É uma abreviação que Martim Vasquez da Cunha em A Tirania dos Especialistas (Civilização Brasileira, 2019) assumiu para o termo cunhado por Nassim Nicholas Taleb em seu livro Skin in the game (Arriscando a própria pele) para definir o especialista (expert): intelectual yet idiot.
Vou transcrever abaixo alguns comportamentos que definem o IYI - há ironia prá dar e vender! - feitas por Taleb e transportadas para as idiossincrasias da nossa cultura por Martim. Para meu desalento, identifiquei-me com boa parte delas:
O comportamento do IYI consiste basicamente em patologizar tudo aquilo que não consegue entender nos outros, sem admitir o fato de que foi o seu entendimento das coisas se tornou limitado.
Ele pensa que as pessoas devem agir com base no Bem Comum e no melhor interesse do que seria esse bem, com o detalhe de que o IYI é o único que sabe o que seria isto. Daí por que mal compreende o que acontece quando a sociedade age contra o que seriam esses interesses. Como reação, passa a chamá-la de deseducada ou então com o nome do momento - populista.
A democracia segundo sua concepção, só existe quando as pessoas aceitam os termos dele. E, claro, tudo isso sancionado pela relação direta que há entre um voto e uma vaga em qualquer repartição corporativa - de preferência, uma universidade de elite. No caso do Brasil, uma universidade pública como a USP, que treina os meninos ricos a serem futuros IYIs travestidos de militantes políticos, ou uma faculdade particular como o Insper ou a Fundação Getúlio Vargas, que os aprisiona ainda mais em suas bolhas cognitivas.
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....assina a New Yorker ( aqui, é um habitué da Folha de S. Paulo durante a semana e do Estadão e da Veja aos domingos); acha que xingar nas redes sociais é falta de educação (aqui, alega que não está disposto a entrar no debate); fala de igualdade racial e de igualdade econômica, mas jamais conversou com um motorista de taxi ( no Brasil, chega-se ao ponto de nunca conversar com a própria empregada doméstica); acredita que Tony Blair foi um grande estadista (o mesmo ocorre, por estas bandas, quando falam de Lula ou de Fernando Henrique Cardoso, sem saber que ambos são farinha do mesmo saco, ou ousam citar Getúlio Vargas como alguém que colaborou para o desenvolvimento do país); as únicas palestras que assiste são no estilo TEDx ( no Patropi, podem ser adicionados os eventos da Casa do Saber ou qualquer cópia malfeita dela, que já é terrível por si própria); não apenas vota em qualquer membro do Partido Democrata (como Hillary Clinton) porque avalia que quem vota em Donald Trump é perturbado mentalmente, mas também porque sabe que não tem como escapar do seu próprio círculo vicioso psíquico (o mesmo paralelo pode ser feito entre nós quando se opta por qualquer político do PSDB em oposição ao PT ou vice-versa, razão pela qual não se consegue entender, sob nenhuma hipótese, o surgimento de um Jair Bolsonaro, um patrimonialista disfarçado de liberal); confunde ciência com cientificismo (nas nossas universidades, existem professores que realmente acreditam que o aquecimento global é um fato e Al Gore, um sujeito sério); é incapaz de refletir sobre as consequências imprevisíveis de suas idéias e ações; não sabe qual é a diferença entre a ausência de evidência e a evidência de ausência; suas previsões estão erradas sobre absolutamente tudo - stalinismo, maoismo, petismo, Iraque, Libia, Síria, lobotomia, planejamento urbano, jihad global, panorama eleitoral - e, mesmo assim, pensa que está absolutamente certo sobre tudo o que comenta; integra um clube de membros privilegiados; não sabe usar estatísticas porque acredita que são uma descrição do mundo real; vai aos festivais literários (por aqui ir à Flip é um atestado pleno de que se trata de um IYI); adora uma intervenção médica quando esta não é necessária; estuda gramática antes de aprender uma língua (algo comum nas redes sociais tupiniquins, em especial entre os que compõem este gênero conhecido como Nova Direita, a República do COF instituida pelas instruções de Olavo de Carvalho); tem sempre um parente que trabalhou com a Rainha da Inglaterra ou como o presidente dos Estados Unidos (no Brasil, o trunfo é ser parente de algum membro do Judiciário); nunca leu John Gray, Michael Oakeshott e Joseph de Maistre ( no Febeapá é pior: quando alguém lê ou ensina o os escritos desses pensadores, como é o caso daquela turma que promove apenas o estado da arte das baboseiras, logo os classifica como conservadores, reacionários ou de direita - ou particularmente sobre Gray, bastião do pensamento liberal esclarecido, seja lá o que for isso) ...sempre menciona física quântica pelo menos duas vezes em uma conversa em que nada tem a ver com a disciplina mencionada ....; sempre sabe que, mais cedo ou mais tarde, suas ações ou idéias podem prejudicar sua reputação e, portanto, coloca esta em primeiro lugar.....
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... e por aí vai !