domingo, 31 de dezembro de 2017

Feliz Ano Novo!

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008.

Individualistas, hedonistas e consumistas.


Para além das considerações - com as quais concordo -  a respeito do  novo individualismo que se instalou na sociedade atual propostas por Anthony Elliott em seu artigo reproduzido pela Folha de hoje: Para sociólogo, economia do século 21 forjou um novo tipo de individualismo, chamou  minha atenção o texto que reproduzo:


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No que tange ao consumo desigual, por exemplo, a ONU apontou num estudo da década de 1990 que prover educação básica para todos os cidadãos dos países em desenvolvimento custaria em torno de US$ 6 bilhões adicionais ao ano, enquanto os EUA sozinhos já gastavam espantosos US$ 8 bilhões por ano com cosméticos. Considere alguns outros dados chocantes sobre gastos anuais (segundo o mesmo documento de 1998):
- US$ 11 bilhões com sorvete na Europa;
- US$ 17 bilhões com comida para animais de estimação na Europa e nos EUA;
- US$ 50 bilhões com cigarros na Europa;
- US$ 105 bilhões com bebidas alcoólicas na Europa;
- US$ 400 bilhões com narcóticos em todo o mundo.

Os números refletem não só uma obsessão cultural com consumo, prazer e hedonismo mas também apontam para uma ênfase individualista na satisfação dos desejos.

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É ou não injusto o nosso mundo?

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Perdão

É raro concordar com as opiniões políticas do Veríssimo, mas esse artigo para o Globo de hoje, está perfeito. Surpreendentemente, ele inclui  Lula no mesmo clube patrício que perpetua a mediocridade nesse país. Enfim... antes tarde do que nunca, Veríssimo.
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A turma da Lava-Jato tem razão em estar chateada com os indultos de Natal, com o Gilmar Mendes e com outras evidências de coração mole que desfaz o seu trabalho. São todos jovens idealistas que ainda não tinham se deparado com uma antiga tradição nacional, a do brasileiro bonzinho. Estão descobrindo que o Brasil corrigiu Marx: aqui a história não se repete como farsa, se reinventa como farsa. E o tempo é um revisor camarada. Cada nova versão da nossa história é mais benevolente do que a anterior. 

O tempo brasileiro é concilia dor, não guarda rancor. Na verdade, não guarda nada. Quanto mais distante fica no tempo, menos  conta o fato. O fato é neutralizado pelo tempo,  emasculado como um gato. Quando, finalmente, desaparece por completo no grande sumidouro  da memória nacional, pode ser recriado à vontade. O Collor decretou que sua deposição foi uma farsa. Ninguém o contradisse. Faz tanto tempo. Quem se anima a mergulhar no sumidouro para resgatar uma verdade hoje irrelevante?  

A prisão do Maluf surpreendeu justamente por ser tão anacrônica. Maluf tinha uma estranha forma de impunidade, a que vem com o tempo camarada. Transformara-se, com o tempo, num corrupto folclórico, até simpático. E por que tocar num folclore, depois de tanto tempo? O cara já não pagou pelo que fez (segundo ele, nada) com os anos em que foi nosso corrupto-mor sacramentado? Mas o tempo brasileiro, cedo ou tarde, inocenta todo mundo. É só o Maluf esperar a sua vez. 

Essa garantia tácita de absolvição é um velho hábito do nosso patriciado. Nunca na história do país, mesmo com as oligarquias se entredevorando pelo poder  querendo a ruína do inimigo, alguém caiu  em desgraça no Brasil. Desgraça profunda, irrecuperável, de se trancar no quarto e receber comida em marmita pela portinhola pelo resto da vida. O tempo brasileiro sempre assegurou a remissão. E aí estão vilões do passado represtigiados, corruptos repaginados, banidos reeleitos e ninguém envergonhado. Collor chegou à Presidência como símbolo de combate à corrupção, saiu da Presidência como símbolo da hipocrisia do poder e volta como símbolo da inconsequência de tudo isto. O que só prova o que ele disse, se não a intenção do que disse. Tudo é uma farsa.

 É de se ver se daqui a 15 anos (eu não vou mais estar aqui, mas podem me contar depois) Lula e seus governos terão a mesma deferência que o tempo brasileiro dá ao nosso patriciado. Acredito que sim. Lula não quer outra coisa desde o seu primeiro mandato a não ser se legitimizar como um membro confiável do clube que manda, com direito a todos os seus privilégios. Inclusive os do estatuto que trata do perdão implícito da história, não importa o que ele faça.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Natal!



Há algo de podre no Reino...

Dois fatos  que se passaram nos últimos dias, comprovam o desarranjo profundo por que passa o país. E não ocorreram apenas em grandes centros urbanos onde as mazelas agudizam-se. Também se passam em cidades do interior, como no segundo exemplo :

  • A selvageria  patrocinada pela torcida do Flamengo no Maracanã na final da Copa Sul-Americana. Até cara atropelado jogado na calçada a espera de socorro foi assaltado. Aliás o atropelador também o foi. ( Eu ví, a TV mostrou.)
  • O apedrejamento por crianças pobres de um Papai Noel em Itatiba, uma cidade do interior de S. Paulo. Tudo porque acabaram as guloseimas que o bom velhinho, voluntário,  estava distribuindo.

País de rabo preso.

A conversa que tive com o motorista de táxi no caminho de casa para o Aeroporto ontem só fez reforçar uma idéia que cultivo a respeito da situação de bandalha, ou escracho- palavras cariocas - que vivemos no país. 
O que vemos nos andares superiores das diversas esferas de poder é um reflexo do que se vive cá embaixo na planície por nosotros. Coloquei a tese para o motora. Ele concordou e enriqueceu com dois exemplos, entre muitos, retirados da sua condição de motorista de táxi. Mesmo com um aparelho acoplado ao taxímetro que emite Notas Fiscais com o valor da corrida, disse-me que usou-o apenas duas vezes... e com dois gringos! Todas as outras vezes em que lhe foi pedida a Nota Fiscal, pediam-na para que fosse feita manualmente, sempre com valores superfaturados. 
Agora outra... Seus colegas o chamam de muquirana porque não solta um por fora prá fiscal da Receita Federal para que apresse o trâmite do seu processo de liberação da documentação necessária quando da aquisição de um novo veículo. Isso implica numa espera de três a quatro meses. 
São práticas do dia-a-dia e que se repetem em qualquer atividade. Como dizia o falecido Roberto Campos... com elas não temos a menor chance de dar certo. E por falar nele, lí por aí, de que quando embaixador em Londres, contratou a amante para trabalhar na Embaixada. 
Não tem jeito mesmo!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Pausa para o café.

Em meio a tamanha sujeira que roda desembestada pelo país, ouvir esse concerto para oboé do Albinoni (Concerto #2 em Dó Menor Opus 9) é  a luz que o fundo do túnel teima em não mostrar. O lirismo e a delicadeza do Adagio do seu segundo movimento é dos deuses. Sou um devoto de barroco em música clássica. Essa quase exclusividade das cordas, com uma participação complementar das madeiras dá às músicas daquela época, uma leveza e uma alegria que provavelmente refletem  o ambiente em que foram compostas. Parece-me que muito mais harmoniosa do que a dos dias atuais. Qual seria a trilha sonora do nosso tempo? Imagino uma música de muitas dissonâncias com a presença agressiva dos metais e da percussão. Não é por acaso que atonalismo e serialismo são criações modernas. São estilos difíceis de assimilar.   Até hoje meus ouvidos dizem não a músicas associadas a esses movimentos.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Ela bate à porta mais uma vez!

Primeiro foi de carro na estrada... e lá se vão mais de 20 anos.
Depois foi a bordo de um avião, no começo dessa década.
Nas duas ocasiões não se anunciou. Foi entrando sem cerimônia.
Agora se anuncia nas palavras técnicas de um laudo de laboratório: 

Adenocarcinoma prostático acinar usual Gleason 6(3+3), grupo prognóstico 1, comprometendo 04 dos 15 fragmentos examinados (variando entre 40% e 100% da superfície de cada fragmento). Presença de permeação perineural.

