sábado, 28 de abril de 2012


Florália

Estou possuido pelas flores.
Pela varanda, orquídeas.
Na sala, despojada,
buquês de margaridas e crisântemos
numa ciranda de cores
inundam de alegria o ambiente.
Tem leveza a beleza,
torna suportável
a pesada carga da existência,
sua falta de sentido,
as culpas, os medos, as dores,
a falsidade e a dissimulação,
a indiferença e a ingratidão.
As flores e suas cores
me fazem sorrir,
amar minha reclusão.
Longe desse  mundo
de valores parco,
no silêncio do meu quarto
debruço-me sobre mim.
Estou em paz.
Até quando?








terça-feira, 24 de abril de 2012


São Jorge é o único santo que até bandido respeita.

(depoimento no curta-metragem Salve Jorge de Antônio Caetano)
Vai ver porisso, ontem ,dia do santo de araque, cassado pela Igreja Católica, foi feriado aqui no Rio.

segunda-feira, 23 de abril de 2012


Cena carioca

Tentei assistir A Separação por duas vezes,  sem sucesso. Ontem o cara que estava na minha frente na fila fechou a lotação, hoje ao chegar à bilheteria após longa espera, soube que só havia um lugar vago na primeira fila. Não dá para assistir  um filme desses com a cara cravada na tela...Desistí!
À frustração somou-se a raiva pois na minha frente pouco antes, duas pessoas tinham furado a fila. Chegaram, cumprimentaram os conhecidos e foram se instalando au naturel, numa nice...como diz um amigo meu.
Alguém já enfrentou alguma fila no Rio com mais de 10 pessoas que não tenha sido furada? Aqui as filas crescem prá trás  e... também pros lados. E estávamos no Estação Botafogo... todos  civilizados, cidadãos, só gente boa... de primeiro mundo! (como eles adoram essa palavra...)
Um amigo meu que fez pós na Universidade de Colúmbia, NY, define bem esse  espécime do reino animal que cresce geometricamente por aqui : PRIMITIVOS! E  não estamos falando de suburbano, favelado,de gente que pega o trem de Japerí ou mora em São Gonçalo (comumente desqualificados por essa autoconsiderada elite) . Falamos do crème de la crème, não financeiro, mas cultural da cidade. Zona Sul... fina estampa! Não entregam nada do que vendem! Não valem o que pesam!

Afora esses percalços do dia-a-dia o Rio continua lindo e A Separação não me escapa! Alguns instantes dessa beleza fotografados sábado na Enseada de Botafogo e Aterro e domingo no Leblon (a última, anunciando a tempestade!)


Para fazer uma campina
Basta um trevo e uma abelha
E fantasia.
Quando as abelhas estão em falta,
A fantasia basta.

Emily Dickinson

domingo, 22 de abril de 2012


Soy yo!

  • Aquele lobo, solito no más, que apareceu ao oficial da cavalaria John Dunbar (Kevin Costner) quando atacado pelos Sioux e depois o acompanhou à  distância  em Dança com Lobos (Dances with Wolves).
  •  Ethan Edwards (John Wayne) que resgata dos índios e devolve ao irmão,  a sobrinha Debbie (Natalie Wood bem novinha... e linda!) em Rastros de Ódio (The Searchers). No final do filme (cena antológica), serviço feito, o cowboy pega a estrada e some no horizonte... 
solito no más...
siempre!

Como yo!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Brittany Howard and Alabama Shakes!
 de Athens,AL para o mundo.

Considerada a mais nova salvação do rock.
Acho que há  exagero.
Som e vocais dos anos 60... Janis Joplin...


Um tema que me é caro e que evidencia a  precariedade do ser humano.
 Às vezes somos meros passageiros no barco da vida.
 O destino nos ultrapassa. 
É a idéia grega de tragédia.  

