domingo, 30 de setembro de 2018

Elogio da timidez.

Sou de um tempo em que a timidez era uma característica da personalidade. Houve época no seminário saindo da adolescência para a juventude em que os padres tentavam prescrutar nossa personalidade e avaliar nossas aptidões. Havia uma classificação de temperamentos muito popular e usada por todos para se identificar através de testes: líder, fleumático, melancólico, colérico... eram sete se bem me lembro. Meu teste? Melancólico na cabeça! Como ascendente: líder. Basicamente é isso mesmo. Sou um líder melancólico. Estranha conjunção! Meu mapa astral também é a junção de  opostos: sou Libra com ascendência de Saturno
E lá  fui eu estudar o melancólico que tem entre características dominantes a introspectividade e a timidez. Demorei muito para me aceitar como, pois considerava o melancólico  o patinho feio dos temperamentos. De fato ele é um pouco o primo pobre do  grupo mas também tem qualidades: sensibilidade, lealdade...  E havia  o líder associado que ajudava para um certo auto-engano.
Para minha surpresa, anos atrás, li um artigo de um colunista de O Globo, que baixava o porrete nos tímidos chamando-os de chatos. Tratava a timidez como um defeito. Dei um desconto pois ele era carioca e por aqui as pessoas se consideram extrovertidas e solares por natureza.
A morte de Otávio Frias, proprietário da Folha e seu redator-chefe, há um mês atrás - um introvertido, segundo seu círculo de amizades - motivou  uma coluna do Pondé nessa mesma Folha em que se  elogia a timidez. Fico feliz que em tempos que pedem para que nos apresentemos esfuziantes, em que o mercado das relações privilegia o marketing pessoal, em que mise-en-scene e caras e bocas contam muito, alguém faça a apologia da timidez.
Os cães podem continuar ladrando; a caravana dos tímidos - discreta como sói ser - vai passar.
 - Sorry, periferia! 

...e seremos governados do presídio!

A julgar pelo resultado recente das pesquisas estamos condenados a isso.
Democracia tem dessas coisas. Ela dá o que o povo pede... para o bem e para o mal. Hitler foi eleito democraticamente; Chavez também.
Voto em Marina no primeiro turno e nulo no segundo. Os dois que passam - Bolsonaro e Haddad -  não merecem meu voto.Vou repetir uma trajetória de insucessos que vem desde a primeira eleição de FHC, a única em que coloquei meu escolhido na Presidência. Pelo menos pelo voto, não ajudei a arruinar esse país.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Abandono

Uma faca perpassa,
uma espada atravessa,
uma alma - já -  aos pedaços,
Nenhuma mordaça sufoca
seu grito de dor.

As luzes  turvas,
as cores baças
filtradas pelas lentes grossas
das  muitas lágrimas.
Elas vertem a dor
que brota em mim.




quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Tragédia brasileira (III)


Agora a tragédia é  de natureza pessoal. A canção remete a um tempo em que eu sonhava; 50 anos depois  vai embalar a minha dor.  Hoje, por estranhos desígnios dos deuses, ela marca mais um tsunami existencial. A sensação é de que perdi o bonde da vida.
Sobreviverei? Não sei quantas das sete vidas me restam, mas estou próximo do limite. Foi assim que nessa noite que não esquecerei...entre charutos e brandy , o rei ficou nú outra uma vez. 
Meno male que os charutos eram cubanos, mas a dor é infinita!
PS - A canção a que me refiro no texto é a inicial. Não há como cortar as seguintes. Caso  você curta a Jovem Guarda pode se dar bem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Tragédia Brasileira (II)

Ter como opções para presidente,  um cara que está no hospital porque foi esfaqueado ou então um pau-mandado de um cara que está preso.
O primeiro é considerado um mito pelos seguidores, o segundo, um salvador da pátria,   D. Sebastião redivivo pelos seus.
É hora de fazer as malas e ir pro Galeão.

domingo, 9 de setembro de 2018

Tragédia brasileira

De tudo que li e ouvi a respeito do incêndio do Museu Nacional,  o comentário que melhor explica tudo o que ocorreu - não lembro onde o li ou ouvi:

O desleixo, a incúria, a má administração conseguiram destruir em poucas horas o que o tempo curiosa ou cuidadosamente guardou  por 12.5/13 mil anos: o fóssil Luzia, o mais antigo humano encontrado na América Latina.


Somos um país atrapalhado, como escreve Marcos Lisboa na sua coluna Cúmplices na Folha de hoje.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

O peso dos anos.

Fazem praticamente dois meses, fui convidado por um colega para subir o Bico do Papagaio.  Com uma altitude de 989m,  fica abaixo apenas do Pico da Tijuca com 1022m  dentre os picos do Parque da Floresta da Tijuca. O colega é quase um ironman, e - prá ele -  a subida é uma moleza. De fato é, até quase o final mas  nos últimos 100/200m a caminhada se torna praticamente uma escalada. Cheguei ao topo fazendo das tripas, coração. É punk! Outro colega na mesma faixa de idade que também participou da aventura, sentiu  menos o esforço. Conseguimos descer, para alegria do nosso ironman, uma vez que ele começou a se preocupar com nosso estado lá no topo. Já pensou ter que convocar a Defesa Civil para descer os dois velhinhos!
O que importa nisso tudo é o rebate a posterioriEstou com edema nos joelhos, tendinose em ambos os tendões de Aquiles e as panturrilhas doem imensamente sempre que inicio a andar após estar hora ou mais parado. É como se tivesse havido falência generalizada das pernas. Senti a velhice pela primeira vez em minha vida. E tem mais...como estou afastado de qualquer atividade física a barriga deu para aparecer. Duro é ouvir dos inefáveis marqueteiros que a velhice é a melhor idade!
Ouvi de meu pai, no alto dos seus 70 anos: 
Meu filho, é duro ser velho!
Estou começando a acreditar ....apesar dos marqueteiros!

domingo, 2 de setembro de 2018

Epistemologia tribal

Sou um leitor contumaz da Folha, fazem pelo menos 30 anos. Sempre a considerei um jornal plural pois abriga colunistas de todas as tendências do espectro político e até mesmo cultural, embora neste o pensamento seja mais monolítico. Sua linha editorial, entretanto, sempre foi claramente liberal. A morte de Otávio Frias Filho, seu redator-chefe, que fez uma revolução no jornalismo brasileiro com seu Projeto Folha, provocou manifestações de representantes de todos os espectros da vida nacional todas elas celebrando esse ecumenismo de idéias promovido por ele, um sujeito cético diante do mundo - opinião corrente - e que estimulava e permitia o debate de idéias. De fato são inúmeras as colunas e blogs de jornalistas de esquerda tanto no jornal como na UOL. 
Mesmo assim, para a maior parte da  esquerda - que foi bem comedida nos elogios - toda a grande imprensa é vendida aos interesses do grande capital. A propósito dessa postura da esquerda, Demétrio Magnoli no seu artigo de 25.08 na Folha fala de epistemologia tribal, um fenômeno de nossos dias provocado por algumas correntes de pensamento que erguem uma realidade fática que nega tudo o que seja estranho a ela. Nega que haja déficit da Previdência, nega que a Petrobras tenha problemas financeiros, nega que a recessão econômica atual seja resultado da política econômica desastrada dos anos finais do governo petista. Como contraponto, elabora narrativas que constroem uma realidade  própria, um mundo paralelo no qual seus seguidores acreditam com a fé dos convertidos.