Falo da morte, essa senhora implacável  que a todos abate. Converso bem com ela que já me assustou um bocado no passado. Prova de que o passar do tempo tem lá suas vantagens.
Serei capaz de dobrá-la outra vez?

domingo, 3 de dezembro de 2017

Trópicos Utópicos

É um livro fácil de ler com o texto dividido em pequenas seções e - contraditoriamente - ótimo para pensar. Eduardo Giannetti é um sobrevivente  - um dos poucos intelectuais públicos, antenados com o mundo e forjados na leitura de muitos livros - nesses tempos fluidos e superficiais de redes sociais do século XXI.
A última das quatro partes em que o livro divide-se é dedicada ao Brasil para o qual sonha uma utopia. Ameríndios e africanos seriam a solução para esse impasse anacronismo-promessa que construímos.
Das poucas certezas que tenho, uma delas é a de nossa redenção só virá com uma solução interna. Nenhuma solução que venha de fora prosperará aqui dada a nossa atávica predisposição a avacalhar modelos e instituições. Nada de bom que venha de fora pega por aqui. É incrível, mas somos useiros e vezeiros para incorporar o que há de mais deletério em outras culturas.
Nossa história, nossos hábitos nos condenam a construir um modelo crioulo, puro sangue. Quem sabe assim respeitaríamos as instituições nele forjadas.
Tenho minhas sérias dúvidas se isso se daria juntando o lado dionisíaco das culturas africanas e ameríndias com o apolíneo das culturas europeias como ele propõe. Primeiro porque - individualmente como cultura -africanos e ameríndios, não se resolveram até hoje. Depois porque mesclar o suor bíblico ao dionisíaco é tarefa difícil já que somos pouco propensos ao primeiro - como ele mesmo escreve -  ...e viciados no segundo! - acrescentaria.
Trópicos Utópicos é publicado pela Companhia de Letras.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Luz!

"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida.”
Vinicius de Moraes - São demais os perigos dessa vida

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Terra sem lei.

Fato é que o Rio sempre foi “terra sem lei”. Governadores, desde a família Sá, sempre mandaram no estado acima das leis. Não só aqui: a Constituição do Império dizia, no primeiro artigo, que o imperador estava acima da lei. E a impunidade sempre dominou, nos tempos de colônia, Império, na República. O primeiro deputado cassado no Brasil, Barreto Pinto, foi em 1947, e por ter posado de cuecas .
Milton Teixeira (historiador)

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 O Rio não conseguiu desenvolver partidos com relação orgânica com a sociedade. Em São Paulo, fortaleceram-se partidos com mais lastro com a sociedade civil, como o PT, junto à classe operária, o PSDB, à classe média. Aqui, tivemos o que se diria um populismo de esquerda, nos tempos de Brizola, um arranjo pragmático-clientelista (Garotinho) até chegar à máquina política super blindada de Cabral e Picciani. Seja pela névoa produzida pelos grandes eventos, ou pelo efeito anestésico das UPPs, fechou-se o ciclo perfeito: bênção, e investimentos, do governo federal do PT, uma Alerj transformada em extensão do Executivo, TCE e agências reguladoras sem desempenhar seu papel, Ministério Público impotente, mesmo a imprensa... Cabral e companhia são frutos deste cenário
Marcelo Burgos (cientista social)

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 A corrupção não surpreende, mas o grau a que se chegou é espantoso. O Rio tem histórico de insubordinação. Desde a colônia. Houve deposição de governador, a Revolta da Cachaça (contra o aumento de impostos da aguardente, em 1660). Mais recentemente, era onde políticos aliados à ditadura tinham menos votos. Desde a mudança da capital para Brasília, houve declínio, houve a falência da capital, explosão de violência. Parecíamos viver um reerguimento. A impressão, hoje, é que a população está indignada, mas não se mobiliza. Não vejo questionamento do poder na medida em que se mereceria.
Alberto Mussa (escritor)

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 Não acho que exista alguma coisa na água do Rio Guandu que nos faça mais ladrões do que os outros. É preciso enxergar o problema sem imediatismo, para entender que não é só “quem roubou quanto”. Há um ciclo negativo de moralidade, de eficiência, ligado também à complexidade de se administrar o Rio. Aqui há mais servidores federais que Brasília. É uma espécie de distrito federal disfarçado — argumenta, antes de completar. — A mudança de capital, ligada à fusão, que uniu uma ex-capital federal a um estado (interior) de realidade totalmente diferente que tornou o Rio um estado anômalo, liderado por uma elite política que não se dá conta de que o Rio virou periferia.
Christian Edward Lynch ( cientista político)

Declarações extraídas da matéria de Miguel Caballero : As causas da crise para além do furacão Lava-Jato  - O Globo, 26.11.2017

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A "terra sem lei", diagnosticada por Raquel Dodge, a procuradora-geral da República, não foi implantada hoje. Aqui funcionou o curral eleitoral de Chagas Freitas, governador da Guanabara (1971-1975) e do Estado (1979-1983). Se essa época fosse passada a limpo, que tipo de falcatruas a gente ia descobrir? E se voltássemos aos dois mandatos de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994)? Carlos Lacerda, primeiro governador da Guanabara, passaria impune?

Por pura implicância, eu gostaria de uma devassa que retornasse ao tempo do Onça, ou seja, Luís Vahia Monteiro, capitão-geral entre 1725 e 1732. Truculento, ele vivia a reclamar da vida e chegou a escrever uma carta ao rei de Portugal dizendo que "nesta terra todos roubam, menos eu". Se duvidar, nem Estácio de Sá, o fundador da cidade de São Sebastião, escaparia.
Álvaro Costa e Silva (jornalista) Folha, 28.11.2017


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dia da Reforma

Foi a 31 de outubro, feriado em Lajeado-RS, cidade de  população fifty/fifty de origem alemã/italiana. Minha mãe mora lá e eu a visitava nesse dia. Tudo parado. É o feriadão deles, tipo o Thanksgiving americano; emendam com Finados em 2 de Novembro e quem pode, viaja. Em 2017 foram comemorados os 500 anos de Reforma e a cidade é uma filha digna de Martinho Lutero. É próspera e figura entre as 10 cidades gaúchas com melhor IDH do Estado na maioria das listas elaboradas com essa finalidade.
Talvez a forte presença da imigração alemã a tenha feito assim, mas a imigração italiana deve ter ajudado, embora italianos sejam  latinos, com algumas idiossincrasias que forjaram nossa  matriz ibérica. Uma delas é a herança da Contra-Reforma  que segundo Francisco Daudt,  seleciona autoritários, centralistas, sebastianistas, burocratas, conchavistas, bajuladores e corporativistas, inibe empreendedores e incentiva parasitas que esperam tudo de El-Rei. Que tal?  (Seleção Adversa Vai de Brasília até Parceiros Podres que Escolhemos, Folha, 22.11.2017)

Eduardo Gianetti em Trópicos Utópicos também não deixa barato:

A Ibero-América e a Anglo-América são herdeiras de duas variantes distintas da civilização européia: duas culturas polares e até certo ponto antagônicas  que disputaram a supremacia geopolítica e espiritual do mundo a partir dos albores da Renascença e da era dos descobrimentos nos séculos XVI e XVII. Falando em termos gerais, pode-se dizer que as Américas do Sul e do Norte refletem e projetam a seu modo, como num grande espelho transatlântico, as diferenças religiosas, culturais e institucionais entre a face ibérica e a face anglo-saxã do Velho Mundo. O contraste não se reduz à dimensão geopolítica e econômica da aventura colonial, mas abrange um nítido e essencial antagonismo no que tange aos valores e às crenças dominantes - às formas de vida e sensibilidade -  das metrópoles rivais. De um lado, a Contra-Reforma católica, com forte acento jesuítico, missionário e inquisitorial; o apego à escolástica medieval acoplado à resistência aos ventos, métodos e ideais iluministas; a Coroa absolutista centralizadora e burocrática; e o mercantilismo parasita de uma elite rentier. E, de outro, a Reforma protestante, com forte acento puritano e calvinista (entre as coisas desta vida, o trabalho é o que mais assemelha o homem a Deus); a vigorosa adesão ao projeto iluminista da ciência e tecnologia a serviço do resgate da condição humana por meio do domínio da natureza e da ação racional; a monarquia constitucional; o primado do mercado competitivo e da livre empresa como instrumentos de eficiência econômica e da acumulação de capital. O tempo, como sabemos, foi cruel com as pretensões do mundo ibérico....

