quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Quem diria...

 Greta Garbo não acabou no Irajá? 

E não é que...hoje a Polícia Federal acaba de bater na Faria Lima?

(Os fatos nada tem a ver um com o outro, a não ser pelo inusitado, embora com o sentido inverso. A sofisticação de Holywood indo ao encontro do subúrbio carioca na peça teatral que fez muito sucesso no Rio na década de 70, e agora com o submundo do crime infiltrando-se no centro financeiro do país.)

O tempo passa... o inusitado continua sempre batendo à nossa porta. O crime organizado já não lava  o dinheiro lá fora. A operação é feita aqui mesmo,  no coração financeiro do país. 

Estagnados no que interessa, evoluimos em matéria de crime. Já podemos nos ombrear com a Itália. Temos a nossa máfia. Atende pelo nome de PCC.

...e a América curva-se para a Latinoamérica

Não era um sonho de todo latinoamericano de esquerda? Lamento, mas as razões não são nada boas. Não foi porque  evoluimos virtuosamente nas práticas políticas que tornam nossa democracia tão precária, mas porque a America involuiu adotando vícios que caracterizam nosso atraso. O agente laranja que ora ocupa a Presidência americana não se cansa de nos copiar.

Ontem diversos diretores da CDC (Centers for Desease Control and Prevention), órgão do governo americano pediram demissão alegando que a saúde pública americana vem sendo aparelhada pelo atual governo. Tudo a ver com a contínua interferência/aparelhamento dos nossos governos nas agências reguladoras federais, estaduais e municipais criadas exatamente para evitar interferências políticas; são órgãos de estado e não de governo.

No dia anterior, o temível agente laranja demitiu uma diretora do FED, fato inédito na história da instituição. É apenas mais um capítulo da sua indisfarçável  tentativa de controlar o órgão, porisso vive às turras com seu presidente, que também deseja demitir. Qualquer sujeito razoavelmente esclarecido, sabe o quanto nosso atual presidente importunou o ex-presidente do BC, querendo interferir nas decisões da política de juros. Na Argentina, em 2010, a hermana Cristina Kirchner quando presidia o país, demitiu o presidente do BC local.

A cerca de um mês, o déspota nada esclarecido, demitiu a líder de estatísticas do BLS (Bureau of Labor Statistics),  acusando-a de manipular dados a respeito de dados de emprego com fins políticos; os números por ela apresentados ficaram bem abaixo das expectativas. Em Latinoamerica, Cristina Kirchner, em 2007 quando presidia a  Argentina, ordenou uma intervenção no Indec (o IBGE deles); 700 funcionários foram afastados ou renunciaram, centenas de técnicos foram substituidos por militantes políticos. Até 2016, o país viveu um apagão de dados,  uma vez que os divulgados pelo Indec, evidentemente manipulados,  perderam toda a credibilidade. 

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É uma ironia da história, que justo a nação fundadora da primeira república moderna  esteja a copiar práticas políticas de repúblicas bananeiras. É a América latinoamericanizando-se.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

VTNC

Num primeiro momento,não entendi. Só depois de concluir a leitura do texto  é que cheguei ao significado profundo da sigla...e  dirigida ao próprio progenitor! Confesso que fiquei abismado. Nem nos meus piores sonhos dispararia um VTNC contra meu pai, e,olha, tive sérias discussões com ele. É baixaria prá ninguém botar defeito. 

É inacreditável que uma família tão rastaquera, mobilize corações e mentes de um país, ao ponto do progenitor ter sido presidente da República, um filho, senador, um terceiro, deputado federal, que, pasmem, foi o mais votado do estado mais importante da nação e os outros dois, vereadores.

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- O Bolsonaro não carrega feridos. 

(frase cunhada no meio militar a respeito do capitão)

- Ele próprio atira nos seus soldados. E pelas costas.

...referindo-se a Jair Bolsonaro. 

