quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Feliz Natal!

Murillo (1617-1682) - Natividad con el anuncio a los pastores.

Sou agnóstico, dividido entre a razão e minha pouca fé, mas celebro o Natal com profundo respeito, dadas minhas raízes profundamente católicas. Um Deus todo-poderoso que assume a precariedade humana e escolhe nascer num estábulo e ter por berço uma manjedoura é a fábula-maior de todos os tempos. Não há criatividade suficiente de mente marqueteira ou literária capaz de bolar  algo de tamanha grandeza. E nem vou falar do corolário da história: sua morte em uma cruz entre malfeitores e sua ressurreição três dias após. Talvez sejam esses dois fatos a razão do sucesso do cristianismo na humanidade.

É o ponto de vista mundano para encarar os fatos. Para os respeitáveis olhos da fé  o significado é bem outro; é o resgate da humanidade, a possibilidade de voltar às origens já que somos passageiros neste mundo.








terça-feira, 24 de dezembro de 2024

É duro, talvez haja exagero, mas...

 tendo a acreditar no que escreveu o leitor Braulio A. S. Fernán do Rio de Janeiro,   na Folha:

Em nenhuma favela ou comunidade, por mais perigosa que seja, existe proporção de bandidos maior do que existe em qualquer batalhão da PM. Isso é desesperador, porque é fato. A quantidade de policiais civis, do escrevente ao delegado, que convivem com os mecanismos gravíssimos da corrupção, normalmente, atinge quase a totalidade deles.

Moro aqui e a sensação que tenho é que a verdade não está muito longe do que ele escreveu. Se há um lugar em que me senti próximo ao inferno, esse lugar é uma Delegacia de Polícia. Nada  me pareceu minimamente decente por lá.

Dentro das quatro linhas.

É frase frequente no discurso do nosso ex-presidente. Revela uma preocupação comum a todo o brasileiro minimamente letrado em legitimar seus atos com o carimbo da legalidade mais do que com o da ética. O exemplo mais gritante talvez ocorra com o mundo jurídico - ora, ora! -  que ultrapassa os limites constitucionais do teto salarial dos servidores públicos, utilizando-se de penduricalhos que são agregados aos rendimentos através de resoluções, leis internas que - sejamos diretos! -  esquentam a burla. Aí basta utilizar a justificativa - de incomparável cinismo -  de que seguem o que está disposto na lei. É o popularesco dentro das quatro linhas. A ética que se dane.

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A nossa obsessão em legitimar é de tal gráu,  que num dos celulares do ajudante de ordens do ex-presidente a frase foi encontrada no texto de uma minuta do golpe arquitetado pela corte palaciana - jogando de forma incondicional  dentro das quatro linhas . Haja criatividade jurídica para legitimar um golpe...

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A prática perpassa todas as camadas de brasileiros minimamente escolarizados. Entre os coleguinhas de profissão e de empresa, ela era comum entre aqueles que sabedores de que estavam fazendo algo dúbio eticamente, procuravam o manto da lei para se proteger. Se questionados, sempre poderiam sacar do argumento de que seu ato era legal. Se era moral...

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Caso se soubesse como são feitas as leis e as salsichas, não se seguiriam as primeiras, nem se comeriam as segundas.

O termo de comparação dá bem uma idéia da qualidade dos ingredientes utilizados para a confecção de ambas. Pense na qualidade de quem faz as leis no país, a começar pelos corpos legislativos em qualquer esfera e você há de provar o  gostinho da salsicha. O fosso entre o mundo de quem elabora as leis e as interpreta  e o mundo das leis universais da  ética que  deveria ser pequeno, alarga-se à medida que o tempo passa. Não é de se estranhar o fato de tanta gente flagrada em práticas  que violam as leis mais comezinhas da ética, sair-se com a pérola:

- Não estou cometendo nenhum ato ilegal.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Arpoador: 5:50h da manhã (II)

 Assisti a Ainda Estou Aqui, o filme de Walter Salles indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, com Fernanda Torres concorrendo ao Oscar de melhor atriz. Um filme brasileiro de qualidade surpreendente para meu conhecimento de produção nacional na área. Acessível ao espectador médio, sem concessões ao mercado.  Um filme sóbrio - virtude não muito apreciada em um país hiperbólico. Fernanda Montenegro está muito bem. 

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Ver aquele Leblon dos anos 70 com casas na quadra da praia frequentada pelos moradores,  a bola do vôlei de praia  atravessando a rua com duas pistas apenas e entrando no terreno delas,  crianças jogando futebol na rua e comparar com as cenas que vejo hoje quando passo por lá caminhando  praticamente em todos os finais de semana, deixou-me uma impressão tão forte quanto o ambiente sombrio da repressão militar daqueles dias, muito bem retratado no filme. Aquela vida bucólica de um bairro residencial comparada com a quase selvageria que presenciara na semana anterior no Arpoador que é próximo e  descrevi em postagem anterior - daí o título -  chocou-me profundamente. São 50 anos apenas! 

Não vivemos mais em uma ditadura,  embora continuemos uma república bananeira em termos de práticas democráticas; daí que melhoramos alguma coisa no quesito. A geomorfologia da cidade não mudou e ela continua linda; os dois gigantes de pedra: Morro  Dois Irmãos e a Pedra da Gávea continuam lá. No mais - urbanidade, urbanismo, comunidade, cidadania e o que você quiser em termos de relações humanas -  descemos a ladeira... e continuamos descendo. Os episódios do Arpoador falam por sí.

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Apesar do ambiente bucólico de bairro a beira-mar, para alcançarmos a degradação atual, certamente alguns ovos a serpente deve ter colocado naqueles anos.

Disse tudo (II)

 A Bolsa de Valores é algo assim como uma suruba onde você entra com a bunda.

Planeta Diário 

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Eu que o diga!

Disse tudo

O conhecimento vai muito além da informação. A sabedoria está nos detalhes, nas entrelinhas, no silêncio, no que não foi dito e que não pode ser medido.

Tostão 

domingo, 8 de dezembro de 2024

Arpoador, 5:50h de manhã.

Vinha de Copa e valendo-me de um atalho pelo parque Garota de Ipanema, estava alcançando o Arpoador na minha tradicional caminhada dominical. Deparo-me com uma algazarra,  incomum para uma hora tão incomum. Um grupo conduzia um homem para dentro do parque, tentando acalmá-lo, depois de tê-lo retirado do que parece ter sido uma briga. Alcanço a praia e deparo-me com uma multidão na areia. No  Largo do Millor, faço algumas fotos e um video para documentar uma cena improvável acontecendo  àquela hora. Provavelmente ninguém mora no bairro, nem nas proximidades. São pessoas que vem do subúrbio ou de favelas e certamente passaram a noite na própria praia.

Arpoador, 5:50AM

Posto 8, 6:00AM

Morro Dois Irmãos e Pedra da Gávea do Largo do Millor 5:50AM

Ao retornar, sou abordado por um negão paramentado com o manto sagrado, que me ofereceu - em inglês, of course -  cocaína. Que diabos! minha cara de gringo nunca falha.

Afasto-me em direção ao Leblon, estupefato  com o inusitado daquelas cenas, com a sensação de que algo estava fora do lugar. Um arrastão para mais tarde era uma hipótese bem plausível.

Situações como essa, só o Rio pode oferecer. Uma muvuca daquelas, num dos cartões postais da cidade,  tendo um pano de fundo de fazer inveja a qualquer cidade:  o morro Dois Irmãos e a pedra da Gavea. Beleza e distopia, juntos e misturados.

E pensar que nossos homens públicos, querem fazer da cidade, uma capital global. Devem ter tomado algum chá especial... Ou seria cocaina?

