Sempre considerei um delírio de bolsonarista-raiz os vídeos de uma vizinha enviados durante o período eleitoral que precedeu a última eleição presidencial. Mostravam blindados alinhados, militares circulando entre eles e mensagens de que eles estavam chegando, bastava ter paciência. E havia também os acampamentos em frente aos quarteis, com demonstrações individuais e grupais que evidenciavam um completo alienamento da realidade. Pareciam um bando de lunáticos.
A liberação do relatório de quase 900 páginas da PF detalhando os planos para impedir que Lula assumisse a Presidência, deixam claro que aqueles videos e manifestações não eram delirantes. Havia um plano sendo gestado, videos e acampamentos cumpriam o papel de manter mobilizados os convertidos. A operação tabajara de 08/01 foi o canto de cisne, a tentativa desesperada final de através das massas, convencer os militares a sairem dos quartéis e (re)tomar o poder da nação. Em vão. Parte deles - não sabe-se exatamente por quais razões - recusou-se a aderir.
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Fica a dolorosa constatação de que foram as Forças Armadas e não as nossas instituições de estado - Judiciário em particular - cantadas em prosa e verso por alguns setores da imprensa, os fatores determinantes para que nossa democracia não naufragasse em mais um golpe, que seria dado - pasmem! - dentro das quatro linhas.
Nossas instituições civis são frágeis; o poder armado pesa em demasia, reforçado pelo discutível artigo 142 da Constituição; características típicas de uma república bananeira. A frase do filho do ex-presidente revela bem o quanto estamos à mercê dos militares, desde a instauração da nossa República - aliás, uma quartelada:
- Para fechar o STF, basta um soldado e um cabo.