segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Rescaldo (!?!) das urnas.(II)

 ... e pela segunda vez na vida ganhei uma eleição para Presidente da República. Não foi um voto em um projeto de país, foi um voto do medo. O Capitão era uma ameaça às instituições da nossa cambaleante democracia, dai que para evitar um mal maior, votei num mal menor. Parafraseando a massa:  - Não tem tu, vai tu mesmo.

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Certamente haverá avanços na área ambiental, na inserção internacional do país. Não tenho  muitas esperanças em educação e cultura dado o viés ideológico do progressismo na área. Temo sinceramente o que podem aprontar com a economia caso seu comando seja confiado a um discípulo da heterodoxia, matriz do pensamento economico petista. Temo também pelo protagonismo das minorias barulhentas que libertas das amarras do reacionarismo bolsonarista, passem para um ativismo que certamente poderá desencadear uma contra-reação da turma que perdeu. É no campo dos costumes que vejo a causa maior da cisão do país.

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Além de despachar o Capitão, a boa notícia é que estados importantes como Rio Grande do Sul e Pernambuco elegeram governadores mais ao centro do espectro ideológico - será que existe? -  do país. Espero que sejam protagonistas, em meio à irracional  radicalização em que mergulhamos. 

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Lula ganhou essa eleição não apenas por ser Lula, mas sobretudo por não ser Bolsonaro, escreveu o editorialista de O Globo na edição de hoje. Eu não diria sobretudo,  mas boa parte dos votos que recebeu - o meu, por exemplo - ele pode creditar ao fato de que um valor mais alto se levantava: a contituidade das instituições democráticas. 



terça-feira, 18 de outubro de 2022

...e lá se foram 71!

 Deixo as considerações  para Mário Quintana:

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. 

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… 

Quando se vê, já é 6ª-feira… 

Quando se vê, passaram 60 anos! 

Agora, é tarde demais para ser reprovado… 

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, 

eu nem olhava o relógio 

seguia sempre em frente… 

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. 


(QUINTANA, Mario. Nova Antologia Poética. 9. ed. São Paulo: Globo, 2003.) 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

...se merecem.(sic)

A propaganda política para o segundo turno virou uma lavação de roupa suja. É uma baixaria só. Até pedofilia, canibalismo e satanismo (?!?) entraram na pauta. É mais um aspecto que junta os dois extremos que, infelizmente são as tendências majoritárias a postular a Presidência. Eles se merecem, como reza o dito popular. O pessoal progressista tem no seu prontuário - estou apenas citando o que me vem à mente! - o falso dossiê sobre o candidato Serra na campanha presidencial de 2010, a destruição de reputação que fizeram com Marina Silva nas eleições de 2014 e nesta com Ciro Gomes. O bolsonarismo, entrou na arena mais tarde, já suplantou os mestres no quesito e opera em outros moldes - domina amplamente as redes sociais. Tem sua central, dizem os experts, dentro do próprio Palácio do Planalto comandada por Carluxo y sus cantantes. É ou não uma república bananeira?

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É cada vez maior meu desinteresse pela política do dia-a-dia. Ontem houve debate entre as duas entidades que comandam as duas turbas. Não assisti pois imaginava que seria uma competição para ver quem mais desestabilizava o adversário. Pelos comentários que li até agora, foi até civilizado o enfrentamento, face ao que rola no horário eleitoral de rádio e TV.

Em contra-partida, assisti a mais de três horas de futebol. Até o querido Colorado, com um time que deixa muito a desejar e um treinador que mais briga com a arbitragem do que orienta seus jogadores à beira do campo, tem mais apelo do que os nossos políticos. 

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Já houve época em que eu considerava a definição de animal político mais adequada para o ser humano, ao invés de animal racional,  clássica na filosofia grega. 

...mas os anos passam!  Estou começando a considerar que mais que racional ou político o homem  é um animal futebolístico.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Alumbramento

Na  luz desbotada  do metrô,

o brilho dos teus olhos,

teu sorriso franco,

tua beleza clássica,

iluminavam  mais que o sol de todos os deuses.


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Um Brazil que não vê e/ou não entende o Brasil (II)

São raros os artigos e comentários na midia tradicional que se dão conta da existência de um Brasil que começa a engolir o Brazil. 

Mathias de Alencastro, um brazileiro  que escreve para a Folha, apesar do proselitismo revelado no último parágrafo, deu-se conta da existência de um outro país que não é o da costa, dos grandes centros urbanos industrializados e dos nichos intelectualizados que dominam a academia, aos quais a midia tradicional é sempre aderente.