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...e o verão sequer começou.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Os fiadores da nossa democracia.

Sempre considerei um delírio de bolsonarista-raiz os vídeos de uma vizinha enviados durante o período eleitoral que precedeu a última eleição presidencial. Mostravam blindados alinhados, militares circulando entre eles e mensagens de que eles estavam chegando, bastava ter paciência. E havia também os acampamentos em frente aos quarteis, com demonstrações individuais e grupais que evidenciavam um completo alienamento da realidade. Pareciam um bando de lunáticos.

A liberação do relatório de quase 900 páginas  da PF detalhando os planos para impedir que Lula assumisse a Presidência, deixam claro que aqueles videos e manifestações não eram delirantes. Havia um plano sendo gestado, videos e acampamentos cumpriam o papel de manter mobilizados os convertidos. A operação tabajara de 08/01 foi o canto de cisne, a tentativa desesperada final de através das massas, convencer os militares a sairem dos quartéis e (re)tomar o poder da nação. Em vão. Parte deles - não sabe-se exatamente por quais razões - recusou-se a aderir.

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Fica a dolorosa constatação de que foram as Forças Armadas e não as nossas instituições de estado - Judiciário em particular - cantadas em prosa e verso por alguns setores da imprensa, os fatores determinantes para que nossa democracia não naufragasse em mais um golpe, que seria dado - pasmem! -  dentro das quatro linhas.

Nossas instituições civis são frágeis; o poder armado pesa em demasia, reforçado pelo discutível artigo 142 da Constituição; características típicas de uma república bananeira.  A frase do filho do ex-presidente revela bem o quanto estamos à mercê dos militares, desde a instauração da nossa República - aliás, uma quartelada:

- Para fechar o STF, basta um soldado e um cabo.


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Auto-engano carioca.

 Rio, vocação para capital global

É o título de uma matéria de O Globo de hoje.  Sempre admirei o otimismo desvairado que o carioca tem pela sua cidade, e que aumenta ainda mais depois do sucesso de eventos como o do G20. Para viabilizá-lo, no entanto,  a cidade foi posta para hibernar por 5 dias e o Exército colocou sua tropa na rua.  Quem mora aqui e vive fora da orla da Zona Sul,  seu dia-a-dia sem feriados em sequência, com o Exército nos quartéis,  sabe que o título da matéria não passa de um auto-engano delirante.

Alguns fatos para  jogar por terra o afirmação ufanista:

  • Ontem foram reportados arrastões na Rua Princesa Isabel, próximo a minha moradia. Nem final de semana era, mas bastou a temperatura rondar os 40 gráus , para os arrastões - figurinhas fáceis do verão carioca - darem a cara na Zona Sul.
  • Saio cedo para minhas longas caminhadas de final de semana - entre 5:00 e 6:00h da manhã. Encontro vários mendigos dormindo debaixo das marquises num trecho de 200m da rua Rodolfo Dantas - nem de longe,  mauma das principais do bairro! -  entre Barata Ribeiro e Av. Atlântica. 
  • Depois da pandemia, o Centro da cidade está moribundo,  confessa-me um colega de desgustações da ABS, proprietário de uma ótica localizada no Terminal Menezes Cortes. Ele desespera-se com a quantidade de camelôs ocupando a rua em frente a sua ótica. 
  • Comprei um apartamento em um bairro considerado zona nobre da Barra da Tijuca, pensando em fugir da muvuca de Copacabana nos finais de semana. Duas pessoas já me passaram a informação que a Milícia controla a segurança de várias ruas do bairro. 
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O Rio teria sim vocação para capital global, caso não fosse uma cidade refém da violência, da desordem urbana, com os serviços públicos funcionando precariamente e, - pior! - com crime e corrupção carcomendo seu tecido institucional. Entre a realidade e os delírios de seus governantes existe um salto quântico para ser dado. Tarefa de pelo menos uma geração, pois terá que começar por reformatar corações e mentes da maior parte dos que vivem aqui.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A ressignificante Janja

Dado o apetite da moça por protagonismo, aguardei ansioso o que ela aprontaria no G20, mas confesso que minha imaginação foi derrotada pelos fatos. Nem vou abordar o que ela disse no G20 Social - evento prévio ao encontro principal -  e que tanta repercussão alcançou na imprensa.  

Vê-la ocupando uma das vagas dos assessores que todos os mandatários colocam logo atrás de posição que ocupam na mesa central do G20 foi o máximo. Qual seria mesmo a qualificação profissional que ela teria nos temas a serem discutidos no evento, para ocupar tal lugar, a não ser a de esposa do presidente da República? 

Ver a primeira-dama tomando o lugar de um assessor qualificado do presidente para os assuntos abordados pela conferência, lembrou-me o lado  república bananeira que teimamos manter. Sua trajetória profissional, a julgar por uma matéria especial sobre ela, publicada no UOL, resume-se a ter ocupado um cargo em Itaipu Binacional, admitida por indicação. É socióloga formada pela UFPR.

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Rosângela Silva (Janja) mostra com o seu protagonismo como aquela frase constantemente repetida por apresentadoras/comentaristas da Globo News, a rede woke do país, comandadas pela madrinha Miriam Leitão. 

- Toda mulher tem o direito de ser o que quiser, fazer o que ela quiser.

é irreal e infantil. Ninguém, - de qualquer gênero, raça  ou classificação qualquer - vivendo em sociedade ou mesmo isolado na natureza pode fazer o que quiser e ser o que quiser. Ninguém é a medida de todas as coisas, ninguém é portador de liberdade absoluta. Foi para (sobre)viver em sociedade e na natureza que fomos - docemente ou não -  constrangidos a  nos submeter a regras. 

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...e suprema ironia! Ela que se considera uma feminista empoderada, deve todo seu protagonismo a um homem, ao fato de ser sua esposa e, claro também a seu voluntarismo, que ela tem prá dar e vender.   Qual o seu currículo em política para justificar tamanha desenvoltura? Para ressignificar não basta apenas voluntarismo ou ser esposa de alguém importante. É preciso ter luz própria conquistada com muita ralação nos bancos escolares, no trabalho e que demanda anos de vida; características para as quais ela parece estar em débito.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Nativismo dos Pampas

Gaudêncio Sete Luas

 Composição - Luiz Coronel/ Marco Aurélio Vasconcellos; Interpretação - Leopoldo Rassier.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Um boneco, um robô...

Não. Pelo que lí por aí é uma das filhas do Trump no discurso da vitória dele. Já impressiona em uma única foto, com aquele sorriso de plástico, os olhos no infinito, a maquiagem pesada, os peitos escondidos mas à mostra - look da moda! Reparem a outra foto;  nada mudou na expressão facial. 





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Rostos e sorrisos de plástico - empalhados como diria minha geração - podem ser vistos todo o dia nas fotos das celebs e famosas que infestam nossa mídia mesmo aquela que se considera da melhor qualidade. Como a que não tem nenhuma, vive de curtidas e dos anunciantes. Sinal dos tempos!



sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Para acabar com uma paixão...

divida o mesmo teto, quarto, banheiro, ou como diriam os mais velhos... case. Foi o diagnóstico dado pela mãe de uma professora de filosofia em entrevista a um programa sobre o Amor - ora,ora... - que ouvi recentemente na rádio MEC.

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Vem a propósito,  pois tornei-me muro das lamentações de uma pessoa próxima que enviuvou e cansado da solidão, reatou um velho romance da juventude. Passaram a dividir um apartamento, mas a convivência acabou sendo ingrata. Revelou as idiossincrasias de um e outro, que o ardor da juventude sobrelevou no passado. Perdeu ele que acabou levando o indesejado e doído pontapé na bunda. Agora lambe as feridas.