Que  herança! Definitivamente não começamos bem.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Cesar Benjamin, tô contigo e não abro!


Respeito muito tua trajetória e tuas idéias.

P.S. - A linda e cheirosa atriz global a que se refere o post  é Thais Araújo.




De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo!

Falastrão, espaçoso, debochado, soberbo... características que fazem dele o mais carioca dos gaúchos: Renato - porque não! - Gaúcho. Abaixo algumas declarações dadas numa entrevista coletiva para justificar o uso de um drone para espionar o adversário argentino da final da Libertadores que começa hoje em Porto Alegre. Até há frases sensatas. No geral, entretanto... dizem bem do que é feito o rapaz. Vejam a estampa e concluam!

PS - ... e tem gente da imprensa que a depender do que acontecer nessa final passará a considerá-lo  o Guardiola brasileiro.  Impressive!
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Algumas pessoas de vocês estão acabando com o futebol. Falem do jogo, falem dos times. Eu pergunto: como se ganha uma guerra. Como se neutraliza o adversário? Com suas formas. Com drone, helicóptero, avião. A cavalo, bicicleta. O mundo é dos espertos. Vamos fazer o seguinte, cada um de vocês escolhe treinadores e podem perguntar como eles descobrem as jogadas do adversário. Parece que é só o Grêmio que usa esses artifícios. Futebol é igual guerra. Algumas pessoas estão começando e precisam parar com essa palhaçada de dar notícia achando que o planeta não sabe. Falem de futebol, falem do que é mais importante. Ficam perdendo tempo falando disso. E não pensem essas pessoas da ESPN que nós somos burros. Não pensem que não estamos espertos. No mundo todo tem um X9. Não somos burros. O bom cabrito não berra. Agora vamos à próxima pergunta e esse assunto está encerrado. Isso é uma palhaçada. Palhaçada. Era isso que eu tinha que falar sobre esse tal de drone. Respeito a ESPN, respeito a menina que fez a entrevista, mas alguém vai pagar por isso", completou o técnico em tom ameaçador. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Glória Maria, tô contigo e não abro!

...sou negra e me orgulho. Mas não sigo cartilhas . Minhas dores raciais conheci e combati sozinha! Sem rede social para exibir minhas frustrações.

Glória Maria - aquela da Globo! - no Instagram defendendo-se da fúria das minorias esclarecidas por ter postado a mensagem do Morgan Freeman que publiquei anteriormente.

Morgan, tô contigo e não abro!


Rio ladeira abaixo.

Vou reproduzir trechos de entrevistas de duas pessoas que meteram a mão na massa e por isso conhecem a fundo a degradação moral em que se encontra o estado pelo menos nas esferas do Judiciário, Legislativo e Executivo tendo os grandes empresários do setor privado e estatais como pano de fundo. Enfim, quase todo o establishment  metido na lama até o pescoço.

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  • A corrupção é maior do que a capacidade de investigar?
É algo desesperador, porque a gente não consegue dar conta do volume de trabalho. Pessoalmente, isso tem sido bastante sacrificante, porque a quantidade de informação é superior ao que a gente consegue processar, e a quantidade de corrupção que a gente tem revelado é muito maior do que a gente imaginava. Os próprios colaboradores falam; "Olha, tenho pena de vocês, porque o trabalho de vocês é infinito".
Eduardo del Hage, Procurador-Chefe da Lava-Jato no Rio de Janeiro.
O Globo, 12.11.2017.

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  • Ficou surpreso com o tamanho do esquema de corrupção no Rio?

Posso falar sobre o processo da Operação Calicute, que já foi julgado. O que me assustou, naquele caso, foi a extensão e a capilaridade. Parece que tem mais gente envolvida do que não envolvida. É uma metástase. A cada hora surgia um personagem novo.
Marcelo Bretas, Juiz  que comanda a Lava-Jato no Rio de Janeiro.
O Globo, 17.11.2017.

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Duro é fica ouvindo advogados, ministros do Supremo, setores da imprensa afirmarem  que a Justiça da Lava-Jato afronta o Direito Penal dos Códigos, está instalando um Estado policial. Se há excessos que sejam corrigidos mas o bem que essa operação faz ao país, expondo suas vísceras é um dos marcos da Nova República que vive seus estertores. Fica difícil não acreditar que essa defesa do Estado de Direito não passe de uma saída elegante para proteger os privilégios que essa malta construiu à luz do Direito para se perenizar no poder nos 500 anos de nossa existência. Legislou em causa própria, construiu um aparato legal  e sobre ele se apoia. Não deixam  de ter razão no  argumento, mas cabe lembrar que em 1850 defender a escravidão era estar ao lado do Estado de Direito. Era puro  non-sense , mas era legal. Atitude semelhante àqueles que  defendem  Lula, Aécio e tutti quanti - pobres vítimas do Estado de Direito! - das arbitrariedades da Lava-Jato. Enquanto os advogados atém-se a firulas da lei e do processo e elaboram narrativas fantásticas para justificar os feitos dos seus clientes em nome do Estado de Direito, eu prefiro a ética e os fatos, eternamente insuficientes para a turma do direito. Malas de dinheiro, contas em paraísos físcais,  versões concordantes   de diversos delatores não são prova suficiente - argumentam.   
Cadeia prá essa canalha.

A paquera já era...

A cena foi testemunhada pelo escritor Flávio Moreira da Costa. Depois de passar batom, uma senhora se preparava para tirar uma selfie, em plena rua do Catete.
- Tá bonita - diz um passante.
- Isso é assédio? - reage ela.
- Não, é mentira - diz ele e segue em frente.

Ancelmo Gois - O Globo, 19.11.2017

LBGTI

... e ontem saiu a parada gay aqui em Copa. O prefeito, evangélico, não liberou dinheiro público pro evento e foi xingado a torto e direito.
Constato que ao LBGT foi acrescentado um I. Investiguei e descobri que representa os intersexuais no grupo. Alguém aí poderia me explicar qual a diferença entre bissexual, transexual e intersexual?
O panorama visto da ponte me faz acreditar que pelo apetite que esse pessoal tem pela diversidade, novas letras virão  se juntar à sigla. Temo que as opções oferecidas pelo  nosso alfabeto não bastem. 

domingo, 19 de novembro de 2017

- "Coisa de preto"! - William Waack.

Ele é um dos raros jornalistas brasileiros que cava além da superfície ou das banalidades repetidas ad nauseam pela nossa imprensa. Considero-o pedante, mas vejo regularmente seu programa de final de semana na GloboNews. E tem opiniões que batem de frente com as nossas esquerdas tanto as mais ideologizadas quanto as festivas.
Colocaram nas redes um comentário em off  feito por ele, um ano atrás ao assistir no estúdio a transmissão da posse de Trump. Estranho, muito estranho que tudo tenha sido divulgado apenas agora. Tudo é suspeito e certamente os motivos que levaram a essa divulgação nada tem a ver com indignação pela frase infeliz. Provavelmente é vendetta, possivelmente ideológica/política. A estampa das figuras que fizeram a divulgação do vídeo, revela muito.
A reação dele é a de muitos - eu diria quase todos - que usam desses bordões populares no dia-a-dia. A frase é racista, mas isso não significa que ele seja racista. Pelo que conheço dele e depoimentos de amigos, de fato não o é. A Globo com medo das patrulhas mudernas suspendeu suas atividades na emissora. Enfim... vivemos em um mundo em que seremos cobrados por esses patrulheiros - crème de la crème da modernidade -  até pelo que fizermos e dissermos na nossa intimidade. George Orwell atribuiu esse poder ao Estado mas a se julgar pelos fatos esse pessoal é quem vai assumir a prerrogativa.
Aliás, o fato é semelhante ao que aconteceu com o Donald Trump naquela declaração infeliz e considerada machista, obtida através de gravação clandestina. O comentário que é chulo, sem dúvida,  é comum em qualquer vestiário masculino daqui, de lá, do mundo. Qualquer macho que frequenta esses ambientes, sabe disso muito bem.  Mas as patrulhas entram em ação,  armam o maior auê... Fossem declarações públicas, entretanto nenhuma o foi além de terem sido obtidas de maneira no mínimo suspeita. Estamos regredindo ao stalinismo com esses patrulheiros culturais e de costumes desempenhando o papel da polícia secreta soviética. Vão se catar. 

