segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O ano em que a esquerda levou uma surra.

E o Pondé pegou pesado com a esquerda hoje em sua crônica na Folha.
2018 foi o ano em que a direita depois de muitos anos por baixo deu o troco na nossa esquerda que manteve a hegemonia desde que me considero gente, portanto desde os anos 60, nas universidades - em especial nos departamentos de humanas - na cultura, nas artes, na midia e que com a chegada do PT ao poder tomou conta do pedaço.
A partir dos anos 2000, começa a se estruturar um pensamento liberal através de institutos como o Millenium e o Van Mises. e alguns articulistas começam a aparecer na mídia confrontando o pensamento que reinou absoluto nos últimos 50 anos; Pondé é um deles. O embate de idéias revelou o que se suspeitava da esquerda. A tolerância, a aceitação da diversidade defendidos com veemência no seu discurso, não tem contrapartida na prática muitas vezes antidemocrática, autoritária e até desonesta intelectualmente.
Mas o que me incomoda mesmo nela é sua arrogância, sua aura de superioridade ética dada a primazia que dá a justiça social, a certeza de que são suas as soluções para os problemas crônicos do país, mesmo tendo fracassado algumas vezes aplicando-as não apenas aqui mas em  outros países. Confrontada, não argumenta, desqualifica o adversário.  Para comprovar, basta ler  um artigo na Época de 21/12- O ideólogo sem ideologia - em que o antes astrólogo e agora filósofo Orlando Carvalho é comparado ao ornitorrinco. De fato ele tem algumas fixações que fogem do razoável mas a maior parte  do que escreve faz sentido. A comparação é despropositada e mostra como vive numa bolha o  nosso articulista, o roteirista e documentarista Renato Terra. Deve viver o mundo dos cânones que estruturam o imaginário da esquerda que parece não se dar conta de que a vitória do Bolsonaro não é um retrocesso civilizacional e que nem todos seus ideólogos se tratam de pessoas disfuncionais. Há brucutus por lá normalmente pautados pela força e grosseria, mas não se trata da vitória da barbárie contra a civilização. Quem votou em Bolsonaro estava primeiramente farto da obra de 14 anos da esquerda.   Ele talvez represente a face mais radical dessa direita que começa a se expor no debate cultural brasileiro mas é uma escolha democrática e civilizadamente temos que desejar-lhe boa sorte e torcer para que não cometa as insanidades que por vezes proclama.
Ficaria feliz se a emersão da direita mais do que estabelecer o contraponto ao monocórdio - tudo pelo social - da esquerda,  na discussão dos nossos impasses civilizacionais, permita que se passe a  debater e a incorporar valores liberais e conservadores que sempre foram abominados por aqui mas que são prática corrente de povos mais rodados civilizacionalmente, como o valor do indivíduo, da realização pelo esforço individual, o reconhecimento pelo mérito, o ceticismo e a prudência diante dos fatos.
A esquerda mais reativa, entretanto, continua a dar sinais de que nada aprendeu com a surra. Fiel a sua tradição de impermeabilidade aos projetos de quem pensa diferente,  não compareceu à posse do novo presidente e promete um governo paralelo de resistência. 

Anos 60, raiz!

Françoise Hardy. Gata raiz anos 60. Os traços faciais com as maçãs do rosto salientes, o cabelão liso e lavado eram o standard da garota anos 60.  Mas Françoise tinha mais ... tinha olhos azuis....Uauuuu!



Françoise Hardy. More

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Nix

Ufa...terminei. Afinal são 650 páginas!
Nix é a melhor literatura de ficção escrita pela garotada, que me apareceu nos últimos 20 anos.  Já havia lido outras coisas, altamente recomendadas por meus gurus da contemporaneidade. Nada, entretanto,  impactou mais que Nix. Melhor do que ele, lido nestes último anos,   Os Maias de  Eça de Queiroz, mas ele é um clássico. Os clássicos, captam melhor as sinuosidades da alma humana, tem um estilo mais harmonioso; os novos, ficam ainda da superfície e por vezes escrevem desajeitadamente. Leiam a descrição do advogado da mãe de Samuel, o personagem principal:
...seu cabelo castanho era curto, penteado naquele inevitável e desajeitado formato de M típico dos primeiros estágios da calvície masculina.
 ...seu rosto tinha ficado vermelho, uma mudança sutil mas perceptível em relação ao tom pálido anterior, que Samuel teria descrito como um amarelo-bebê cremoso e plastificado. Bolhas de suor grudavam-se na sua testa, como aquelas borbulhas de tinta que aparecem em paredes externas em dias de muito calor.
São, entretanto,  ilhotas de descompasso, imersas em  um oceano de bom texto caracterizado por uma crítica mordaz e hilária à contemporaneidade - obsessão pelo celular, pelos videogames, pela comida natural, para citar alguns - e a alguns de seus atores mais em evidência - a imprensa, políticos, advogados/juizes. Talvez o livro tenho me impressionado tanto pois alguns de seus  personagens sofrem das mesmas dores, enfrentam perplexidades  similares às que vivo atualmente.

Faye, mãe de Samuel, hoje uma senhora da minha idade, viveu sua juventude nos anos 60; participou da batalha de Chicago no final do verão de 68.
- uma pessoa que jamais se sente em casa, não importa onde esteja...Fugiu de casa porque fugir é o que ela sabe fazer.
(olha eu aí!)
...ao olhar para o passado, tudo o que enxerga é aquela vontade de estar sozinha.Livrar-se das pessoas, de seus julgamentos, de suas tramas desastrosas. Pois sempre que se envolvia com alguém, as coisas ficavam confusas e acabavam em catástrofe. 
Samuel, seu filho, um mix de professor de literatura e jogador de videogame:
O que você pode fazer ao descobrir que toda sua vida adulta foi uma farsa? Todas as coisas que pensava ter conquistado - a publicação do conto, o contrato editorial, o emprego como professor - só haviam acontecido porque alguém devia um favor  a sua mãe. Nada daquilo era resultado do seu mérito pessoal. Ele é uma fraude. E esta é a sensação exata de ser uma fraude: um vazio total. Samuel sente-se oco. Estripado.
 Bethany, amor de infância e adolescência de Samuel, violinista clássica;
- Samuel? - chama ela, e ele vira-se de um rodopio.
Até que ponto uma pessoa muda em alguns anos? A primeira impressão de Samuel - e esta é a melhor maneira que ele encontra para explicá-la - é que Bethany está mais real. Já não é uma criatura reluzente das fantasias de Samuel. Parece consigo mesma; em outras palavras, parece uma pessoa normal. Talvez ela não tenha mudado nada; talvez a mudança esteja no contexto. Ainda tem os mesmos olhos verdes, a mesma pele pálida, a mesma postura perfeitamente ereta...Mas há algo diferente nela, sim: agora há vincos junto a seus olhos e sua boca. Não são sinais de envelhecimento ou de passagem do tempo: são marcas da experiência, emoção, sofrimento e sabedoria. É uma dessas coisas que a gente detecta num piscar de olhos, mas não consegue apontar especificamente. 
(esse reencontro guarda muitos elementos em comum com algo que aconteceu comigo nos primeiros meses do ano.)

Também personagens mas com um peso menor:

Guy Periwinkle -  o Sebastian de 68 quando era agitador profissional. O amor de Faye.- Hoje um  publisher cínico e implacável. Joga o jogo.
Pwnage, jogador  épico de videogame, líder de um grupo de elfos  ao qual Samuel pertencia no jogo Mundo de Elfscape.
Alice, a moça de óculos grandes da capa do livro - agitadora profissional em 68 e amiga de Faye - mantinha uma relação sado-masô com - logo quem! - o policial Charlie Brown. Hoje vive com uma companheira à beira do lago Michigan, combatendo espécies vegetais invasoras no ambiente.
Charlie Brown - policial em Chicago em 68 - hoje respeitável juiz da cidade, sorteado para julgar Faye.
Bishop, irmão gêmeo de Bethany e amigo de Samuel na infância. Foi abusado sexualmente pelo diretor da escola em que os tres estudavam quando garotos. Virou um cara durão. Como marine se deu mal no Iraque
Laura Potsdam,  aluna de Samuel : a flor da vigarice. Acabou na política. Onde mais seria...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Na verdade, está todo mundo "se lixando" pro que é verdadeiro e falso.