João Pereira Coutinho 

História de um covarde

Ficar ou não ficar, eis a questão. Passaram-se cem anos desde o naufrágio do Titanic. E eu, que escrevo essas linhas no dia 14 de abril e com o mesmo Atlântico Norte que engoliu o navio à minha frente, regresso ao dilema fatal: teria ficado com os restantes homens, enfrentando estoicamente o fim?
Ou, como uma ratazana amedrontada, teria pulado para o primeiro bote disponível, salvando a minha triste pele?
O magnata Benjamin Guggenheim ficou. História conhecida, provavelmente apócrifa, seguramente inspiradora: vestido a rigor, decidiu que a prioridade deveria ser concedida a mulheres e crianças. Como um cavalheiro, esperou pela morte no bar.
Não foi caso único: no Titanic, seguiam cerca de 2.300 pessoas. Morreram 1.500. Sobreviveram pouco mais de 700. Só 325 eram do sexo masculino. Entre os sobreviventes machos, estava o anti-Guggenheim por excelência: um nome que ficou na história do naufrágio como exemplo de egoísmo e covardia.
Chamava-se Bruce Ismay, era o diretor da companhia inglesa dona do navio e os seus contemporâneos nunca mais lhe perdoaram o gesto: Ismay pulou para um dos últimos botes do Titanic quando ainda havia mulheres e crianças a bordo.
Ele sempre negou esses fatos nos inquéritos posteriores ao naufrágio. Em Londres ou Nova York, a versão de Ismay era repetidamente a mesma: não havia mais ninguém em volta quando ele pulou; e, além disso, o bote já estava em plena descida.
Mas os números do naufrágio e testemunhos contraditórios sobre a conduta de Ismay a bordo selaram o seu destino. Pois bem: é precisamente esse destino que o escritor Frances Wilson revisita no melhor livro que li sobre o Titanic.
O título é de uma ironia cruel e merece ser citado na totalidade: "How to Survive the Titanic: The Sinking of J. Bruce Ismay" ["Como Sobreviver ao Titanic: O Naufrágio de J. Bruce. Ismay]. Nem mais.
Ismay sobreviveu ao naufrágio do barco. Mas o dia 14 de abril de 1912 marcou o início de um outro naufrágio. O naufrágio da sua alma.
A história é digna de Joseph Conrad e, sem surpresas, o livro dedica um capítulo inteiro a "Lord Jim", a obra-prima de Conrad publicada 12 anos antes da viagem funesta do Titanic. É a história de um marinheiro que foge instintivamente de um navio acidentado para viver uma existência de desonra insuportável.
Mais do que profético, o livro de Conrad transporta a velha lição do mestre: o nosso destino depende, muitas vezes, de forças que não controlamos. Não apenas as forças tangíveis do próprio mar, que esmagam com violência toda a soberba humana. Mas também as forças pessoais -ou, melhor dizendo, as fraquezas pessoais que, em momentos decisivos, nos podem conduzir a um fracasso inapagável.
O personagem Jim do romance de Conrad é um homem que ama o mar e, talvez mais importante, ama a sua própria confiança pessoal. Até o momento em que essa confiança se converte em medo -e fuga.
O afundamento do Titanic foi demorado: duas horas e meia até mergulhar de vez nas profundezas do Atlântico. Mas o afundamento de Bruce Ismay demorou ainda mais: 25 anos de uma "existência póstuma", escreve Wilson.
Os amigos foram desaparecendo. O gosto pela navegação também. As noites converteram-se em purgatórios de insônia. E a família, recusando-se a aceitar a existência de um covarde dentro de casa, determinou que a palavra "Titanic" jamais fosse pronunciada.
A Bruce Ismay restavam-lhe as temporadas solitárias na Irlanda rural. Fisicamente, morreu em 1937. Mas o óbito que interessa aconteceu em 1912. Quando, ironicamente, Ismay sobreviveu.
Ficar ou não ficar: será essa a questão? A cultura popular, a começar pelo maniqueísmo infantil do cinema de James Cameron, não tem dúvidas: entre coragem e covardia, Bruce Ismay optou pela covardia.
Lendo a "existência póstuma" de Ismay, conhecemos o preço desumano dessa opção. Mas também aprendemos que a coragem e a covardia não são matéria de reflexão teórica. São a consequência imprevista de atos imprevistos perante situações imprevistas. Como nos livros de Conrad, somos todos corajosos, somos todos covardes. E esperamos humildemente que o destino nunca se lembre de nos testar. 
Folha, 17.04.2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

(aproveitando o artigo do Pondé!)

