domingo, 17 de março de 2019

Nascemos barrocos e no barroco encalhamos.

Se você quiser entender o porquê,  entre numa Igreja barroca, pode ser a do Largo de São Francisco aqui no Centro, depois vá a Catedral Presbiteriana que fica bem pertinho. Na primeira muitas curvas, sinuosidades, a exuberância... na segunda, as paredes limpas, a ausência de imagens, o despojamento. O barroco foi a revolta dos sentidos, a explosão dos sentimentos contra a harmonia, o equilíbrio das proporções, da medida justa do Renascimento. Desafortunadamente não fomos renascentistas, nem clássicos, tampouco iluministas e prá finalizar,  não somos modernos. Permanecemos atolados no barroco que como arte dominou o cenário brasileiro nos séculos XVII e XVIII  mas que deixou marca indelével na justiça, na política e nos costumes do país. Latinos, somos filhos da Contra-reforma católica e enveredamos pela exuberância da emoção. Os anglo-saxões, protestantes, são filhos da Reforma preferiram a sobriedade da razão. Ficamos com as curvas, eles com as retas. Eles são o prego, nós o parafuso.
É por isso que aqui, o processo é mais importante que a finalidade, o atributo que o ser, o paradoxo que a sentença afirmativa. Adoramos as contradições, o relativismo moral, o tom sempre exagerado, emocional, toleramos os mal-feitos, gostamos da farsa e da burla.
O barroco é a suspensão da sensatez, da prudência, do razoável. É o efeito pelo efeito, a adorno sem fim, a desmesura do adereço.
São todos conceitos retirados do livro de Jorge Maranhão, Destorcer o Brasil, Ibis Libris, 2018. Posso dizer que já li mais do que a média a respeito da formação desse país - pelo menos os clássicos mais importantes -  tentando entender, quase que desesperadamente, o desatino que nos tornamos, o impasse civilizacional em que nos metemos. e o livro contribue para encontrar algumas respostas.

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