Império Reverso

O filósofo grego Diógenes fez de autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior do qual pernoitava eras suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: Sou o homem mais poderoso, peça-me o que desejar e lhe atenderei. Diógenes agradeceu a gentileza e não titubeou: O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco?  Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol. O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrática de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter desperdiçado a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes. Os extremos se tocam. Querei só o que podeis, pondera o padre Antônio Vieira, e sereis omnipotentes.

Eduardo Gianetti - Trópicos Utópicos - Cia de Letras

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Alexandre foi meu ídolo nos meus verdes anos. Diógenes é meu ídolo nos anos maduros. Estou mimetizando-o; mais e mais tornando-me uma estranha figura.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Aqui é assim, Pirelli!

Pois é... e depois foi a vez da Pirelli. Que emputeceu (sic) e cancelou o teste de pneus que faria na semana seguinte ao GP. Se mandou!(sic)


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Aqui é assim, Lewis !


Hamilton postou a mensagem abaixo no Twitter, depois do assalto à van que conduzia integrantes da  equipe  MacLaren  do autódromo para o hotel em São Paulo.  É duro ter que ler isso:  this happens every single year here, escrito por um campeão mundial. Certamente nas internas as palavras devem ter sido muito mais duras. 
Lewis se isso acontece toda vez que vocês aparecem por aqui - olha, que é apenas uma semana em um ano - não queira saber o que enfrentamos em termos de violência, particularmente os menos favorecidos, nas cinquenta e uma outras semanas. 


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O desapego dos mudernos

Desapego é uma  palavra da moda. Está na boca - na maior parte das vezes - de quem passa longe dele. Basta analisar o jeito de ser e de viver  dessa turma que normalmente se considera o que há de mais avançado nos circuitos sociais e culturais do nosso tempo e que usa a palavra com a maior naturalidade.  Lí por aí que a Preta Gil - por exemplo - estava convidando as pessoas a desapegarem pois ela decidira se desfazer do seu guarda-roupa.  É prá rir ou chorar?
Definitamente desprendimento não é atitude que se adquire da noite pro dia, ou trivial como vestir ou tirar  uma camisa. Chegar a ele requer uma ascese - mudernos detestam! - e uma história de práticas e de vida, normalmente associadas às grandes religiões da humanidade. Você conhece algum muderno, religioso? No máximo, adotam alguma prática budista ou se dizem espíritas.
Vou pegar uma carona na  coluna do Pondé (Folha, 30.10.2017),  que por ter  estudado  o pessoal que  praticava desprendimento a vera  na Antiguidade e Idade Média  parece  entender do riscado.  

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Não acredito na possibilidade de desapego no mundo contemporâneo, em que desapego é em si um produto. Por exemplo: que tal desapegar um pouco no Butão? Ou em Noronha? Belo espaço natural. Nunca um mosquito custou tão caro.
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Qualquer pessoa minimamente treinada no repertório das grandes religiões e suas distintas formas de espiritualidade (das quais vêm ideias como gratidão e desapego) sabe que, se você pratica uma dessas virtudes "para dormir bem à noite", você não as está praticando de verdade. Ninguém é grato para conseguir algo ou desapega viajando de "business class".

A ideia de desapego é bem séria, seja na espiritualidade, seja na filosofia, a começar pela grega. No grego, "aphalé panta" significa essa ideia de "desapegar-se de tudo que é ou tudo que existe" no chamado neoplatonismo.
Palavras como "apathéia" ou "ataraxia" estão muito próximas dessa noção de desapego no estoicismo e no ceticismo. No budismo, no cristianismo, no hinduísmo, a mesma temática. Na mística medieval cristã ou islâmica, ideias como "desprendimento" ou "aniquilamento" também retomam a mesma temática do "prazer" que seria se desapegar das coisas do mundo. Na literatura de peso, Liev Tolstói (1828-1910) é um representante importante dessa busca. Em seu último romance, "Ressurreição", o personagem principal, Nerhliudov, passa todo o romance em busca do desapego, sonho do próprio Tolstói.

Quando se fala de desapego das coisas do mundo, a primeira ideia que vem à mente é o desapegar-se das coisas materiais. E, aí, em se tratando de nosso mundo contemporâneo, já fica difícil, uma vez que quase tudo que importa passa pela aquisição de um bem material, mesmo que este seja uma passagem para a Mongólia. Ou uma pousada na praia. Tudo pago em diárias, o que significa que você tem que pagar para desapegar. Porque, lembremos, quem mora embaixo do Minhocão não é um desapegado.

A busca do desapego deita raízes no fato de que o mundo cansa. Numa sociedade em que o cansaço é um grande "passivo psicológico" como a nossa, desejar o desapego é absolutamente normal. O problema é que, como em toda demanda de verdade, o mercado captura a própria demanda "natural" e devolve como commodity. Precifica a busca e vende para você de volta.

A literatura de autoajuda é a forma mais banal desse processo, prometendo a você que, na compra do livro X ou na participação no workshop Y, você conseguirá o tal do desapego. Evidente que mentem. O desapego é um processo doloroso que implica, na maioria dos casos, perdas profundas. Não é coisa que sirva ao papinho da "vida é feita de escolhas". Está mais para experiência avassaladora do fracasso do que para o tédio do sucesso. Desapegar-se é próximo da "calma trágica", descrita em personagens como Etéocles (filho de Édipo), da trilogia tebana de Ésquilo, ou Antígona (filha de Édipo), da tragédia que carrega seu nome no título, de Sófocles. Ésquilo viveu entre os séculos 5 e 6 a.C. e Sófocles no século 5 a.C..

O desapego fala do cansaço do desejo. E nosso mundo gira ao redor do desejo. Fala do perder-se, não da obsessão por uma alimentação balanceada. O "objeto" mais importante no desapego (aquilo de que você deve desapegar-se se quiser pensar a sério em fazê-lo) é o próprio Eu. E, aí, a coisa pega. "Ser você mesmo" cansa mais do que escalar o Everest. O Eu é um eterno adolescente chato em busca de autoestima. Aliás, a economia da autoestima é sinal de apego.

O filósofo Emil Cioran (1911-1995) escreveu em seu diário "tornar-se modesto por cansaço, por falta de curiosidade". Isso é desapego. Algo a que você chega não pela vontade soberana, mas pela exaustão fisiológica. Aliás, parafraseando o próprio Cioran sobre a preguiça, eu diria que desapego "é o ceticismo da matéria". 


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

In memoriam...

Mais um da minha geração que se vai. É contemporâneo. Nasceu em outubro de 1950, morreu em outubro. Liderou o Tom Petty and Heartbreakers  e fez parte do supergrupo Traveling Wylburis, um dos meus posts de outubro com  Roy Orbison soltando sua voz ímpar. Daqueles craques, apenas o Bob Dylan resiste bravamente. Caramba! estamos todos morrendo...


...e quando você pensa que já viu tudo. (II)

Pois não é que a turma do Judiciário - STF pelo menos ... - resolveu transferir o feriado do dia do Funcionário Público - dia 28 de outubro (sábado em 2017) - para o dia 3 de novembro, um dia útil -  útil para ser enforcado -  pois é uma sexta-feira sanduichada entre o feriado de Finados e o final do semana? 
Dizer o quê... Só aqui mesmo e quem sabe em algum desses países da periferia da civilização.
E sabem quem assinou a portaria, decreto, sei lá...? A ministra Carmen Lúcia. Confesso que esperava muito mais dessa mulher.
Francamente...

terça-feira, 24 de outubro de 2017

...e quando você pensa que já viu tudo.(I)

...eis que você é contemplado com um uma cena em que o acusado peita  o juiz.
(aconteceu ontem na audiência de Sérgio Cabral com o juiz Marcelo Bretas)
... lê que juiz do STF bateu boca nas redes sociais com blogueiros.
(aconteceu com o juiz recém-empossado Alexandre de Moraes).

domingo, 22 de outubro de 2017

Uma gota de sensatez no conturbado mar de insanidade do nosso tempo...

