quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Tragédia brasileira (IV)

É o quarto post sobre o tema em menos de um ano. Sintomático para um tempo e o país em que vivemos.
Em termos de tragédia,  Ésquilo, Sófocles e Eurípides teriam farto e vasto material para se inspirar assim como Kafka  para sua literatura sobre o absurdo. Somos, deveras,  insuperáveis. Manter o Caminho do Meio budista no Brasil é uma tarefa reservada somente e tão somente aos Lamas.



Alguns comentários que repasso depois do que ocorreu em Brumadinho na sexta-feira que passou:
Faz mais de cinco anos, a gente tem a impressão de que o Brasil está em ruína progressiva.
Vinicius Torre Freire ,  Brasil na Lama e nas Ruinas, Folha,  27.01
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o problema central do Brasil “é uma deformidade cultural", caracterizada, diz Navarro, por uma “invencível complacência, em relação a tudo e com todos, ainda que suas manifestações variem de acordo com as classes sociais. Trata-se de uma construção histórica e, por isso, estrutural, talvez impossível de ser mudada. E, não sendo mudada, nos condena às trevas para sempre".
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Zander Navarro in Clovis Rossi, Uma Ruína chamada Brasil, Folha, 28.01
Fernando Henrique Cardoso gosta de relembrar uma cena na qual o historiador Sérgio Buarque de Holanda discutia o tamanho de algumas figuras do Império e ensinou: “Doutora, eles eram atrasados. Nós não temos conservadores no Brasil. Nós temos gente atrasada.”
Foi a gente atrasada que levou o Brasil a ser um dos últimos países a abolir a escravidão e a adotar o sistema de milhagem para os passageiros de aviões, deixando a rota Rio-São Paulo de fora.
É a gente atrasada quem trava os projetos de segurança das barragensque tramitam no Senado, na Câmara e na Assembleia de Minas Gerais.
Essa gente atrasada estagnou a economia durante o século 19 e, no 20, faliu as grandes companhias de aviação brasileiras. No 21, produziu os desastres de Mariana e Brumadinho.
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Elio Gaspari, O conservador e o atrasado, O Globo, 30.01.
 


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

domingo, 27 de janeiro de 2019

Budismo II

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Seguir um caminho equilibrado e moderado, que seja honesto, reto e impecável, é viver o Darma. Aprender a viver sem confusão, raiva, apegos, vacilação e ganâncias excessivas - isto é Darma. A sanidade básica é estar sintonizado com as coisas como elas são - isto é o Darma. Seguir um caminho do Darma significa tornar a vida espiritual uma prioridade e desenvolver um coração caloroso, generoso e amoroso, que tem o sentido da empatia e da amizade. Isto inclui desenvolver  integridade e caráter, e não apenas buscar breves experiências místicas ou elevadas. A verdade tem a ver com ficar livre, e não ficar nas alturas.
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Lama Surya Das, O Despertar do Buda Interior, Rocco, 2001.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Nosso governador, é ou não uma gracinha?

A copiosa  chuva bolsonarista das urnas fez brotar muitos cogumelos. O nosso governador é um deles; eleito com apoio - entre outros - das milícias, dizem as más línguas. O Rio de Janeiro continua lindo e muito mal-governado.



O marketing exibicionista de fazer flexão diante de tropas militares —adotado por Wilson “Abatedor” Witzel— atualiza a máxima de Ivan Lessa nos tempos do Pasquim: “O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também”.  

Álvaro Costa e Silva - Folha,22.01.2019

sábado, 19 de janeiro de 2019

Budismo

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Porque o budismo é muito menos que uma teologia ou uma religião do que uma promessa de que certas práticas medidativas e treinamentos mentais podem efetivamente nos mostrar como demonstrar nossa natureza búdica, libertando-nos do sofrimento e da confusão.
O budismo diz sim, a mudança é possível. Ele nos diz que não importa de onde viemos, cada um de nós é o criador de nosso destino. Diz-nos que nossos pensamentos, nossas palavras e nossos atos criam a experiência que é o nosso futuro. Diz-nos que tudo tem o seu próprio lugar. Tudo é sagrado, tudo está interligado, e nos oferece um sistema para integração de todas as experiências, caminhando em direção à realização de nossa perfeição inata.
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Lama Surya Das, O Despertar do Buda Interior, Rocco, 2001

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Motown na veia!

Isso me lembra Radio Continental de Porto Alegre, 1120 kHz, Julius First, o DJ das 22:00h que só colocava música negra - dançante de preferência. Aqueles eram tempos do som da  Motown que produziu Temptations, Gladys Knight and the Pips, Commodores and Lionel Richie, Marvin Gaye, Smokey Robinson, Four Tops. Waal!
Tempos de amores - sempre! -  platônicos. A da vez,  era uma aluna  do Direito - cabelo curto, preto e liso -  que fazia o Básico  na UFRGS com a nossa turma de Geologia. 
Por onde ela andará?