Guy Periwinkle, o cínico mas realista editor de Samuel, conversando com ele a respeito do mundo em que vivemos:
- O que é verdadeiro? O que é falso? Caso ainda não tenha notado, devo lhe dizer que o mundo meio que abandonou o velho projeto iluminista de investigar a verdade por meio da observação direta dos fatos. A realidade é complicada demais, assustadora demais para isso. Em vez disso, é muito mais fácil ignorar os fatos que não se encaixem em nossas idéias preconcebidas e acreditar naqueles que se encaixam. Eu acredito no que eu acredito, e você acredita no que você acredita, e ficamos assim. É o encontro da tolerância liberal com o negacionismo obscurantista. Algo muito na moda hoje em dia.
- Isso parece horrível.
- Nunca fomos tão radicais em política, tão fundamentalistas em religião, tão rígidos em nossos pensamentos, tão incapazes de empatia. A forma como vemos o mundo, é totalizante e irredutível. Estamos evitando completamente os problemas  levantados pela diversidade e a comunicação global. Portanto ninguém mais se importa com idéias antiquadas como a distinção entre verdadeiro e falso. 
Nathan Hill, Nix,  Intrínseca, 2018.
 

Das - cada vez mais! - insuportáveis contradições da vida! (II)

Enquanto  dou piruetas existenciais para manter o prumo e superar  a dor de mais uma rejeição, recebo uma declaração de amor pelo telefone hoje pela manhã (...já suspeitava que havia  um interesse especial dela por mim). O grande, imenso problema é que - como em diversas outras vezes no passado - não sinto nada de especial por essa pessoa.
Ironia suprema ... a situação repete-se  toda vez que estou atordoado por mais um não que recebo da vida! Fico pensando ....  essa repetição reiterada  do paralelismo entre esses dois fatos não estaria querendo dizer: 
- Meu caro, a vida é a arte do desencontro!
Irei me conformar ou continuarei na batalha? Um dia, qualquer dia, talvez eu acerte...
********
... a questão é que o tempo, mais e mais, fecha suas asas sombrias  sobre mim.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Devastadora...

a  análise do escritor, articulista e empreendedor social Jorge Maranhão  no 9o Ciclo de Palestras da Academia Brasileira de Letras cujo tema é o Barroquismo Brasileiro. É uma palestra de pouco mais de uma hora mas que vale a pena ouvir. Veja alguns trechos onde atribui ao barroquismo  nossa visão de mundo, nossa identidade, as contradições que nos jogam no impasse civilizatório que vivemos. Abaixo algumas mazelas que resultam da nossa visão barroca de mundo:
.......
a supremacia do processo sobre a finalidade,  do atributo sobre o ser, da figura do paradoxo sobre a sentença afirmativa, da ironia sobre o trato e da patranha sobre o contrato porque adoramos as contradições, o relativismo moral, o tom sempre exagerado com que colocamos nossas emoções em tudo. Nossa infinita paixão pelo errado, nossa tolerância para com a transgressão, nosso gosto pela farsa e pela burla pois de fato nunca fomos um país clássico no sentido iluminista como não somos de resto um país moderno. Se tanto somos emocionalmente românticos, que nada mais é que uma recidiva dos valores legados pela visão de mundo barroquista. Para não falar do país do carnaval ou da carnavalização geral do país 
........ 
Não somos mesmo razoáveis, assim como não fomos temperados pela Renascença sequer nos bafejou a razoabilidade iluminista. A sensatez passa ao largo das nossas escolhas, adoramos a desmesura,  o trocadilho e a dubeidade,,  o jogo de palavras, o jogo de idéias, a farsa das narrativas, os meios tons de que somos feitos, pois até no pardo da pele somos pretos ou brancos na conveniência da vez
........ 
Então é isso; estacionamos no Barroco, sem termos experimentado a Renascença. Modernos... nem pensar. Sequer fomos bafejados pelo  Iluminismo.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Colhendo do que se plantou.

Não sei se o Hélio Gurovitz é carioca, porque é difícil para para quase todos eles, alcançarem essa percepção, dada sua  autossuficiência e ausência de autocrítica. Entretanto, a conclusão da sua crônica para  Época de 10.12 em que faz a resenha e critica um livro sobre o nosso inefável Cabral é muito lúcida. No último parágrafo escreveu:
.....
O mais preocupante é outro encantamento, pouco explorado no livro: o transe hipnótico que toma conta da população do Rio, a credulidade no destino glorioso, nos milagres da natureza, na sorte grande, na esperteza que tudo resolve, num passe de mágica, qual um drone que vem do céu é extermina o crime e a corrupção.
.....
O título do livro comentado:
Se não fosse o Cabral - a máfia que destruiu o Rio e assalta o país.
Tom Cardoso, 
Tordesilhas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Tem jeito?

A Ermenegildo Zegna fechou suas lojas no Rio de Janeiro (já foram duas) por uma boa razão:falta de clientes. Mais especificamente 25.
As filiais eram sustentadas basicamente por 25 fregueses. Só que, desse total, 23 foram arrolados ou presos na Lava-Jato na contabilidade da grife italiana.

Lauro Jardim em sua coluna de O Globo de ontem.

*******

Fui ontem com um colega à Igrejinha - é Basílica! - da Penha. Depois da missa para voltarmos para a Zona Sul tentamos um Uber sem sucesso. Optamos pelo BRT, mas desistimos e acabamos apanhando um táxi até a estação Vicente de Carvalho do metrô.
Na bilheteria da estação do BRT, após termos desistido de comprar a passagem,  fomos abordados por uma usuária que nos aconselhou a que entrássemos sem pagar  - afinal não há controle no acesso. Estranhou que quiséssemos fazê-lo, e arrematou:
- Aqui  ninguém paga. Todos entram direto no ônibus.

Os "turbulentos" anos 50!

A gestação do que viria a acontecer nos 60,70,80...


Os "doces" anos 50 (II)




Os "doces" anos 50 (I)


sábado, 1 de dezembro de 2018

A vida é bela!

diálogo entre Samuel - o nosso herói - e seu editor Periwinkle. A primeira frase é de Samuel.
....
- Qual é a grande lição de vida do livro de Molly Miller?
- Simples: A vida é ótima!
- Bem é fácil para ela dizer isso. Nasceu rica. Escolas chiques no Upper East Side. Bilionária aos 22 anos.
- Você ficaria surpreso com a quantidade de fatos que as pessoas estão dispostas a ignorar para acreditarem que a vida é, de fato, ótima.
- A vida não é nem um pouco ótima.
- E é por isso que precisamos de Molly Miller. O país está ruindo ao nosso redor. Isso está claro até mesmo para a multidão distraída, até mesmo para os eleitores desinformados e indecisos. Está ruindo na nossa frente. As pessoas estão perdendo emprego, as aposentadorias desaparecem da noite para o dia, elas recebem extratos mostrando uma defasagem de dez por cento pelo sexto trimestre consecutivo, suas casas valem a metade do que pagaram por elas, seus chefes não conseguem um empréstimo para fechar a folha de pagamento, Washington é um circo, mas suas casas estão cheias de itens tecnológicos interessantes e elas olham a tela do celular e dizem: "Como é possível que um mundo capaz de produzir coisas tão legais seja uma merda tão grande?" 
....


Nathan Hill,  Nix , Perspectiva, 2018

O que nos faz humanos.

Para além da óbvia e manjadérrima  razão - vem lá da Grécia! - penso que a ética também. Somos humanos porque temos a opção e a possibilidade de  sermos  éticos. Alguém conhece alguma outra criatura que tenha essa possibilidade? Desperdiçada na maioria das vezes. No Brasil, pelo menos...
Pois lendo João Pereira Coutinho ontem na Folha, descobri mais uma - notável, diga-se de passagem.

 - ....é a imperfeição que nos torna humanos, ou seja, despertos para a compaixão, para o amor, para o riso ou para as lágrimas.

Leia o artigo para saber como Frankstein era humano, demasiadamente humano.

domingo, 25 de novembro de 2018

Somos o que o passado fez de nós.


