terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Liberalismo

- Faça o que quiser, mas não espante os cavalos.

Perfeito. Livres para  fazer o que queremos, mas com limites.

Era o que a avó da Deirdre Nansen McCloskey, não cansava de dizer prá ela.  Deirdre é professora emérita de economia da Universidade de Illinois; a terrível escola de Chicago, que faz nossos economistas heterodoxos surtar a qualquer menção que se faça a ela ou a um de seus alunos ou professores. A Folha publica semananalmente seus artigos. Divirto-me lendo os comentários que a nossa esquerda faz deles, além dos ataques que a ela dirige. Quanta ignorância e boçalidade de boa parte dos seus signatários! 

domingo, 5 de janeiro de 2025

Vórtice

Obra de Sonia Dias Souza em exposição na mostra Da Terra que Somos no Museu da República em Brasilia. É um triângulo invertido formado por círculos de terra. Segundo sua autora representa a forma arquetípica feminina, simboliza fertilidade e transformação. 

O Estadão - 05.01.2025


Do meu ponto de vista - hétero/cis -  o nome representa à perfeição o que  consome o imaginário masculino. Para ele convergimos submetidos à ação de  sua força centrípeta inexorável.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Feliz Ano Novo!

 Os anos passam... e a vida continua.

Fran_Kie - Adobe original (Estadão 02.01.25)

A "malaise" é geral.

2024 se foi  e não via tanto desalento com o novo ano e com o nosso futuro.

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Em relação ao mundo, cresce a sensação de que a invasão da Ucrânia pela Russia, pela sua duração, pode se tornar o embrião da 3a Guerra Mundial dada a crescente internacionalização que o conflito vai assumindo e das ambições expansionistas russas, embora negadas sistematicamente. 

Outra ameaça iminente é uma guerra comercial. Trump promete taxar as importações, particularmente as chinesas e certamente sofrerá retaliação. A história ensina que guerras econômicas tem implicações geopolíticas que  podem degenerar em conflitos armados a exemplo do que aconteceu na 1a Guerra Mundial. 

Há um desencanto generalizado com as democracias liberais materializado na eleição de candidatos com claras tendências autocráticas em diversos países, como nos Estados Unidos, o berço desse regime. Paul Krugman no seu artigo de despedida do NYT , fala em raiva e ressentimento das massas, contra um sistema político dominado pela retórica, com  governantes não entregando o que prometem. 

Não poderia ser diferente na América Latina, que teima em não dar certo desde sua descoberta. O Informe 2023 do Latinobarômetro leva por título La Recesión Democrática de América Latina. Apenas 48% da população apoiava a democracia, o registro mais baixo desde o início da pesquisa em 1995.  São apontados como causas: o personalismo, a corrupção, a interrupção de mandatos e a interinidade dos substitutos.  Como pano de fundo a crise das elites que gera uma crise de representatividade expressa na miríade de partidos políticos. Menos mal que em 2024 o número cresceu para 52%. Será que podemos comemorar?

O Brasil com sua democracia mambembe, não desafinaria o coro do desencanto. Chamou minha atenção um artigo do Nelson Motta para o Globo - Adeus às Ilusões - em que ele praticamente desiste do país.  Abre com a frase que o exime da pecha de Cassandra pelo que escreverá em seguida: - Sempre tive muita fé no Brasil... perdida com o passar dos anos e a desenrolar dos fatos :

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Sessenta anos depois com vários governos e congressos e impeachments e vergonhas e roubalheiras e impunidades inomináveis pode-se dizer com certeza: não vai dar certo.

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Parlamentares e historiadores mais antigos sabem: nunca foi tão ruim. E vai piorar...

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 O que dizer do futuro do planeta na questão do meio-ambiente?

O Brasil em 2024 registrou o ano mais quente da série histórica que começou em 1961 de acordo com o INMET. As temperaturas ficaram 0,79 gráus C acima da média 1991/2020. 

No planeta,  2024 dificilmente deixará de ser o ano mais quente da história. Segundo a OMM (Organização Meteorológia Mundial) dados até setembro/24, mostram a temperatura média global 1,54 gráus C acima da média histórica entre 1850/1900. Como os cientistas no Acordo de Paris em 2015 estimaram que 1,50 gráus C acima dessa média seria a deadline para deflagar mudanças climáticas com consequências ainda mais devastadoras para o planeta, resta-nos confiar na misericórdia divina. Vale lembrar que a partir daquele ano as temperaturas médias do planeta tem batido recordes sucessivos.