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ainda temos futuro com garotas como você, Greta!

Não conseguiremos salvar o mundo jogando pelas regras do jogo. Porque essas regras precisam ser mudadas. Não viemos aqui implorar aos líderes mundiais que cuidem do nosso futuro. Eles nos ignoraram o passado e nos ignorarão novamente.
Viemos aqui para que eles saibam que a mudança está vindo, gostem ou não. As pessoas enfrentarão o desafio. E, como nossos líderes estão se comportando como crianças, teremos que assumir a responsabilidade que eles deveriam ter assumido 
há muito tempo.

(Greta Thunberg, sueca,  16 anos, na 24a  Conferência sobre o Clima, Katowice, Polonia)
(Tradução Dorrit Harrazim , Sumiu o Clima, O Globo, 13.01.2019)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

You can´t get always what you want!

...do - vamos lá! -  pensador Mick Jagger, que diz cantando - o que não passa do óbvio, mas que está aqui porque tem tudo a ver com o que me aconteceu no ano que passou! -  ainda nos bons tempos dos Stones com Brian Jones na guitarra-solo. 
Do álbum Simpathy for the Devil, que remete a Altamont,  que remete a Hells Angels, que remete ao assassinato de um espectador durante o espetáculo. Uma mancha negra na história da banda, pois eles foram contratados para fazer a segurança do show. Bota insanidade nisso!
Simpathy for the Devil e Hells Angels, tudo a ver para aquela época.
Foi brincar com o diabo,  Mick Jagger. Deu no que deu!




domingo, 13 de janeiro de 2019

O ciclo trágico budista

Como somos ignorantes de verdade, pensamos que podemos nos fazer felizes satisfazendo um apego qualquer, talvez uma pessoa específica ou lugar, coisa, sentimento...Inevitavelmente vamos nos desapontar, quando então a aversão, antipatia ou mesmo o ódio levantarão suas horrendas cabeças.

Lama Surya Das, O Despertar do Buda Interior , Rocco, 2001.

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Ignorância, apego e aversão são as três razões básicas para a insatisfação e a infelicidade - kleshas - de acordo com o Darma, o ensinamento espiritual budista.

sábado, 12 de janeiro de 2019

A "boquinha" em três tempos: ditadura militar, anos petistas e "aurora" bolsonarista.


PARENTE DO GENERAL
Refrescando a memória para a “nova era” do governo Bolsonaro:
Em 1964, o general Ernesto Geisel, chefe do Gabinete Militar de Castello Branco, encontrou-se com um sobrinho. Economista e funcionário do Banco do Brasil, pretendia trabalhar no gabinete do ministro do Planejamento, Roberto Campos. O general abateu-o em voo: “Não vá, porque eu vou dizer ao Roberto que mande você embora”.
Já o marechal Castello Branco demitiu o irmão Lauro da Diretoria de Arrecadação do Ministério da Fazenda porque ele aceitou um automóvel de presente.

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EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e encantou-se com o capitão quando soube que ele não preencheria cargos técnicos com indicações políticas. Altruísta, o cretino sabia que com isso perdia o acesso a uma boquinha.
Eremildo decidiu ir a Brasília para reivindicar um emprego na Agência de Promoção de Exportações. Alex Carreiro, escolhido por Bolsonaro para presidi-la, não era fluente em inglês, mas dirigiu o Patriotas de Brasília, primeiro partido a oferecer legenda ao capitão.
Ele foi patrocinado por amigos do PSL e viu-se defenestrado por causa de um atrito com uma diretora da agência, ex-secretária-geral do partido (expulsa em setembro passado). Mosca de padaria, ele esteve no Sebrae, na Caixa e na Secretaria de Portos.
Eremildo lembra que durante o mandarinato petista a Apex foi aparelhada com uma ex-secretária de Lula e com a mulher de um “aloprado” da fábrica de dossiês contra o PSDB. A agência foi presidida pelo comissário Alessandro Teixeira. Em 2016, Dilma Rousseff nomeou-o para o Ministério do Turismo e sua mulher (Miss Bumbum 2012) fez um ensaio fotográfico no gabinete do doutor.

Hélio Gaspari, O Globo, 13.01.2018

Civilização


Película fina, muito facilmente destruída, onde habitam a inteligência, o ceticismo e a ironia.

(J.P. Coutinho, Aprender a contar até dois, Folha, 08.01.2019)

Fanáticos, sectários...., prá vocês!


