebra.

(Poze do Rodo) 

************

De acordo com o G1, os fãs de Oruam são um público jovem de todas as classes sociais, que gostam de ver ostentação de marcas, de carros, de motos, jóias. Pois é... ambos são filhos de comunidades - Poze nasceu na favela do Rodo, em Santa Cruz; Oruam na Cidade de Deus, mas hoje o primeiro mora em condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, o segundo em uma mansão no Joá. Aliás, hoje vi no UOL  uma foto de Oruam curtindo a Itália com a noiva de acordo com a manchete. Noivaram em Paris, aos pés da Torre Eiffel. É a Cidade de Deus conectada com a Cidade do Papa, a Cidade Luz...

************

Não é caldo prá pirar a cabeça de qualquer um? 





segunda-feira, 9 de junho de 2025

... e tudo bem!

Acabo de saber que no dia 2 de junho foi comemorado o dia da Acompanhante, eufemismo para o dia internacional da Prostituta ou da Trabalhadora Sexual. Hoje temos dia comemorativo para tudo, mais do que justo que a profissão mais velha do mundo receba a homenagem. Os tempos são propícios; vender o corpo deixou de ser hoje, atividade que cause pruridos morais;  há até sites de acompanhantes fazendo publicidade na capa de jornalões como a Folha, ou mesmo patrocinando clubes esportivos. 

***********

Quem sabe num futuro próximo, apareça um curso para formação de profissionais na arte. A palavra de ordem agora é movimentar a economia.

sábado, 7 de junho de 2025

Simon

S de solteiro;

I de imaturo;

M de materialista;

O de obcecado ( pelo sucesso...);

N de narcisista;

Acrônimo que define uma síndrome que afeta o gênero masculino com mais de 30 anos nos dias atuais. Foi definida pelo psiquiatra espanhol Enrique Rojas, de acordo com O Globo de hoje. 

Não me surpreende pois são valores muito prezados e em voga atualmente,  à exceção de solteiro. No Brasil, solteirice não dá IBOPE, talvez na Europa...

terça-feira, 20 de maio de 2025

Periferias existenciais

Termo contundente usado pelo papa Francisco para referir-se ao caldo de cultura  que impera nos nossos dias, particularmente entre boa parte dos bacanas - nossas elites intelectuais, econômicas e sociais. Ser considerado periferia dever ser afrontoso prá esse pessoal - um esculacho prá usar um termo em voga.  Leão XIV na homilia da sua primeira missa como papa aos cardeais do conclave assim as definiu: 

Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer. São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena.

O velho e bom Aristóteles no lixo.

 

A virtude não está mais no meio, mas em um dos extremos, o nosso. A moderação não é mérito, mas demonstração de fraqueza, covardia e indulgência. No radicalismo, habitam a autenticidade, a pureza de convicções e a generosidade. Na moderação, fazem morada a hipocrisia, a corrupção (pois se transige com o mal) e os nocivos interesses ocultos e negados. Quem pede para baixar as armas é, evidentemente, colaboracionista.

Wilson Gomes , Folha (07.07.22) 

Pau que dá em Chico, dá em Francisco.

 ...pode até ser aplicado aos portugueses, criadores do ditado , mas não para seus descendentes do lado de cá do Atlântico. Por aqui, igualdade só no discurso e nos manuais. A começar pela Justiça, onde os rigores da lei ficam confinados aos despossuidos de qualquer influência nos andares superiores da nossa sociedade. A turma do andar de cima - endinheirados, aqueles bem relacionados e próximos aos Poderes da República - invariavelmente conseguem dela  se evadir. O fracasso - pelo menos jurídico - da operação LavaJato mostra com eloquência que ricos e poderosos continuam impunes. 

As batatas aqui pertencem aos vencedores como já vaticinara Quincas Borba, personagem machadiano. À Pasárgada de Drummond, só tem acesso os amigos do rei, aqueles que circundam o poder feito as mariposas em torno da luz. Roberto da Matta, um estudioso da nossa incapacidade em lidar com a  impessoalidade da lei,  descreve algumas dessas figurinhas carimbadas em seu artigo semanal  para O Globo.