sábado, 31 de outubro de 2020

Para lembrar...

 Verdades que doem, transcritas do já citado A tirania dos intelectuais.

Ninguém desce à cova conosco, exceto nós mesmos.

......

Na condição de exilados, independentemente da geografia, jamais podemos ser orgulhosos, na crença tola de que a literatura e a filosofia são o suficiente para substituir a vida.

Joseph Brodsky

As seduções do intelecto não libertam ninguém.

Juliano Garcia Pessanha

 





IYI

É uma abreviação que Martim Vasquez da Cunha  em A Tirania dos Especialistas (Civilização Brasileira, 2019) assumiu para o termo cunhado por Nassim Nicholas Taleb em seu livro Skin in the game (Arriscando a própria pele) para definir o especialista (expert): intelectual yet idiot

Vou transcrever abaixo alguns comportamentos que definem o IYI - há ironia prá dar e vender! - feitas por Taleb e transportadas para as idiossincrasias da nossa cultura por Martim. Para meu desalento, identifiquei-me com boa parte delas:

O comportamento do IYI consiste basicamente em patologizar tudo aquilo que não consegue entender nos outros, sem admitir o fato de que foi o seu entendimento das coisas se tornou limitado. 

Ele pensa que as pessoas devem agir com base no Bem Comum e no melhor interesse do que seria esse bem, com o detalhe de que o IYI é o único que sabe o que seria isto. Daí por que mal compreende o que acontece quando a sociedade age contra o que seriam esses interesses. Como reação, passa a chamá-la de deseducada ou então com o nome do momento - populista.

A democracia segundo sua concepção, só existe quando as pessoas aceitam os termos dele. E, claro, tudo isso sancionado pela relação direta que há entre um voto e uma vaga em qualquer repartição corporativa - de preferência, uma universidade de elite. No caso do Brasil, uma universidade pública como a USP, que treina os meninos ricos a serem futuros IYIs travestidos de militantes políticos, ou uma faculdade particular como o Insper ou a Fundação Getúlio Vargas, que os aprisiona ainda mais em suas bolhas cognitivas.

........

....assina a New Yorker ( aqui, é um habitué da Folha de S. Paulo durante a semana e do Estadão e da Veja aos domingos); acha que xingar nas redes sociais é falta de educação (aqui, alega  que não está disposto a entrar no debate); fala de igualdade racial e de igualdade econômica, mas jamais conversou com um motorista de taxi ( no Brasil, chega-se ao ponto de nunca conversar com a própria empregada doméstica); acredita que Tony Blair foi um grande estadista (o mesmo ocorre, por estas bandas, quando falam de Lula ou de Fernando Henrique Cardoso, sem saber que ambos são farinha do mesmo saco, ou ousam citar Getúlio Vargas como alguém que colaborou para o desenvolvimento do país); as únicas palestras que assiste são no estilo TEDx ( no Patropi, podem ser adicionados os eventos da Casa do Saber ou qualquer cópia malfeita dela, que já é terrível por si própria); não apenas vota em qualquer membro do Partido Democrata (como Hillary Clinton) porque avalia que quem vota em Donald Trump é perturbado mentalmente, mas também porque sabe que não tem como escapar do seu próprio círculo vicioso psíquico (o mesmo paralelo pode ser feito entre nós quando se opta por qualquer político do PSDB em oposição ao PT ou vice-versa, razão pela qual não se consegue entender, sob nenhuma hipótese, o surgimento de um Jair Bolsonaro, um patrimonialista disfarçado de liberal); confunde ciência com cientificismo (nas nossas universidades, existem professores que realmente acreditam que o aquecimento global é um fato e Al Gore, um sujeito sério); é incapaz de refletir sobre as consequências imprevisíveis de suas idéias e ações; não sabe qual é a diferença entre a ausência de evidência e a evidência de ausência; suas previsões estão erradas sobre absolutamente tudo - stalinismo, maoismo, petismo, Iraque, Libia, Síria, lobotomia, planejamento urbano, jihad global, panorama eleitoral - e, mesmo assim, pensa que está absolutamente certo sobre tudo o que comenta; integra um clube de membros privilegiados; não sabe usar estatísticas porque acredita que são uma descrição do mundo real; vai aos festivais literários (por aqui ir à Flip é um atestado pleno de que se trata de um IYI); adora uma intervenção médica quando esta não é necessária; estuda gramática antes de aprender uma língua (algo comum nas redes sociais tupiniquins, em especial entre os que compõem este gênero conhecido como Nova Direita, a República do COF instituida pelas instruções de Olavo de Carvalho); tem sempre um parente que trabalhou com a Rainha da Inglaterra ou como o presidente dos Estados Unidos (no Brasil, o trunfo é ser parente de algum membro do Judiciário); nunca leu John Gray, Michael Oakeshott e Joseph de Maistre ( no Febeapá é pior: quando alguém lê ou ensina o os escritos desses pensadores, como é o caso daquela turma que promove apenas o estado da arte das baboseiras, logo os classifica como conservadores, reacionários ou de direita - ou particularmente sobre Gray, bastião do pensamento liberal esclarecido, seja lá o que for isso) ...sempre menciona física quântica pelo menos duas vezes em uma conversa em que nada tem a ver com a disciplina mencionada ....; sempre sabe que, mais cedo ou mais tarde, suas ações ou idéias podem prejudicar sua reputação e, portanto, coloca esta em primeiro lugar.....