(Faye para Samuel)
......
-.....Enfim o que descobriram é que nossas lembranças são coisas físicas, tangíveis. Quer dizer, é possível ver a célula em que cada lembrança é armazenada. Funciona mais ou menos assim; primeiro você tem uma célula imaculada, intocada. Então ela é bombardeada e fica toda mutilada e disforme. E essa mutilação é, em si mesma, a lembrança. Nunca se apaga, na verdade.
........
- Sabe aquele artigo na Nature? ....O que realmente me impressionou é que nossas lembranças estão no cérebro em si, costuradas na carne. Tudo o que sabemos sobre nosso passado está literalmente marcado em nós
.........
- Não é  óbvio? Toda lembrança é na verdade uma cicatriz....

Nathan Hill, Nix, Intrínseca, 2018

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Herói?

Todo o imbróglio envolvendo o CEO brasileiro do conglomerado Renault/Nissan, Carlos Ghosn, chamou-me atenção pois sempre dizia de mim prá mim: 
Ele era uma contra-exemplo para os pessimistas de plantão. No pântano também nascem flores!
Pois não é que ele trambicou também? Fiquei desalentado. Brasileiro não tem jeito!  Eram tão poucos os bons exemplos dos quais podíamos nos orgulhar mundo afora! Pois Carlos Ghosn é mais um cedro do Líbano que cai. (com trocadilho e tudo...)
Clóvis Rossi, aborda esse escândalo no mundo da alta finança,  no seu artigo de hoje para a Folha. Chamaram-me a atenção as definições de herói com que ele povoou seu texto.

********

Para John O'Neil, presidente da Escola de Psicologia Profissional da Califórnia, herói foi Nelson Mandela, não o então presidente sul-africano, mas o prisioneiro que, nos 27 anos de cadeia, enfrentou "a escura noite da alma" e saiu inteiro : Quem consegue satisfazer a si próprio nessas horas escuras de encontro com a alma é o herói, ensinou O'Neil.
Herói é uma pessoa que permanece humana em uma sociedade desumana, ensinou por sua vez Elie Wiesel, esse extraordinário escritor, humanista, Nobel da Paz (morreu em 2016).
Herói é aquele que nunca acha que está sendo bem-sucedido, preferiu Theodore Zeldin (Oxford, Reino Unido)

********
Pois olha! a primeira e terceira definições me caem como uma luva.
Lê-las, na noite escura que atravesso, é música para meus ouvidos. Alquebrado, aos farrapos,  arrastando-me pelo chão da vida,  e  herói...
embora, solitário!
Eles existem? Lembro de um.
John Wayne entregando Natalie Wood - linda! - para a família e sumindo na poeira da estrada no final de The Searchers dirigido por John Ford.
Quanta saudade dos westerns, onde o preto era preto e o branco era branco.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

História para adultos.

.......
O Nix, disse ela, era um espírito das águas que vagava pelo litoral em busca de crianças, especialmente aquelas intrépidas que andassem sozinhas. Ao encontrar uma, o Nix se mostrava a ela na forma de um grande cavalo branco. Desencilhado, mas amigável e manso. Abaixava-se, tanto quanto possível para um cavalo, oferecendo o lombo para que a criança montasse.
No início as crianças ficavam com medo, mas, no fim das contas, como poderiam recusar? Um cavalo só para elas! Então saltavam para cima dele e, quando o animal se erguia de novo, descobriam-se dois metros e meio acima do solo e se sentiam deleitadas - nenhuma criatura tão grande jamais lhes dera atenção. Isso as encorajava. Para irem mais rápido, as crianças então batiam os calcanhares no cavalo, que saía em um trote largo, e, quando mais elas se alegravam, mais rápido ele corria.
Desejavam que outras pessoas as vissem.
Desejavam que os amigos olhassem com inveja para aquele cavalo novo e lindo. O cavalo delas.
Era sempre assim. Primeiro, as vítimas do Nix sempre tinham medo. Depois sentiam-se sortudas. Depois confiantes. Depois, orgulhosas. Depois, aterrorizadas. Incitavam-no a correr mais e mais rápido, até alcançar um galope total, agarrando-se ao pescoço dele. Essa era a melhor coisa que já acontecera com elas. Nunca tinham se sentido tão importantes, tão cheias de prazer. E só então - no ápice da velocidade e da alegria, quando acreditavam estar em total controle do animal, em sua total posse, quando mais desejavam ser invejadas por isso, no auge da vaidade, da arrogância  e do orgulho - o cavalo se desviava da trilha que levava à aldeia e galopava em direção aos  penhascos à beira-mar. Corria em velocidade máxima rumo ao grande despenhadeiro junto às águas revoltas e turbulentas. E as crianças  gritavam e puxavam as crinas dele, choravam e pediam socorro mas era tudo inútil. O Nix saltava do abismo e despencava para o mar. As crianças continuavam agarradas ao pescoço dele enquanto caiam e, caso não morressem despedaçadas nas rochas, afogavam-se nas águas geladas.
........
Quando a história do Nix foi contada a Faye, seu pai explicou que a moral era a seguinte: Não acredite em nada que pareça bom demais, para ser verdade. Mas depois ela cresceu e chegou a outra conclusão, que partilhou com Samuel um mês antes de abandonar a família. Contou a ele a mesma história, mas acrescentou a própria moral:
- As coisas que você mais ama são as que mais irão machucá-lo.
Samuel não entendeu.

Hill, Nathan, Nix (cap. 5), Intrínseca, 2018.

Para os mestres nas artes do coração.

Quisera ser o arco,
você a flecha.
Não será, nada será.
Não passo de traço,
personagem opaco,
irrelevância,
a desfilar pelo teu palco.

Siga seu coração!
Viva seus sonhos!
(Não são aforismos dos nossos mestres
nos caminhos meandrantes dos sentimentos?)
Pois não devo; a dor me consumiria.
É à  razão cruel e fria - logo a ela! - que recorro;
o derradeiro porto que me resta,
meu último grito de socorro.
Quanta  ironia!

sábado, 17 de novembro de 2018

Dormindo com o inimigo!

A Folha traz hoje uma matéria feita com a diretora do Latinobarómetro - Marta Lagos - tentando explicar a vitória do Bolsonaro. Chamou minha atenção o espanto dela -  a mim não espanta mais pois constato o fato diariamente nas minhas relações pessoais - quanto ao percentual incrivelmente baixo de brasileiros que acreditam em outra pessoa.


Quando vemos o nível da confiança interpessoal, ele é de 4%. É basicamente uma sociedade em que um não confia no outro, em que a confiança está se voltando apenas a pequenos grupos, como os familiares. É muito perigoso esse processo, porque destrói a possibilidade de se construir cidadania”, afirma Lagos.  E ela acrescenta: “fica-se com a sensação generalizada de que todos devem defender-se contra todos. E se a confiança no outro vai mal, muito pior vai a confiança em instituições e no Estado”.

Desse ser o maior valor no mundo! Pudera, com tanto trambique e trapaça na praça e na alcova também. O próprio Bolsonaro declarou nessa semana que confia full apenas no pai e na mãe. Não citou  mulher, nem  filhos....É preciso dizer mais! Não se constrói uma nação com esses índices. Vamos ter que mourejar muito ainda para chegarmos lá.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Parábola para os nossos dias.

É a página que abre Nix, primeiro romance de Nathan Hill, Intrínseca, 2018. O livro não é um portento literário, mas é uma crônica devastadora e bem-humorada das idiossincrasias do nosso tempo - obsessão por comida saudável, dependência mórbida do celular... - além de abordar com inteligência e sensibilidade as atemporais solidão e frustrações com a vida. Tem futuro o garoto!
-----------

Havia um rei em Savatthi que certa vez convocou um homem e lhe ordenou que reunisse todos os habitantes da cidade que tivessem nascido cegos. Quando o homem completou a tarefa, o rei pediu que ele mostrasse um elefante aos cegos. A algumas pessoas ele apresentou a cabeça do elefante; a outras, a orelha; a outras, a presa, a tromba, o tronco, a pata, as ancas, o rabo ou o tufo de pelo da ponta do rabo. E a cada uma das pessoas o homem disse: "Isto é um elefante".
Quando o homem informou ao rei que a tarefa estava cumprida,o rei foi até os cegos e lhes perguntou:"Digam-me, cegos, como é um elefante?"
Aqueles a quem a cabeça do elefante fora apresentada responderam: "Um elefante, majestade, é como um cântaro de água". Aqueles a quem a orelha fora apresentada responderam; " Um elefante é como uma joeira". Aqueles a quem a tromba fora apresentada responderam: "Um elefante é como a relha". Aqueles a quem o tronco fora apresentado responderam: "Um elefante é como um arado". E todos os outros, da mesma forma, descreveram o elefante de acordo com a parte que lhes fora apresentada.
Então dizendo "Um elefante é assim, um elefante não é assim! Um elefante não se parece com isso, um elefante se parece com aquilo!" os cegos se puseram a lutar uns contra os outros, aos socos.
E o rei ficou imensamente satisfeito.