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Não tive experiências duradouras com mulheres para opinar a respeito, mas experiências recentes em viagens que fiz com pessoas próximas, propiciaram-me  a experiência da conviver sob um mesmo teto e devo confessar, o preço pago por ela foi muito alto. Talvez a velhice tenha me tornado mais idiossincrático e menos compreensivo com as deficiências alheias. Haja afeto, boa vontade e empatia - palavrinha da moda. Dividir o teto com outra pessoa é uma hipótese remotíssima. E olha que ficar só em idade avançada, deve ser um prato bem indigesto. Mesmo com tal perspectiva sombria,  continuo dando asas à solidão.

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- Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem

já dizia o bom e velho Millor. 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Deixe seu ego à porta.

 Foi o que maestro/produtor/arranjador Quincy Jones, falecido dia 04, afixou na porta do estúdio em Los Angeles por ocasião da gravação de We are the World para o célebre concerto Live Aid em 1985, organizado para combater a fome na Etiópia. Pudera, talvez na maior noite do pop de todos os tempos, controlar em torno de 40 astros da música americana (Bob Dylan, Ray Charles, Michael Jackson, Steve Wonder  e por aí vai...), não era para qualquer um. 

Bem que esta frase poderia estar à porta de todas as salas de reunião do mundo.

Extraido do filme de divulgação do documentário  A noite que mudou o Pop da Netflix.






domingo, 27 de outubro de 2024

Solidão

 ...é a liberdade de todo o contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser

(Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do Depto de Psicologia da Universidade Carleton, Ottawa)

Ele refere-se à solitude, termo bacaninha que inventaram para designar aquela solidão positiva (!?!), que permite restaurar e reiniciar o seu cérebro, segundo o mesmo doutor. Não gosto dessa distinção pois para o fato de estar só, concorrem diversas razões, muitas delas imbricadas.

Talvez o termo tenha surgido porque solidão tem uma conotação negativa e todo mundo foge dela como o diabo foge da cruz, com raras exceções, nem tanto pelo medo de encará-la, mas  pelo preço que um solitário paga ao ser avaliado socialmente. Uma pessoa solteira ocupa os últimos degraus da escala social; é tida como de 2a classe mesmo nos círculos mais progressistas. Hipócritas que todos são, obviamente negarão publicamente. Adoraria ouvir o que falam na turma. Quantos solteiros - não quem está, mas quem é - tem posição de destaque em qualquer atividade, mesmo aquelas dominadas por pessoas de mente evoluida, progressista?

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Não é necessário ser doutor para sair-se com a frase que abre o post. Um solteiro, de carteirinha, como eu, sabe que é isso mesmo. Ser dono do seu nariz psicológica e financeiramente, dá a você esta liberdade. Problema é que custa caro. 

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Viver só e bem é a melhor vingança. 

Já ví essa frase por aí.  Pode ser encarada como um arroubo de alma ressentida, mas é uma boa resposta ao preconceito da sociedade no seu trato com pessoas solteiras.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Fala sério...

 O Rio não é lugar de baderna.

postou nas redes sociais, o governador  Claudio Castro, depois que torcedores uruguaios do Peñarol tocaram o terror na praia do Pontal no Recreio dos Bandeirantes na quarta-feira.

Ontem foi o que se viu na Av. Brasil, com a via interditada e todos escondendo-se por detrás das muretas da via, ônibus e carros,  quando policia e crime se enfrentaram no Complexo de Israel. O saldo? Três civis trabalhando ou a caminho do trabalho, mortos com tiros na cabeça.

Há dias vi uma cena que me deixou estarrecido. Na Muzema, que nem favela é, milicianos armados com fuzis circulavam livremente pelas ruas em pleno dia com sol a pino. Inicialmente pensei que seriam policiais do Bope, mas a realidade sempre supera a ficção por aqui... Há filmes com alguns deles tomando café em uma padaria. 

Tá tudo dominado, mas o nosso governador que não governa - Bernardo Mello Franco escreve no Globo de hoje  que ele é refém da  Assembléia Legislativa (Ai, Jesus!) - bravateia que isso aqui é lugar de respeito.

Nem os uruguaios tidos e havidos como um povo civilizado, talvez o mais em Latino-América, acreditam no governador. Deram-se o direito de fazer aqui, o que nem em sonho fariam por lá. 

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De acordo com mapeamento do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da UFF, de 2006 até o ano passado, o território sob o controle de grupos armados no Grande Rio, aumentou de 9 para 19%. Estou achando um número baixo demais para o que se vê na midia.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Ler é meu melhor remédio.

O temperamento introvertido deve ser fator preponderante para que tivesse escolhido como atividades prediletas: caminhada... que poderia ser corrida caso não tivesse sofrido o acidente, leitura, cinema. Sempre diversão  mais afeita a tipos que evitam andar em bandos. Sou dessa estirpe.

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Leandro Karnal na sua crônica de domingo para o Estadão escreveu sobre o hábito de ler:

Uma das coisas mais poderosas para alterar o cérebro é a leitura. Ela implica foco, conhecimento, abstração e capacidade de refletir.

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Ler cura nossas dores? Jamais. Apenas a morte possui esse poder. Os bons livros conferem consciência, nomeiam fantasmas, ampliam horizontes. Ler não muda o mundo, muda minha maneira de percebê-lo. Ler transforma solidão em solitude e, acompanhando literatos esu especialistas em saúde mental, o mundo fica menos isolado. Ler é uma revolução de esperança.

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Ler nos torna melhores? Não. Ler nos torna mais refinados, mais sensíveis, mais abertos para o mundo. Você conhecerá pessoas que lêem muito, arrogantes, cheias de si, mas dificilmente você encontrará um boçal, um sujeito tosco, tacanho,  grande leitor. É minha experiência. 

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Gostaria de ser um leitor melhor. Ler mais livros que  jornais. Livros -  bons, per supuesto! -  são  mais densos, profundos. Jornais são mais superficiais, pontuais, prendem-se à rotina do dia-a-dia, porisso  mais fácies e atrativos para leitura. O preço? uma cultura de almanaque. 

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...e as redes? Não sou usuário. Falam mal, mas ninguém vive sem elas. Pelo que se diz e escreve,  enredam-te num mundinho confortável, em que tudo se passa, acorde com o que o teu imaginário elabora. O preço? Uma cultura de bolha.


Romance

De acordo com a crítica o tema já foi abordado outras vezes pelo cinema e até de maneira mais inteligente em alguns dos filmes, segundo alguns. Como não vi nenhum deles, fiquei encantado com Como Eu Era Antes de Você (Me Before You) uma produção britânico-americana de 2016,  que  assisti ontem na Sessão da Tarde, da Globo.

É um filme romântico, com uma verdade inconveniente - um problema bem atual -  como pano de fundo. A garota que não dá para se chamar de bonita, além de pobre perto da riqueza do galã,  é de uma simplicidade e autencidade que beiram a ingenuidade e de uma luminosidade impar. Apesar de alguns trejeitos que a tornam caricata em algumas situações, não há como por ela não se apaixonar. O choque entre duas personalidades que cresceram em situação social tão diferente, nos arquétipos mentais criados a partir daí e na sua maneira de reagir aos fatos, potencializada pelo fato do protagonista masculino ter se tornado extremamente rude - vá lá, antissocial - depois que um acidente o deixou paraplégico, rende um filme com direção delicada e agradável de ser visto. 

