segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Negritude, branquitude... aaargh! Prefiro o ser humano.

Um homem negro, uma mulher negra, estão sendo acusados de serem arrogantes e autoritários. É sempre assim. A branquitude não aceita a negritude no poder.

Foi um dos comentários no Instagram da esposa do ex-ministro dos Direitos Humanos  Silvio Almeida defendendo-o das acusações de que teria assediado diversas mulheres, inclusive a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco em matéria de Lauro Jardim. O ex-ministro, por sua vez, afirmou que há uma campanha para afetar sua imagem como homem negro em posição de destaque no poder público, de acordo com coluna de Malu Gaspar, ambos em o Globo. O casal utilizou-se da nova versão de carteirada, a racial. Imagino que exista a feminista, a LBGTQIA...+, para ser sacada em situações semelhantes.

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A nova versão da carteirada se tornou possível depois que a boa e velha idéia de princípios universais e atemporais legados da filosofia aristotélica, do ideal renascentista e iluminista deram lugar ao projeto pós-moderno das teorias críticas que espraiou-se pelas universidades americanas a partir de filósofos como Foucault, Derrida, Lyotard que emergiram na cena francesa na década de 60 do século passado. Nada de verdades objetivas, de princípios universais, de individualidade. Tudo é relativo, fruto de construção social e de sistemas de poder, o grupo é base da humanidade. Daí que humano, humanidade são conceitos vazios se não forem ancorados em raça, gênero e preferências sexuais. Não ouse criticar qualquer idéia ou postura de  um desses grupos que se consideram oprimidos. O debate ao invés de se dar no no foco da sua crítica vai resvalar para questões identitárias e muito provavelmente você será taxado de racista, machista, homofóbico através de uma carteirada racial, feminista, LBGTQI....+, expediente que o ex-ministro e esposa utilizaram.

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Vivemos um retrocesso no debate público de idéias, com a rejeição dada ao universal e à verdade objetiva. Valem as narrativas. Toda a área de Humanidades das universidades está contaminada por essa linha de pensamento e isso se espraia no mundo das artes, da cultura e na mídia mainstream do nosso jornalismo.  

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Sílvio de Almeida chamou-me a atenção muito antes de se tornar ministro,  ao ver seu desempenho em um vídeo enviado por um progressista das minhas relações. Impressionou-me a postura assertiva, diria agressiva que com colocava suas idéias a respeito do problema racial no país. Como ministro várias vezes o vi de dedo em riste, uma postura que confirmava a versão que dele tivera no vídeo. Em uma dessas ironias da vida, com acusações graves de assédio sexual feitas por diversas mulheres , terá agora que enfrentar o letramento de gênero das acusadoras.  Provará do próprio veneno, já que era um craque num outro letramento, o de raça.

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O ex-ministro é um dos expoentes da tese do racismo estrutural no país. Tem até um livro publicado com o mesmo nome, classificado de icônico, por uma jornalista do mainstream - zero surpresa que acaba de receber o Juca Pato de intelectual do ano.  Terei que lê-lo, provavelmente discordarei mais do que concordarei. Pela postura dos que gostam de usar o termo, todo branco neste país com uma visão crítica em relação às teses por eles defendidas sofre de um mal : racismo estrutural. Nada como uma carteirada.


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