- Ditos Inspirados em Buda 


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Id

Os porões da alma
arrombam
as portas do nosso prosaico eu,
feito lava irrompendo pela encosta de um vulcão.
Selvagens,
obtusos e abjetos
vertem
cataratas incontidas de dejetos,
paixões desmesuradas,
põem a bulir
corações descuidados,
lançam vidas
em mares tormentosos
nunca dantes navegados.
Pudera eu deles fugir,
incapaz que sou para contê-los,
impotente em detê-los.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Pois a minha parece...

  - Nunca é bom sinal, quando a vida  parece um romance de Dostoievski.

diz a professora de literatura russa da Universidade do Kansas, Ani Kokobobo  in Helio Gurovitz Quando a vida parece um romance de Dostoievski , Época, 29.10.2018.

Talvez por isso ela doa tanto!

Hubris


A petezada costuma cultivar uma certa arrogância, uma certa superioridade, que não sei de onde tiraram isso.

Ciro Gomes - O confronto Final - Época, 29.10.2018

Pois é Ciro, acho que não é só a petezada. Quase toda esquerda está nesse bonde. Há muito observo isso e tento encontrar uma razão. Parece que preocupar-se com o social..., com os fracos e oprimidos...,  com as  desigualdades do país, lhes dá uma certa humanidade, uma aura ética que os faz distinguir-se dos demais, um álibi para justificar os heterodoxos meios. Eles são do bem porque suas prioridades são com o andar de baixo. Quem ousa discordar é... neo-liberal, opressor, conservador,...

sábado, 3 de novembro de 2018

Sabedoria


É preciso estar sempre embriagado. Com vinho, poesia, virtude, a escolher.

Charles Baudelaire

Waiting for...


À ESPERA DOS BÁRBAROS

 Konstantinos  Kaváfis

O que esperamos na ágora reunidos?

      É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      Que leis hão de fazer os senadores?
      Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      O nosso imperador conta saudar
      o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
      um pergaminho no qual estão escritos
      muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

      É que os bárbaros chegam hoje,
      tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

      É que os bárbaros chegam hoje
      e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

      Porque é já noite, os bárbaros não vêm
      e gente recém-chegada das fronteiras
      diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

                    [Antes de 1911]

poesia.net
http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet064.htm

O sentido da vida

Meu desencanto com um mundo carente de sentido vem de longe. O desencanto começou nas aulas de filosofia, no meu namoro precoce com o existencialismo - lembro da Náusea de Sartre; não é livro para se ler aos 20 anos!
A carência de sentido veio mais tarde com a morte do meu pai.
A frase seguinte extraída da coluna do Mario Sergio Conti para a Folha de hoje parece fazer justiça a minha passagem por essa existência. É o sentido da vida que me cabe:


O sentido da vida de cada um está na capacidade de resistir, de enfrentar o destino sem pensar no testemunho dos outros nem no cenário dos atos, mas no modo de ser; a morte desvenda a natureza do ser e justifica a vida”.


Capacidade de resistir... ( é a minha força!)
Enfrentar o destino sem pensar no testemunho dos outros mas no modo de ser...  (sou tão diferente dos outros que foi a saída que me restou. Seja marginal, seja herói! ).
Palavras que são  música para minha existência  cansada de dançar para a vida.
Então é isso... ao apagar das luzes, achei  um sentido prá ela!

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Diz muito sobre os tempos que vivemos (II)

É a praga destes tempos que os cegos sejam guiados por loucos.
William Shakespeare - Rei Lear, Ato IV, Cena 1.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Hai Kai

Os destroços
que restaram do meu naufrágio,
não passam de meros
ossos de ofício.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Without music, life would be a mistake.

A frase é atribuida a  Nietszche que nunca me fez a cabeça. Depois de ouvir esse Agnus Dei acho que terei que reconsiderar.



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Diz muito sobre os tempos que vivemos


A morte da objetividade me alivia da obrigação de estar certo. Ela apenas exige que eu seja interessante.


Stanley Fish in  Kakutani, M., 2018, A morte da Verdade: Notas sobre a mentira  na era Trump, Intrínseca.

Tudo a ver ...

...com com os dias tempestuosos que vivo.


quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Que ricas opções!

E cá estamos nós depois dos resultados do primeiro turno, com opções de escolha simplesmente  assustadoras;  entre um grupo que levou o país à ruína econômica, que se abateu especialmente sobre os mais pobres  ou um grupo  - outsider no establishment -  despreparado e primitivo. Sobre ambos paira a suspeita de autoritarismo
Estamos colhendo o que semeamos. É da regra do jogo.

É primavera! (II)

Na mata,
a cada nascer do dia,
bem-te-vis e sabiás
alternam-se a reger
uma colorida e alegre sinfonia.

Nos jardins do escritório,
as murteiras
vestem-se com  efêmeras florezinhas brancas
que rescendem a jasmim
e flor de laranjeira.

Nas ruas,
as pessoas despem-se
de suas roupas  cinza
de suas almas  duras.
Investem nas cores
abrem as portas para a alegria.

Enquanto eu,
coração desafinado,
desafio a pequenez,
namoro com o abismo.
Embalo minha dor
com o lamento
do violão de Paco de Lucia
em  Concerto de Aranjuez.

sábado, 6 de outubro de 2018

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Kafkiano.

E vamos para o debate final dos candidatos a presidente da República, sem a participação dos dois protagonistas centrais  da campanha do primeiro turno. Um deles porque está na cadeia - Lula lá - o outro - o capitão - porque  recupera-se em casa de ferimento a faca que sofreu durante a campanha. 
Kafka se foi sem conhecer o Brasil;  da missa não soube a metade.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Provocação

Marcos Lisboa em seu artigo dominical para a Folha de domingo comentando o cenário político atual, lembra que faltam  grandes líderes no país e cita o exemplo de Churchill, que bebia além do razoável, - ótimo! - mas que liderou a resistência britânica a Hitler, abstêmio e vegano.
Olha aí... Hitler aquela flor de pessoa, vegano! Como muitos veganos que conheço consideram-se seres superiores, - a opinião não é pessoal, mas compartilhada por muitos - lhes deve ser extremamente desconfortável a companhia desse rapaz.
É óbvio que não há uma relação de causa e efeito entre o fato de ele ser vegano e as atrocidades que cometeu -  Mao e Stalin, dois outros açogueiros da humanidade, eram carnívoros - entretanto, cabe lembrar àqueles que andam de nariz empinado pelo fato de não comerem carne e terem outros hábitos saudáveis, de que  também não há correlação entre veganismo e virtude.

Efeito Orloff

Houve época em que dizia-se que sofriamos o efeito Orloff em relação a Argentina, pois o que acontecia aqui era uma sequência natural do que por lá se passava, especialmente na política. Baseava-se numa campanha publicitária da vodka Orloff  em que para exaltar-se as qualidades da bebida alguém dizia lá pelas tantas :
- Eu sou você amanhã. 
Um velho amigo meu pensa que toda essa subserviência, essa fixação quase doentia em uma pessoa que se observa em consideráveis estratos da nossa população em relação a Lula, está reproduzindo a devoção que os argentinos tem por Perón; ambos populistas e considerados pais dos pobres  As consequências para a Argentina foram  nefastas e fizeram o país afundar numa crise da qual ainda não conseguiu sair. E lá se vão 80 anos.
A provável eleição de um seu preposto, mesmo com legado de ruínas na economia deixado pelo último  governo Dilma,  parece indicar que o lulismo será o nosso peronismo.
Que Deus tenha pena de nós.

domingo, 30 de setembro de 2018

Elogio da timidez.

