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O Nix, disse ela, era um espírito das águas que vagava pelo litoral em busca de crianças, especialmente aquelas intrépidas que andassem sozinhas. Ao encontrar uma, o Nix se mostrava a ela na forma de um grande cavalo branco. Desencilhado, mas amigável e manso. Abaixava-se, tanto quanto possível para um cavalo, oferecendo o lombo para que a criança montasse.
O Nix, disse ela, era um espírito das águas que vagava pelo litoral em busca de crianças, especialmente aquelas intrépidas que andassem sozinhas. Ao encontrar uma, o Nix se mostrava a ela na forma de um grande cavalo branco. Desencilhado, mas amigável e manso. Abaixava-se, tanto quanto possível para um cavalo, oferecendo o lombo para que a criança montasse.
No início as crianças ficavam com medo, mas, no fim das contas, como poderiam recusar? Um cavalo só para elas! Então saltavam para cima dele e, quando o animal se erguia de novo, descobriam-se dois metros e meio acima do solo e se sentiam deleitadas - nenhuma criatura tão grande jamais lhes dera atenção. Isso as encorajava. Para irem mais rápido, as crianças então batiam os calcanhares no cavalo, que saía em um trote largo, e, quando mais elas se alegravam, mais rápido ele corria.
Desejavam que outras pessoas as vissem.
Desejavam que os amigos olhassem com inveja para aquele cavalo novo e lindo. O cavalo delas.
Era sempre assim. Primeiro, as vítimas do Nix sempre tinham medo. Depois sentiam-se sortudas. Depois confiantes. Depois, orgulhosas. Depois, aterrorizadas. Incitavam-no a correr mais e mais rápido, até alcançar um galope total, agarrando-se ao pescoço dele. Essa era a melhor coisa que já acontecera com elas. Nunca tinham se sentido tão importantes, tão cheias de prazer. E só então - no ápice da velocidade e da alegria, quando acreditavam estar em total controle do animal, em sua total posse, quando mais desejavam ser invejadas por isso, no auge da vaidade, da arrogância e do orgulho - o cavalo se desviava da trilha que levava à aldeia e galopava em direção aos penhascos à beira-mar. Corria em velocidade máxima rumo ao grande despenhadeiro junto às águas revoltas e turbulentas. E as crianças gritavam e puxavam as crinas dele, choravam e pediam socorro mas era tudo inútil. O Nix saltava do abismo e despencava para o mar. As crianças continuavam agarradas ao pescoço dele enquanto caiam e, caso não morressem despedaçadas nas rochas, afogavam-se nas águas geladas.
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Quando a história do Nix foi contada a Faye, seu pai explicou que a moral era a seguinte: Não acredite em nada que pareça bom demais, para ser verdade. Mas depois ela cresceu e chegou a outra conclusão, que partilhou com Samuel um mês antes de abandonar a família. Contou a ele a mesma história, mas acrescentou a própria moral:
- As coisas que você mais ama são as que mais irão machucá-lo.
Samuel não entendeu.
Hill, Nathan, Nix (cap. 5), Intrínseca, 2018.
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