No final do mês de aniversário, cai-me no ouvido essa música que embalava as dores de um grande fracasso amoroso. A gravação é uma delicada versão musical da canção original cantada por Djavan nos anos 80. É estrada...O título tem tudo a ver.
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
No Rio a guerra virou paisagem
Frase definitiva sobre a violência que tomou conta do Rio faz algum tempo. Ela é título da coluna de Mariliz Pereira Jorge para a Folha (28.10.2025), data em que a cidade viveu o maior morticinio na longa história de enfrentamentos protagonizada entre as polícias e a bandidagem, neste confronto representada pelo Comando Vermelho.
Não vou entrar na ideologização ou politicagem que tomou conta do debate que corre solto nas diversas bolhas que compõem a midia e redes sociais ao sabor dos ventos que sopram em cada uma delas... se houve ou não chacina, se os bandidos são narco-terroristas... Como morador da Zona Sul - a face vendavel/monetizavel apresentada pelas agências de turismo desta cidade partida - e que não sente na carne o problema, vou dar lugar de fala para minha secretária que mora em Santa Cruz, lá no fundão do município em uma área antes dominada pelas milícias e agora tomada pelos traficantes. Ela os qualifica de perversos, comparados aos milicianos, odeia a polícia, mas aprovou a mortandade, porque prá ela bandido bom é bandido morto.
Dou toda a razão para seus ódios, apesar de não concordar que bandido bom é bandido morto, dada a minha formação, mas morasse lá... provavelmente acabaria concedendo.
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A Cidade Maravilhosa, aquela da marchinha de carnaval de 100 anos atrás, já era.
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
"La garantia somos nosotros"
Quem passou dos 50, deve ter assistido no passado um programa humorístico na TV Globo, que fazia rir de verdade, chamado Show do Gordo. Jô Soares encarnava diversos tipos entre eles o Gardelón, um argentino com muitas tiradas típicas dos hermanos; lembro particularmente de uma: - La garantia soy yo!
Elena Landau, sempre muito perspicaz e incisiva, na sua coluna de hoje para o Estadão fez uma adaptação bem feliz para ela: - La garantia somos nosotros. Referia-se a quem irá pagar a conta da gastança que o atual governo está fazendo com o dinheiro dos contribuintes. O assunto do momento é o empréstimo de 20 bilhões necessário para cobrir o rombo dos Correios, deficitários nos últimos 3 anos; só no primeiro semestre deste ano o prejuizo foi de 4,3 bilhões. A garantia será dada pelo Tesouro, isto é, por nós, os contribuintes,
A propósito, O Globo de hoje informa que nos últimos 3 anos, foram retirados do cálculo da meta fiscal, mais de 150 bilhões, praticamente o custo de um Bolsa-Família. Problema é que dentro ou fora da meta, o valor não deixa de existir e deverá ser pago.
Adivinhem por quem. Por nosotros, e pior, por nossos descendentes, que comprometem seu futuro desde já. Pagarão o preço de erros por eles não cometidos.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
- Não tem nada de ilegítimo, não tem nada de ilegal!
argumentou o vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, em defesa do pagamento dos chamados penduricalhos - valores acrescidos ao salário-base - para algumas funções do Judiciário, um jeitinho legal para driblar o teto do funcionalismo público. O UOL informa, baseado em dados do portal de transparência do tribunal, que o desembargador recebeu entre setembro/24 e agosto/25, 1,5 milhão de reais líquidos de proventos, dos quais 1,3 milhão referem-se a vantagens pessoais e eventuais, gratificações e indenizações. Tudo transparente, tudo legal!
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Talvez houvesse, sim, ingenuidade — a ingenuidade de alguém que não estava agindo fora da lei, que não estava cometendo nenhum tipo de crime. Quando não estamos fazendo nada ilegal, ou nada que possamos nos envergonhar no futuro, agimos com naturalidade…
Foi o que Erika Hilton, declarou em entrevista à Folha em agosto, a respeito do fato de ter contratado um maquiador e um cabelereiro para a sua equipe de acessores parlamentares. Ela é deputade federal do PSOL por SP, partido-raiz do nosso progressismo engagé, que exibe - invariavelmente com arrogância - uma suposta supremacia moral.