Sou de um tempo em que a timidez era uma característica da personalidade. Houve época no seminário saindo da adolescência para a juventude em que os padres tentavam prescrutar nossa personalidade e avaliar nossas aptidões. Havia uma classificação de temperamentos muito popular e usada por todos para se identificar através de testes: líder, fleumático, melancólico, colérico... eram sete se bem me lembro. Meu teste? Melancólico na cabeça! Como ascendente: líder. Basicamente é isso mesmo. Sou um líder melancólico. Estranha conjunção! Meu mapa astral também é a junção de  opostos: sou Libra com ascendência de Saturno
E lá  fui eu estudar o melancólico que tem entre características dominantes a introspectividade e a timidez. Demorei muito para me aceitar como, pois considerava o melancólico  o patinho feio dos temperamentos. De fato ele é um pouco o primo pobre do  grupo mas também tem qualidades: sensibilidade, lealdade...  E havia  o líder associado que ajudava para um certo auto-engano.
Para minha surpresa, anos atrás, li um artigo de um colunista de O Globo, que baixava o porrete nos tímidos chamando-os de chatos. Tratava a timidez como um defeito. Dei um desconto pois ele era carioca e por aqui as pessoas se consideram extrovertidas e solares por natureza.
A morte de Otávio Frias, proprietário da Folha e seu redator-chefe, há um mês atrás - um introvertido, segundo seu círculo de amizades - motivou  uma coluna do Pondé nessa mesma Folha em que se  elogia a timidez. Fico feliz que em tempos que pedem para que nos apresentemos esfuziantes, em que o mercado das relações privilegia o marketing pessoal, em que mise-en-scene e caras e bocas contam muito, alguém faça a apologia da timidez.
Os cães podem continuar ladrando; a caravana dos tímidos - discreta como sói ser - vai passar.
 - Sorry, periferia! 

...e seremos governados do presídio!

A julgar pelo resultado recente das pesquisas estamos condenados a isso.
Democracia tem dessas coisas. Ela dá o que o povo pede... para o bem e para o mal. Hitler foi eleito democraticamente; Chavez também.
Voto em Marina no primeiro turno e nulo no segundo. Os dois que passam - Bolsonaro e Haddad -  não merecem meu voto.Vou repetir uma trajetória de insucessos que vem desde a primeira eleição de FHC, a única em que coloquei meu escolhido na Presidência. Pelo menos pelo voto, não ajudei a arruinar esse país.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Abandono

Uma faca perpassa,
uma espada atravessa,
uma alma - já -  aos pedaços,
Nenhuma mordaça sufoca
seu grito de dor.

As luzes  turvas,
as cores baças
filtradas pelas lentes grossas
das  muitas lágrimas.
Elas vertem a dor
que brota em mim.




quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Tragédia brasileira (III)


Agora a tragédia é  de natureza pessoal. A canção remete a um tempo em que eu sonhava; 50 anos depois  vai embalar a minha dor.  Hoje, por estranhos desígnios dos deuses, ela marca mais um tsunami existencial. A sensação é de que perdi o bonde da vida.
Sobreviverei? Não sei quantas das sete vidas me restam, mas estou próximo do limite. Foi assim que nessa noite que não esquecerei...entre charutos e brandy , o rei ficou nú outra uma vez. 
Meno male que os charutos eram cubanos, mas a dor é infinita!
PS - A canção a que me refiro no texto é a inicial. Não há como cortar as seguintes. Caso  você curta a Jovem Guarda pode se dar bem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Tragédia Brasileira (II)

Ter como opções para presidente,  um cara que está no hospital porque foi esfaqueado ou então um pau-mandado de um cara que está preso.
O primeiro é considerado um mito pelos seguidores, o segundo, um salvador da pátria,   D. Sebastião redivivo pelos seus.
É hora de fazer as malas e ir pro Galeão.

domingo, 9 de setembro de 2018

Tragédia brasileira

De tudo que li e ouvi a respeito do incêndio do Museu Nacional,  o comentário que melhor explica tudo o que ocorreu - não lembro onde o li ou ouvi:

O desleixo, a incúria, a má administração conseguiram destruir em poucas horas o que o tempo curiosa ou cuidadosamente guardou  por 12.5/13 mil anos: o fóssil Luzia, o mais antigo humano encontrado na América Latina.


Somos um país atrapalhado, como escreve Marcos Lisboa na sua coluna Cúmplices na Folha de hoje.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

O peso dos anos.

Fazem praticamente dois meses, fui convidado por um colega para subir o Bico do Papagaio.  Com uma altitude de 989m,  fica abaixo apenas do Pico da Tijuca com 1022m  dentre os picos do Parque da Floresta da Tijuca. O colega é quase um ironman, e - prá ele -  a subida é uma moleza. De fato é, até quase o final mas  nos últimos 100/200m a caminhada se torna praticamente uma escalada. Cheguei ao topo fazendo das tripas, coração. É punk! Outro colega na mesma faixa de idade que também participou da aventura, sentiu  menos o esforço. Conseguimos descer, para alegria do nosso ironman, uma vez que ele começou a se preocupar com nosso estado lá no topo. Já pensou ter que convocar a Defesa Civil para descer os dois velhinhos!
O que importa nisso tudo é o rebate a posterioriEstou com edema nos joelhos, tendinose em ambos os tendões de Aquiles e as panturrilhas doem imensamente sempre que inicio a andar após estar hora ou mais parado. É como se tivesse havido falência generalizada das pernas. Senti a velhice pela primeira vez em minha vida. E tem mais...como estou afastado de qualquer atividade física a barriga deu para aparecer. Duro é ouvir dos inefáveis marqueteiros que a velhice é a melhor idade!
Ouvi de meu pai, no alto dos seus 70 anos: 
Meu filho, é duro ser velho!
Estou começando a acreditar ....apesar dos marqueteiros!

domingo, 2 de setembro de 2018

Epistemologia tribal

Sou um leitor contumaz da Folha, fazem pelo menos 30 anos. Sempre a considerei um jornal plural pois abriga colunistas de todas as tendências do espectro político e até mesmo cultural, embora neste o pensamento seja mais monolítico. Sua linha editorial, entretanto, sempre foi claramente liberal. A morte de Otávio Frias Filho, seu redator-chefe, que fez uma revolução no jornalismo brasileiro com seu Projeto Folha, provocou manifestações de representantes de todos os espectros da vida nacional todas elas celebrando esse ecumenismo de idéias promovido por ele, um sujeito cético diante do mundo - opinião corrente - e que estimulava e permitia o debate de idéias. De fato são inúmeras as colunas e blogs de jornalistas de esquerda tanto no jornal como na UOL. 
Mesmo assim, para a maior parte da  esquerda - que foi bem comedida nos elogios - toda a grande imprensa é vendida aos interesses do grande capital. A propósito dessa postura da esquerda, Demétrio Magnoli no seu artigo de 25.08 na Folha fala de epistemologia tribal, um fenômeno de nossos dias provocado por algumas correntes de pensamento que erguem uma realidade fática que nega tudo o que seja estranho a ela. Nega que haja déficit da Previdência, nega que a Petrobras tenha problemas financeiros, nega que a recessão econômica atual seja resultado da política econômica desastrada dos anos finais do governo petista. Como contraponto, elabora narrativas que constroem uma realidade  própria, um mundo paralelo no qual seus seguidores acreditam com a fé dos convertidos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Um país governado a partir da cadeia...

Vai que ganhe o Haddad... Com todo o pessoal da cúpula do PT  fissurado - coisa de religião! - no seu lider maior que está preso, poderemos ser um país governado de fato por um presidiário.
Na terra em que boi voa, qual a surpresa? Afinal, é de domínio público,  que os maiores bandidos presos (Marcola, Fernandinho Beira-Mar,...) comandam seus grupos de dentro da cadeia.  Que diferença faria,  sermos governados por um político que está preso? 