Para o pessoal que acredita nesse trololó de autoestima(blérghh!):Crime e Castigo do Dostoiesvki!
Sou pré-anos 80, mesmo assim   diria que estou nessa por muitos dos motivos citados abaixo.

Luiz Felipe Pondé 

Narcisismo no "Face"

Cuidado! Quem tem muitos amigos no "Face" pode ter uma personalidade narcísica. Personalidade narcísica não é alguém que se ama muito, é alguém muito carente.
....
Faço parte do que o jornal britânico "The Guardian" chama de "social media sceptics" (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado "sombrio" do Facebook (22/3/2012).
Ser um "social media sceptic" significa não crer nas maravilhas das mídias sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na "história", sou daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte, sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos diante da opacidade do mundo e do tempo.
As mídias sociais potencializam o que no humano é repetitivo, banal e angustiante: nossa solidão e falta de afeto. Boas qualidades são raras e normalmente são tão tímidas quanto a exposição pública.
E, como dizia o poeta russo Joseph Brodsky (1940-96), falsos sentimentos são comuns nos seres humanos, e quando se tem um número grande deles juntos, a possibilidade de falsos sentimentos aflorarem cresce exponencialmente.
Em 1979, o historiador americano Christopher Lasch (1932-94) publicava seu best-seller acadêmico "A Cultura do Narcisismo", um livro essencial para pensarmos o comportamento no final de século 20. Ali, o autor identificava o traço narcísico de nossa era: carência, adolescência tardia, incapacidade de assumir a paternidade ou maternidade, pavor do envelhecimento, enfim, uma alma ridiculamente infantil num corpo de adulto.
Não estou aqui a menosprezar os medos humanos. Pelo contrário, o medo é meu irmão gêmeo. Estou a dizer que a cultura do narcisismo se fez hegemônica gerando personalidades que buscam o tempo todo ser amadas, reconhecidas, e que, portanto, são incapazes de ver o "outro", apenas exigindo do mundo um amor incondicional.
Segundo a pesquisa da Universidade de Western Illinois (EUA), discutida pelo periódico britânico, "um senso de merecimento de respeito, desejo de manipulação e de tirar vantagens dos outros" marca esses bebês grandes do mundo contemporâneo, que assumem que seus vômitos são significativos o bastante para serem postados no "Face".
A pesquisa envolveu 294 estudantes da universidade em questão, entre 18 e 65 anos, e seus hábitos no "Face". Além do senso de merecimento e desejo de manipulação mencionados acima, são traços "tóxicos" (como diz o artigo) da personalidade narcísica com muitos amigos no "Face" a obsessão com a autoimagem, amizades superficiais, respostas especialmente agressivas a supostas críticas feitas a ela, vidas guiadas por concepções altamente subjetivas de mundo, vaidade doentia, senso de superioridade moral e tendências exibicionistas grandiosas.
Pessoas com tais traços são mais dadas a buscar reconhecimento social do que a reconhecer os outros.
Segundo o periódico britânico, a assistente social Carol Craig, chefe do Centro para Confiança e Bem-estar (meu Deus, que nome horroroso...), disse que os jovens britânicos estão cada vez mais narcisistas e reconhece que há uma tendência da educação infantil hoje em dia, importada dos EUA para o Reino Unido (no Brasil, estamos na mesma...), a educar as crianças cada vez mais para a autoestima.
Cada vez mais plugados e cada vez mais solitários. Na sociedade contemporânea, a solidão é como uma epidemia fora de controle.
O Facebook é a plataforma ideal para autopromoção delirante e inflação do ego via aceitação de um número gigantesco de "amigos" irreais. O dr. Viv Vignoles, catedrático da Universidade de Sussex, no Reino Unido, afirma que, nos EUA, o narcisismo já era marca da juventude desde os anos 80, muito antes do "Face".
Portanto, a "culpa" não é dele. Ele é apenas uma ferramenta do narcisismo generalizado. Suspeito muito mais dos educadores que resolveram que a autoestima é a principal "matéria" da escola.
A educação não deve ser feita para aumentar nossa autoestima, mas para nos ajudar a enfrentar nossa atormentada humanidade.
Folha, 16.04.2012

