Pois voltei a Madureira. O desfalque - também fui contemplado! - em meu salário do INSS obrigou-me a retornar à capital do subúrbio carioca de acordo com matéria do suplemento sobre Tijuca e Zona Norte de O Globo do dia 11. Razões históricas determinaram essa distinção para o bairro. A região desde os tempos da Colônia era um entreposto comercial uma vez que o Largo do Campinho era um cruzamento de caminhos indígenas que ligavam Jacarepaguá, Irajá, Pavuna e Méier. O surgimento do Mercadão em 1914 para abastecer a cidade, foi uma consequência natural dessa posição estratégica, aliada ainda à proximidade com estrada de ferro.
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A viagem desta vez foi menos tensa do que a primeira. Depois das indigestas tratativas com a entidade financeira, dirigí-me ao famoso Mercadão, distante 1000m a pé. No caminho, uma passarela sobre uma linha férrea, acho que desativada. Toda ela coalhada de ambulantes assim como os seus acessos. Ao longo da linha férrea muito lixo que parece não ser recolhido regularmente. A passarela é travessia para os fortes; advertiram-me que o risco de um assalto era grande; a atmosfera de fato sugeria, mas passei incólume, apesar de ser alvo das atenções com minha indisfarçável cara de gringo. Alí o Brasil mestiço aparece sem jaça; pretos e pardos dominam a paisagem que sugere um abandono completo do Estado, um daqueles lugares esquecidos por Deus.
Cruzado o Rubicão - ops, a passarela! - andei mais 300m também em calçadas coalhadas por barracas de ambulantes até alcançar o Mercadão. É um prédio de dois andares que abriga cerca de 600 lojas de acordo com o artigo; muitas delas vendem artigos religiosos,particularmente de umbanda; outras tantas lembram os velhos armazéns de secos e molhados vendendo grãos, farinhas, azeites; numerosas também são as que vendem utilidades domésticas e quinquilharias com preços acessíveis; havia uma que vendia animais vivos: galinhas e até um cabrito estavam por lá. A área com verduras e frutas, não visitei.
O Mercadão é a cara do subúrbio; é assim que o carioca denomina os bairros da Zona Norte e Oeste que se desenvolveram ao longo das linhas férreas da Leopoldina e Central do Brasil, um mundo bem diferente daquele da Zona Sul, tanto em termos de lojas quanto de público. Deveria ser ponto de visitação aos turistas que por aqui aportam, e, mesmo para os moradores da Zona Sul que se referem a seus habitantes com uma dose de preconceito. A imensa maioria nunca pisou aquele chão. Não nasci aqui, mas suspeito que o suburbano seja o mais carioca dos cariocas.
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A propósito, lembrei do título de um filme brasileiro - que não assisti - dos tempos de juventude: Copacabana me Engana . Depois de Madureira e do Mercadão posso dizer:
- Zona Sul me engana!
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