Bem-vindo a esse mundo, meu caro Mathias. Apesar de ter vivido a maior parte do tempo de minha vida no Brazil, tenho um pé no Brasil, em função das minhas origens e formação pré-universitária. Conheço bem o imaginário desse povo. 


sábado, 8 de outubro de 2022

As aparências enganam

 ... já dizia a raposa para o principezinho no Pequeno Príncipe de Saint-Exupèry, livro polêmico e muito em voga na segunda metade do século passado. Uma matéria  da UOL onde são entrevistadas diversas catadoras de recicláveis que se submeteram  a  uma repaginação facial mostra os efeitos por ela provocados na sua auto-estima (?!?). A  mudança - pelo menos para um leigo como eu - é surpreeendente e radical, como atestam as fotos de uma delas, abaixo.

 Com o passar dos anos, cada vez mais me pergunto sempre que vejo o rosto quase que perfeito de uma mulher, a verdade que está por detrás dele e convenço-me da veracidade da frase - eu diria que a velhice mostra que é acaciana! - da amiga do principezinho.

Vem-me à mente outra,  atribuida a Marx: Tudo que é sólido desmancha no ar. O que dizer de um tratamente de beleza? 

Paradoxalmente, mas como tratamos do ser humano não causa espanto...pense o que quiser, diga o que disser, as mulheres continuarão a submeter-se a eles, e os homens, aprovando. É uma acordo tácito que poderia ser resumido no popularesco me engana que eu gosto!

(Uol)


Um Brazil que não vê e/ou não entende o Brasil

Não sei se vivo em um mundo paralelo ou se fui  eu  que mudei mas o fato é que sinto-me cada vez mais um estrangeiro acompanhando em especial a opinião dos articulistas e - menos! - as notícias  que estão nas telas de TV e nos jornais agora on line. Era ouvinte assíduo de canais de notícias no rádio e na TV, hoje lhes  dedico cada vez menos tempo. A sensação que tenho é que se tornaram veículos de nicho, dirigidos para públicos específicos. Não há preocupação em apresentar os fatos de uma maneira minimamente imparcial,  nem em elaborar uma análise afastada da posição política/ideológica dos articulistas. Omite-se o que contraria a linha editorial, superexpõe-se o que vai ao encontro dela, e o proselitismo opiniático é desabrido.  O mundo que se vê ali é o mundo da costa, dos grandes centros urbanos e, - pior! - de nichos dentro desses centros. Ando pelas ruas, vou às feiras e não há nada parecido com o que alí é retratado.

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O resultado das eleições revela o descolamento da realidade vivido pelo pessoal que produz o que esses meios veiculam. O tema chegou a ser abordado em um programa que comentava os resultados no domingo que passou,  e até houve um mea culpa de raros participantes.  Foi pontual porque o pessoal continua na mesma batida. Veja por exemplo o comentário desse articulista da UOL que  ao invés de analisar as razões porque a centro-direita está convergindo para a extrema-direita como mostraram as urnas e o posicionamento dos políticos quanto aos apoios para o segundo turno,  põe-se  a fazer proselitismo para que ela abandone essa atitude. 

Demétrio Magnoli no seu artigo de hoje para a Folha, também revela seu estranhamento com o que se passa com boa parte da nossa midia mainstream.

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Não é de se estranhar que  no Brasil a confiança em notícias seja maior no WhatsApp e no Google  do que na midia tradicional como revela uma pesquisa patrocinada pelo Reuters Institute associado à Universidade de Oxford e revelada pelo articulista da UOL,  J. R. de Toledo

Estão colhendo o que semeiam.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Rescaldo (!?!) das urnas.

A doublé de apresentadora/repórter de política não conseguia esconder  no rosto sua estupefação com os números inesperados que se sucediam na tela do programa de TV que coordenava e que eu assistia no final de domingo após a abertura das urnas. Todos esperavam uma vitória de Lula no primeiro turno ou  que ele alcançasse números muito próximos aos 50% dos votos válidos,  mas o que se viu um crescimento significativo dos votos em candidatos conservadores e no capitão. Ela, como a maior parte da grande mídia que é progressista, fizeram uma clara opção por Lula, daí sua reação. Vivem nos grandes centros urbanos, em bolhas progressistas e desconhecem o imaginário do povo que vive nas periferias das grandes cidades ou do interior profundo do país. Quebraram a cara! As pesquisas também. Nem tanto quanto aos votos progressistas, mas significativamente quanto aos votos conservadores. E por incrível que pareça, foram os institutos mais conceituados aqueles que mais erraram.

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Muito se falou e escreveu sobre o fato. Do que lí e ouvi, concluo que mais do que o conservadorismo, foi o antipetismo quem determinou o resultado. Ou melhor, mais do que conservadora, grande parte - a maior? -  da população ainda é antipetista. Como ninguém de centro - antes o PSDB cumpria esse papel -  empolgou-os suficientemente, ainda no primeito turno sufragaram o capitão. É péssimo para a democracia, porque ele não é um democrata. 