.......

... e por aí vai !



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Capitão você é um pesadelo.

Vou endossar o que escreveu a Mariliz Pereira Jorge na sua coluna para a Folha de 22 de outubro. Afinal, a cada dia temos uma sandice, quando não mais. 

É incrível sua capacidade para justificar opiniões disparatadas com  princípios de grande razoabilidade e aceitos universalmente. Invoca a liberdade individual e de expressão para justificar a baixaria e as fake news veiculadas pelas brigadas digitais que o apoiam nas redes; para participar de manifestações em que são atacados os outros poderes da República e defender um governo autoritário; para não usar a máscara; para não tomar a vacina.... Enfim, é o desatino personificado e - pasmem! - presidente da nossa amada República, eleito com 55% dos votos. Eu não merecia ter vivido 69 anos para testemunhar tamanho espetáculo de horrores.

Justiça seja feita, ele continua sendo o que sempre foi, desde os tempos em que foi amigavelmente posto prá fora do exército. Os generais Golbery e Geisel que o conheciam bem, devem ter se virado no túmulo quando souberam de sua eleição. De acordo com os baianos:

Não importa quantas vezes a cobra troca de pele; ela nunca deixará de ser cobra.

Um triste retrato do nosso imaginário torto.

 A Europa enfrenta uma segunda onda da pandemia; França e Alemanha reeditaram severas medidas de circulação, com as pessoas podendo sair de casa apenas em caso de necessidade. Nada de frequência a bares,cinemas, boates nem aglomerações públicas, mas as escolas permanecem abertas.

Ao sul do Equador existe um país, que sequer saiu da primeira onda, tem uma das maiores taxas de mortos por milhão de habitantes no mundo, mas liberou geral,  com restrições, na maior parte das vezes, não seguidas. Basta ver o que acontece com a frequência às praias aqui no Rio. Entretanto, são raros os estados que liberaram a frequência às escolas. No Rio, abertas apenas as escolas particulares; às públicas facultou-se o acesso aos alunos do 3o gráu do ensino médio para se prepararem para o Enem e vestibular.

Os professores das escolas particulares estavam em greve até a semana passada, embora a adesão fosse pequena. Já os da escola pública permaneciam firmes no movimento, alegando que o Estado não fornece as condições mínimas para o retorno às aulas. Adoraria fazer uma enquete junto  aos frequentadores de praias, boates, bares e cinemas e saber se há professores por lá. Por certo haverá. Nenhum deles reclamando das condições oferecidas para o retorno a eles.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Na terra do faz de conta.

 Pois é... apesar do ainda estarmos na fase 5 do Plano de Flexibilização da Prefeitura que proibe aglomeração nas praias  vejam como estava a ponta do Leme hoje. Contribui dando um mergulho no meu pedaço de praia próximo daí em Copacabana. Apesar de estarmos no início da primavera, os termômetros do Alerta Rio registraram a maior temperatura na cidade desde que iniciaram-se as medições em 2014: 43,6 graus na estação de Irajá com sensação térmica de 49,4 graus. De calor e irresponsabilidade é feito o carioca. A foto é de O Globo