...foram as palavras de um psicólogo clínico, Dr. Bayard Galvão, entrevistado pela CBN, às 5:45h da manhã de hoje. A entrevistadora, tadinha..., confrontada com o questionamento de tantas frases feitas e comportamentos consagrados, dados como certezas consumadas pelos nossos mudernos, ficou atordoada. No final,  agradeceu a aula de vida que recebeu. Uma pena que a sensatez nesse mundo que trocou o essencial pelo acessório, tenha sua hora de gala nas madrugadas de domingo.
O papo era uma crítica à sociedade de alta performance em que estamos inseridos. Guardei alguns comentários  feitos a rules of thumb do caldo de cultura em que estamos imersos; duas em especial:

- Realize seus sonhos!

É papo de vendedor. Na real, você deve questionar os seus sonhos. Fazê-los caber dentro do seus talento.
Com muita sabedoria discorre sobre nossa precariedade como seres humanos.

- Não se arrependa do que você fez, arrependa-se do que não fez!

No limite é coisa de psicopata. Pode criar uma pessoa egoísta, perversa, que não conhece limites para conseguir o que pretende.

*******
Fiquei feliz de ouvir o que já ouvira muito e,  melhor, - internalizei - no seminário e através do que li  de autores hoje considerados  caretas. Considerem-me um homem datado, não me importo, cresce em mim a convicção de que combati o bom combate e que - desafortunadamente -  perdi. 

A entrevista está em CBN-Entrevista e vale a pena ouvi-la: Por que devemos fugir da sociedade "High Performance".

Eles podem não entender...

...mas no país em que boi voa e apud Tim Maia, que entendia muito o Brasil profundo  - prostituta goza, cafetão se apaixona,  traficante cheira... -   políticos acusados de corrupção, ao invés de se afastarem até que tudo seja apurado - nem mesmo vou considerar a hipótese do harakiri -  buscam se manter no cargo ad aeternum. Fogem prá frente! Dizem que afastar-se seria reconhecer a culpa. Nosso imaginário é mesmo sui generis.
E mais... por que eles iriam se desfazer do foro privilegiado, o passaporte da impunidade, que gentilmente lhes oferecemos quando os elegemos e correr o risco de pegarem cana dura. Claro, iria depender de um milhar de condicionantes que só nós, latino-americanos, africanos e outros despossuídos das virtudes da democracia desse mundo, conhecemos muito bem.





segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Prá dançar, prá rir, pra chorar...


Prá ter Bob Dylan, George Harrison e Tom Petty no backing vocals, tem que sobrar na turma...Só ele mesmo! Canta com a alma.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

...e lá se vão 100 anos de Revolução Russa.

Todas as revoluções tem liberté, egalité, fraternité e outros slogans nobres inscritos em suas bandeiras. Todos os revolucionários são entusiastas, ou até fanáticos; todos são utopistas, com sonhos de criar um novo mundo do qual a injustiça, a corrupção e a apatia do velho mundo sejam banidas para sempre. São intolerantes com a divergência;incapazes de concessões; fascinados por metas grandiosas e distantes; violentos, desconfiados e destrutivos. Os revolucionários são irrealistas e inexperientes em governar; suas instituições e procedimentos são improvisados. Eles tem a inebriante ilusão de personificar a vontade do povo, o que significa supor que o povo seja monolítico. São maniqueístas, dividindo o mundo em dois campos: luz e trevas, a revolução e seus inimigos. Desprezam todas as tradições e a sabedoria herdada, os ícones e as superstições. Acreditam que a sociedade pode ser uma tabula rasa na qual a revolução será escrita.

Está na natureza das revoluções terminar em desilusão e desapontamento. O fanatismo murcha; o entusiasmo se torna forçado. O momento de loucura e euforia passa. A relação entre o povo e os revolucionários se torna complicada: fica evidente que a vontade do povo não é necessariamente monolítica e transparente. As tentações da riqueza e posição retornam, junto com o reconhecimento de  que cada indivíduo não ama seu vizinho como a si mesmo, nem quer amar. Todas as revoluções destroem coisas cuja perda não demora a ser lamentada. O que elas criam é menos do que os revolucionários esperavam, e diferente.

   Sheila Fitzpatrick escreveu isso no Prefácio do seu livro A Revolução Russa, Ed. Todavia, que teve sua 4a edição recentemente publicada.

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Incrível como mudamos nossa cabeça. Ainda bem! Sempre cultivei a idéia de que era um revolucionário dos anos 60. Até 20 anos atrás,  discordaria desse texto, ainda encantado com as idéias revolucionárias de 68.  Hoje concordo geral com a historiadora australiana. Pedindo licença aos mudernos, diria que Sheila  lacrou ! 

sábado, 7 de outubro de 2017

Nobel da Corrupção

Nessa época em que são divulgados os vencedores do Premio Nobel, são comuns as lamúrias brasileiras diante da constatação de que ainda não ganhamos nenhum. Sugiram aos suecos que  instituam o Premio Nobel da Corrupção. No ano seguinte uma das causas de infelicidade do país cessaria e teríamos motivo prá festejar. Material humano qualificado nessa excelência do caráter temos prá dar e vender.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Minhas raízes não permitem indiferença...


...com esses dois (Andrea Bocelli e Sarah Brightman) cantando, então!
Emoção, entretanto, não  garante integridade pessoal.  Al Capone chorava ouvindo  Mamma de Beniamino Gigli. Nada que o impedisse de - usando a canção como trilha sonora - arrebentar  a cabeça com um taco de basebol daqueles que o traiam na famiglia. Cara sensível o Al Capone!  (a cena está em Os Intocáveis de Brian de Palma)








Il Poverello

São Francisco

Meu caro Xico,  xará e xodó, hoje é teu dia.
 Faltou pouco, mas pouco mesmo para incorporar essa estampa: batina, barba, tonsura e os votos de pobreza, obediência e castidade.
O convento foi o tempo de convívio com as melhores pessoas. Havia a rebarba também, mas em nenhuma outra época da vida, convivi com tantos bons exemplos. Assim forjei meu caráter.
Saudades.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Enfim, uma pátria para a corrupção...

Todos os países tem os seus corruptos, mas no Brasil, os corruptos tem o seu país.
(Aldir Blanc, O Globo, 24.09.2017)

Confirma uma constatação de qualquer pessoa antenada com o mundo, de que há corruptos em qualquer lugar, mas se por  esse mundo de Deus - ou seria sem? -  a proporção é, sei lá, de um, cinco, dez... em cem, aqui, certamente, é de pelo menos 10%. Há corruptos em demasia por essas terras. Somos top nesse quesito de (falta de) caráter, que sequer é um dos sete vícios capitais. Aliás,  devemos pontuar bem seguramente em todos eles. 
...e colocando mais lenha na fogueira...
Boa parte dos que ainda não se corromperam, não o fizeram porque  lhes faltou uma oportunidade, não por opção moral. 

domingo, 24 de setembro de 2017

O Rio é um desastre autoinfligido.

É o que diz Gustavo Franco na  sua coluna de hoje - Mau Exemplo - de O Globo. Complemento com a bíblica: Quem semeia ventos, colhe tempestades. (Prov. 22,8). Está mais do que na hora, precisamos deixar cair a ficha.
Chegamos onde chegamos não por culpa dos outros, bordão muito repetido por aqui, mas pelos vícios imensos que permeiam a cultura dessa cidade: permissiva, complacente com a infração, avessa à ordem - carioca não gosta de sinal vermelho, diz a canção da conterrânea Adriana Calcagnotto. Ou assumimos que para viver em sociedade teremos que pactuar restrições para que nosso dia-a-dia tenha um mínimo de organização ou será o faroeste/guerra civil que o Rio vive hoje.
Outra idéia, que rende muito aqui, porque nos vende como caras do bem, generosos, acolhedores, mas que não é factível na prática é a de que tem prá todos,  de que sempre tem lugar prá mais um! O ciclo é sempre promissor inicialmente - fase Robin Hood - mas se encerra com choro e muita dor - a fase atual do Rio. A oferta nunca supre a demanda, acho que foi Marx quem escreveu a respeito. Temos que deixar de ser preguiçosos mentais, assumir a  premissa - dolorosa - da escassez de recursos, por a massa cinzenta prá funcionar e  pactuar  prioridades de maneira a se respeitar aquela máxima atribuída a Marx - sempre ele! : De cada qual segundo a sua capacidade, a cada qual segundo suas necessidades. 

sábado, 23 de setembro de 2017

Fim dos tempos.

