Françoise Hardy. Gata raiz anos 60. Os traços faciais com as maçãs do rosto salientes, o cabelão liso e lavado eram o standard da garota anos 60. Mas Françoise tinha mais ... tinha olhos azuis....Uauuuu!

...seu cabelo castanho era curto, penteado naquele inevitável e desajeitado formato de M típico dos primeiros estágios da calvície masculina.
...seu rosto tinha ficado vermelho, uma mudança sutil mas perceptível em relação ao tom pálido anterior, que Samuel teria descrito como um amarelo-bebê cremoso e plastificado. Bolhas de suor grudavam-se na sua testa, como aquelas borbulhas de tinta que aparecem em paredes externas em dias de muito calor.
- uma pessoa que jamais se sente em casa, não importa onde esteja...Fugiu de casa porque fugir é o que ela sabe fazer.(olha eu aí!)
...ao olhar para o passado, tudo o que enxerga é aquela vontade de estar sozinha.Livrar-se das pessoas, de seus julgamentos, de suas tramas desastrosas. Pois sempre que se envolvia com alguém, as coisas ficavam confusas e acabavam em catástrofe.Samuel, seu filho, um mix de professor de literatura e jogador de videogame:
O que você pode fazer ao descobrir que toda sua vida adulta foi uma farsa? Todas as coisas que pensava ter conquistado - a publicação do conto, o contrato editorial, o emprego como professor - só haviam acontecido porque alguém devia um favor a sua mãe. Nada daquilo era resultado do seu mérito pessoal. Ele é uma fraude. E esta é a sensação exata de ser uma fraude: um vazio total. Samuel sente-se oco. Estripado.Bethany, amor de infância e adolescência de Samuel, violinista clássica;
- Samuel? - chama ela, e ele vira-se de um rodopio.
Até que ponto uma pessoa muda em alguns anos? A primeira impressão de Samuel - e esta é a melhor maneira que ele encontra para explicá-la - é que Bethany está mais real. Já não é uma criatura reluzente das fantasias de Samuel. Parece consigo mesma; em outras palavras, parece uma pessoa normal. Talvez ela não tenha mudado nada; talvez a mudança esteja no contexto. Ainda tem os mesmos olhos verdes, a mesma pele pálida, a mesma postura perfeitamente ereta...Mas há algo diferente nela, sim: agora há vincos junto a seus olhos e sua boca. Não são sinais de envelhecimento ou de passagem do tempo: são marcas da experiência, emoção, sofrimento e sabedoria. É uma dessas coisas que a gente detecta num piscar de olhos, mas não consegue apontar especificamente.(esse reencontro guarda muitos elementos em comum com algo que aconteceu comigo nos primeiros meses do ano.)
- O que é verdadeiro? O que é falso? Caso ainda não tenha notado, devo lhe dizer que o mundo meio que abandonou o velho projeto iluminista de investigar a verdade por meio da observação direta dos fatos. A realidade é complicada demais, assustadora demais para isso. Em vez disso, é muito mais fácil ignorar os fatos que não se encaixem em nossas idéias preconcebidas e acreditar naqueles que se encaixam. Eu acredito no que eu acredito, e você acredita no que você acredita, e ficamos assim. É o encontro da tolerância liberal com o negacionismo obscurantista. Algo muito na moda hoje em dia.
- Isso parece horrível.
- Nunca fomos tão radicais em política, tão fundamentalistas em religião, tão rígidos em nossos pensamentos, tão incapazes de empatia. A forma como vemos o mundo, é totalizante e irredutível. Estamos evitando completamente os problemas levantados pela diversidade e a comunicação global. Portanto ninguém mais se importa com idéias antiquadas como a distinção entre verdadeiro e falso.Nathan Hill, Nix, Intrínseca, 2018.
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a supremacia do processo sobre a finalidade, do atributo sobre o ser, da figura do paradoxo sobre a sentença afirmativa, da ironia sobre o trato e da patranha sobre o contrato porque adoramos as contradições, o relativismo moral, o tom sempre exagerado com que colocamos nossas emoções em tudo. Nossa infinita paixão pelo errado, nossa tolerância para com a transgressão, nosso gosto pela farsa e pela burla pois de fato nunca fomos um país clássico no sentido iluminista como não somos de resto um país moderno. Se tanto somos emocionalmente românticos, que nada mais é que uma recidiva dos valores legados pela visão de mundo barroquista. Para não falar do país do carnaval ou da carnavalização geral do país
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Não somos mesmo razoáveis, assim como não fomos temperados pela Renascença sequer nos bafejou a razoabilidade iluminista. A sensatez passa ao largo das nossas escolhas, adoramos a desmesura, o trocadilho e a dubeidade,, o jogo de palavras, o jogo de idéias, a farsa das narrativas, os meios tons de que somos feitos, pois até no pardo da pele somos pretos ou brancos na conveniência da vez
........Então é isso; estacionamos no Barroco, sem termos experimentado a Renascença. Modernos... nem pensar. Sequer fomos bafejados pelo Iluminismo.