domingo, 22 de março de 2020

...e o vírus está no ar (II)

Apenas gatos pingados nas ruas, nas feiras, nos supermercados. Tenho saído praticamente todos os dias prá horror dos puristas que não põem sequer o nariz prá fora da porta. Puristas - classe média prá cima -  mas poderia chamá-los de paranóicos, egoístas. Nenhum deles admitirá;  na verdade, apavorados com a morte.
Minha funcionária - e povão no geral - é desassombrada. Evangélica acredita que se tiver que ser será e entrega tudo nas mãos de Deus. É  muita irresponsabilidade. Serei obrigado a interditá-la até que o  número de casos estabilize. Estarei me protegendo e a ela também.
No outro lado do espectro, colegas que não põem o pé fora de casa e que terceirizam o risco para subalternos, vizinhos  ou mesmo colegas abnegados. Egoístas, nada mais. Querem risco zero. Ele não existe.
Ora divirto-me, ora irrito-me  com os argumentos que ambos apresentam para justificar-se. Embora primitivos os argumentos  da funcionária revelam uma empatia maior com a humanidade do que  a retórica flibusteira dos colegas, que não passa de um  dissimulado quero o meu.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Bolsonaro, acabou!

Foi o que disse o peitudo haitiano vis a vis com o capitão em uma daquelas entrevistas matinais que ele dá à saída do Palácio cercado por um bando de fiéis adoradores. Na minha opinião foram  a senha para o início dos trabalhos para desalojá-lo da presidência e mandá-lo para o lugar do qual  nunca deveria ter saído;  seu condomínio na Barra da Tijuca. A eloquência do panelaço de ontem à noite só confirmou o que - espero - aconteça depois que passe o tsunami do coronavirus. Minha paciência cívica esgotou-se.

#Fora Bolsonaro!

domingo, 15 de março de 2020

Felicidade é objeto de desejo dos fracos...

Os fortes são trabalhados na dor e na agonia.

...e o virus está no ar!

Com a entrada do país no estágio de transmissão sustentada, a mais avançada do vírus, quando perde-se o controle da sua disseminação, fico preocupado com o que possa vir a ocorrer. Como somos um país que não cansa de surpreender, torço para que a surpresa seja boa ao fim e ao cabo mas o histórico não recomenda, apesar de termos no Ministério da Saúde um dos melhores quadros desse governo ogro.   Nossas assimetrias regionais e assombroso desnível de renda dentro de cada região fazem-me  apostar nos piores cenários. A corrida aos supermercados parece estar ocorrendo. Pela manhã tentei ir ao Mundial mas estava abarrotado de gente. Ontem a Cadeg de Benfica estava com afluência reduzida pela metade. Seria medo do contágio? 
O certo é que entramos numa viagem de contornos imprevisíveis pelo menos nos próximos 60 dias. Seria demais imaginar que as coisas se passassem como na Coréia, Japão ou Singapura. Se ficarmos entre o que se passou por lá e o que está ocorrendo da Itália e Espanha já estaria de bom tamanho.
A ver...

sexta-feira, 6 de março de 2020

Let's dance!



I wanna be your love - Prince

Ladeira abaixo!


 A noticia de Claudia Colucci na Folha de 02.03 mostra o país distópico que somos. Só aqui mesmo para gastar uma verdadeira fortuna do SUS para custear a compra de um remédio para 414 happy few de Pindorama. É o que o jargão trata como judicialização de medicamentos para doenças raras. O episódio é um caleidoscópio das mazelas nacionais; tem escritório de advocacia envolvido (sempre eles!), fraude, decisão judicial viciada, dispensa de licitação, privilégio (a grande maioria dos portadores tem endereço em Brasília).

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O final de semana foi palco de mais uma tragédia com naufrágio de um barco nos rios da Amazonia. Ano sim, outro também ocorre pelo menos um naufrágio com essas características: o barco não tinha autorização para realizar o serviço e não havia uma lista de passageiros embarcados. Deve haver muita mutreta e gente boa  envolvida prá que tamanha obcenidade se estenda indefinidamente ao longo do tempo. E como não há obscenidade que baste,  a aturar as declarações das autoridades procurando eximir-se da responsabilidade, além da tentativa de reduzir o número de mortos para di minuir o impacto da tragédia. O cinismo das palavras do governador do Amazonas - que conhece muito bem o histórico desses naufrágios gregorianos -  valem um impeachment.

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Para um brasileiro como eu, com 68 anos convivendo com o brazilian way of life e conhecendo os demônios que infestam nosso imaginário, nada de novo no front. Nascemos tortos. Prá desentortar muitas luas teremos que viver...

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São historinhas infames como as relatadas - certamente há inúmeras -  que provocam um desalento profundo quando se pensa num futuro decente para esse país.
E olha que estamos no século XXI e o Brasil - presunçoso -  até pouco tempo, almejava sentar-se à mesa das potências mundiais, aspiração da nossa esquerda messiânica que acabou abortada.