Rima Pobre


terça-feira, 31 de julho de 2018

Espiritualidade

Tá na moda. E estando na moda,  incomoda.
***********
Luiz Felipe Pondé não deixa barato na sua crônica de ontem na Folha - Espiritualidade Contemporânea: 


A espiritualidade está na moda. Muita gente diz que tem espiritualidade mas não tem religião. Com isso quer dizer que é legal, não é materialista, mas nada tem a  ver com as barbaridades cometidas pelo cristianismo. Se tiver grana, será uma budista light. Aquele tipo de budista que frequenta templo de fim de semana e paga R$ 100 reais para lavar o chão a fim de sentir a dimensão espiritual do trabalho físico.
.............
Não vou entrar na questão técnica e histórica da relação entre espiritualidade e religião. Mas, sim, é possível uma pessoa cultivar uma busca de sentido na vida para além da banalidade das demandas e rotinas do cotidiano, estando ou não vinculada a alguma tradição religiosa.
O centro da busca é o reconhecimento de tensões nessa rotina que nos fazem sentir um esvaziamento de significado desta mesma rotina, sem necessariamente depender diretamente de conteúdos advindos das tradições religiosas à mão.
..............
A espiritualidade nasce da percepção de mal-estar da condição humana e da tentativa de lidar (ou superar esse mal-estar) e não apenas do deslumbramento com a série “Vikings”. Essa busca se iniciou no alto paleolítico quando o Sapiens começou a perceber que havia algo de “errado” em sua condição (sofrimento, insegurança, morte, violência e por aí vai).
 .............
As grandes tradições espirituais sempre falaram de sofrimentos reais e não de modas culturais, como no caso que descrevi acima (day temple, Jedis, ET e semelhantes). Um dos temas contemporâneos mais avassaladores é a obrigação de ter sucesso e prosperar. Nesse contexto, repousar é justificado, apenas, se o repouso for causa de maior avanço.
A pessoa é chamada a ver a si mesma e a sua vida como um recurso a ser explorado e transformado em ganho de alguma espécie. Formas variadas de “coaching” apressados, assim como workshops de fim de semana “ensinam” as pessoas que timidez é pecado, insegurança é “justamente” punida com fracasso financeiro, recusa de escolher o que é “novo” é uma nova forma de doença mental.
Nesse contexto de produtividade opressiva, formas falsas de espiritualidade associadas ao mundo corporativo ou do trabalho crescem como um discurso que daria ao imperativo do trabalhar 24 horas por dia (24/7, como dizem os americanos) uma aura de movimento quântico em direção ao sucesso eterno.
Por isso, qualquer espiritualidade contemporânea deve olhar de forma desconfiada para essas tentativas de associar o sucesso ao universo espiritual. Ou a ideia de que produtividade e eficácia implicam uma melhor gestão do karma.
Se a espiritualidade toca em temas “negativos”, ou seja, nas contradições que somos obrigados a enfrentar na vida, ela não poder ser infantil como essas formas de idolatria do sucesso. Nutro uma desconfiança profunda por quem, o tempo todo, vê a vida como uma empreitada para a prosperidade.

***********
Marcio Tavares D'Amaral em  Fé, religião, radicalização  escrito para O Globo em  06.08.2016 é mais didático:


Espiritualidade, fé e religião são palavras que às vezes confundimos. É habitual ouvir-se alguém afirmar que tem a fé cristã, ou muçulmana. Seria mais correto dizer: Tenho fé em Deus ( Yahweh, o Pai, Allah) e professo a religião cristã, judaica ou muçulmana. A fé é uma relação profunda com o transcendente. Pode ser desordenada ou doce. Mas é sempre uma relação com o incomensuravelmente maior do que nós. A religião põe ordem na fé. Estabelece rituais, práticas e normas. É a lei. Tem a função de regular. Não permitir que as manifestações de fé em estado puro encham o mundo da diversidade subversiva da graça de Deus - E ainda há a espiritualidade. Essa não exige fé, e pode prescindir da religião.
A espiritualidade tem a natureza de uma sabedoria. Pode também pedir rituais. Mas não adora. Não há um deus na outra ponta. Não exige fé. Pode ser encarada como, formalmente, uma religião. O budismo é assim. É uma sabedoria de viver, baseada, paradoxalmente, na ausência de sentido da vida. E na busca de um desapego, de iluminações. As religiões do Livro, ao contrário. Afinal, livros servem para definir sentidos. Lê-se  para aprender a vida como Deus a quer. É em torno dos Livros que as religiões monoteístas se organizam. E a fé se fortalece pela prática dos ritos, ou se perde neles e fica seca. Às vezes há fé na reza de um rosário. Às vezes só há contas. Como pode acontecer com o masbaha que os muçulmanos desfiam enquanto conversam ou trabalham. Ou com a kipá judaica: humildade perante Yahweh ou apenas um chapéu. Espiritualidade, fé e religião podem, no limite, se excluir.

domingo, 29 de julho de 2018

sexta-feira, 27 de julho de 2018

In memoriam...

Oksana Sachko, ucraniana, foi-se aos 31 anos. Muito cedo! Era co-fundadora do Femen, exilou-se em Paris depois das violências sofridas em seu país mas não guentou a barra que a distância da terra natal e as demandas da cidade grande fazem para uma garotinha que nasceu e se criou no interior da Ucrânia - a julgar pelo pouco que li a respeito dela. Não conseguiu superar o peso da solidão. Solitário de carteirinha que sou, presto minha homenagem. Aliás, quem se suicida cedo na vida é porque sente a vida mais do que os outros. Longe de covardia, considero o suicídio um ato de suprema coragem.
Conheço o Femen pela imprensa que faz questão de dar importância a  suas manifestações pois o mulherio todo protesta de peito de fora prá alegria dos machos do planeta e de leitores de jornal e telespectadores. Não conheço em detalhes suas bandeiras contra a discriminação da mulher e opressão masculina e nem vou discutí-las, pois certamente  discordaria de muitas delas.
A segunda razão para homenageá-la e o fato de que  Oksana também era pintora. A marcante influência da igreja na infância fizeram-na pintar madonas de uma forma iconoclástica. Como sou meio fissurado nas madonas que os italianos pintaram na Renascença vou mostrar um de seus quadros. Instigante! para usar um termo dos nossos mudernos.
PS - Ela é responsável por minha rendição ao  Instagram.

  

terça-feira, 24 de julho de 2018

Dr. Bumbum

É mais um exemplo das escolhas erradas que fizemos como país. Estamos colhendo o que plantamos. 
O que me chamou a atenção foi o depoimento de uma das vítimas  que justificou a opção pela intervenção com o nosso herói com o fato de ele  ter mais de 500 mil seguidores no Instagram. Com critérios de legitimidade/credibilidade pessoais/profissionais como esse não se poderia esperar outra coisa que um final trágico como esse.
P.S.  Li por aí, que Neymar Jr., outro dos nossos heróis, tem 100 milhões de seguidores no Instagram. Caramba.... eu não consigo chegar a 10 seguidores no meu blog. Meu Deus, onde foi que errei?

sábado, 21 de julho de 2018

Desalento até a última gota.

O país não dá tréguas na sua marcha para a insensatez. O buraco em que nos metemos parece que não tem fundo. É impressionante o desalento das pessoas. Para ilustrar, algumas frases do primeiro post em seu blog após retorno de férias - Brasil cava seu abismo com insistência e método  -  do jornalista Josias de Souza, publicado pelo UOL em 17.07.2018:
..............
...volto ao trabalho com uma nova visão sobre o Brasil, o mais antigo país do futuro em todo o mundo.
................

...Consolidou-se durante a Copa a sensação de que todos os países são difíceis de consertar. Só o Brasil é impossível....
.................

As histórias de horror que ouvimos nos últimos anos —de partidos antropofágicos em guerra permanente, de cofres estuprados, de desemprego selvagem, de impunidade sádica, de bombas orçamentárias —são meras camadas de um abismo que continua a ser cavado com persistência e método.
..................

Andre Aciman


....é egípcio, migrou para os EUA onde é professor de Teoria Literária na Universidade da cidade de Nova Iorque. Escreveu quatro romances, um deles: Me Chame pelo seu Nome, teve roteiro oscarizado em 2017. Os dois textos abaixo foram pinçados de uma entrevista que ele deu à Folha, de 21.07.2018.
.................
....para todos nós, a vida é apenas uma grande solução em suspenso, não há solução. Só há talvez a morte. De outra forma, as coisas não se resolvem, não há um encerramento para nada....
.................
O tema medíocre, você poderia dizer, é a sexualidade humana. O que poderia ser mais estúpido do que a sexualidade humana?