(Gustavo Bebbiano, ex-ministro de Bolsonaro)

O próprio já fez  apologia da tortura feita pelo em diversas ocasiões.

Prontuário prá acabar com a reputação de qualquer ser humano. 

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Ser o que são, é um direito que assiste a Bolsonaro e seus filhos em uma democracia liberal. O que espanta é terem tantos seguidores/eleitores/simpatizantes. Há algo de podre neste reino. Onde foi que erramos?

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Vaticino que VTNC será a palavra/sigla do ano. Eu votaria nela. 


domingo, 17 de agosto de 2025

É falcatrua prá todo o lado.

Os últimos meses tem sido pródigos na descoberta de fraudes e golpes pelo país. O mais vistoso foi a tunga dada em aposentados - fui vítima também. Coisa de 6/8 bilhões de reais. Na semana que passou, veio à tona um caso de corrupção envolvendo auditores paulistas, que só de propinas receberam mais de um bilhão de reais, conseguindo agilizar ressarcimentos de impostos pagos ao governo  paulista por empresas  algumas delas conhecidas nacionalmente. Atentem que apenas falei de bilhões... Milhões são cifras de golpista/corrupto de segunda categoria.

A internet tem facilitado a ação dos golpistas a tal ponto que nos últimos 12 meses um terço da população sofreu algum golpe digital de acordo com matéria publica em O Globo do dia 14. A evolução é de tal ordem que os crimes contra o patrimônio com interação física vem caindo nos últimos anos, em favor dos crimes praticados virtualmente, de acordo com pesquisa DataFolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicada no artigo.  Eu mesmo tive um cartão de crédito clonado com débitos indevidos na fatura que me infernizaram a vida por meses.  À desonestidade soma-se a desumanidade. Golpistas aproveitando a comoção causada pela tragédia ocorrida com a moça que morreu quando fazia trilha na Indonésia no mês de julho, lançaran pedidos de dinheiro nas redes sociais para custear o translado e os funerais da moça, usando o nome da família.
As causas para o número de  golpes e fraudes terem assumido tamanha proporção não se devem apenas à falta de fiscalização e repressão. Sou obrigado a concordar com a tese do pensador pop Peninha - quem diria! -  que ao comentar a altíssima taxa de desconfiança para com o outro que existe entre brasileiros - já comentei o assunto em um post anterior - saiu-se com esta pérola:
O brasileiro faz falcatrua, aceita falcatrua e não denuncia falcatrua

Esta permissividade/condescendência  que perpassa nossa cultura é uma das causas que nos coloca no atoleiro em que nos metemos desde a colônia e do qual teimamos em não sair.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Prá terminar bem o mês.

...Auscências com as notas melancólicas do violino de Nadja Salerno-Sonnenberg, acompanhada pelos violões do Duo Assad. Embora apareça creditado à dupla,  esse tango parece-me uma adaptação de Ausências de Astor Piazzola.


... e agora Ausências com Piazzola e seu bandoneón.



Admirável mundo novo

Heterofatalismo, desafiliação performativa da heterosexualidade, alexitimia masculina normativa... devem soar como grego para vocêPrá mim também. Tomei contato com eles lendo um artigo de J.P. Coutinho para a Folha que se reporta a outro artigo do NYT Magazine - viralizou na Internet! - com um inglês bem complicado, recheado de phrasal verbs e gírias, que me deu um trabalho danado para entender. Confesso, entretanto, que valeu a pena. Conheci um pouco do que se passa no imaginário de uma novaiorquina de educação superior a respeito da relação homem-mulher nos dias atuais, recheado com o suporte teórico de acadêmicas up-to-date na matéria como uma ph.D em filosofia com especialização em filosofia feminista, uma sexual scholar, uma psicoanalista feminista e por aí vai...