É inimaginável dar-lhe carta branca para um segundo mandato, pois a criatura vai continuar tentando de uma maneira soft ou hard - opção fora da moda, mas com o capitão tudo pode acontecer!  instaurar um regime totalitário. A maioria conservadora que se elegeu para o Congresso, vai facilitar enormemente seus propósitos. Não pretendia votar no segundo turno pois estou com 70 anos, mas vejo que em nome da manutenção da democracia - um valor mais alto se alevanta! -  terei que cumprir meu dever cívico e votar pela volta da picanha e da  cerveja na laje. Melhor perder os anéis do que os dedos.

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E falando nos eleitos para o Congresso, citei no post anterior vários nomes de candidatos que me causavam estupefação pelo fato de ainda terem a cara de pau de apresentaram-se como candidatos mesmo com a fornida lista de mal-feitos que enriquece seu prontuário. Afora os membros da família Picciani, Cabral e de Wilson Witzel, todos os outros foram eleitos. O que dizer da votação do Gen. Pazzuelo ou de Daniel Silveira que recebeu 1,5 milhão de votos, mesmo com a candidatura para senador sub judice? E  estou abordando apenas o caso do Rio de Janeiro. 

É incrível! Apesar da democracia nos facultar o voto livre e direto ainda assim escolhemos mal. Alguém já escreveu que esta não é uma das suas grandes vantagens; o exemplo dessa eleição fala por sí. Por outro lado,  grande vantagem seria a possibilidade que nos oferece,  de despacharmos quem não correspondeu a nossas expectativas. Será? O que ele diria se o capitão vier a ser eleito para um segundo mandato?


sábado, 1 de outubro de 2022

...e chegamos a mais uma eleição.

Em meus 70 anos, elegi apenas um Presidente da República: FHC no seu primeiro mandato e não me arrependo. Seu projeto é o que de mais próximo encontrei com meu imaginário em termos políticos e econômicos; em matéria de costumes nem tanto. Não o sufraguei para um  segundo, pois levantaram-se suspeitas sérias, quanto a uma compra de votos para a aprovação do decreto que  lhe presenteou com o instituto da reeleição;  as consequências danosas arcamos até hoje. Ele próprio  se arrependeu.

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....e não será desta vez também que elegerei um presidente, pois votarei na mulé (Simone Tebet). Passa longe de ser a candidata dos sonhos mas é o que temos. Até poderia ser o Ciro, mas discordo do seu desenvolvimentismo econômico. Quase toda  A. Latina padece dessa visão com os resultados que falam por si. Dos extremos, passo longe...mas hoje são eles que pontificam.

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Divirto-me com a propaganda eleitoral na TV. Não com o tedioso palavrório dos candidatos mas com a sua nominata. Retratam um mundo desconhecido para quem como eu vive a bolha da Zona Sul. Desfilam por lá  o Fulano do Posto, o Beltrano do Pneu, a mulher do Fulano do Posto. E por aí vai...

Ao mesmo tempo assusto-me com a quantidade de candidatos envolvidos com a Justiça e/ou criminalidade, ou ainda que foram um fracasso em seus mandatos: o notório Daniel Silveira prá começar.... Pastor Everaldo, representantes das famílias Brazão, Picciani, Cabral e Cunha, o ex-prefeito Crivella, Wilson Witzel, Julio Lopes, a irmã e o pai que fazem questão de salientar seu parentesco com  o vereador cassado por suas estrepulias sexuais com novinhas... E olha que estou citando apenas os nomes que me vem espontaneamente à mente. O bestialógico é dos mais ricos.

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Costumo aceitar os santinhos dos candidatos que me ofereçem na rua, apenas para ajudar a pessoa que está aí ganhando seu modesto caraminguá. Em uma ocasião, presenteado com um santinho que verifiquei ser do Julio Lopes, exclamei decepcionado: - Logo esse cara... Ladrão! A moça que distribuia o material, riu e disse:  - Pois é!  Ela própria desacreditava do que fazia. Consequência natural de boa parte das nossas práticas políticas. 

E tá cheio de gente por aí reclamando que criminalizaram a política.

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P.S. Julio Lopes era o Pavão na lista de propina da Odebrecht. (É o próprio! Viajei uma vez com ele; terno e gravata impecáveis, cabelo modelado por brilhantina e um olhar muito, mas muito superior. Napoleão perdia!)  Denunciado pela PGR na operação LavaJato, teve sua casa vasculhada mas está aí batalhando por uma boquinha como deputado federal financiado com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Dado as voltas que a nossa Justiça dá, certamente conseguiu um status de  candidato Ficha Limpa e deve estar proclamando sua condição aos quatro ventos provavelmente dizendo que nada foi provado contra ele. Acredita quem quiser! Nem eu, nem a mocinha que distribuia os santinhos fazemos tal profissão de fé.