O algo descrevo abaixo; o alguém, per supuesto soy yo. Não sei se estou sendo atropelado pelo tempo, ou se certas manifestações/comportamentos sociais que observo por aqui, estão ultrapassando todas as medidas do que é razoável e lógico para os arquétipos que construi ao longo da vida. O fato é que ultrapassam minha compreensão.
... e vamos aos fatos.
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MC Poze do Rodo (!?!), é um funkeiro carioca com mais de 15 milhões de seguidores. Foi preso, acusado de apologia ao tráfico e envolvimento com o Comando Vermelho - e solto uma semana depois através de habeas-corpus. Sua soltura provocou tumulto em frente ao Complexo de Gericinó, com ônibus tomados pela multidão e a polícia tendo que atuar com spray de pimenta, gás lacrimogênio, cassetete e Batalhão de Choque para conter a confusão.
Em cima de um deles, para dar as boas-vindas ao nosso herói, outra grande figura do pedaço, o rapper Oruam - o filho do dono, como ele mesmo se define em uma de suas letras. O dono é Marcinho VP, chefe do Comando Vermelho condenado a 44 anos de prisão por assassinato, associação ao tráfico e formação de quadrilha. Cumpre pena na prisão de segurança máxima de Catanduvas-SP. O filhote que já pegou cana por duas vezes, tem 8,7 milhões de seguidores no Instagram e teve hit no topo das paradas do Spotify por 20 dias, dos 61 em que esteve disponível. Já cantou no Rock in Rio e no Lolapalooza, onde vestia uma camiseta com a foto do dono e a palavra Liberdade.
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Apreciem a excelência das letras de alguns de seus hits, com claro apelo sexual e apologia ao crime:
Rolé na favela de nave,
o som no último volume,
vou brotar no baile mais tarde,
vou usar um lança perfume,
botar a Glock pra dar um rolé pras piranha vê um volume,
é que na selva do urso sabe que nós é o assunto
(Rolé na Favela de Nave - Oruam)
O Estado é genocida com o morador.
Não tenho medo, eu sou filho do dono.
Maior responsa de sujeito homem,
de carro bicho eu fiz ela endoidar.
E hoje onde eu passo todas quer me dar.
(Oruam)
Oi, na VK os menor te acerta/
Só soldado bom de guerra/
Que te mira e não te erra/
Só AKzão na favela/
Com vários pentão reserva/
Aonde entrar, cês leva(...)
É bala nos três cu, é bala nos três cu/
De 62 é só papum e os alemão aqui nem tenta/
De Glock e de radin, fumando um baseadin/
Destrava o G3zão que se piar, nós quebra.
(Poze do Rodo)
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De acordo com o G1, os fãs de Oruam são um público jovem de todas as classes sociais, que gostam de ver ostentação de marcas, de carros, de motos, jóias. Pois é... ambos são filhos de comunidades - Poze nasceu na favela do Rodo, em Santa Cruz; Oruam na Cidade de Deus, mas hoje o primeiro mora em condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, o segundo em uma mansão no Joá. Aliás, hoje vi no UOL uma foto de Oruam curtindo a Itália com a noiva de acordo com a manchete. Noivaram em Paris, aos pés da Torre Eiffel. É a Cidade de Deus conectada com a Cidade do Papa, a Cidade Luz...
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Não é caldo prá pirar a cabeça de qualquer um?
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