Prá variar... a retórica é muita, as ações poucas. Quatro grandes bancos americanos comunicaram neste início de ano,  sua retirada da maior aliança mundial climática para bancos: Net Zero Banking Alliance ( NZBA). Por outro lado,  as COP's são anuais, suas resoluções são tíbias e não respeitadas. O resultado está aí; a meta de 1,50 gráus C prevista para 2050 deve ser alcançada em 2024. 


quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Feliz Natal!

Murillo (1617-1682) - Natividad con el anuncio a los pastores.

Sou agnóstico, dividido entre a razão e minha pouca fé, mas celebro o Natal com profundo respeito, dadas minhas raízes profundamente católicas. Um Deus todo-poderoso que assume a precariedade humana e escolhe nascer num estábulo e ter por berço uma manjedoura é a fábula-maior de todos os tempos. Não há criatividade suficiente de mente marqueteira ou literária capaz de bolar  algo de tamanha grandeza. E nem vou falar do corolário da história: sua morte em uma cruz entre malfeitores e sua ressurreição três dias após. Talvez sejam esses dois fatos a razão do sucesso do cristianismo na humanidade.

É o ponto de vista mundano para encarar os fatos. Para os respeitáveis olhos da fé  o significado é bem outro; é o resgate da humanidade, a possibilidade de voltar às origens já que somos passageiros neste mundo.








terça-feira, 24 de dezembro de 2024

É duro, talvez haja exagero, mas...

 tendo a acreditar no que escreveu o leitor Braulio A. S. Fernán do Rio de Janeiro,   na Folha:

Em nenhuma favela ou comunidade, por mais perigosa que seja, existe proporção de bandidos maior do que existe em qualquer batalhão da PM. Isso é desesperador, porque é fato. A quantidade de policiais civis, do escrevente ao delegado, que convivem com os mecanismos gravíssimos da corrupção, normalmente, atinge quase a totalidade deles.

Moro aqui e a sensação que tenho é que a verdade não está muito longe do que ele escreveu. Se há um lugar em que me senti próximo ao inferno, esse lugar é uma Delegacia de Polícia. Nada  me pareceu minimamente decente por lá.

Dentro das quatro linhas.

É frase frequente no discurso do nosso ex-presidente. Revela uma preocupação comum a todo o brasileiro minimamente letrado em legitimar seus atos com o carimbo da legalidade mais do que com o da ética. O exemplo mais gritante talvez ocorra com o mundo jurídico - ora, ora! -  que ultrapassa os limites constitucionais do teto salarial dos servidores públicos, utilizando-se de penduricalhos que são agregados aos rendimentos através de resoluções, leis internas que - sejamos diretos! -  esquentam a burla. Aí basta utilizar a justificativa - de incomparável cinismo -  de que seguem o que está disposto na lei. É o popularesco dentro das quatro linhas. A ética que se dane.

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A nossa obsessão em legitimar é de tal gráu,  que num dos celulares do ajudante de ordens do ex-presidente a frase foi encontrada no texto de uma minuta do golpe arquitetado pela corte palaciana - jogando de forma incondicional  dentro das quatro linhas . Haja criatividade jurídica para legitimar um golpe...

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A prática perpassa todas as camadas de brasileiros minimamente escolarizados. Entre os coleguinhas de profissão e de empresa, ela era comum entre aqueles que sabedores de que estavam fazendo algo dúbio eticamente, procuravam o manto da lei para se proteger. Se questionados, sempre poderiam sacar do argumento de que seu ato era legal. Se era moral...

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Caso se soubesse como são feitas as leis e as salsichas, não se seguiriam as primeiras, nem se comeriam as segundas.

O termo de comparação dá bem uma idéia da qualidade dos ingredientes utilizados para a confecção de ambas. Pense na qualidade de quem faz as leis no país, a começar pelos corpos legislativos em qualquer esfera e você há de provar o  gostinho da salsicha. O fosso entre o mundo de quem elabora as leis e as interpreta  e o mundo das leis universais da  ética que  deveria ser pequeno, alarga-se à medida que o tempo passa. Não é de se estranhar o fato de tanta gente flagrada em práticas  que violam as leis mais comezinhas da ética, sair-se com a pérola:

- Não estou cometendo nenhum ato ilegal.