Ontem o boy aqui, botou os pés na Zona Norte. Fui a Madureira, tentar remediar um golpe aplicado por instituição bancária - a única agência na cidade está lá - no meu salário de aposentado.
Preocupado com minha segurança, coloquei roupas simples e discretas, tentando disfarçar o máximo possível minha condição de forasteiro potencializada pela minha cara de gringo. E lá fui eu de metrô para a Central. Peguei o trem para Japeri; os carros tinham ares de abandono externo, mas eram muito bem cuidados internamente. Pouca gente - eram 8:30h pois o destino ficava no contrafluxo. Bem diferente dos trens superlotados mostrados nos jornais televisivos. Ao longo do trajeto, muitas casas simples e na sua maioria, pouco cuidadas, geralmente de dois andares; atentei para o fato de haver pichação em muitas delas. Treze estações depois de uma viagem sem percalços, desembarco em Madureira.
Para sair da estação de trem e alcançar a rua, enfrenta-se duas longas escadas e um corredor atopetado de barracas de ambulantes. Nada de escadas rolantes. Ví idosos subindo e descendo por elas penosamente. Nas ruas de calçadas estreitas, muita gente, vestida simplesmente; a maioria pardos e pretos.
A agência bancária estava próxima, e com uma razoável fila para o atendimento, composta por muitos idosos - possivelmente aposentados - de condição muito simples. As histórias que ouvi, dos que estavam próximos, deixava transparecer a condição precária das suas vidas, tanto físicas quanto monetárias. Vinham de outros bairros, um deles com problemas de coluna, tinha dificuldade para ficar de pé. Todos com histórias de dívidas e empréstimos, contraídos sei lá com que cláusulas, pela instituição bancária que, se tinha aplicado um golpe em alguém da minha condição, imagina o que poderia ter aprontado pra cima desse pessoal. Senti a grandeza do meu privilégio, num país multifacetado como o nosso, vendo aqueles rostos vincados pela dureza da vida, potencializada por suas condições financeiras. Ouvi poucas queixas. Por incrível que pareça, observei um tom de resignação e até mesmo de aceitação da sua condição.
Já no interior da agência, aguardava minha vez sentado numa das muitas cadeiras que acomodavam aquele resignado exército Brancaleone. Volta e meia aparecia um funcionário sorridente e com uma gentileza afetada, oferecendo um cafezinho bem quente. Parecia deboche, e era! Não faltou o toque evangélico. Lá pelas tantas alguém ergue uma Bíblia e entoa um - Glória a Deus!
Fui atendido depois de uma hora - tempo razoável dentro das circunstâncias! - e voltei para a minha condição privilegiada como morador da Zona Sul prometendo retornar para uma visita ao Mercadão de Madureira, um velho sonho. Deram-me uma dicas de como chegar lá. Dá para ir caminhando a partir da estação de trem e isso me deu ânimo para uma nova visita ao outro lado da cidade. Talvez mais raiz daquele em que habito.
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