sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Dia da gauchada (II)

Setembro ainda não terminou; vou tomar a liberdade de incluir um chamamé: canção guarani cantada por gaúchos brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios.  Com uma letra de Barbosa Lessa - importante escritor e folclorista gaúcho -  evoca de alguma maneira o que aconteceu no estado nos últimos 12 meses, mesmo tendo sido escrita, acredita-se, nas décadas de 50/60 do século passado.




O baile dos famosos

Influencers, astros da música sertaneja, políticos, juizes do STF e ministros de estado estão rodando a baiana no bailão  Brasil neste mês de setembro. Uma troupe digna de respeito, todos figurinhas do grand monde que os dias atuais merecem, com presença constante na mídia mainstream e nas redes sociais. 

Deolane Bezerra, influencer pernambucana (advogada e ex-cantora) com 22 milhões de seguidores no Instagram, - aumentaram após o episódio! - passou alguns dias em cana, mas conseguiu safar-se através de um  habeas corpus. Foi presa , após ter sido acusada de criar um site de apostas para lavar dinheiro de jogos ilegais. Mamãe, lhe fez companhia no xadrez.

Gustavvo Lima, um dos expoentes da atual música sertaneja, teve prisão preventiva decretada e depois revogada. Ele é alvo da operação Integration, - Deolane também é -  que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo casas de apostas online - as bets.

Junto e misturado, o ministro do STF, Nunes Marques, que convidado para o niver do Gustavvo - é vv mesmo! - em um iate nas ilhas gregas,  mandou-se  prá lá. Entre os participantes da pajelança, estavam os proprietários de uma das casas de apostas investigadas pela operação. Companhias muito apropriadas para um ministro da Corte Suprema.

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Saindo do mundo encantado das bets, setembro mostrou que os debates para a prefeitura paulistana viraram manchete das páginas policiais. Em um deles, um candidato agrediu um concorrente com... uma cadeirada! Em outro, depois da expulsão de um dos candidatos do debate, houve troca de socos entre assessores de candidatos.

Ainda no mundo da política, tivemos a demissão do Ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, - ícone das causas identitárias e das minorias - após ter sido acusado de assédio sexual por várias mulheres, uma delas, Ministra da Igualdade Racial.

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Gente da melhor qualidade; de vida limpa como declarou um dos advogados dos acusados.


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sábado, 21 de setembro de 2024

Dia da gauchada.

Foi ontem, mas não importa. Setembro é o nosso mês. Desgarrado do pago fazem 45 anos,  comemorei à minha moda: tomando um mate amargo. Churrasco na brasa, nem pensar... o sistema de churrasqueira a carvão nas varandas dos prédios de apartamentos, só nos pagos.

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Gaúcho tem identidade: assina embaixo. Pouco tipos regionais podem dar-se  a esse luxo. O Vinte de Setembro é uma data sagrada por lá.

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Tertulia na sua versão original com o Leonardo e provavelmente Os Serranos (estão nos créditos do disco);  é música recente, ganhadora da Califórnia da Canção de 1982 interpretada por eles. Tornou-se um clássico da canção gaúcha:

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O país está ardendo (II)

 

Domingos Peixoto/ O Globo
O fogo nas montanhas próximas à Via Dutra.

O imaginário torto do brasileiro

A eleição para a prefeitura paulistana chamou para si todos os holofotes da política nacional. Ela resume o país. A cadeirada de um dos candidatos em outro que desafiou sua hombridade era o único caminho que lhe restava em um debate na TV Cultura. Não reagisse assim seria considerado em covarde. A cadeira foi o instrumento à mão - vamos dizer assim - para lavar a honra. É o nível a que chegamos.  

Os candidatos que se engalfinharam são dois outsiders na política: um é apresentador de televisão e andava bem nas pesquisas, mas caiu nas últimas, o outro é coach que fez fortuna com a atividade - ai, Jesus! - e disputa a ponta da tabela com dois representantes da direita e esquerda  tradicional.

Há entretanto, uma candidata, que dá de dez intelectualmente em todos eles - formada em Harvard em Astrofísica e Ciência Política - com uma história de vida impressionante - nasceu e cresceu na periferia da cidade - com uma curta mas sólida carreira política - dois mandatos de deputada-federal. Suas idéias sociais-democratas, estão próximas do centro político. Tem bom diálogo com todo o espectro da política atual. Concordo com a maioria das suas propostas e se votasse lá, certamente seria minha candidata. Entretanto, não consegue encantar mais de 8/10%  do eleitorado segundo as pesquisas. Muito provavelmente ficará de fora no 2o turno. 

