quarta-feira, 31 de maio de 2017

Os bem-resolvidos



Suzane  Von Richthofen é uma pessoa bem-resolvida. Mandou matar os pais, tá sempre bem acompanhada, antes por homens, agora por mulheres. Na época do crime seu namoradinho era um dos assassinos; na cadeia mudou sua opção sexual por companheiras de infortúnio. A moça se adapta bem a qualquer circunstância, caracteristica do cara bem resolvido. Joga o jogo.
 Já seu irmão, Andreas, - aluno brilhante - doutorou-se em química pela USP,  nesse final de semana foi encontrado drogado e maltrapilho na Cracolândia paulistana. É mal resolvido. Não segurou a barra da tragédia que sua irmã - bem resolvida - engendrou.
Paulo Maluf, notório larápio do bem público, é uma pessoa bem-resolvida. Eike Batista, Joesley - de outra griffe -  Batista, também o são. Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Cunha - para citar alguns notórios -  jamais são assaltados por dúvidas e angústias sobre o que fazem ou deixaram de fazer. São caras bem resolvidos.
Eu  não sou bem resolvido. Por essas e por outras, meu estômago embrulha quando dizem prá mim que fulano é bem resolvido.

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A foto abaixo baixada do UOL, mostra os dois irmãos - a bem resolvida e o mal resolvido -  no enterro dos pais.  O sujeito de rosto compungido à esquerda era o namorado de Suzane na época do crime. A mando dela, foi  um dos autores. A dor, a desfaçatez e a falsidade estampadas em cada um desses três rostos. A miséria e a glória - cadê? - do ser humano.



segunda-feira, 29 de maio de 2017

Versos perdidos no tempo

Chegou a chuva,
de um jeito vadio,
com  gotas mansas ,
bebidas com sofreguidão,
por uma terra esturricada
pelo longo estio.
Foi-se rápida.


(A terra segue insaciada,

as gretas ainda abertas,
pedem pelas águas de março,
ausentes,
indiferentes.)

Ficou,
o cheiro da mata molhada,
das folhas  agradecidas
pela água furtiva,
a lembrar
um passado idílico
vivido próximo da natureza
que a ambição abandonou,
por cimento, asfalto, solidão
e uma carência brutal
de sentimento.

(Rio, 14.03.2012)

domingo, 28 de maio de 2017

Qual é a tua turma?

O jurista Oscar Vilhena Vieira - (A Esperança é que a opinião pública recobre a capacidade do diálogo - Folha, 27.05.2017) -  faz uma descrição muito próxima da realidade  vivida por nosso país atualmente. Identifica três linhas de ação em torno das quais se agrupam  os atores mais influentes e afluentes do momento triste pelo qual passamos:

...a do mercado, que até agora deu sustentação ao governo Temer, fechando os olhos às suas mazelas e lutando sempre pela proteção de seus privilégios; a da igualdade que, paradoxalmente, deixou-se capturar pelos interesses das corporações, favorecendo a manutenção das desigualdades; e, por fim, as forças pró-integridade, forjadas na luta contra a corrupção, mas que volta e meia parecem se esquecer que fora da lei não há integridade a ser protegida. 

Aquele senhor de bigode, sem óculos.

Nessa foto de arquivo publicada na UOL (FHC, Lula e Temer articulam o Pós-Temer (25.05.2017)) estão todos os presidentes da Nova República que -espero- a LavaJato enterre . Esqueça suas preferências políticas,o que eles fizeram ou deixaram de fazer. Baseado na postura e expressão facial de cada um, de qual deles você não compraria um carro usado?  Na minha opinião,  tá moleza escolher.

BRASÍLIA, DF, BRASIL, 16-05-2012, 12h00: Presidente do STF, ministro Ayres Britto, presidente da Camara, Marco Maia, presidente do Senado, e ex-presidente Jose Sarney, ex-presidente Lula, presidente Dilma Rousseff, vice-presidente Michel Temer, ex-presidente FHC, ministro do STJ, Gilson Dipp e o ex-presidente e senador Fernando Collor, o membroda Comissao Jose Carlos Dias falando participam no palácio do Planalto, da cerimonia de Instalacao da Comissao Nacional da Verdade. (Foto: Lula Marques/Folhapress, PODER)

