segunda-feira, 29 de julho de 2013

Alto Astral

Nunca ví tamanho astral nessa cidade em meus 20 anos de Rio. Poucos eram cariocas.  Da Zona Sul , raríssimos.  Eram alegres, leves, despojados, educados. um pouco como os Motetos  dos sobrinhos da família Bach que ouço agora na Radio MEC. Eles e o Papa, estranhos no ninho em uma cidade hedonista e decadente. Padeceram com tudo aquilo que a eterna desorganização do Rio lhes ofereceu: transporte precário, banheiros insuficientes e sujos, preços abusivos. Tiraram tudo de letra! Com um sorriso nos lábios. Eles mesmos faziam a segurança - Polícia prá quê? - Esses jovens  provaram que a lei mata; só o espírito vivifica (Cor. 3,6). Deixaram em  5 dias em Copacabana  pouco mais em lixo do que apenas uma noite do famoso reveillon na praia. Oxalá os cariocas tenham aprendido algumas lições de civilidade e urbanidade  com essa garotada! Poderiam aprender outras, mas dessas falo mais tarde.

Cioran


A preocupação com a decência.

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O ser verdadeiramente solitário não é o que foi abandonado pelos homens, mas o que sofre no meio deles, o que arrasta seu deserto pelas feiras e exibe seus talentos de leproso sorridente, de comediante do irreparável. Os grandes solitários de outrora eram felizes, não conheciam a duplicidade, não tinham nada que ocultar; só se relacionavam com sua própria solidão. 
Entre todos os laços que nos unem às coisas, não há um só que não afrouxe e não pereça sob a influência do sofrimento, que nos liberta de tudo, salvo da obsessão de nós mesmos e da sensação de ser irrevogavelmente indivíduo. É a solidão hipostasiada em essência. Sendo assim, por que meios comunicar-se com os outros senão pela prestidigitação da mentira? Pois se não fôssemos saltimbancos, se não houvéssemos aprendido os artifícios de um charlatanismo sábio, se fôssemos sinceros até o despudor ou a tragédia - nossos mundos subterrâneos vomitariam oceanos de fel, onde desaparecer seria nosso ponto de honra: fugiríamos assim da inconveniência de tanto grotesco e sublime. Em um certo gráu de desgraça, toda franqueza torna-se indecente. Jó se deteve a tempo: um passo adiante e nem Deus nem seus amigos lhe teriam mais respondido.
 (Somos civilizados na medida em que não proclamamos nossa lepra, em que damos prova de respeito pela elegante falsidade forjada pelos séculos. Ninguém tem o direito de curvar-se sob o peso de suas horas...Todo homem esconde em si uma posssibilidade de apocalipse, mas todo homem sujeita-se nivelar seus próprios abismos. Se cada um desse livre curso à sua solidão, Deus deveria recriar esse mundo, cuja existência depende inteiramente de nossa educação e deste medo que temos de nós mesmos... - O caos? - É rejeitar tudo o que se aprendeu, é ser você mesmo...)


Breviário da Decomposição.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

De vinhos e mulheres... (mais uma!)

Os vinhos são como as mulheres; quanto maior o seu poder de sedução inicial, mais deles deves desconfiar.
De um produtor francês consagrado citado por Jorge Lucki - talvez o melhor critico de vinhos do país - na sua coluna na rádio CBN.
( O nome do produtor ainda descubro. Não ouví bem pelo rádio.)
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(A apresentadora do programa seguinte - Tânia Morales -  ouviu e comentou: Faz sentido...)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os caminhos do frio








Fotos feitas com celular.

As flores do frio




Fotos feitas com celular.

Do Bem e do Belo

O Bem desmorona prá onde quer que você lance os olhos; o Mal fustiga furiosamente em todos os flancos. Inclino-me  a aceitar que só nos resta uma âncora: o Belo. A ética desfalece; só a estética permanece.  O Mal viceja em  toda a parte entretanto  não destronou o Belo. As flores ainda brotam - inclusive e apesar de -  no pântano. Meno male!

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Uma celebração do Belo são essas imagens deslumbrantes do nascer da Lua Cheia filmado pelo australiano Mark Gee. No final ela paira sobre o mirante de Mount Victoria, em Wellington (Nova Zelândia).
O pessoal se reuniu ali em cima esta noite para ter a melhor visão possível da saída da lua.Capturei o video a 2.1 km de distância, no outro lado da cidade, explicou Gee na descrição de seu trabalho. Segundo seu autor, o material está exatamente como foi filmado, sem nenhum tipo de manipulação.

sábado, 20 de julho de 2013

É uma epopéia... ou seria odisséia?

Ela está melhor,
bem disposta.
Quase andando sozinha novamente.
Me deixou feliz quando a visitei no começo do mês. É meu oásis predileto nesse imenso deserto que é a existência. Nele descanso minha alma, desarmo meu espírito.
Faz 89 anos hoje. Acho que chega aos 100.
Força noninha!