Conta no quadro atual, o protagonismo midiático normalmente buscado pelos outsiders, que contam com grande penetração nas redes sociais. A cadeirada e suas variantes, as ofensas, lacrações fazem parte do mis-en-scéne. É certo que nossa política tradicional é uma tragédia tanto pela direita quanto pela esquerda, mas será que a decepção com ela, deveria desaguar na preferência por outsiders que nada tem de melhor em relação aos políticos de carteirinha, a não ser o fato de que não praticam a enrolation, uma marca da política tradicional? O que o imaginário do nosso homem comum, seus arquétipos simbólicos, aquilo que lí por aí, está sendo chamado de mapa mental, faz com que ele simpatize com os Bolsonaros e Marçais da vida?  

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É raro o aparecimento de uma grande promessa política na cena atual. Quando ela aparece, não consegue mais do que uma votação marginal. Caminhamos para onde?

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Negritude, branquitude... aaargh! Prefiro o ser humano.

Um homem negro, uma mulher negra, estão sendo acusados de serem arrogantes e autoritários. É sempre assim. A branquitude não aceita a negritude no poder.

Foi um dos comentários no Instagram da esposa do ex-ministro dos Direitos Humanos  Silvio Almeida defendendo-o das acusações de que teria assediado diversas mulheres, inclusive a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco em matéria de Lauro Jardim. O ex-ministro, por sua vez, afirmou que há uma campanha para afetar sua imagem como homem negro em posição de destaque no poder público, de acordo com coluna de Malu Gaspar, ambos em o Globo. O casal utilizou-se da nova versão de carteirada, a racial. Imagino que exista a feminista, a LBGTQIA...+, para ser sacada em situações semelhantes.

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A nova versão da carteirada se tornou possível depois que a boa e velha idéia de princípios universais e atemporais legados da filosofia aristotélica, do ideal renascentista e iluminista deram lugar ao projeto pós-moderno das teorias críticas que espraiou-se pelas universidades americanas a partir de filósofos como Foucault, Derrida, Lyotard que emergiram na cena francesa na década de 60 do século passado. Nada de verdades objetivas, de princípios universais, de individualidade. Tudo é relativo, fruto de construção social e de sistemas de poder, o grupo é base da humanidade. Daí que humano, humanidade são conceitos vazios se não forem ancorados em raça, gênero e preferências sexuais. Não ouse criticar qualquer idéia ou postura de  um desses grupos que se consideram oprimidos. O debate ao invés de se dar no no foco da sua crítica vai resvalar para questões identitárias e muito provavelmente você será taxado de racista, machista, homofóbico através de uma carteirada racial, feminista, LBGTQI....+, expediente que o ex-ministro e esposa utilizaram.

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Vivemos um retrocesso no debate público de idéias, com a rejeição dada ao universal e à verdade objetiva. Valem as narrativas. Toda a área de Humanidades das universidades está contaminada por essa linha de pensamento e isso se espraia no mundo das artes, da cultura e na mídia mainstream do nosso jornalismo.  

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Sílvio de Almeida chamou-me a atenção muito antes de se tornar ministro,  ao ver seu desempenho em um vídeo enviado por um progressista das minhas relações. Impressionou-me a postura assertiva, diria agressiva que com colocava suas idéias a respeito do problema racial no país. Como ministro várias vezes o vi de dedo em riste, uma postura que confirmava a versão que dele tivera no vídeo. Em uma dessas ironias da vida, com acusações graves de assédio sexual feitas por diversas mulheres , terá agora que enfrentar o letramento de gênero das acusadoras.  Provará do próprio veneno, já que era um craque num outro letramento, o de raça.

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O ex-ministro é um dos expoentes da tese do racismo estrutural no país. Tem até um livro publicado com o mesmo nome, classificado de icônico, por uma jornalista do mainstream - zero surpresa que acaba de receber o Juca Pato de intelectual do ano.  Terei que lê-lo, provavelmente discordarei mais do que concordarei. Pela postura dos que gostam de usar o termo, todo branco neste país com uma visão crítica em relação às teses por eles defendidas sofre de um mal : racismo estrutural. Nada como uma carteirada.