Tempos de decomposição,
de ares pútridos,
de cadáveres insepultos,
de cisnes negros e aves de rapina.
Tempos dissimulados,
de mentiras desabridas,
de safadeza,
de virtudes fingidas,
e almas perdidas.
Tempos de danação,
de canalhas ousados,
predadores vorazes
e torpezas sem fim.
Tempos hedonistas,
de avidez consumista,
em que contam as aparências
e reina a desfaçatez.
Tempos vulgares,
tingidos de indecência.
Oh tempora!

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Patitos


 Eles são o máximo!

(os mudernos diriam : fofos!)


Encontrei entre  emails  do passado,   com direito a frase de auto-ajuda atribuída a Horácio (um dos grandes poetas  romanos que viveu na época de Augusto no auge do Império. (65 a.C./8 a.C.)):

"A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas."

terça-feira, 19 de setembro de 2017

A queda da Basti.... ops... de Brasília.

Incrível a nossa apatia, frente a tudo o que acontece no país. As organizações criminosas - ORCRIM agora é palavra da moda! - operam a céu aberto, desabridamente,  nos gabinetes dos governos e fora deles, e o populacho assiste a tudo indiferente, anestesiado. São quadrilhas de largo espectro - da esquerda à direita: PT nacional chefiada pelo Lula (ex-presidente da República), PMDB da Câmara chefiada por Michel Temer (atual Presidente da República), PMDB do Senado, PMDB carioca chefiada pelo notório Sérgio Cabral,  PSDB paulista, PSDB mineiro, PT mineiro só para citar as notáveis. Presidentes da República e candidatos a... fazem parte de todas...e na chefia!
Qual a centelha que nos falta para fazer com que os prédios dos Três Poderes em Brasília - quadrilheiros incluidos! -  tivessem o mesmo destino que a ira do povão parisiense destinou para a Bastilha naquele 14 de julho de 1792. Bastilha...Brasília ...tudo muito parecido!

*****

Lembro que um dos 12 trabalhos de Hércules foi limpar as estrebarias do Rei Áugias. Será que ele conseguiria limpar as estrebarias dos órgãos do governo e seus parasitas (empresários, funcionários de alto escalão, para citar alguns....) Tamanha sujeira imagino, seria trabalho demais para um herói demodé como Hércules;  tarefa mais talhada para os heróis modernos da Marvel.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Banksi nelas...

...as minorias ativas e barulhentas, fundamentalistas,  que nos torram o saco!
(feministas, afrodescendentes, veganos, LBGT's, politicamente corretos de todas as tribos, trans de qualquer gênero...)

Banksi

domingo, 10 de setembro de 2017

A vida é dureza!

Concordo com quase tudo que  J.P. Coutinho escreveu para sua coluna semanal da Folha: Minha experiência....  especialmente quando ele se define  como um merda e um homem decente, infeliz e moderadamente feliz, um destroço e um caso de resiliência. Passo por esses sentimentos muitas vezes em um único dia. Vivo no fio da navalha, numa gangorra eterna. Céu de brigadeiro e  mar de almirante é pros outros, eu vivo eternamente no olho do furacão.

P.S. - Um pouco como ele mas a meu jeito, sou cético em relação a sessões de análise. Temos que nos resolver por nosotros.
Y que vengán los toros!

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Um país que escorre pelo ralo - ou seria a espiral para o abismo?

Os jornais da noite na TV tiveram que estender suas edições tantas eram as barbaridades do dia.
Cedinho, começou com a PF batendo na residência dos gatunos dos Jogos Olímpicos. Imagino a indignação dos grã-finos do Jardim Pernambuco - ali só tem gente fina! -  vendo os carros da PF adentrando pelo seu terreiro para recolher o  engomadinho do Nuzman.  
Ao meio-dia eram as malas e caixas de dinheiro -R$ 51 milhões!- descobertos em um apartamento destinado só prá eles em Salvador. Traquinagens do Geddel, aquele que o ACM (Toninho Malvadeza) dizia não valer nada -  e olha que o ACM entendia do assunto!
No fim da tarde eram as gravações dos irmãos Batista - os vilões da hora - mostrando as entranhas do país. Fantásticos todos esses audios; revelam do que somos feitos. 
À noite, a flechada do Janot contra o PT. Dois ex-presidentes, três ex-ministros incriminados. E eles naquela fé dos eleitos, continuam negando tudo.
Diante de tanta insanidade concluo com o parágrafo de Carlos Mello, cientista político do Insper no seu blog da UOL (06.09) : 

Parece ficção, mas não é. É a realidade concreta, difícil de compreender e impossível de ligar todas as pontas. A confusão só aumenta. O fato mais nítido, no entanto, é que o processo destrutivo da autoestima nacional é devastador: não há heróis que possam ser insuspeitos; sistema político e até órgãos de controle são abraçados por séculos de tradição patrimonialista e clientelista. É incrível que tudo venha a estourar nesta quadra de tempo em que vivemos; somos testemunhas de uma história de decomposição.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sai cachorro desse mato...

...chamado Brasil?
Com o André Fufuca  como Presidente da Câmara de Deputados, nenhuma chance. Prá piorar, ouvi em algum lugar, que ele chamava o príncipe dos ladrões, Eduardo Cunha, de papi. Ai, Jesus!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Panorama visto da ponte

Na feliz expressão de Josias de Souza no seu blog da UOL, saimos do caos (governo Dilma e a quadrilha petista do atraso) para o pântano (governo  Temer e a quadrilha peemedebista, há muito, tida  e havida como a vanguarda do atraso).
Caso o pântano não produza alguma flor - difícil! -  a ameaça nada desprezível é o retorno ao caos em 2018.
Haja fôlego!

O lugar de fala

Interessantíssimo  esse artigo do Sérgio Rodrigues para a Folha: Chico e os nazistas: o papo nas redes tem feito pouco sentido, onde ele desce o malho na pobreza do debate cultural atual. Lá pelas tantas ele se refere - com pouca simpatia, diga-se de passagem - à  expressão lugar de fala, conceito usado com frequência pelos militantes das políticas de gênero, nossos mudernos libertários, figurinhas carimbadas no circuito das artes, das ciências humanas, da psiquiatria e - bien sur - na redação dos jornais. 
Tomei contato com essa expressão num artigo marcado por uma linguagem de gueto,  de uma militante feminista afro-descendente - prá não ser processado! - e de uma entrevista da Fernandinha Montenegro em que entre outras coisas fazia uma autocrítica de um artigo - muito bom diga-se de passagem -  que lhe custou um desses linchamentos virtuais feito pela tropa de choque feminista. Ela rendeu-se para a turma do desvario - uma pena! -  e usou entre outras expressões - o lugar de fala -  para justificar sua capitulação. 
Corri atrás para descobrir a gênese do enunciado. Pelo que depreendi nasceu do pós-estruturalismo, que recusa a idéia filosófica clássica de verdades únicas e de objetividade. Pulei da cadeira, mas vamos dar um crédito e ver onde essa turma quer chegar.
De acordo com Rosane Borges, ativista de relações de gênero, lugar de fala é a posição de onde olho para o mundo para então intervir nele. Até aí tudo bem. Então começam a aparecer as incongruências: do ponto de vista da legitimidade do discurso e da fala quem sofre na própria pele pode falar de si, segundo Rosane, que continua : ... a idéia de sujeito universal está em pleno desgaste. Na verdade esse sujeito ruiu e o que surge na disputas das  lutas ideológicas são vários sujeitos. Portanto o lugar de fala é muito importante, porque é ele quem diz quais são  os posicionamentos desses  sujeitos. E ela continua : A confusão acerca do lugar de fala acontece porque o conceito tem sido correlacionado com representação (.......) São duas coisas diferentes. As discussões estão muito inflamadas porque, normalmente, confundimos o que é representação e o que é lugar de falar, ou seja, uma pessoa branca jamais pode representar uma pessoa negra, mas repito, do lugar de fala pelo qual ela vê o mundo, espera-se que ela assuma a questão ética relacionada a discriminação e ao racismo.
Há muitas cascas de banana nesse discurso para quem teve uma formação clássica. Renan Quinalha, advogado ativista dos direitos humanos mostra uma delas: A ideia de lugar de fala pressupõe uma coerência ou continuidade entre o lugar e a fala. É como se uma pessoa posicionada de determinado modo na realidade tenha que corresponder à determinada expectativa para veicular determinado discurso. Mais: como se tivesse, normativamente, um único discurso possível de ser enunciado daquele lugar determinado. No entanto, tem-se notado que a autenticidade de um sofrimento não tem por consequência a autoridade política de fala. Pablo Ortellado, filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da USP vê paradoxos nesse discurso. Um deles: (...) o lugar de fala indiretamente reforça na esquerda os argumentos “ad hominem”, interrompendo uma tradição progressista de racionalismo esclarecido. Os argumentos “ad hominem” são falácias condenadas desde a antiguidade clássica porque desqualificam quem fala para não precisar discutir o teor do que diz o adversário. Quando o movimento social condena discursos sobre a opressão que não são enunciados pelos próprios oprimidos, de certa maneira ele resgata e legitima uma modalidade de argumento ad hominem.
Minha formação com  background clássico leva-me a concluir que o conceito é um namoro perigoso com a relatividade dos discursos. A negação dos universais nos leva a um beco sem saída epistemológico. A história da filosofia está cheia desses exemplos: os sofistas na Idade Antiga, os nominalistas na Idade Média. Relacionar verdade com posição do observador fica mais adequado para a mecânica quântica do que para ciências ditas humanas e do comportamento. Na minha modesta opinião, a verdade só seria alcançável se pudéssemos ver a realidade de todos os ângulos, tarefa impossível, ao menos por hora.
Enfim... continuaremos discutindo sobre qual  é a melhor visada. Nos dias que correm a opinião da turma que defende as políticas de gênero parece ganhar corpo. Não passa de perigoso retrocesso.
PS - As citações foram extraídas do artigo O que é lugar de fala e como ele é aplicado no debate público do site Geledes.