Li por aí de que está disponível em uma plataforma - Prime - se bem me lembro. Assista. De quebra,  com uma caixa de lencinhos ao lado. Você pode precisar.





segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Bolsopetismo

 ... é uma praga que o país conheceu nos últimos 15 anos. Tome todas as precauções para não ser por ela contaminado. O caminho do meio é o mais adequado. É sabedoria milenar budista.  Foi proposto por Aristóteles na Grécia Clássica, A.C.... mas Pindorama tem seus próprios caminhos. Tortuosos, prá variar...

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As últimas eleições mostraram que ambos os extremos começam a dar sinais de esgotamento; o petismo, entretanto, mesmo com a surra de rebenque que levou, encerrado  em sua torre de marfim de convicções ultrapassadas, parece não tomar tento.

Surra de rebenque

Rebenque é um pequeno relho usado pelo gaúcho para açoitar o cavalo. Deve infringir grande dor porque a expressão: dar uma surra de rebenque, na querência, significa infringir um castigo severo a alguém.

Foi o que aconteceu com o chamado arco progressista que compõe a esquerda tupiniquim - PT, PSOL, PC do B e seus acólitos: PSB, PDT,  PV e Rede -  nestas eleições. O grupo colheu a menor votação nas eleições deste século: 19,6%, de acordo com  V. T. Freire na Folha do dia 8. Foram 724 prefeituras conquistadas, número menor que as 878 do PSD, campeoníssimo da eleição. O PT até aumentou seu número; de 183 para 248 prefeituras, mas não conquistou nenhuma capital; suas maiores chances no turno final estão em Fortaleza. PDT e PC do B sofreram uma redução superior a 50%  e  o PSOL perdeu todas suas prefeituras. Exceção foi o  PSB, que aumentou em 20% sua participação, além da reeleição no Recife.

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O arco perde votos, prefeituras,  mas não perde a empáfia. Basta analisar as respostas dadas para os números, feitas por boa parte de seus líderes e intelectuais, cito dois - Jessé Souza em O Globo, Vladimir Safatle para o UOL. Destoando, apenas o prefeito do Recife, não por acaso reeleito com 78% dos votos válidos. Atribuem ao orçamento secreto, emendas Pix, o sucesso dos partidos de centro-direita. Certamente influenciaram, entretanto, é a incapacidade de ler o imaginário do eleitor particularmente de baixa e média renda e de apresentar soluções adequadas aos problemas desta segmento de eleitores, a razão determinante para essa vertiginosa queda. - Mais picanha, menos Venezuela - como colocou Reinaldo Meirelles do Instituto Locomotiva.   Fazem política para bolhas (minorias e identitarismo) e insistem em soluções econômicas que nunca resolveram os gargalos estruturais dos países latino-americanos. Comportam-se como os portadores da Boa Nova, não a dos Evangelhos, mas da doxa progressista. Quem não reza pela cartilha quando não é tachado de fascista, é reaça, ignorante, alienado e por aí vai.

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Colhem o que plantaram.


terça-feira, 8 de outubro de 2024

Estava saudoso...

 ... do bom e velho blues - they don´t lie. Buddy Guy é um dos grandes do gênero. 



E lá se foram...

 ... 72 anos.

Se parece inverossível o fato de você estar aqui há tanto tempo, ou de que tudo se passou um pouco rápido demais - Parece que foi ontem! - também cresce a certeza de que o fim se aproxima. Não temos mais futuro, vivemos do passado. Nossos contemporâneos, nossos ídolos - tantos mal-escolhidos - vão morrendo aos poucos e aumenta a sensação de estranheza com tudo o que acontece no palco desse mundo, vasto mundo, parafraseando Drummond. 

.... e olha que sempre me virei só ao longo destes 72 anos, à exceção daqueles da minha infância. A partir dos 11 anos fiz o mundo.

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A grande conquista do ano foram os 300 km dos Caminhos da Fé. Depois de duas tentativas abortadas, finalmente cruzei a pé a Mantiqueira majestosa, solito no más, e com uma mochila de 8kg nas costas. Com os preparativos, custou-me uma hérnia inguinal que tive que corrigir com uma cirurgia. Ao fim e ao cabo, foi uma vitória sobre as vicissitudes da idade. O caminho de Santiago aguarda-me.

Em contrapartida, o sentimento da fragilidade que os anos vividos nos trazem,  manifestou-se no aparecimento inesperado do herpes zoster . É doença extremamente desagradável pelas sequelas que apresenta; as dores na região atingida no lado esquerdo do tórax persistem por quase 3 meses. Até quando? 

Certamente uma derrota imposta pelas circunstâncias  sobre a fragilidade do organismo associada à quadra da vida que atravesso.

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... mas o que importa é caminhar - sensu strictu e sensu lato - com os tropeços e as quedas inerentes ao caminho. Enquanto houver forças para levantar, sacudir a poeira e continuar, prosseguirei. A resiliência é minha força.

Destino? Incerto.

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A grande emoção do dia? Ver minha mãe, em duas gravações recuperadas,  com sua voz trôpega pela velhice, cumprimentando-me pelo aniversário. Rí, chorei... De tudo um pouco.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Dia da gauchada (II)

Setembro ainda não terminou; vou tomar a liberdade de incluir um chamamé: canção guarani cantada por gaúchos brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios.  Com uma letra de Barbosa Lessa - importante escritor e folclorista gaúcho -  evoca de alguma maneira o que aconteceu no estado nos últimos 12 meses, mesmo tendo sido escrita, acredita-se, nas décadas de 50/60 do século passado.




O baile dos famosos

Influencers, astros da música sertaneja, políticos, juizes do STF e ministros de estado estão rodando a baiana no bailão  Brasil neste mês de setembro. Uma troupe digna de respeito, todos figurinhas do grand monde que os dias atuais merecem, com presença constante na mídia mainstream e nas redes sociais. 

Deolane Bezerra, influencer pernambucana (advogada e ex-cantora) com 22 milhões de seguidores no Instagram, - aumentaram após o episódio! - passou alguns dias em cana, mas conseguiu safar-se através de um  habeas corpus. Foi presa , após ter sido acusada de criar um site de apostas para lavar dinheiro de jogos ilegais. Mamãe, lhe fez companhia no xadrez.

Gustavvo Lima, um dos expoentes da atual música sertaneja, teve prisão preventiva decretada e depois revogada. Ele é alvo da operação Integration, - Deolane também é -  que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo casas de apostas online - as bets.

Junto e misturado, o ministro do STF, Nunes Marques, que convidado para o niver do Gustavvo - é vv mesmo! - em um iate nas ilhas gregas,  mandou-se  prá lá. Entre os participantes da pajelança, estavam os proprietários de uma das casas de apostas investigadas pela operação. Companhias muito apropriadas para um ministro da Corte Suprema.

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Saindo do mundo encantado das bets, setembro mostrou que os debates para a prefeitura paulistana viraram manchete das páginas policiais. Em um deles, um candidato agrediu um concorrente com... uma cadeirada! Em outro, depois da expulsão de um dos candidatos do debate, houve troca de socos entre assessores de candidatos.

Ainda no mundo da política, tivemos a demissão do Ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, - ícone das causas identitárias e das minorias - após ter sido acusado de assédio sexual por várias mulheres, uma delas, Ministra da Igualdade Racial.

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Gente da melhor qualidade; de vida limpa como declarou um dos advogados dos acusados.


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sábado, 21 de setembro de 2024

Dia da gauchada.

Foi ontem, mas não importa. Setembro é o nosso mês. Desgarrado do pago fazem 45 anos,  comemorei à minha moda: tomando um mate amargo. Churrasco na brasa, nem pensar... o sistema de churrasqueira a carvão nas varandas dos prédios de apartamentos, só nos pagos.