domingo, 15 de abril de 2012

Botafogo e Aterro de manhãzinha
O Rio está devastado na sua paisagem humana mas a natureza continua mandando bem. Caminho pelo Aterro em alguns finais de semana e vou clicando a beleza que explode aqui e ali. Há sempre plantas florindo e sorrindo.










Um país torto!

Brasileiro tem uma péssima relação com o que é público. Vai aí uma palhinha do que o Roberto da Matta, escreveu em O Globo (11.04.2011) (o negrito é meu):

Alguns dos nossos políticos têm dupla personalidade, mas, como  eu tentei mostrar em Carnavais, Malandros e Heróis, o Brasil tem uma duplicidade de raíz. Ele é feito de leis universais (válidas para todos), mas, tal o barqueiro napolitano de Max Weber, nós não podemos cobrar dos parentes, cobramos menos dos amigos, cobramos demasiado dos desconhecidos, e cobramos estupidamente (com a devida comissão para pessoas e partido) quando o passageiro é o governo.
Dois pesos e medidas levados ao extremo acabam em despotismo ( os nossos fazem apenas malfeitos e são blindados);destituem de ética e impessoalidade do que é público. Até hoje não admitimos que um homem público simplesmente não tem vida privada porque ele não é gerente de coisas sem dono; é - isso sim - um administrador do que pertence a coletividade.
É falsa essa apropriação do público pelo privado porque os eleitos não são donos de coisa alguma; são simplesmente responsáveis pelo que é de todos. O problema é que vemos como anomalias um traço de um Brasil que até hoje não quer saber se é um país de família, um clube de compadres e amigos - ou um sistema de instituições públicas.
....
É impossível deter Cachoeiras de desejos, sobretudo quando são proibidos por lei, mas aceitos placidamente  pelos costumes da terra, como a amizade e a malandragem. Essas coisas que viciam, como disse um deputado mineiro que construiu um castelo feudal. E, mais do que isso, a certeza de que o governo tem muito mais do que pode administrar. Sobretudo quando se sabe que aquilo que é de todos (ainda) não é de ninguém. Como prender bandidos num país onde mentir em causa própria é um princípio constitutivo  do sistema legal?

sábado, 14 de abril de 2012

The Devil is in the details!

(Foi o que levei de um workshop da SPWLA  em Nova Orleans em 1996)

É nos detalhes que o rato roe a corda.
Os detalhes despem o rei,
fazem desabar o céu estrelado das boas intenções,
naufragam a hipocrisia.

- Um olhar furtivo;
- um sor(riso) de ironia;
- uma lágrima solitária;
- um ar de contrariedade;
- uma palavra mal colocada;
- um esquecimento;

... é neles que encontramos a verdade de cada um.
( as mulheres, prá quem o pretinho nunca é  básico,sabem disso muito bem!)



terça-feira, 10 de abril de 2012

Só a volta ao braços da minha velhinha favorita para a insólita combinação de Esporão Private Selection branco com pia, louça e talheres prá serem lavados, depois limpos, enxaguados e...ufa... finalmente enxugados!
O vinho consolou!