E, no entanto, olhe só, ela domina toda a nossa vida, ela basicamente nos marca e nos faz fazer todo tipo de coisa. É um impulso humano, que nós aceitamos e toleramos, e jogamos segundo as suas regras. Mas, ao mesmo tempo, não é exatamente o aspecto mais lisonjeador da nossa humanidade. Talvez seja, não sei.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Allez les bleus!

 e se foi mais uma Copa do Mundo,o evento dos eventos para nós brasileiros. Jogamos nossa redenção no futebol,  único tópico que nos põe na liderança das demais nações do mundo. Nos demais, raramente nos colocamos em posição superior à quinquagésima, num universo em torno de 120/130 países. E olha que somos uma das maiores nações do mundo em extensão territorial, população, o oitavo PIB do mundo, mas como disse Roberto Campos, não perdemos nenhuma oportunidade para não dar certo. A hora do futebol dá todos os sinais de que está chegando; afinal  estamos fora das finais fazem 16 anos, e o que nos ancora existencialmente como nação, pode deixar de existir. A perspectiva de perdemos o cetro do único reinado que nos cabia é bem real e vai nos deprimir ainda mais.  
 Noves fora o Brasil, onde  nas partidas da seleção, o país para literalmente como se uma bomba de nêutrons fosse nele jogada  - cessam violência, os crimes, as doenças, transferem-se cirurgias... -  é incrível a capacidade que o futebol tem de atrair aficcionados no mundo inteiro. Há muitas explicações para o fato, todas mais ou menos apoiadas na justificativa da aleatoriedade dos seus resultados. Transcrevo parte de duas delas:  
..........
Amamos o futebol porque ele é o esporte mais parecido com a vida. Não jogamos com o que temos de melhor, as mãos, mas com o que as regras e o contexto permitem, os pés. Jogamos (e vivemos ) sozinhos, mas junto aos outros, sem os quais não haveria jogo, nem vida, e nem mesmo conseguiríamos sonhar com quem somos.
Jogamos o melhor que podemos e, às vezes, somos os melhores ou nosso time é. Mas a frequência do evento máximo e definidor, o gol, é tão rara em 90 minutos que ser melhor está bem longe de estar certo de vencer. E definir esse “melhor” é imponderável como a vida. Um time pode ser melhor, mas no outro bate mais forte o coração, ou as mentes estão mais conscientes e compenetradas no que fazer. A tribo pode estar mais unida.
Os fatores são infinitos, muito mais complexos do que “saber jogar melhor”, como na vida. E a contingência pode ser decisiva, como nós, trapezistas da existência, bem sabemos. Um craque sozinho faz uma jogada genial e decide o jogo. Um grupo de amigos “forma uma corrente”, gera uma emoção e ganha o jogo. Sabe-se lá? Parece a vida.
............
Sérgio Bessermann, Vida e Futebol, O Globo, 08.07.2018

...........

O futebol é uma arte inigualável, uma proposta de movimento humano que se aproxima muito de tanta coisa que ficou combinado que deve merecer elogios. Como a dança, por exemplo. O futebol não é uma brincadeira sem princípios ou destino, mas a execução de um sistema de efeitos e resultados múltiplos que se parecem muito com o esforço que o ser humano faz para sobreviver desde sempre.
Sempre gostei da versão de que o drible fora uma invenção de nossos filhos de escravos que, no final do século XIX, completavam a escalação dos times formados pelos filhos da elite inglesa no país. Como eles não podiam reclamar das faltas do adversário poderoso, os negros desses times inventaram o drible para escapar da violência dos filhos de senhores.
Como na vida humana, o futebol não se resolve apenas com o exercício de um desejo, da criação de estratégias e de táticas que inventamos para sermos bem-sucedidos. Ele depende também do acaso, da possibilidade de a jogada não se resolver do modo que planejamos. Podemos não fazer o gol que imaginamos, assim como podemos sofrer o gol que fizemos tudo para evitar. No futebol, a vontade dos atletas nem sempre é obedecida pela sorte em campo.
Só para dar alguns exemplos, a Holanda dos anos 1970, que reinventou o futebol, inventando um outro modo de jogá-lo, de um outro jeito muito mais belo e eficiente do que o até ali praticado, nunca foi campeã do mundo e teve poucos resultados da mesma envergadura em outros torneios internacionais. E o Brasil de 1950 ou de 1982 era muito melhor do que o Brasil campeão de 1994.
Não se trata apenas da “sorte” vulgar que se pode ter num jogo, dessa proteção metafísica que atribuímos muitas vezes a deuses, santos e forças semelhantes. Trata-se de uma característica imprevisível, alguma coisa que se parece muito com a própria imprevisibilidade de nossa vida, um acaso que pode nos negar o sucesso quando mais o merecemos. Ou, ao contrário, nos premia quando menos merecemos o prêmio. Não tem exercício físico, treinador competente, sábia estratégia ou craque absoluto que impeça esse acaso e sua cruel vitória em campo. Por isso que o futebol é tão belo e nos incomoda tanto. Porque não basta saber jogar.
...........
Cacá Diegues, O País do Futebol, O Globo, 15.07.2018

sábado, 30 de junho de 2018

LBGT+ (Haja diversidade!)

O sinal "+" ao final do acrônimo é a solução inteligente e adequada para um problema que certamente iria surgir com a falta de letras do alfabeto para abranger  a diversidade de opções sexuais adotadas  pelos nossos mudernos. Elas brotam com velocidade maior que aquela com que nascem os cogumelos depois da chuva.

Heróis da Copa.

Messi é um herói trágico;
provam-no  sua trajetória,
seu semblante.
Cavani, um herói estoico,
move-se pelo campo
como um cavaleiro andante.
Pogba é o meu herói,
"peladeiro" abusado,
de passos largos e elegantes,
anda pelo campo como um potentado.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Marinei

Depois de confirmar André Lara Resende e Eduardo Gianetti como assessores econômicos, bati o martelo. Marina não está comprometida com o que está aí e com esses dois nomes na economia afasta a possibilidade de uma aventura na área. A mim basta.
Fica o problema imenso que será construir uma maioria na Congresso.
Como alguém já disse: entre os capitães Ciro e Bolsonaro, fico com a irmã Marina.
....................

Foi anunciar minha decisão e cairam matando encima.
- Ela tem cara de quem nunca gozou na vida. Eu não voto em gente assim!
- O marido dela é dono de extensas plantações de mogno, aliás, o maior proprietário delas no Brasil. 
- Não acredito em quem tem cara de santa. Não gosto de santidade demais.
....................

É o nível...
Imaginem quando a campanha começar.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Os cabelos trêfegos do Neymar...

... traduzem à perfeição o nosso país.A ideia veio à minha cabeça assim que os vi ontem no jogo contra a Suíça.  Some-se a isso as quedas espetaculosas tentando induzir o juiz ao erro e o riso de deboche dos adversários diante de tamanho cinema.
Somadas mostram o que somos, o que se passa no nosso imaginário, as atitudes que tomamos  quando temos que enfrentar uma situação adversa. Explica porque não damos certo até hoje e a julgar por fatos como esses, continuaremos não dando.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Na democracia o inferno somos nós.

É a feliz conclusão do artigo de Vinicius Mota na Folha de hoje, parafraseando a existencialíssima o inferno são os outros de Sartre. Melhor errar e acertar numa democracia - a pior forma de governo, excetuando-se as demais, segundo Churchill -  do que numa ditadura.

  • Afinal Hitler não foi eleito democraticamente?
  • Pesquisas mostram que em torno de 70% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência, mesmo sabendo que isso pode lhes custar o futuro.
  • 87% dos brasileiros aprovou a greve dos caminhoneiros, mas não quer pagar  suas consequências funestas.
Para o bem e para o mal, melhor apostarmos nela, enquanto não descobrimos coisa melhor. É porque vivemos um um regime democrático - de baixa qualidade, é verdade! - que está em nossas mãos o futuro do país. As eleições vem aí e com elas a possibilidade de varrer do cenário as criaturas do pântano, que graças ao nosso voto, proliferam na administração pública. A democracia nos dá esses poderes. Temo que não saibamos usá-los. Afinal democracia não é prá todos e não fomos educados para viver em uma democracia. É preciso conquistar o direito de tê-la. Acredito que ainda estamos distante  disso, pois criar um imaginário democrático em uma nação demanda  educação, postura e exemplos dos mais velhos,  ações que demandam tempo.  Talvez uma geração.
Nosso país é disfuncional, dono de um imaginário popular torto que semeou ventos desde que os portugueses por aqui aportaram. Nessa década em particular estamos colhendo a tempestade. Pior, flertando com o abismo.
Oxalá, aprendamos e nos regeneremos pelo voto.

domingo, 3 de junho de 2018

Outsider sempre...