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Gaúcho tem identidade: assina embaixo. Pouco tipos regionais podem dar-se  a esse luxo. O Vinte de Setembro é uma data sagrada por lá.

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Tertulia na sua versão original com o Leonardo e provavelmente Os Serranos (estão nos créditos do disco);  é música recente, ganhadora da Califórnia da Canção de 1982 interpretada por eles. Tornou-se um clássico da canção gaúcha:

Democracia de fancaria.

O princípio da separação entre poderes já havia sido mencionada por Aristóteles na Política - os gregos, sempre eles! Ganhou sua roupagem atual, no século XVIII com a publicação do Espírito das Leis  pelo conservador  Montesquieu. Sua inspiração foi Locke, o grande pensador inglês cujas idéias fundamentaram as revoluções americana e francesa. Montesquieu voltou da Inglaterra vivamente impressionado com o  sistema político institucional baseado na liberdade que vira por lá e formulou sua tese posteriormente incorporada à constituição americana e expressa no artigo 16 da Declaração  Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa. Tornou-se um dos fundamentos das democracias liberais dos paises ocidentais. O sistema de check and balances - controle mútuo entre poderes -  foi introduzido com a constituição americana. 

A constituição brasileira de 1988 acrescentou harmonia - !?!  -  à independência.   No artigo 2 dispõe que são poderes da União, independentes e harmônicos entre si: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O que se vê atualmente em Brasilia são relações nada independentes e harmônicas entre eles. É o Legislativo tentando criar leis para revogar decisões do Judiciário, o Executivo às turras com o Legislativo, tentando amasiar-se com o Judiciário para conseguir o que deseja; o Judiciário, balofo de privilégios, promíscuo, negociador e não julgador, tomando para si funções que não lhe competem, com a pretensão - iluminista (?!?) -  de empurrar a história de acordo com seu atual presidente. Cadê a harmonia e independência?  

Deixemos de lado a harmonia, que suspeito seja uma jaboticaba brasileira, e nos fixemos na independência. O que dizer dela, se o atual presidente afirmou que sempre quis ter um ministro com cabeça política no STF e lá colocou seu ministro da Justiça à época; pior, meses antes havia nomeado seu advogado pessoal na LavaJato para uma das vagas. O presidente anterior afirmou que os candidatos ao STF teriam que tomar uma tubaina com ele para conseguir a indicação. Um ministro do tribunal há mais tempo, conseguiu sua aprovação tendo como atributos ser advogado do partido político a que pertencia o  presidente. E o que dizer do seu notório saber jurídico, um dos pré-requisitos para a indicação, se prestou exame para a magistratura e foi reprovado nas duas tentativas. 

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Somos uma democracia fraca, de baixa qualidade. O arcabouço formal é democrático, mas na prática, no modus operandi os vícios que corroem nosso sistema social prevalecem: patrimonialismo, mistura do público com o privado, somos uma sociedade hierarquizada,  incapaz de tratamento igual e universal a todos os entes que compõem o estado. A sombra da Casa Grande e Senzala continua a pairar sobre nós.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O país está ardendo (II)

 

Domingos Peixoto/ O Globo
O fogo nas montanhas próximas à Via Dutra.

O imaginário torto do brasileiro

A eleição para a prefeitura paulistana chamou para si todos os holofotes da política nacional. Ela resume o país. A cadeirada de um dos candidatos em outro que desafiou sua hombridade era o único caminho que lhe restava em um debate na TV Cultura. Não reagisse assim seria considerado em covarde. A cadeira foi o instrumento à mão - vamos dizer assim - para lavar a honra. É o nível a que chegamos.  

Os candidatos que se engalfinharam são dois outsiders na política: um é apresentador de televisão e andava bem nas pesquisas, mas caiu nas últimas, o outro é coach que fez fortuna com a atividade - ai, Jesus! - e disputa a ponta da tabela com dois representantes da direita e esquerda  tradicional.

Há entretanto, uma candidata, que dá de dez intelectualmente em todos eles - formada em Harvard em Astrofísica e Ciência Política - com uma história de vida impressionante - nasceu e cresceu na periferia da cidade - com uma curta mas sólida carreira política - dois mandatos de deputada-federal. Suas idéias sociais-democratas, estão próximas do centro político. Tem bom diálogo com todo o espectro da política atual. Concordo com a maioria das suas propostas e se votasse lá, certamente seria minha candidata. Entretanto, não consegue encantar mais de 8/10%  do eleitorado segundo as pesquisas. Muito provavelmente ficará de fora no 2o turno. 

Conta no quadro atual, o protagonismo midiático normalmente buscado pelos outsiders, que contam com grande penetração nas redes sociais. A cadeirada e suas variantes, as ofensas, lacrações fazem parte do mis-en-scéne. É certo que nossa política tradicional é uma tragédia tanto pela direita quanto pela esquerda, mas será que a decepção com ela, deveria desaguar na preferência por outsiders que nada tem de melhor em relação aos políticos de carteirinha, a não ser o fato de que não praticam a enrolation, uma marca da política tradicional? O que o imaginário do nosso homem comum, seus arquétipos simbólicos, aquilo que lí por aí, está sendo chamado de mapa mental, faz com que ele simpatize com os Bolsonaros e Marçais da vida?  

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É raro o aparecimento de uma grande promessa política na cena atual. Quando ela aparece, não consegue mais do que uma votação marginal. Caminhamos para onde?

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Negritude, branquitude... aaargh! Prefiro o ser humano.

Um homem negro, uma mulher negra, estão sendo acusados de serem arrogantes e autoritários. É sempre assim. A branquitude não aceita a negritude no poder.

Foi um dos comentários no Instagram da esposa do ex-ministro dos Direitos Humanos  Silvio Almeida defendendo-o das acusações de que teria assediado diversas mulheres, inclusive a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco em matéria de Lauro Jardim. O ex-ministro, por sua vez, afirmou que há uma campanha para afetar sua imagem como homem negro em posição de destaque no poder público, de acordo com coluna de Malu Gaspar, ambos em o Globo. O casal utilizou-se da nova versão de carteirada, a racial. Imagino que exista a feminista, a LBGTQIA...+, para ser sacada em situações semelhantes.

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A nova versão da carteirada se tornou possível depois que a boa e velha idéia de princípios universais e atemporais legados da filosofia aristotélica, do ideal renascentista e iluminista deram lugar ao projeto pós-moderno das teorias críticas que espraiou-se pelas universidades americanas a partir de filósofos como Foucault, Derrida, Lyotard que emergiram na cena francesa na década de 60 do século passado. Nada de verdades objetivas, de princípios universais, de individualidade. Tudo é relativo, fruto de construção social e de sistemas de poder, o grupo é base da humanidade. Daí que humano, humanidade são conceitos vazios se não forem ancorados em raça, gênero e preferências sexuais. Não ouse criticar qualquer idéia ou postura de  um desses grupos que se consideram oprimidos. O debate ao invés de se dar no no foco da sua crítica vai resvalar para questões identitárias e muito provavelmente você será taxado de racista, machista, homofóbico através de uma carteirada racial, feminista, LBGTQI....+, expediente que o ex-ministro e esposa utilizaram.

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Vivemos um retrocesso no debate público de idéias, com a rejeição dada ao universal e à verdade objetiva. Valem as narrativas. Toda a área de Humanidades das universidades está contaminada por essa linha de pensamento e isso se espraia no mundo das artes, da cultura e na mídia mainstream do nosso jornalismo.  