Os neologismos típicos desta Novilíngua emanada dos acadêmicos dos departamentos de humanidades referem-se basicamente às demandas das mulheres não atendidas pelos homens em um relacionamento afetivo e o consequente desapontamento com o gênero masculino definido como heteropessimismo pela sexual scholar Ana Seresin. Para dar ares de tragédia ao drama, esse desencanto vem acompanhado do onipresente aguilhão do desejo - privately, jokes aside, I am quite susceptible to penis - escreve a autora, justificando o título do artigo : The problem with wanting men. É o  heterofatalismo, também tomado de empréstimo da Seresin. 

As desventuras são postas à mesa de almoço de um restaurante vegano em downtown Manhattan por uma terapeuta, uma historiadora, a autora do texto e sua amiga. Em termos de cenário e protagonistas, mais hipster impossível. Enquanto almoçam, desfilam histórias de seus relacionamentos e de amigas,  com os homens e seu desapontamento  com o comportamento deles. As queixas são inúmeras; uma delas refere-se à incapacidade masculina de comunicar-se em uma relação afetiva, que outra acadêmica definiu como alexitimia masculina normativa. Uau!

A rotina de frustração de expectativas com os parceiros amorosos,  leva-as  a uma crescente desafiliação performativa da heterosexualidade, outro neologismo da acadêmica Seresin. Ela sugere uma saída: A opção queer*, um relacionamento mais fluido e que foge dos estereótipos do padrão heterosexual tradicional que privilegia a dualidade e a inescapável dominação de uma das partes. Para a amiga da autora, em comentário pós-almoço,  o relacionamento tradicional entre homem e mulher está morto. É preciso dar um basta na sofrência que ele traz. 

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De cara, o artigo sugeriu-me a perspectiva da mulher como a medida de todas as coisas e o homem como uma massa a ser modelada de acordo com suas demandas, abordagem típica destes tempos de batalhas identitárias em que o feminismo radicalizado deste século desempenha papel importante. Qualquer relação afetiva exige lidar com a alteridade, que obviamente será anulada quando  um dos parceiros se torna sua medida. A opção queer, tida como mais fluida,  é uma das soluções sugeridas, mas a  alteridade também lá estará.  

Um adjetivo - fútil -  que uma das protagonistas empregou para qualificar a insatisfação feminina diante do comportamento masculino, escrutinizado muitas vezes com lupa, chamou minha atenção. Tendo a concordar com ela. Será que uma mulher que vive na América profunda, é assaltada pelas mesmas angústias, vê problemas em tantos detalhes... ou considerará a abordagem também futilidade de uma mulher com situação econômica confortável de um grande centro urbano?

É curioso que mulheres tão cosmopolitas e supostamente independentes continuem a repetir atitutes old-fashioned como cobrar um compromisso dos homens em uma relação. 

A atitude evasiva do homem, alvo de tantos queixumes não estaria indicando que ele não está investindo nessa relação como algo de duradouro, e que cair fora seria a melhor decisão?  Se o comportamento é  recorrente, não seria devido às escolhas equivocadas dos parceiros?  Nem todos os homens esquivam-se de compromissos afetivos. Haveria tantos casamentos - afinal um compromisso - caso fosse esse comportamento recorrente? 

Estou curioso para saber o que o futuro nos reserva. Relações mais fluidas entre homem e mulher? Huuum... talvez funcionem em Manhattan. 

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* Queer refere-se a fugir da binariedade (macho/fêmea,  masculino/feminino, heterosexual/homosexual) desafiando as ligações entre sexo, gênero e sexualidade. Ser queer significa ser ao mesmo tempo, macho, fêmea ou nenhum deles, ser masculino, feminino, nenhum deles ou uma mistura dos três, adotar qualquer sexualidade e mudá-la a depender das circunstâncias, negar que elas tenham significado por sí. (cap. IV) - (a tradução é minha)

Pluckrose, H., Lindsay, J., Cynical Theories, Pichstone Publishing, 2020. 

Volto a esse livro em um próximo post.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Longe desse insensato mundo....

Essa música é do século XII. Ouvi-la é como estar no céu. 

...e muita gente boa por aí, diz que a Idade Média foi a idade das trevas.