De quebra as reminiscências...

Volta às origens

Ao céu  azul sem jaça,
nacarado ao entardecer.
Ao toque suave do vento frio outonal,
que ruboriza as faces
e faz brilhar os olhos das crianças.
Aos idiossincráticos
odores e sabores
da cozinha maternal.
Ao aconchego da lã
de pulovers e cobertores.
À  italiana casa,
limpa, simples, organizada,

(ah... a ordem das coisas!)

testemunha muda
da inexorável roda do tempo.
Ontem...
os sonhos audazes,
as certezas tolas...
de quem cria,
mudaria o mundo,
escreveria o destino
com as próprias mãos.
Hoje...
a resignação de quem
o destino domou;
a desolação
de que tudo muda
para o mesmo ficar.
Mudam os atores,
muda o cenário,
mas o enredo
permanece igual.

Plus ça change, plus ça la même chose.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pode?

Claude Lévi-Strauss enquanto esteve por aqui escreveu, confessou, disse, sei lá... que temia que o Brasil passasse direto da barbárie para a decadência. 
Lembrei-me disso quando li  que o Brasil conseguiu agora a façanha de ter se tornado  um país caro, antes de ser  rico! (de acordo com o economista do IEDI, Júlio Gomes de Almeida em  O Globo - 03.04.2012)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Texto solar

O Veríssimo, apagado ultimamente, faz uma homenagem brilhante ao Millor:

Ele tinha cara e corpo de toureiro. Ou então não de toureiro, que mata o touro. De bandarilheiro, que o irrita. Afinal, o Millor era só meio espanhol. O touro dele era qualquer coisa grande ou metida a grande, qualquer coisa com chifres que assustavam os outros mas não ele, qualquer coisa pomposa e ridícula, qualquer coisa prepotente. Mas acima de tudo, o touro dele era a burrice. No lombo da burrice ele espetava suas bandarilhas coloridas, seus epigramas pontudos, suas parábolas incisivas, suas frases marcantes, sua inteligência afiada, esquivando-se dos chifres da besta. No fim ele só não conseguiu driblar a coisa mais burra que existe: a morte.
Especulação dolorosa: o que teria passado por seu cérebro nestes últimos dias, preso a um corpo inutilizado? Que memórias, que imagens ocuparam sua mente antes do fim? Ele na sua última arena, diante do último touro. Arena vazia, só os dois, num cara a cara final. Ele sem seus instrumentos: sem lápis, sem teclado, sem defesa. E na sua frente a burrice na sua forma mais definitiva. A burrice total, a burrice imune a argumento ou súplica, a burrice irreversível, a burrice triunfante. Não adianta ele sugerir que ao menos dancem uma valsa, a burrice não tem senso de humor. Nem se pode chamá-la de vingativa - ela sabe que no fim, depois das bandarilhas coloridas e de todas as piruetas, a vitória será dela. Por mais ridicularizada que ela seja, a vitória é sempre dela. E depois vem a burrice eterna.
No seu sonho terminal, o touro começa sua carga. E o bandarilheiro não consegue sair do lugar.
O Globo, 01.04.2012

domingo, 1 de abril de 2012

A existência é um mal entendido - um jogo de montar composto por peças que não se encaixam. A poesia é a única maneira de sobreviver em um mundo que não combina consigo mesmo.
Antônio Tabucchi  (1943-2012) in José Castello - O Falso Pessoa - O Globo -26.03.2012)
Não sou nada,
Nunca serei nada,
Não posso querer ser nada.
À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(Fernando Pessoa)
Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida, escreveu Carlos, o poeta. Eu, Carlos também, segui a sina. Prova disso é que abro meu blog, justo num primeiro de abril. 
Sou gauche, manqué,
atravesso o samba dos contentes,
marginal,
estrela só,
navego contra a corrente.
Afronto o mainstream,
azougue dos poderosos,
clown de um circo mambembe.