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Justificativa de um desembargador e de uma deputade federal, mas costumeiramente utilizado por quem é questionado a respeito da lisura dos seus atos. O argumento da legalidade, tornou-se um álibi, um carimbo para legitimar a prática de um ato. Legal e legítimo, entretanto, são conceitos diversos de acordo com mestre Norberto Bobbio no seu Dicionário de Política (Editora Universidade de Brasília, 1986). Até que enfim, dele fiz uso!
Enquanto um ato legal é um ato conforme as leis estabelecidas, um ato legítimo - no seu sentido genérico - é um ato conforme o sentido de justiça, de racionalidade. Desembargador e deputade tem razão em defender a legalidade de seus atos. Serão eles, entretanto, legítimos? Façam uma pesquisa de opinião pública a respeito e certamente a resposta será não!
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É a turma do andar de cima ou elite, como quiserem, cavando um fosso entre ela e o povão, dando ensejo a fenômenos como Bolsonaro e Trump; gerando uma crise de representatividade e uma descrença nas instituições que leva à erosão de boa parte das democracias ocidentais.
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Longe, bem longe desse insensato mundo (II)
Cumpridos 74 anos de peregrinação por esta vida - haverá outras? - ouvir canto gregoriano no matinal Áurea Música da Radio MEC FM, transporta-me para uma capela gótica de um monastério da Idade Média - vem-me a mente, aqueles ambientes recriados pelo filme O Nome da Rosa de J.J. Annaud. Faz-me lembrar dos anos de adolescência/juventude que perambulei por vários conventos franciscanos lá no Sul e que me marcaram profundamente. Sei não, mas meu estilo cada vez mais recluso de vida leva-me a pensar que ainda não abandonei aquela vida e que continuo ainda um pouco frade.
quarta-feira, 8 de outubro de 2025
Lá se foi mais um...
e a sensação mais forte de que o fim da jornada se aproxima.
A temida idade do com...dor deu as caras. Foi aos 70, que os achaques - termo de velho! - começaram a se manifestar, além dos esquecimentos - especialmente de fatos próximos - terem se tornado mais frequentes. Paradoxalmente... fatos do passado remoto assomam o plano consciente amiúde. Os 70 colocaram-me na velhice. Como não há como contrariar os fados, continuarei submetendo-me estoicamente à caprichosa tessitura das moiras.
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- Projetos? Não há mais.
Deixei prá trás o mundo do petróleo e tudo a ele relacionado, apesar de ter recebido convites para lá continuar. A ele sou grato por ter me proporcionado estabilidade financeira, mas a paisagem humana que ele oferecia não permite que eu tenha saudades.
Quero dispor do tempo só para mim. Há um Caminho de Santiago para percorrer a pé, e um Brasil do Oiapoque ao Chuí para desbravar de carro . Preciso fazê-los o mais breve possível. Os 80 se aproximam. Depois, tudo passa a ser computado como lucro.
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- Certezas? Nenhuma, além daquela de o fim estar próximo e de que - esta sim, suprema -...
- Existir, dói.
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
Insuspeito para falar
Para arrematar, é preciso arrolar a arrogância blasée que faz da democracia um lero-lero afetado e esnobe. Os “democratas” e a “esquerda” não souberam ouvir divergências, acolher descontentamentos e dialogar. Não souberam educar, porque não souberam aprender. Parecem crer que suas presunções pernósticas são o mais refinado sinônimo da verdade. Imaginando erguer a cabeça, apenas empinaram o nariz, o que abriu flancos para a demagogia bruta da extrema direita.
Eugênio Bucci - Onde é que a esquerda errou? - Estadão, 02.10.2025
Vai ao encontro do que penso. A presunção e a arrogância intelectual - celebrizada na expressão basket of deplorables de Hillary Clinton referindo-se aos apoiadores de Trump -, a superioridade moral, fruto da certeza de ter descoberto o Santo Graal, são os pecados que ornam boa parte dos integrantes da nossa esquerda. Há ainda o primado da ideologia sobre o julgamento ético - ele é o nosso canalha! - , mas aí é prá outro papo.