..... e prá não deixar a peteca cair....

uma das brigadas dos nossos ativistas de gênero, a das feministas não poupou sequer Chico Buarque, tido e havido pelos nossos mudernos e periferia como  profundo conhecedor  da alma feminina. Tascaram-lhe a pecha de machista em razão dos versos:

Quando teu coração suplicar,
Ou quando teu capricho exigir, 
Largo mulher e filhos
E de joelhos vou te seguir.

da canção Tua cantiga do álbum Caravanas recém lançado.
Querem mais exemplos? Há dias li por aí uma queixa das mulheres a respeito das poucas oportunidades dadas a elas nas cozinhas dos chefs. Caramba! até pouco tempo queixavam-se de que as tarefas de cozinhar e lavar roupa que as estigmatizava eram a marca registrada de opressão masculina.
Vou encerrar com o que video que assisti em um desses jornais vespertinos da TV onde foi exibido um bate-boca entre os senadores Marta Suplicy e Lindemberg Farias, em uma comissão do Senado. Lindemberg tentava educadamente colocar uma questão de ordem - sim, ele é capaz disso! - a Marta que presidia a sessão. Depois de inúmeras negativas para conceder-lhe  a palavra, Marta encerrou a querela chamando-o de machista. Simples assim.

É muita paranóia. Beira a histeria.


sábado, 26 de agosto de 2017

Ruína civilizatória.

Ouço no rádio que dos 125 dias de aula deste ano letivo, apenas em 8 deles todas as escolas municipais do Rio de Janeiro cumpriram sua função integralmente. Nos demais, os tiroteios e as ordens  da bandidagem dona do pedaço impediram que isso acontecesse. 

Escracho

As imagens mostradas nos jornais televisivos de ontem, daqueles políticos do Mato Grosso metendo a mão na bufunfa,  é o retrato acabado do beco sem saída em que nos metemos como projeto civilizatório. Toda a decadência do ser humano estava traduzida naqueles olhos ávidos, naquelas expressões faciais de ganância e cupidez daqueles engravatados e distinta senhora ao receberem maços e mais maços de dinheiro. A distinta senhora superou-se. Queria porque queria mais, insistindo junto ao corruptor para que avançasse na divisão do butim sobre as parcelas dos outros integrantes da quadrilha. Até aceitava cheque!
Adoraria saber como essas criaturas se justificaram perante os filhos que porventura tenham visto essas cenas deprimentes.

*********
PS - Os advogados desses quadrilheiros devem estar arquitetando narrativas para tentar provar que nada de ilegal aconteceu ali. Afinal, para que servem mesmo os advogados?

Vida reclusa

Para fechar a trilogia sobre minhas idiossincrasias, um insight que já se insinuava fazia tempo nas minhas análises interiores, e que a leitura de um artigo do J. P. Coutinho na Folha - '13 Reasons Why' é pobre como drama porque é literal e pedagógico -  fez com que se tornasse evidência.  Como a adolescente da série sofrí bullying na minha adolescência. Interno num seminário com cerca de 300 alunos, divididos em maiores (os mais velhos) e menores (os mais novos), minha pouca idade colocou-me no último grupo onde sofrí horrores na mão de alguns dos maiores - os donos do pedaço. Esses caras despertam em mim tamanho asco até hoje  que se os encontrasse - não sei se os reconheceria - certamente partiria para a agressão verbal com grandes chances de acabar num confronto físico. 
A garota suicidou-se. Eu  me afastei do mundo e das pessoas. Vivo recluso até hoje.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O que dá sentido à vida.

O artigo do Marcelo Gleiser sobre as origens do universo - Do mito à ciência: Será que podemos entender a origem de todas as coisas? - abre a oportunidade prá que fale de outra das minhas idiossincrasias, expostas em Quem sou eu, onde confesso meu desencanto em viver em um universo carente de sentido.
Ao final do artigo, depois de se confessar impotente com as ferramentas que a física dispõe para decifrar esse enigma, e sentindo a necessidade de uma metaciência - prá minha felicidade de metafísico - Marcelo cita Tom Stoppard: o que dá sentido à vida é o querer saber.
Para um buscador de sentido como eu, um achado! Vou incorporá-lo aos outros dois que descobri ao longo da minha peregrinação de 65 anos por essa vida: afeto e beleza.
Pelos três, viverei! 

domingo, 13 de agosto de 2017

O homem só

 Pensando nas misteriosas influências que nos fazem ser o que somos, da loteria do DNA à escolha dos caminhos, dos afetos e dos empregos, passando pelos vizinhos, namoradas, família, heróis da infância e da vida adulta, azares e acasos, olho para trás tentando localizar alguns pontos de impacto –os instantes realmente marcantes que parecem mudar o nosso rumo. É uma tarefa impossível, porque somos parte interessada demais. Mas, afinal, somos mesmo feitos de tarefas impossíveis, e aí é que está a graça.
A primeira sensação é a de que fui feito de leituras, o que é obviamente uma mentira, se fosse para dar um peso moral a este primeiro erro de avaliação. A leitura é uma duplicação de um confuso mundo pré-existente, o qual, quando se lê e se escreve, tenta-se retificar e ratificar –chegamos à palavra escrita já cheios de vontades e escolhas, mais como um engenheiro curioso numa quadra de entulhos do que como uma vítima ingênua na escuridão. 
O momento histórico é especialmente importante, a barulhada em torno, e isso independe de nós. E a idade pesa –gostamos tanto de ordenação que nos imaginamos formatados em décadas, pessoas de proveta, um ser diferente por decanato. Não se reage do mesmo modo em tempos diferentes (embora muitas pessoas se jactem de ser sempre as mesmas, como quem faz praça da própria estátua). E há, ainda, a insídia da emoção, que nos cega e justifica.
"É cousa demais", como se dizia antigamente. Baixando a bola, fiquemos nas leituras. Como um bom sessentão, tive formação iluminista, o otimismo pós-Segunda Guerra. Tudo pode ser racionalizado, a inteligência é o valor supremo, a clareza e a nitidez são entidades éticas e o mundo só anda para a frente.
Uma mistura de Sherlock Holmes, o herói de Conan Doyle –os sinais do crime estão à vista, basta cabeça fria para revelá-los–, e de Júlio Verne, com a boa crença na ciência e a desconfiança do mal, que existe e deve ser combatido; e os finais são felizes. Cresci na atmosfera laica de um mundo que, enquanto arrastava seu passado sinistro e glorioso, tentava inventar um novo futuro, o que realmente aconteceu, na fratura geral dos anos 1960.
Cria daquele tempo, exatamente ali me reconheço. Como diz a célebre citação de William Faulkner (1897-1962), o passado não está morto; aliás, nem mesmo é passado. Como um louco circular, retorno sempre àquele ponto cego, atrás de uma chave-mestra.
Porque havia duas, incompatíveis: "Cem Anos de Solidão", a "Ilíada" da América Latina inventada por Gabriel García Márquez (1927-2014), nos dizia que a história era um ser vivo, fatal e inexorável como os deuses gregos, e que homens, árvores, nuvens e borboletas giram sob leis poéticas e transcendentes inacessíveis ao gesto humano, e é nesta entrega ao tempo que reside a surda beleza que nos cabe. 
A outra chave surgiu inteira deslocada e contraditória, e no entanto me pegou, no instante exato, as variáveis todas conjuminadas num belo e irresistível eclipse total: adolescente, anos 1960, contra os grilhões da família e a hipocrisia da sociedade, e sob influência de um guru barbudo, W. Rio Apa (1925-2016), que, num projeto mais emocional que intelectual, passou boa parte da vida tentando conciliar Nietzsche com Rousseau (o que, pensando bem, é um retrato do presente), mais a sombra do teatro como o caminho possível da libertação pessoal –e eis que me caem nas mãos as peças do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906).
Ibsen é um monstro que inventou a dramaturgia moderna. Dos confins da Noruega, criou uma obra que empalideceu automaticamente todo o teatro que se fazia no século 19. Para mim, uma peça foi especial: "Um Inimigo do Povo". Resumindo: um homem descobre que as águas da cidade estão poluídas, mas a cidade depende comercialmente delas para sobreviver. 
Na luta por denunciar o crime, acaba ficando contra todos. Ele resiste, e uma frase me bateu na cabeça: o homem mais forte é o homem mais só. Naquele momento, isso era tudo que eu queria ouvir. Até hoje gosto de acreditar que ela me livrou, com um toque quase aristocrático, do rebanho. O que é engraçado para alguém que, como eu, vê numa roda de amigos bebendo cerveja uma das faces mais concretas da felicidade.