Do lugar onde temos razão
flores jamais crescerão
na primavera.
O lugar onde temos razão
é duro e pisoteado
como um pátio.
Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, um arado.
E um sussurro será escutado no lugar
onde a casa arruinada
existia.

Yehuda Amichai  (trad. livre -João Pereira Coutinho)

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Fico consternado acessando Whatsapp ou Facebook ao ver inúmeras fotos que compõem o perfil das diferentes pessoas dos raros grupos que participo adornadas com dísticos, banners sei lá.... do tipo:
Always anti-fascist, sometimes anti-social.
Se ele fere minha existência, serei resistência.
Com as exceções de praxe,  são pessoas sectárias. Sei que com elas a chance de uma troca de idéias civilizada é quase uma miragem.

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Em tempos de crispação conforta ler que os fanáticos só sabem contar até um, que são pessoas dominadas pelo sentimento, não poluídas pelos artifícios da civilização e pelo demônio ilusório da racionalidade. Defendem suas causas com muita emotividade, apenas elas sentem genuinamente e quem não sente como elas são serem indignos ou coisa pior . Daí advém sua superioridade moral.
Atribuído a J. J. Rousseau - quem diria! Extraído da coluna do J.P. Coutinho na Folha de 08.01.

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Conheço tantos! Até doutores e mestres no exterior. Algumas pessoas próximas e queridas. É a prova cabal de que nossa razão é presa fácil do sentimento e das crenças. O post abaixo Tá todo mundo se lixando... já discorre sobre isso.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Nos tornamos melhores ao lado de quem amamos.

J.P. Coutinho faz uma tocante declaração de amor para sua senhora  na coluna de hoje na Folha. Ela está sintetizada precariamente no  título do post porisso recomendo a leitura  do texto completo.
É fato, ao lado de quem amamos nos sentimos plenos, felizes, embora o coração permaneça inquieto.  Recebi a graça de sentir tudo isso no ano que terminou. O problema é que nem todos temos a sua sorte, meu caro Coutinho, nem sempre  somos correspondidos em nossos amores. 

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Fantástico esse hábito dos portugueses de chamar  a mulher amada de senhora.

Está todo mundo se "lixando" pro que é verdadeiro e falso (II)


Joel Pinheiro da Fonseca vai por aí no seu artigo Verdades e Mentiras publicado na Folha de ontem.
Está lá que um levantamento do Washington Post enumerou as mentiras ditas por Donald Trump no seu período de governo; inacreditáveis 7645 vezes.
Duas pérolas do texto:

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A maioria das pessoas (e nós mesmos, grande parte do tempo) não quer a verdade. Busca validação para crenças que reafirmem seus interesses e sua identidade. Confunde assertividade retórica com evidência racional. Sempre foi assim.
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 Não existe mais nenhuma desonra na mentira deslavada. O espertalhão eficaz é admirado por sua sagacidade. Os falastrões, os histriônicos e os teóricos da conspiração, os replicadores de fake news, tiveram sucesso eleitoral. As consequências que isso pode ter para as democracias são sérias.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Por que é tão difícil viver?

2018 se foi, mas que ano! Certamente vai ficar entre os dez mais da minha vida.
Começou com uma batalha contra o câncer que dá todos os sinais de ter  sido vencida. Prosseguiu logo no começo com um reencontro e o despertar de uma paixão que imaginava o tempo apagara mas que não correspondida levou à dor que me vergastou a alma por longos e penosos meses e  transpareceu em alguns posts ao longo do ano. No meio de todo esse tormento um retorno à oração - não diria à fé, pois aí o buraco é mais embaixo -  abandonada depois da retomada da vida secular, passados praticamente 45 anos. Com ela  mitiguei a dor da rejeição e aprendi a aceitar os fatos sem me considerar o pára-raios do que há de pior no ser humano.
Y que vengán las tragédias,  saberei como emergir delas, personagem trágica que sou. Marcado, mas na medida do possível, não amargurado.
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Last but not least... a quase falência das minhas pernas depois da subida meio suicida do Bico do Papagaio. Passados 6 meses, até hoje as sequelas permanecem fortes. Foi o abrir de asas da velhice sobre mim.

A troca da guarda

Agora teremos que nos haver com o Mito por quatro anos. Até pouco tempo atrás aturamos quem não se considerava mais um ser humano mas uma idéia. Detesto essa personalização na política em que o povo é a identidade de uma nação e se sobrepõe à  constituição. Nas democracias liberais, o povo soberano é  o povo da constituição que paira acima de tudo, com seus direitos subordinados a um pacto racional e plural entre os atores.  
Para além disso, preocupam as evidências mostrando que trocamos uma ideologia de esquerda por outra de direita. Trocamos um sapo barbudo por um cavalão.
Que Deus tenha pena da nossa democracia claudicante!