domingo, 29 de dezembro de 2019

2019

Foi o ano do encontro com o Eu substantivo, graças à meditação.
Depois do retiro Vipassana de 10 dias no final de julho/começo de agosto, ela se tornou uma prática diária. Toda madrugada, entre 4:00h e 5:00h estou lá sentadinho na minha cadeira de meditação tentando ser senhor de mim. Tentando domar o inconsciente (id) e o superego e elevando  o Ego à condição de senhor. É óbvio que não consigo atingir esse estágio ao longo de todo o período de 60min, mas melhoro a cada dia. A mente é um potro selvagem difícil de domar e adora fugir para o passado ou então lançar-se no futuro. Muita ascese é necessária para mantê-la ancorada no presente. Ela é fundamental para evoluir na arte.
Se a prática me tornou melhor? Não tenho  indicador que me confirme mas o fato de você poder estar no controle proporciona uma satisfação imensa. Ter a mente domesticada e pacificada e a plena consciência do seu corpo é extremamente gratificante. Estar liberto das amarras do passado  e das preocupações com o futuro; viver o  momento, é a graça que traz a meditação. Razão e emoção submergem nessa hora. Nada desejar, nada rejeitar e consequentemente nada sofrer, enfim, alcançar um estágio que deve se assemelhar ao Nirvana dos orientais e a ataraxia dos gregos do período clássico. Se houver algum ponto neutro no universo é para lá que somos transportados.

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Para um solitário de carteirinha que deu adeus às ilusões e com uma visão trágica da vida, quase nihilista - viver é dar um salto no abismo, sem saber o que virá.... somos náufragos tentando nos manter na linha d'água... - a meditação torna-se redenção, porto seguro, âncora existencial. Com ela reposicionamos todos os dias as pedras no tabuleiro, afilamos nossa espinha dorsal para reencetar  - por nós mesmos - diariamente a caminhada pelo deserto da vida, faça chuva ou faça sol, frio congelante ou calor abrasador. Dispensamos afetos, divindades ex-machina. Somos por nós pois sabemos que se cairmos ficaremos pelo caminho.

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E o velho e bom Freud será que conhecia os poderes da meditação? Ele que dizia que somos ingovernáveis porque à mercê  do inconsciente? Ela talvez seja o único estado de alma em que o colocamos, juntamente com o superego na redoma.

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...mas meditação tem hora prá acabar. Então você deixa de estar no comando; volta a interagir com o mundo e com as pessoas, onde você opera como um simples vetor disputando lugar com milhares de outros em um campo de forças chamado mundo. A questão não se restringe mais à tua mente e ao teu corpo. Existem os outros e suas demandas às quais deves te ajustar.
O inferno são os outros escreveu Sartre em Huis Clos. É duro ouvi-la,  mas a cada dia faz  mais sentido.

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