Cristóvão Tezza, Folha, 13.08.2017

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Solidão é uma questão que me toca profundamente. Lembro de uma mulher com quem me envolvi no passado ter-me feito a observação: Você é tão só. Mulheres não apreciam solitários, o que nos coloca em flagrante desvantagem frente a  concorrência. Mantenedoras da espécie preferem machos integrados ao grupo, uma garantia maior para a prole. 
Mas... há que se considerar o que escreve o Cristóvão: solidão é para os fortes. É fato! Custa  caro manter-se no prumo, de pé quando só. É investimento pesado. Vive-se em condições anóxicas de afeto,  combustível essencial para uma vida bem vivida.  Não há ombro amigo, refúgio seguro, enseada protegida, saia da mãe. É você com você, em eterna vigília. 
O solitário é um borderline. Brinca sobre o abismo, negocia com a loucura diariamente. Não por acaso,  serial killers são pessoas solitárias, anti-sociais. A cada crime cometido por um eles, a inquietação se apossa de mim: Pode acontecer comigo!
Entretanto, ser um velho lobo que nunca andou em bando - está lá em Quem sou eu - tem  suas alegrias. Cristóvão fala em não fazer parte do rebanho. Como sou um velho lobo, referencio-me  a bando. É menos elegante mas estou mais para bicho-do-mato do que para ovelha. Se rebanho ou bando,  dá um orgulho, uma satisfação imensa não fazer parte deles, ainda mais nos dias que vivemos. Olho ao redor e vejo uma hecatombe, com uma malta de cínicos e desqualificados dando as cartas, tentando nos dizer de que lado o vento sopra. Não prá cima de mim!
Como o (anti)-herói de o Inimigo do Povo, sou e sempre fui um resistente. Devo confessar, entretanto, que estou cansado. Matar um leão todo o dia, é para os fortes. Eu não sou tão forte assim.

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Afora as qualidades literárias -  sou um pigmeu perto dele -  tenho muito em comum com o Cristóvão. Somos sessentões, adolescentes na década de 60, que ele considera uma fratura;  eu diria que foi o início da fratura que se abriu de fato na década de 90.
Embora ele não seja simpático à expressão - homem feito de leituras - sou um deles, no sentido de que, introspectivo, sempre amei mais os livros do que a ação. Um teórico mais do que um experimental. No campo das idéias, ele foi educado numa atmosfera laica e iluminista, eu, em atmosfera religiosa,  iniciado na metafísica de gregos e escolásticos. Embora a clivagem divina das minhas fontes, criei um background fundado no senhorio da razão. Entretanto, dois irracionalistas: Dostoievski e Sartre, vieram bagunçar minhas certezas metafísicas e colocaram na minha agenda, o homem trágico e angustiado. Freud foi a pá de cal. Como sou ponto fora da reta mesmo, das grandes modas da minha geração:  Nietzche, Foucault, Deleuze, só conheço um pouco de Foucault. Vem daí que sou um homem inatual, parafraseando Nélson Rodrigues.
Não me arrependo. O século XX não fez muito pela filosofia, afora o existencialismo e a escola de Frankfurt. As ditas ciências humanas perderam... e muito! para as exatas. Os velhos filósofos produziram caldos bem mais consistentes. A metafísica sossobrou frente a física.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Esse foi grande!

Enfim alguém com pedigree para salvar essa minha geração que fracassou na política.
Ambos nascemos em 1951. Eu continuo na batalha, ele se foi no sábado aos 66 anos.
O negão era dos bons; comprou  briga com o mainstream. A indústria do entretenimento, porém, cobrou seu preço e o pôs a margem.
Fica em paz onde estiveres, negro gato! 



Salmos 143;4

O homem é como um sopro; seus dias como a sombra que passa.

(Da lembrancinha impressa para marcar a morte do meu pai - 29.04.1998)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Uma lágrima para Liu Shaobo.

Liu Shaobo era professor visitante de Literatura na Universidade de Columbia, em Nova York, quando soube dos protestos na Praça Tiananmen em 1989. Largou tudo e foi se incorporar aos manifestantes. A foto abaixo correu o mundo - certamente é uma das grandes fotos do século XX.  Faz parte de um vídeo que mostra um manifestante até hoje desconhecido que parou uma coluna de tanques na praça. Chorei quando a ví - afinal sou geração 68. Queria ser aquele cara! 
De nada adiantou minha comoção, pois mais uma vez os poderosos venceram e massacraram o movimento. 
Iniciava-se então  o  Calvário desse professor  nas mãos do regime comunista chinês. Foi preso, depois perdeu seu emprego de professor, sua casa, passou uma temporada num campo de reeducação para o trabalho,  em seguida voltou para a prisão de onde saiu para um hospital onde morreu de câncer poucos dias atrás. Ganhou o Nobel da Paz em 2010 que nunca recebeu. Foi uma das causas para o regime colocar em prisão domiciliar sua mulher. Para ela escreveu:

Mesmo que eu seja esmigalhado até virar poeira, haverei de abraçá-la com cinzas

Dele e dos companheiros da praça Tiananmen:

Preferimos ter dez diabos que se controlam mutuamente do que um anjo que dispõe de poder absoluto.

Grandes homens são raridades nesses anos de chumbo. Fará falta!





Boa parte das informações do texto foram retiradas do artigo Um grande homem de Dorrit Harazim - O Globo, 16.07.2017.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Brasil em dois tempos...

A violência alcançou tamanha intensidade por aqui   que até o útero materno perdeu sua condição de reduto de máxima segurança para a vida. Que o diga o garoto Arthur que mesmo aguardando a sua horinha de nascer, no bem-bom da barriga da mãe foi agraciado com um tiro da bandidagem de Duque de Caxias e agora luta para não ficar paraplégico num hospital da Baixada. 

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Filas por aqui existem para serem desrespeitadas. Nem aquela prá tornozeleira eletrônica se safou. Não é que o nosso homem da mala, Rodrigo da Rocha Loures - o homem de confiança do nosso Presidente, per supuesto mais igual do que nosotros - deu um jeitinho. Furou a fila da tornozeleira - que está enorme , dada a epidemia de bandidagem por assola o país - para  se safar o mais rápido possível da cana dura.

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Rimos ou choramos?