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Sílvio de Almeida chamou-me a atenção muito antes de se tornar ministro,  ao ver seu desempenho em um vídeo enviado por um progressista das minhas relações. Impressionou-me a postura assertiva, diria agressiva que com colocava suas idéias a respeito do problema racial no país. Como ministro várias vezes o vi de dedo em riste, uma postura que confirmava a versão que dele tivera no vídeo. Em uma dessas ironias da vida, com acusações graves de assédio sexual feitas por diversas mulheres , terá agora que enfrentar o letramento de gênero das acusadoras.  Provará do próprio veneno, já que era um craque num outro letramento, o de raça.

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O ex-ministro é um dos expoentes da tese do racismo estrutural no país. Tem até um livro publicado com o mesmo nome, classificado de icônico, por uma jornalista do mainstream - zero surpresa que acaba de receber o Juca Pato de intelectual do ano.  Terei que lê-lo, provavelmente discordarei mais do que concordarei. Pela postura dos que gostam de usar o termo, todo branco neste país com uma visão crítica em relação às teses por eles defendidas sofre de um mal : racismo estrutural. Nada como uma carteirada.


sábado, 31 de agosto de 2024

Viva a diversidade! (II)

 criadora sobrevivente afroamerindígena em trânsito

assim se define Yurungai, que cantou o Hino Nacional usando linguagem neutra - usou des filhes deste solo - em um comício do candidato a prefeito de S. Paulo, Guilherme Boulos.

Não bastasse o afroamerindígena, ela ainda se diz em trânsito. Haja fluidez.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A farra das "bets"

No começo não entendia o que eram aqueles anúncios massivos em canais pagos de esportes com a palavra bet, não fazendo relação com o termo em inglês. A presença constante de jogadores de futebol naquelas peças publicitárias fez juntar as pedras do quebra-cabeça. A maré foi subindo... a eles hoje se juntaram  atletas olímpicos apelando para o jogo responsável (?!?!), jornalistas esportivos...Os anúncios estão hoje em todo e qualquer veículo de comunicação, redes sociais, placas de estádios, camisetas de clubes de futebol. Infernizam nosso cotidiano.

Não é necessário ter muitos neurônios conectados para dar-se conta que deve haver algo fora de lugar com as chamadas casa de apostas online, agiotagem bombada por algorítmos. Tanto anúncio deve significar que o dinheiro deve estar jorrando prá dentro delas, fazendo a alegria dos seus donos e de quem as liberou com uma generosa regulamentação. Pagam apenas 12% de imposto e tem sua publicidade liberada.

Jogos pela internet foram classificados pela OMS como um transtorno psiquiátrico. Estudos acadêmicos nos Estados Unidos mostram que as apostas eletrônicas levam famílias à instabilidade financeira. Se cigarros, também um vício condenado pela OMS, pagam 83% de impostos e tem leis draconianas quanto à sua publicidade, por que não - senhores de Brasilia -  os jogos de aposta eletrônicos? Quem ganha com isso,  além dos seus donos, e dos famosos que performam nas peças publicitárias?

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O Brasil é  lider mundial em acesso a sites de apostas esportivas de acordo com matéria publicada no site Poder360. De acordo com a consultoria PwC, em 2023, elas movimentaram entre 67,1 e 97,6 bilhões de reais, quase 1% do PIB. 

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Curiosamente, a abertura de cassinos que a turma da jogatina tenta aprovar no Congresso fazem anos, não passa de jeito nenhum. Vai entender...

PS - Raramente jogo. Quando lembro, faço uma fezinha na MegaSena do final de ano.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

O país está ardendo.

Em maio/junho a água das cheias colocou o RS de joelhos; agora é o Centro-Oeste, parte do Norte e do Sudeste que arde em chamas.  No Acre, em janeiro o Rio Acre provocou a maior cheia da história em Rio Branco; hoje sua profundidade é de 67cm. 

A natureza devolve em dobro o que com ela fizeram. E o homem pensa que é seu senhor. Continue pensando... será por ela devorado.

Marcelo Camargo - Agência Brasil

A imagem do Congresso envolto pela fumaça dos incêndios é repleta de significado. É o Brasil  perturbando a fantasia da nossa  capital - ilhada do país real - com seus três poderes engalfinhando-se, ocupados com a pequena política. Irá sensibilizá-los? Não acredito; fumaça é muito benigna para corroer corações de pedra.

Wise guy.

A expressividade dos olhos - buscam o infinito -  da coruja-serra-afiada que vive principalmente no Ontário, Canadá me fez entender  porque ela simboliza a filosofia. A expressão de quem paira altaneira sobre o o mundo que a rodeia  sugere uma sabedoria que parece andar em baixa entre os humanos.



Viva a diversidade!

Abrossexual, taí mais uma nova variante de abordar a própria sexualidade. É o universo LBGTQI+ expandindo-se. Se você tem interesse no assunto acesse o  UOL de hoje.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

País estranho

o nosso em que:

  • a energia é barata e abundante, mas a conta que cobram por ela é cara.
  •  existe jogo de azar responsável.
  •  pratica-se  o ódio do bem. 
  • cometem-se arbitrariedades invocando o estado democrático de direito. 

 

 

 

 

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Sinal dos tempos.

Minha formação tem fortes raizes na cultura grega clássica. Cursei filosofia por 3 anos e a linha central da escola era a aristotélica-tomista. A Acrópole ateniense é presença forte no meu imaginário. Quando passei por Atenas, visitá-la foi minha prioridade número um. Dai a consternação  que me causou ver o Partenon, construido num dos grandes momentos da nossa história quando foram lançadas as idéias básicas que norteiam a - hoje tão criticada -  civilização ocidental,  tendo como pano de fundo as chamas provocadas pelo desarranjo do clima, causado em boa parte,  pelo desatino dos seres humanos. A glória e a ignomínia, a representação do que tivemos de melhor sob a ameaça do que produzimos de pior. 

Vivemos uma marcha-a-ré civilizacional.

Angelos Tzortzinis/AFP


segunda-feira, 12 de agosto de 2024

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Com brasileiros não há quem possa!

A foto provocou orgasmos múltiplos nos nossos pachecos mais exaltados. A respeitar e louvar o esforço evidente dos nossos atletas - muitos deles gente do povo -  para bem representar seu país, mas é disgusting - não acho palavra equivalente em português - constatar o ufanismo galopante, a quase idolatria manifestada pela midia tradicional  às nossas escassas medalhas de ouro. A conquistada por Rebeca Andrade, parece ter resgatado o orgulho de ser brasileiro. A edição de O Globo de hoje dedica uma página,  apenas para mostrar a repercussão internacional do seu feito. 

Somos um país hiperbólico.



quarta-feira, 31 de julho de 2024

O filho de Poseidon*

O nosso Gabriel Medina saindo de um tubo em Teahupoo noTahiti. Recebeu  9,9,  a  nota mais alta do surfe de todos os Jogos Olímpicos. Certamente, uma das imagens da Olimpíada.

* Era assim que a ele se referia sua ex-mulher: Yasmin Brunet. Depois dessa foto, dou crédito à ex.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A polêmica da Abertura dos Jogos Olímpicos

Sempre assisti a festa de Abertura dos Jogos Olímpicos pelo desfile dos atletas.  Eles são os donos de um espetáculo que começa alí e se estende por duas semanas. Toleráveis porque necessários, os chatos e óbvios discursos oficiais e a sempre aguardada cerimônia do acendimento da pira olímpica. Tudo o mais é adjetivo. 