Lendo a Biblia...

Com o filho
...e  a nora.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cartão Postal

Fuji,
tua silhueta emerge,
ora negra, sólida,
ora diluida
em meio às brumas matutinas.
A teus pés a cidade acorda,
prestes a ser invadida
por uma horda
de autômatos,
simples sobreviventes.
Se pensam protagonistas,
são  figurantes,
acidente,
mero detalhe,
dessa comédia,
drama
quiçá tragédia
que representam
em mais um dia de suas vidas.
Passageiros,
passarão.
Você ficará.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Inverno

É inverno lá fora.
Na madrugada fria
chove copiosamente
como a muito não fazia.
No rádio,
a melancolia, a delicadeza, a harmonia
das vozes à capela
que cantam Strauss.
Contraponto providencial
aos aforismos indigestos,
carregados de nihilismo,
que bebo do livro de Cioran.
Viram o estômago,
deixam um travo amargo na boca,
fazem o inverno na alma.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lima Barreto, marginal como yo!

O Brasil não tem povo, tem público.

Orgulho gay

Trabalho na ala norte do andar da minha gerência - vista para o Morro da Previdência, Central do Brasil. A ala dos bem-aventurados é a Sul, vista para a Baia, Pão de Açúcar...Prá quem pode!..
Pois agora desfraldaram um bandeirão com as cores do arco-íris na torre da Central. Deve ser prá comemorar o insucesso no trâmite do projeto da cura gay na Câmara. Nada me divertiu mais do que esse projeto. Contraponto perfeito para a ditadura gay instalada pelos bem pensantes,  os mudernos, com lobby poderosíssimo na midia. Não demora  e o SUS terá que pagar transplante de útero para atender o desejo daqueles gays que sonham com a maternidade. Cada um que faça o que bem entender com o seu corpo desde que não cause dano a terceiros mas sexo é destino.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Bicho do mato.

O ar gelado da madrugada
entorpece minha face,
enrijece minhas mãos,
umedece meus cabelos.
No alto a tímida luz da lua ,
cá embaixo a pálida luz das ruas
insinuam-se pela espessa neblina
para mostrar-me o caminho.
Não há vivalma,
fala o silêncio,
só ouço meus passos.
Acordamos galos, cães, quero-queros,
acordamos o dia.
Estou em paz,
longe daquele insensato
mundo,
bicho do mato.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Aos - muito - práticos diante da vida.

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Dormiu durante uma hora, placidamente e sem sonhos, e ao acordar sentiu-se refeito. O 402 estivera fazendo sinais na parede durante algum tempo; evidentemente, sentira-se esquecido. Inquiriu Rubachov sobre seu novo companheiro de exercício a quem observara pela janela, mas Rubachov o interrompeu. Sorrindo para si mesmo, percutiu com o pincenê:
ESTOU ME RENDENDO.
Esperou, curioso, pelo efeito.
Durante um longo intervalo, nada; o 402 se mantinha em silêncio. A resposta veio bem um minuto depois:
PREFIRO A FORCA.
Rubachov sorriu. Bateu:
CADA QUAL CONFORME A SUA ESPÉCIE.
Esperava uma explosão de cólera do 402; em vez disso, suas batidas vieram enfraquecidas -  resignadas, dir-se-iam.
EU JÁ PENSAVA EM CONSIDERÁ-LO UMA EXCEÇÃO. NÃO LHE RESTA UM PINGO DE VERGONHA?
Rubachov estava deitado de costas, pincenê na mão. Sentia-se contente e tranquilo. Bateu:
NOSSAS IDÉIAS DE HONRA DIFEREM.
O 402 percutiu com rapidez e precisão:
HONRA É VIVER E MORRER POR NOSSA CRENÇA.
Rubachov  respondeu com igual rapidez:
HONRA É SER ÚTIL SEM VAIDADE.
O 402, desta vez, respondeu com mais força e veemência:
HONRA É DECÊNCIA E NÃO UTILIDADE.
O QUE É DECÊNCIA? Perguntou Rubachov, espaçando, calmo, as letras. Quanto mais calmamente percutia, tanto mais furiosas se tornavam as batidas do outro.
ALGO QUE SUA ESPÉCIE JAMAIS ENTENDERÁ, respondeu o 402 à pergunta de Rubachov. Rubachov deu de ombros:
NÓS SUBSTITUIMOS A DECÊNCIA PELA RAZÃO, retrucou.
O 402 não respondeu mais.

(Diálogo entre dois condenados em celas vizinhas da prisão, comunicando-se por código através das paredes)
 O Zero e o Infinito de Arthur Koestler. Agora republicado pela Editora Amarylis. Meu exemplar, é da Editora Globo. Fez bonito na prateleira, por muitos anos. Só agora fui lê-lo.
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P.S. De nada adiantou a conversão de Rubachov para a tribo dos práticos. Da mesma maneira que os ingênuos, os idealistas, ele também dançou.