sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Insuspeito para falar

 

Para arrematar, é preciso arrolar a arrogância blasée que faz da democracia um lero-lero afetado e esnobe. Os “democratas” e a “esquerda” não souberam ouvir divergências, acolher descontentamentos e dialogar. Não souberam educar, porque não souberam aprender. Parecem crer que suas presunções pernósticas são o mais refinado sinônimo da verdade. Imaginando erguer a cabeça, apenas empinaram o nariz, o que abriu flancos para a demagogia bruta da extrema direita.

Eugênio Bucci - Onde é que a esquerda errou? - Estadão, 02.10.2025 

Vai ao encontro do que penso. A presunção e a arrogância  intelectual -  celebrizada na expressão basket of deplorables de Hillary Clinton referindo-se aos apoiadores de Trump -,  a superioridade moral, fruto da certeza de ter descoberto o Santo Graal, são os pecados que ornam boa parte dos integrantes da nossa esquerda. Há ainda o primado da ideologia sobre o julgamento ético - ele é o nosso canalha! - , mas aí é prá outro papo. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

La Cardinale.

Povoou meu imagínário, até pelo menos os 40 anos. Bela, talentosa e sensual - como lí por aí -  sem nunca ter se despido diante das câmaras. Para happy few!

Em O Leopardo, com Alain Delon formou certamente um dos mais belos casais da história do cinema...e dirigida por  Luchino Visconti! Querem mais? O filme recebeu a Palma de Ouro em Cannes em  1963. E prá terminar...  é considerado um clássico na história do cinema. Chiquerésima!

O Leopardo (1963)

La Cardinale devia habitar também o imaginário de Caetano Veloso, que antes de se tornar celebridade nacional como cantor, brincava de crítico de cinema em jornais baianos e a cantou em Alegria, Alegria, no histórico festival de 1968:

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
em Cardinales bonitas
......
bomba e Brigitte Bardot

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Mais  uma a se ir. Estou cada vez mais só.


O bruxo/mago de Bangu

O chamavam de bruxo do sons, porque os extraia de qualquer objeto que lhe caisse às mãos. Prefiro chamá-lo de  bruxo/mago - estrábico, albino, com aquele cabelão desgrenhado! - de Bangu, um bairro perdido da Zona Oeste, no fundão do município do Rio de Janeiro.  Em sua própria casa no Jabour, funcionou (não sei se ainda está em atividade...) a Escola Jabour de música, totalmente fora dos padrões de ensino da matéria. Foi seu quartel-general  e de lá não saiu até sua morte ocorrida no dia 13 deste mês. Ficou longe do badalado circuito da Zona Sul, mesmo  considerado um músico popular de primeiríssima  grandeza urbi et orbi. No festival de Montreux de 1969 recebeu uma ovação destinada a poucos que por lá se apresentaram. Miles Davis disse de Hermeto: 

- O músico mais impressionante do mundo.

Nunca recebeu a atenção que realmente merecia por aqui. Menos mal que no Rio deram seu nome para uma  Areninha Cultural na Praça Primeiro de Maio em Bangu. Entretanto, era respeitadíssimo no exterior tendo sido agraciado com o título de Doutor honoris causa da prestigiosa Juilliard School de Nova Iorque. 

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Apesar desse alagoano de Olho D'Água ser uma usina sonora, segue um forró arretado de ortodoxo desse músico autodidata que fez o mundo sem nunca ter abandonado  Bangu:


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Outro grande personagem do meu mundo que se vai.


domingo, 14 de setembro de 2025

Ferraris, Lamborguinis, Rolex, imóveis em condomínios de luxo...

Traduzem o brazilian way of life de traficantes/milicianos/golpistas/influencers  a julgar pelas apreensões da Polícia Federal nas suas operações contra o crime organizado, ou não, da nossa Pindorama em tempos recentes. Até réplica de carro de Fórmula 1 apreenderam!

Não sei qual o sentimento do  crème de la crème do nosso andar de cima a respeito, pois a posse de um ou mais desses brinquedinhos até bem pouco tempo balizava a diferença deles para nós simples mortais. Pois nos novos tempos, a ralé moral/existencial da nossa sociedade  também resolveu adotá-los como símbolos de status.

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Deve ser duro acordar  pela manhã e ver um séquito de carros da PF estacionados ao lado da sua casa, ou na portaria do seu prédio de apartamentos. Afinal, seu vizinho não passava de  um traficante/miliciano/influencer/golpista de renome na praça. Madames  devem ficar em polvorosa.

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Divirto-me a beça. Ranço dos velhos tempos em que acreditava  na máxima baudelariana:   épater la burgeoisie. 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Penso, logo é isso.

Vou retomar um post feito no passado em que apresentava variações/trocadilhos para o Cogito cartesiano, depois de ter lido um artigo da colunista que aborda temas de midia para a UOL  Rosana Hermann. Neste artigo, entretanto, ela resolveu pensar um pouco sobre o momento em que vivemos e lá encontrei a pérola do título. Muito pertinente.

Nestes tempos em que as grandes narrativas soçobraram, e que a internet e redes sociais  deram palanque para todos,  o debate público tornou-se uma grande Babel, expressão utilizada por Rosana. Descartes e seu cogito - pilar de uma grande narrativa que fundou a época moderna -  deram lugar para o Penso, logo é isso, - não deixa de ser um trocadilho! -  retrato de uma atualidade estilhaçada. 

Humberto Eco, pegou pesado, ao dizer que a - A internet deu voz a uma legião de imbecis. De fato, ela democratizou o debate público, porém, trouxe para a ribalta o nível, antes restrito ao espaço dos botequins. Fez do papo de boteco, uma atividade online.

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- Serei eu mais um na legião?

sábado, 30 de agosto de 2025

...e a América curva-se para a Latinoamérica (II)

Curiosamente dias após eu ter postado a matéria sobre o fato da América estar copiando as mazelas que condenam ao atraso a América Latina a Economist publica uma reportagem que parece ir na contramão do que escreví. A matéria de capa afirma que o Brasil está dando aulas de maturidade democrática aos Estados Unidos no caso da apuração e julgamento da tentativa de golpe do 8 de janeiro, comparando-o  com o da invasão do Capitólio feita pelos seguidores de Trump um ano antes.

Considerando pontualmente o evento, tendo a concordar com a afirmação, a América estaria aprendendo com a Latinoamérica, mas suspeito que  o(s) autor(es) da matéria não devem conhecer suficientemente os detalhes de funcionamento de nossa democracia.  Para tal, é necessário viver em Pindorama por algum tempo. Somos muito bons no atacado, temos legislações avançadíssimas, por exemplo, em meio-ambiente, no combate à violência doméstica, à inclusão de deficientes, mas tropeçamos no varejo,  na  aplicação da legislação no dia-a-dia. A independência entre os poderes, existe no papel; na vida como ela é, funciona precariamente. 

O Judiciário é atravessado pela política e a atravessa, só para citar um dos poderes. Dentro do próprio processo jurídico instaurado contra os participantes da desastrada operação, boa parte das condenações já impostas à infantaria (arraia miúda) que promoveu a invasão/baderna nos prédios públicos,  foi de uma exagerada dosimetria, fato defendido por muitos juristas.