Os cerimonialistas, entretanto, querem deixar sua assinatura e sempre inserem quadros ao roteiro principal, geralmente ressaltando aspectos marcantes do país-sede. Na cerimônia de Paris, em uma dessas inserções -  Festivity - com o intuito de promover a diversidade - um dos objetivos declarados de toda a cerimônia -   desenvolveu-se um enredo que me pareceu ser uma mistura de desfile de moda com  um banquete pantagruélico ao estilo da Roma decadente dos imperadores. Os performers eram figuras de destaque da comunidade LBGTQIA+ da vida parisiense - queers, drag queens, lésbicas, gordos e gordas também... uma fauna rica e diversa. Lembraram-me o ambiente de alguns filmes de Fellini como Satyricon.

As almas mais piedosas - pero no mucho! -   interpretaram que se estava parodiando a Sagrada Ceia de Leonardo da Vinci e se armou uma polêmica que rende até agora. 

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 Do episódio ficaram prá mim uma das músicas que compuseram a cortina musical daquele quadro  digno de um filme de Fellini; um clássico da música disco, protagonista nos anos  80 do longínquo século XX , um convite irresistível para sair dançando por aí 

....e também o protagonismo crescente das minorias e suas pautas. Será que o mis-en-scène  e performance daquele quadro, espelham a França moderna ou refletem apenas os valores de alguns ghettos parisienses e das maiores cidades francesas? 

 

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Nem tudo, porém, foi polêmico. Muito criativos  os quadros protagonizados pelo mascarado que conduziu a tocha por Paris e a cavaleira que transportou a bandeira olímpica pelo rio Sena.


sexta-feira, 26 de julho de 2024

Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado

 A  frase é da autoria de Benito Mussolini; define o fascismo e todos os totalitarismos: nazismo, comunismo...

... e pensar que a nossa esquerda, que defende com veemência a presença do Estado tutelando nossas vidas,  particularmente na economia não hesita em jogar na cara de quem a eles se contrapõe a pecha de fascistas.

Ignorância ou mau-caratismo?

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Há que se ponderar que ela foi dita em outro contexto e que as esquerdas atuais colocam a primazia do Estado na vida da nação de um jeito diferente de Mussolini, mas é fácil reconhecer que ambos tem algo em comum; são iliberais. Não apreciam democracias ocidentais moldadas pelo liberalismo à semelhança de Putin, Orbán, que nenhum maluco ousaria chamar de progressista... Na 2a Guerra Mundial, os paises do Eixo, totalitários, tinham como inimigas as democracias ocidentais de caráter liberal. Indigestas, para dizer no mínimo,  as companhias dos nossos progressistas.

sábado, 13 de julho de 2024

Quase não saio, quase não tenho amigos

 ...nem gosto de cama mole. Também não sou do sertão, do cerrado, nem da caatinga  como canta o Dominguinhos,embora tenha um pé na roça, sou de lá de acordo com a canção. 

Bicho do mato, vivo  recluso. Sou de poucos amigos. A bem da verdade, antissocial;  um prato cheio para o universo psi acadêmico.

  



domingo, 30 de junho de 2024

os bárbaros modernos

 Aumenta a indignação contra as hordas de turistas que infestam hoje até lugares que poucos anos atrás eram privilégio de poucos; tem até fila para subir o pico do Everest na época mais favorável do ano! Os locais dos points mais visados estão cada vez mais indignados e a poucos dias em Barcelona, foram prá cima da turistada com jatos d'água. 

Medidas concretas estão sendo estudadas e algumas já implementadas como proibir/restringir o aluguel de prédios residenciais através do Airbnb, taxas de acesso para turistas, restrição de entrada a pontos turísticos a um determinado número de pessoas/dia.

Moro em Copacabana e já deixei de frequentar a orla nos finais de semana e feriados pois ela é invadida por pessoas que não moram no bairro. Meu prédio é próximo a uma estação de metrô que se localiza a dois quarteirões da praia. Nos finais de semana com exceção dos meses de inverno ela é tomada quase que totalmente por pessoas que vem de outras praias. A sensação é de sentir-se invadido, de ter o seu lugar roubado. Vou à praia somente em dias de semana e entre maio e novembro. Esqueço os demais meses e finais de semana. 

Entendo a reação dos moradores de Barcelona - Barcelona não está a venda! diziam cartazes de uma passeata de milhares de pessoas -  das ilhas gregas, de Veneza, dos bairros históricos de Tóquio e Kioto... e por aí vai.  Tanto é que estou planejando comprar um imóvel próximo à praia,  mas distante das invasões das hordas de forasteiros e por lá estabelecer-me nos finais de semana. A dificuldade é grande; não de encontrar um imóvel, mas de encontrar alguma  paragem ainda preservada da massiva invasão estrangeira.

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Certamente serei acusado de elitista, de ter déficit de empatia, de ser um cara do andar de cima que não está nem aí pra arraia miuda. De que a praia é o único local de diversão democrático que ainda resiste... Vai aí uma historinha para mostrar que não é bem assim. 

Sempre que ia a Salvador a compromissos da empresa, fazia ao final da passagem,   uma caminhada  que partia da praia do Forte em direção a Salvador. Eu a estendia até onde minha resiliência permitia; o trajeto total tinha em torno de 40 km; nunca completei. Ao longo dos anos vi essa praia sofrer uma transformação brutal. De raras casas dispersas habitadas por nativos - a exceção era uma estação Tamar da Petrobras que cuidava da desova das tartarugas naquelas praias - transformou-se num animada vila com uma avenida rodeada de quiosques vendendo artigos para turistas, além das indefectíveis pousadas. Perguntei a um nativo - um elitista? -   o que ele achava daquela transformação e ele se queixou amargamente. Sua paz tinha acabado, mas ponderou que muitos dos seus  tinham conseguido melhorar suas condições econômicas. 

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Sua ponderação leva a raiz do problema. O vendaval turístico tem uma forte indústria que lhe dá suporte. Turismo é importante fonte de renda para muitos países; Espanha é um exemplo. Os argumentos são manjados - usados até para ocupação desordenada dos campos e florestas: a atividade gera empregos, movimenta a economia. Que se danem os efeitos colaterais. 

Outro poderoso motor a impulsionar o turismo ou pelo menos ser com ele condescendente, é a postura/opinião das nossas elites culturais veiculada na midia mainstream e que representa o imaginário das nossas classes média e alta,  expresso com rara felicidade  na coluna de Ruth de Aquino para O Globo. Sua frase final diz tudo :

Hipocrisia? Sim, o mundo é hipócrita.

Vá dizer a esses bacanas hedonistas até a medula, que criticam com veemência as violências impetradas ao meio ambiente, mas  que não dispensam pelo menos uma viagem de turismo anual, preferencialmente ao exterior,  de que eles devem morigerar seus hábitos.  Quem sabe viajar menos?

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Tanto o baiano, morador da praia do Forte, quanto eu em Copacabana, sentimo-nos invadidos quando vemos o nosso pedaço povoado mais por forasteiros do que por locais. Li tempos atrás, um artigo que classificava  o turismo atual, como a barbárie moderna. Imagino que o conceito de bárbaro aqui era aquele dos gregos e romanos que atribuiam essa condição a quem vivia além das fronteiras dos seus impérios. Meu império é minha  praia. Não estou defendendo uma impermeabilidade absoluta a qualquer forasteiro. Como na vida tudo tem um limite, fica bem óbvio que se você vai à praia e não reconhece ninguém do seu bairro por alí é porque esse limite foi ultrapassado. Há que se negociar tais  limites; os europeus já começam a fazer sua parte.


Na Germânia todo o dia é dia de Oktoberfest!