A coluna do Mario Sérgio Conti de hoje reforça ainda mais a convicção do meu estranhamento com o mundo. A questão é abordada do ponto de vista econômico mas se aplica perfeitamente às situações do quotidiano. No artigo ele comenta um livro - Adults in the Room (Farrar, Straus & Giroux)de Yanis Varoufakis, ministro de Finanças da Grécia durante a grande crise de 2015.
...........

.......
Varoufakis andava de moto e raspava a cabeça.

Com 54 anos, ele não era um jovenzinho ingênuo. Estudara economia no Reino Unido, lecionara na Austrália e nos EUA. Mais que o casaco de couro e as credenciais acadêmicas, ter sido eleito deputado pelo Syriza, a coligação de 13 organizações de extrema esquerda, fazia dele uma "avis rara" entre as rapinas da alta finança.

É por isso que Larry Summers, eminência parda na equipe econômica de Obama, a quem Varoufakis chamara de Príncipe das Trevas devido às posições conservadoras, perguntou-lhe, enquanto tomavam um drinque: "Yanis, você é insider ou outsider?".

Os outsiders, explicou, são os que priorizam a liberdade de dizer a verdade, ao preço de não serem levados a sério pelos chefes dos aparelhos econômicos. Já os insiders nunca revelam o que de fato pensam. Assim, têm a oportunidade, "mas não a garantia", de influir nas decisões.

Varoufakis disse que era um outsider.
.......
...........
Ele... e eu também.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Tudo a ver...


Panorama visto da ponte.

Carlos Mello define melhor do que ninguém o momento difícil que vivemos.
... e durma-se com um barulho desses!

Tem prá todo mundo...

Essa é uma - das inúmeras -  idéias tortas que povoam nosso imaginário. Veio-me a mente quando li o resultado da pesquisa DataFolha a respeito da greve dos caminhoneiros que mostra que 87% dos brasileiros aprova a greve, mas não concorda em ser penalizado com o aumento de impostos, nem com o corte de gastos federais para atender o pleito dos grevistas. Atitude semelhante àqueles que querem estabilidade no emprego e também direito a greve, opinião corrente entre os coleguinhas de trabalho.
Querem um mundo que lhe ofereça o infinito. Em que tipo de mundo essa gente pensa que está?
Ninguém lhes disse que viver é administrar a escassez; que a oferta é sempre menor que a demanda.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Olha eu aí!


Em Porto Alegre havia um cinemeiro, fã de filmes classe B, que dizia “Como é bom ver filmesruins!” Era o seu lema, e ele tinha até uma escala de diretores preferidos, numa ordem de lamentável a horroroso. Naquela época, a gente também tinha um lema, nunca declarado, mas tácito, que era “Como é bom ver filmes deprimentes”. Íamos ao cinema para sermos arrasados pela inviabilidade da condição humana e o vazio existencial da vida moderna, e voltávamos no dia seguinte para sermos arrasados de novo. No topo da nossa escala de diretores deliciosamente depressores estavam Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, que morreram quase ao mesmo tempo.
O grande paradoxo, e a grande arte, de Bergman e Antonioni era esta, a de nos maravilhar com a nossa própria desgraça. Bergman ainda fez algumas comédias, mas Antonioni só repetiu em seus filmes que nenhuma criação humana importava muito diante da indiferença do mundo natural e do silêncio das estrelas — inclusive os seus filmes. Antonioni filmando os grandes espaços mudos que separam as pessoas, a estranheza com o outro e a impotência dos sentimentos — sempre com muita elegância — e Bergman, suas parábolas sombrias sobre culpa, redenção e morte, repartiram entre si a crise de consciência da segunda metade do século XX, pós-Hiroshima e pós-Holocausto, e definiram a estética do desespero de que gostávamos tanto. Os cenários usados pelos dois — que no caso de Bergman podia ser apenas rostos humanos — eram os de um mundo desprovido, espaços tristes representando a ausência de significado, de Deus ou de solução. Bergman fugiu para a comédia, para uma extasiante evocação da infância e exaltação da vida em “Fanny e Alexander” e até para a redenção pelo calor materno, como no final de “Gritos e sussurros”, em que a atormentada protagonista encontra a paz nos vastos e nada complicados peitos de uma antiga ama. Antonioni fez menos filmes e, talvez por isso, não encontrou nenhuma solução.Não nos traiu, foi deprimente até o fim.
Uma cena arquetipal do Bergman é aquela de “O sétimo selo”, do jogo de xadrez com a morte. Woody Allen reeditou a cena medieval: na sua versão, um nova-iorquino moderno recebe a morte em casa, propõe um jogo de biriba em vez de xadrez — e ganha. Pode ser uma das cenas inaugurais do pós-modernismo, ou um mote para a redenção sem depressão. Afinal, parodiando a célebre frase dostoievskeina, só porque Deus não existe não é razão para ficar de cara feia.

L.F. Veríssimo - Depressores -O Globo, 20.05.2018

domingo, 20 de maio de 2018

Direita ou esquerda?

Dilema que balizou minha geração e que hoje perdeu muito da sua importância. De uma denominação geográfica que localizava os membros da Assembleia Nacional na Revolução Francesa - fiéis ao Rei e a religião à direita; partidários da Revolução, que falavam alto e usavam palavras chulas,  à esquerda, de acordo com relato da época -  esquerda e direita assumiram uma importância desmedida.
Quando elas vieram ao mundo, ele já tinha dado muitas voltas, de maneira que virtudes e mazelas a elas associadas como justiça, ética, solidariedade, igualdade, ganância, exploração entre outras,  existem desde que o homem se reconheceu como tal. Tem muita gente boa, entretanto, que acredita que nasceram juntas. Por essas e outras, foram  elevadas no século XX,  a tótens aos quais uns e outros se agarravam.  Esquerda e direita foram as grandes tribos da época; todos  queriam  ser de esquerda, isso parecia dar uma superioridade moral - ares a que se dão muitos esquerdistas até hoje - talvez porque a esquerda sempre se preocupou com a igualdade, a justiça. Prato feito, para um país desigual e injusto como o nosso... A direita era envergonhada, e era necessário coragem para assumir essa condição, especialmente na área de Humanas nas Universidades. 
É reducionista clivar o mundo, carimbar pessoas, a partir desses conceitos que hoje progressivamente vão se diluindo, com a mescla crescente de papéis e os apoios de cada um dos grupos. Exemplos não faltam. A indústria do petróleo é fortemente apoiada pelo Partido Republicano nos States, no Brasil é menina dos olhos da esquerda. Na assembléia da Catalunha, recém-eleita, a maioria formada pela coalização independentista é composta por partidos de esquerda moderada e radical e direita radical, todos anti-globalização. 
Afinal, o que é mesmo ser de direita ou esquerda?
A Wiki tenta classificar os principais grupos de pensamento econômico/político contemporâneo balizando-os por essas duas camisas de força cada vez mais artificiais. De esquerda seriam progressistas, sociais-liberais, ambientalistas, social-democratas, democrático-socialistas, libertários socialistas, secularistas, socialistas, comunistas e anarquistas; de direita, capitalistas, neoliberais, econômico-libertários, conservadores, reacionários, neoconservadores, anarcocapitalistas, monarquistas, teocratas (incluindo parte dos governos islâmicos), nacionalistas, fascistas  e nazistas.  Com que idéias você mais se identifica? Simpatizo com idéias  que ora me situam à esquerda, ora à direita, o que mostra a fluidez dessa classificação. Querem um exemplo? Progressista.  O que é smesmo, ser progressista?  Há exemplares para todos os gostos; boa parte deles,  não passa de vanguarda do atraso.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Uma alegria triste.

Depois do circo de horrores existencial da semana que passou, recebi ontem uma alta inesperada da minha hormonoterapia, depois do resultado favorável obtido no exame de PSA. Como já obtivera alta da radioterapia 30 dias atrás, estou liberado do tratamento do câncer de próstata. Tudo saiu melhor do que o esperado. A eficácia do tratamento,  será aferida com  exames de controle de PSA a cada 90 dias. 
Talvez tenha adiado outra vez, o ajuste de contas com essa senhora que já me espreita faz tempo. Ela quase me levou na estrada 30 anos atrás, depois foi no ar, fazem 8 anos em um vôo horroroso da Delta para Houston. Agora em terra firme, ela me distingue  com um câncer na próstata; as evidências, entretanto, indicam que foi uma visitinha rápida.
Fico feliz, mas é uma alegria triste;  os frutos amargos da semana que passou ainda deixam seu sabor pela minha alma.