É frase frequente no discurso do nosso ex-presidente. Revela uma preocupação comum a todo o brasileiro minimamente letrado em legitimar seus atos com o carimbo da legalidade mais do que com o da ética. O exemplo mais gritante talvez ocorra com o mundo jurídico - ora, ora! - que ultrapassa os limites constitucionais do teto salarial dos servidores públicos, utilizando-se de penduricalhos que são agregados aos rendimentos através de resoluções, leis internas que - sejamos diretos! - esquentam a burla. Aí basta utilizar a justificativa - de incomparável cinismo - de que seguem o que está disposto na lei. É o popularesco dentro das quatro linhas. A ética que se dane.
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A nossa obsessão em legitimar é de tal gráu, que num dos celulares do ajudante de ordens do ex-presidente a frase foi encontrada no texto de uma minuta do golpe arquitetado pela corte palaciana - jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas . Haja criatividade jurídica para legitimar um golpe...
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A prática perpassa todas as camadas de brasileiros minimamente escolarizados. Entre os coleguinhas de profissão e de empresa, ela era comum entre aqueles que sabedores de que estavam fazendo algo dúbio eticamente, procuravam o manto da lei para se proteger. Se questionados, sempre poderiam sacar do argumento de que seu ato era legal. Se era moral...
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Caso se soubesse como são feitas as leis e as salsichas, não se seguiriam as primeiras, nem se comeriam as segundas.
O termo de comparação dá bem uma idéia da qualidade dos ingredientes utilizados para a confecção de ambas. Pense na qualidade de quem faz as leis no país, a começar pelos corpos legislativos em qualquer esfera e você há de provar o gostinho da salsicha. O fosso entre o mundo de quem elabora as leis e as interpreta e o mundo das leis universais da ética que deveria ser pequeno, alarga-se à medida que o tempo passa. Não é de se estranhar o fato de tanta gente flagrada em práticas que violam as leis mais comezinhas da ética, sair-se com a pérola:
- Não estou cometendo nenhum ato ilegal.
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