Interessante a programação desta pequena emissora localizada em Teotônia, um município de colonização predominantemente alemã, com IDH altíssimo, localizado no Vale do Taquari no  RS. Os locutores misturam alemão e português com a maior naturalidade; a trilha musical é turbinada por músicas de bandinhas alemãs. Seu público ouvinte é na maior parte constituido por agricultores dos munícipios do entorno, na sua imensa maioria descendente de colonizadores alemães. Contrariam o estereótipo de rígidez, sisudez que se atribue aos alemães. São alegres, sempre introduzem um aspecto jocoso na conversação. Trabalham muito, mas adoram um arrasta-pé ao final da semana - kerb; na contemporaneidade,  bailão - animado quase sempre pelo som das bandinhas e regado a muito chopp. 

Participam ativamente dos programas que ouço, interagindo grandemente com os locutores. São gente simples, mas não pobre, que vive no interior e desconhecem os filtros sociais típicos de grandes centros urbanos. Urbanóide que sou, mas ainda com um pé na colônia - assim é chamado o interior por lá -divirto-me à beça, ouvindo suas intervenções nos programas que ouço na parte da manhã, logo após sair da cama; as bandinhas alemãs fazem a cortina musical. A música traz-me a recordação de meu pai, seu fã incondicional  e dos kerbs; ele era um pé-de-valsa 

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Demonstraram uma notável resiliência face à tragédia que se abateu sobre o Vale neste último ano - foram cinco enchentes! Quase não ouví queixas, aceitaram os fatos como inevitáveis e partiram para a reconstrução. Um bom exemplo foi a reparação da velha ponte de ferro entre Arroio do Meio e Lajeado, feita em 15 dias, inteiramente com recursos da comunidade.

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Prá você ter uma idéia do que rola por lá, ouça a banda Monte Azul, muito requisitada para os kerbs/bailões de final de semana na região. Provavelmente vai estranhar, mas quem sabe você se anima e sai  rodando pelo salão.



No meio do caminho havia uma ponte (II)

 No post anterior, as imagens eram da velha ponte, nos seus dias de águas bem comportadas dos rios Forqueta e Taquari. Neste o retrato do que se passou com ela depois da devastação provocada pelas águas das enchente do final de maio.

O que é Forqueta; o que é Taquari? 
Uma antevisão de um apocalipse pelas águas... (A Hora)

O que restou da ponte, os destroços do que se foi,  junto à margem direita do rio Forqueta, próximo à desembocadura e a devastação ao redor. (Agora no Vale)
A reconstrução da parte levada pelas águas e a devastação das margens. (Google)

Positiva e atuante 15 dias após ter sido em parte destruida. A remanescente, em primeiro plano (cor mais escura).



Ego do tamanho do mundo

 ...é o que tem o nosso Presidente. Ao concluir seu discurso na posse da nova presidente da Petrobrás disparou:

- Como Deus existe, eu estou aqui ...

Você pode interpretar a frase como um gesto de suprema humildade e de crença em um Ser Superior - ele estava lá  porque Deus existia - ou de um orgulho insano - ele era a garantia de que Deus existia. Conhecendo a figura sou francamente favorável à segunda.

Não faltam declarações de megalomania nem  opiniões para corroborá-la. Não é de hoje que face a alguns pronunciamentos e atitudes por ele assumidas, que seus críticos o chamam de demiurgo... salvador... profeta, Sua Sumidade... Há poucos dias, foi comparado  a Luis XIV. 

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Tamanha soberba evidencia uma propensão para a autocracia como demonstram suas tentativas para  interferir na politica fiscal do  Banco Central, na governança de empresas estatais como a Petrobras, e até em empresas privadas como a Vale, evidenciando seu desconhecimento da competência que lhe é devida como chefe do Executivo em uma democracia de corte liberal que caracteriza os estados democráticos ocidentais.

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Além da megalomania,  o presidente mostrou nesse discurso - merece ser lido, tamanhas as sandices nele contidas -  que é um mitômano; vive uma realidade paralela, tentando impor uma narrativa para o que aconteceu com a Petrobras nos governos petistas que simplesmente agride os fatos. A bem da verdade, nesse mundo paralelo vive a maior parte da esquerda brasileira e latino-americana.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Chico - 80 anos

Dia desses, Chico fez 80 anos. Ele fez parte da trilha sonora da minha geração. Foi um privilégio, pois Chico é um dos grandes poetas da nossa música. Tornou-se um clássico ao lado de Cartola, Luiz Gonzaga, Tom Jobim, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa ... e por aí vai. É biscoito fino! Algumas de suas composições entraram para o cancioneiro nacional.  Fico pensando como será a trilha sonora dessa nova geração. Algum biscoito fino comparável ao nosso Chico? Não vejo luz no final do túnel.

Selecionei duas de suas canções em que ele participa em dueto com a italiana Maria Pia de Vito e a portuguesa Carminho. 




No meio do caminho havia uma ponte.

Moro no Rio mas a a versão contemporânea do dilúvio que se deu no RS no final de maio e início de junho afetou-me profundamente. Tenho ligação afetiva com o Vale do Taquari, uma das regiões mais atingidas. Foi de lá que parti  para fazer o mundo. Coqueiro Alto, uma vila de Arroio do Meio - desapareceu do mapa fazem anos - foi minha base de lançamento.  Minha mãe passou seus últimos anos em Lajeado, a maior cidade do Vale,  e nas frequentes visitas que lhe fazia, caminhava quase que diariamente ao longo do Rio Taquari  por 15/20 kms. Afinal sou um peregrino neste mundo, sensu latu e sensu strictu. Um irmão continua a morar lá, onde passo as grandes festas cristãs do ano: Páscoa e Natal. 

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... e no meio do caminho havia uma ponte. Uma velha ponte de ferro, concluida em 1939, construida sobre o rio Forqueta, quase na desembocadura com o Rio Taquari. O Forqueta furioso, abateu  a ponte mais recente na RS-130, cerca de 1km a jusante mas não conseguiu fazer o mesmo com a velha ponte de ferro. Arrastou parte dela até a desembocadura mas suas pilastras continuaram lá, firmes e fortes. A operosidade daquele povo, já refez a parte que o rio levou e hoje ela se encontra positiva e atuante.

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Passava por ela de manhãzinha, antes do nascer do sol no inverno ou com ele nascendo no verão; a neblina era frequente dado a proximidade com os rios. Meus passos solitários ou  as rodas dos carros  sobre os pranchões de madeira, quando soltos,  provocavam um estampido seco que feria o silêncio das manhãs. Parava sempre alí para alguma foto da velha ponte a da desembocadura do Forqueta no Taquari. Deixo algumas para a memória, inclusive a de uma placa lembrando sua inauguração.






terça-feira, 7 de maio de 2024

sábado, 27 de abril de 2024

Chorando

Dia desses da semana comemoramos o Dia do Choro - tem dia prá tudo hoje! Ouvindo um programa comemorativo para a data, aprendi que o choro é nossa música-raiz. Nada de samba ou bossa-nova. Como ele é mais velhinho,  foi relegado a um segundo plano nas programações até mesmo das nossas rádios mais qualificadas.  Foi por ele que passaram grandes craques da nossa música: Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazaré, Pixinguinha, só para citar três... 

Tudo fora de lugar - ao invés do cavaquinho e violão, uma sanfona; ao invés de Garoto, Luiz Gonzaga - vai aí Aquele chorinho com Lulinha Alencar. 



 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Oriente e Ocidente

Sei lá... mas olhando para a expressão facial das duas moças, está me parecendo que o Oriente está levando vantagem na batalha que eles travam por  valores nos dias atuais. É a fé - quem diria! - sobrepujando a razão. O que o futuro nos reserva?

A ocidental é Billie Eilish, uma das expressões do pop americano atual. A oriental é uma iraniana atravessando uma rua junto a Praça Valiasr em Teerã. As fotos são do Estadão de 16.04.23.

A ocidental

A oriental