quarta-feira, 24 de maio de 2017

A turma do estado de Direito

Reuniram-se em grande número em um  restaurante chique de São Paulo no final de semana para queixarem-se dos jacobinos do Ministério Publico e da República do Terror de Curitiba,   incansáveis na prática de  arbitrariedades que violam o Estado de Direito contra seus clientes. Estavam lá  todos os defensores da turma do andar de cima da política e do dinheiro grosso sem corte ideológico algum, defendendo um Estado de Direito desenhado para proteger  uma elite  -a velha (à direita) e a novíssima (à esquerda) - que fez desse país um clássico do que se pode chamar uma virtualidade  jamais  realizada. Pela primeira vez  acuada pela possibilidade de acabar na cadeia, essa turma paga  a respeitável banca a peso de ouro, com o dinheiro amealhado, em sua maior parte,  de maneira escusa,  para apregoar que estamos caminhando para a fase do Terror da Revolução Francesa. Terror certamente prá eles, regozijo para o povo que sempre foi escumalha nesse país. Guilhotina - no sentido figurado e dentro dos limites da lei, per supuesto -  para  Lula,  Temer,  Dilma, Aécio e tutti quanti.
Há  excessos da República de Curitiba... vamos, então,  corrigi-los. Entretanto,  o bem que estão fazendo ao colocar essa turma de sobressalto é muito maior. Temo que seja uma obra inacabada, mas torço por eles. É  como investir contra moinhos de vento.

PS - Quem são, afinal, esses nobres defensores do Estado de Direito? Ora, ora... os advogados.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

...e a pinguela para o futuro, foi tragada pelas águas da LavaJato.

O governo Temer na feliz definição de FHC era uma pinguela para o futuro. A delação de Joesley Batista, acabou com ela. Não sei o que teremos daqui prá frente. A atividade econômica retomava - PIB do trimestre positivo depois de anos -  o emprego tinha apresentado números positivos, a inflação ficaria abaixo da meta. Agora, outro tsunami. Talvez aprendamos de uma vez e joguemos no lixo a velha elite que desgraçou o país desde Cabral (aquele de 1500) e a nova elite - crítica feroz da outra - que nos últimos 14 anos nos jogou na maior recessão da história.

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E o Eduardo Cunha, hein? Segundo os petistas derrubou a Dilma; agora está derrubando o Temer. Quem se saiu com : - Quem tem Cunha tem medo -  sabe das coisas. Bem feito aos dois! Meter-se com bandido dá nisso. Enfim, nesses tempos em que todas as referências se liquefizeram, um clássico que se cumpre.

sábado, 13 de maio de 2017

Meu Brasil brasileiro!

Um bombeiro hidráulico chamado para consertar a descarga de um apartamento no Catete chegou ao local no começo da tarde, e quando viu que o problema era grave, disse: “Ah, isso vai dar muito trabalho para uma sexta-feira”. E foi embora. Se mandou, deixando a família sem poder usar o banheiro no fim de semana. Que tal? 
Gente Boa - Cléo Guimarães, O Globo, 07.05.2017

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma lágrima para Belchior

Os universitários dizem que se ela tivesse nascido nos States, seria comparada a Ella Fitzgerald, e que ele é o nosso Bob Dylan. Na minha humilde opinião, ela foi a melhor cantora brasileira que ouví e ví cantar, - apesar de não ter gostado dessa interpretação -  e que ele talvez seja o bardo maior - doido, desencantado -  de uma geração que achava que mudaria o mundo mas que percebeu que estava a little bit deceived. Belchior - bem mais cedo do que eu -  já pressentira isso; ele compôs essa música em 1976. Antes disso, em 1970, John Lennon já tivera esse insightThe dream is over está na iconoclástica letra de God no  seu primeiro álbum pós-Beatles com aquela super-banda The Plastic Ono Band. Vixe! Só tinha avião tocando.



Tudo está dominado.

Depois de ler o artigo do  nosso querido Gabeira, no Segundo Caderno,  acredito que não há mais  muitas dúvidas a respeito do grau de comprometimento de diversas instituições da República com a Odebrecht. Até os índios entraram na roda.
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Por exemplo, estou voltando de Porto Velho, onde aprendi um pouco sobre a história da Usina de Santo Antônio, aquela em que a Odebrecht comprou todo mundo: governador, senadores, deputados, centrais sindicais, polícia e índios. 
A delação da Odebrecht fala que as centrais sindicais foram lá, a pedido da empresa e pagos por ela, para controlar os motins dos trabalhadores. O que o delator não contou é que a Odebrecht precisava terminar a obra com muita rapidez, pois assim teria um tempo para vender a energia no mercado livre, por um preço três vezes maior.
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 A História vai registrar que a CUT e a Força Sindical se colocaram a serviço de uma empresa que, ansiosa por sobrelucros, oprimiu milhares de peões. 
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Fernando Gabeira - Promessas de Maio - O Globo, 30.04.2017.