terça-feira, 17 de setembro de 2024

O imaginário torto do brasileiro

A eleição para a prefeitura paulistana chamou para si todos os holofotes da política nacional. Ela resume o país. A cadeirada de um dos candidatos em outro que desafiou sua hombridade era o único caminho que lhe restava em um debate na TV Cultura. Não reagisse assim seria considerado em covarde. A cadeira foi o instrumento à mão - vamos dizer assim - para lavar a honra. É o nível a que chegamos.  

Os candidatos que se engalfinharam são dois outsiders na política: um é apresentador de televisão e andava bem nas pesquisas, mas caiu nas últimas, o outro é coach que fez fortuna com a atividade - ai, Jesus! - e disputa a ponta da tabela com dois representantes da direita e esquerda  tradicional.

Há entretanto, uma candidata, que dá de dez intelectualmente em todos eles - formada em Harvard em Astrofísica e Ciência Política - com uma história de vida impressionante - nasceu e cresceu na periferia da cidade - com uma curta mas sólida carreira política - dois mandatos de deputada-federal. Suas idéias sociais-democratas, estão próximas do centro político. Tem bom diálogo com todo o espectro da política atual. Concordo com a maioria das suas propostas e se votasse lá, certamente seria minha candidata. Entretanto, não consegue encantar mais de 8/10%  do eleitorado segundo as pesquisas. Muito provavelmente ficará de fora no 2o turno. 

Conta no quadro atual, o protagonismo midiático normalmente buscado pelos outsiders, que contam com grande penetração nas redes sociais. A cadeirada e suas variantes, as ofensas, lacrações fazem parte do mis-en-scéne. É certo que nossa política tradicional é uma tragédia tanto pela direita quanto pela esquerda, mas será que a decepção com ela, deveria desaguar na preferência por outsiders que nada tem de melhor em relação aos políticos de carteirinha, a não ser o fato de que não praticam a enrolation, uma marca da política tradicional? O que o imaginário do nosso homem comum, seus arquétipos simbólicos, aquilo que lí por aí, está sendo chamado de mapa mental, faz com que ele simpatize com os Bolsonaros e Marçais da vida?  

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É raro o aparecimento de uma grande promessa política na cena atual. Quando ela aparece, não consegue mais do que uma votação marginal. Caminhamos para onde?

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