terça-feira, 9 de outubro de 2012

Nos umbrais da velhice...

Há 61 anos eu dei as caras.
Endereço: Coqueiro Alto, distrito de Nova Bréscia, RS (não conheço. Saí com ano e meio e jamais voltei!)
Pais - Edessio (alfaiate, talvez o único naquele fim de mundo! Um gauche como eu!) e Leontina (doméstica. Da casa mesmo...só saia para ir a missa! Criou 5 filhos sem empregada!)
A forte tradição católica da família me colocou num seminário aos 11 anos. Só saí de lá com 25 anos, prestes a fazer votos de pobreza, obediência e castidade.
Uma viagem. Melhor...A viagem!
 Lá perdi muitas coisas da vida mundana, valorizadíssimas por meus contemporâneos e que me deixaram em desvantagem em relação a  eles,  mas ganhei tantas outras, talvez as melhores, as que mais preze: um sentido ético da vida, uma preocupação constante, uma busca perene por retidão de caráter, uma carência por transcendência, moedas que pouco valem para a nossa cultura pós-moderna - os scholars de buteco da república livre de Ipanema e Leblon  consideram gente  assim: moralista, conservadora, careta!.
Às vezes penso que fiz mais do que devia. Afinal, não é para qualquer filho de família classe média/média - numa avaliação otimista - que nasceu num quase fim de mundo chegar onde cheguei. Quem nasceu por lá, migrou como eu mas acabou churrasqueiro no Porcão, Fogo de Chão, prá falar dos mais famosos...
 Às vezes penso que fracassei....
...porque não tive a ventura de ser pai... não deixei meu DNA para  posteridade.  Ao mesmo tempo me pergunto se isso não atenderia mais a um desejo egoísta meu, uma vez que o legado seria um mundo  mais inóspito e devastado  do que aquele que encontrei.
...porque não merecí o amor das mulheres que amei. Sim, porque as que eu quis -foram poucas! - não me quiseram. Outras tantas - poucas também! -  me quiseram e aí fui eu quem não as quis.
Fica  fácil entender porque  a vida, se tornou, prá mim, a arte do desencontro.
...e o mundo?
... bem, nesse sou estrangeiro, exilado, marginal. Gauche, prá roubar a palavra do poeta xará. Anti-herói.
Também...com uma vocação herdada não sei de quem, sempre comprei briga com o dono do pedaço, o rei da cocada preta, em qualquer ambiente. Essa vocação de Quixote  criou-me eternos problemas  com a autoridade.
Só havia uma saida. Viver à margem. Posso dizer, nunca pertenci a bando algum. Sou um Quixote sem Sancho Pança nem Dulcinéia. Um Quixote só.
...
O balanço?
Parafraseando outro poeta:
Caminhar é preciso,  
...buscando, não,  a luz no fundo do túnel, que eu até acho não existe, mas guiado por uma luz interior, que enquanto brilhar,  manter-me-á caminhando. O que me move não está lá fora. Está aqui dentro.
....
Chegará a hora, -  sinto-a  cada vez mais próxima - em que terei de interromper essa caminhada. Então,
...subirei para o topo da montanha, para junto da morada dos mortos, como o faziam os velhos guerreiros das tribos americanas... sioux...apache... - sei lá...não lembro mais...- para suavemente, espero, entregar meu espírito. Resta saber a quem.

PS - Era para postar no dia 7, data do meu aniversário - já tinha perpetrado a maior parte do texto! -  mas aí a velhice não deixou. Uma forte gripe que vinha me tomando já por uma semana, me levou ao hospital. Por lá fiquei a tarde toda. Cheguei em casa baqueado, com uma disposição apenas. Cair na cama!

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