segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A regra do jogo.

Tem duas coisas que só não resolvem quando é pouco: dinheiro e porrada. 

É prá rir ou prá chorar? Não é uma frase elegante, que dá grandeza e eleva o ser humano? Atribuida a Eduardo Cunha citado na reportagem De Presidenciável a Cassável em O Globo de 25.10.2015.
Modus operandi da maioria dos bem resolvidos desse país,  mas que publicamente, hipócritas que são, a ela reagem escandalizados. É o famoso jogo jogado dos chamados operadores. E como tem operador nesse país! Jogam o jogo, levando em consideração sempre o que há de pior no ser humano!
O Eduardo Cunha é um típico exemplar dessa fauna que infesta os caminhos pavimentados para o sucesso, a fama  e o poder.
Esse tipo que como alguém já disse muito bem nos insulta com sua presença na vida pública é o protótipo do que rola no dia a dia dessa república que navega a deriva.
Cada país tem os homens públicos que merece.

domingo, 18 de outubro de 2015

Mais ou menos

Esse texto do Cacá Diegues no Globo de hoje está ótimo. Segue na íntegra.

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Todo mundo sabe que a humanidade não é lá grande coisa. Aviltamos a natureza que nos foi dada como berço e ambiente de vida, praticamos guerras genocidas, mentimos e traímos, somos capazes de ignomínias em relação aos outros, não vacilamos em deixá-los morrer afogados na fuga da miséria ou em filas quilométricas na porta do Instituto de Cardiologia, tanta coisa das quais devíamos nos envergonhar. A humanidade não é mesmo grande coisa, mas é o que temos.
MARCELO

No afã soberbo de controlar o mundo, inventamos coisas que não existem para contrapô-las como ciência à natureza, criações de nossas mentes para nos impormos à natureza imprevisível, sujeita ao caos e ao acaso, que não tem nenhum projeto para a humanidade. Inventamos, por exemplo, a linha reta e o zero, em um mundo em que ambos não existem, onde só existem curvas e nada está vazio. Um mundo em que não se pode prever aonde chega o traçado de uma linha.
Se der alguma coisa errada na nossa ciência, botamos a culpa em algo que não somos nós, como se o mundo real estivesse a nos boicotar. Joseph Goebbels, o pensador nazista e ministro de Hitler, mandava que se escolhesse um inimigo externo e se semeasse o ódio contra ele como responsável por tudo que nos faltasse. Mesmo que erremos tanto, durante tanto tempo, o inferno será sempre os outros.
Para evitar dúvidas e o debate que elas provocam, para impor nossa verdade única cultivamos o julgamento dos extremos. Os seres, as obras e as coisas só podem ser ótimos ou péssimos, os limites imobilizadores de onde não há mais para onde se ir.
Entre um e outro, no universo real do mais ou menos, não reconhecemos que algo possa existir. Não importa que seja injusto igualar o quase ótimo ao quase péssimo. Travestis de Deus, só admitimos a perfeição de um lado e o opróbrio do outro, quando a grandissíssima maioria de nossa espécie navega, pra lá e pra cá, num oceano de tempestades e bonanças, reino do humano mais ou menos.
Diversas e complexas bactérias controlam nosso corpo e nosso cérebro, é com elas que nos entendemos. O mergulho que nos permitem dar para dentro de nós mesmos nos cega para o resto do mundo. Concentramo-nos em nós, tudo que inventamos é antropomórfico, parecido com alguma coisa nossa e de nossas necessidades, muitas vezes relacionadas ao amor. O que fazemos ao plugar um fio ereto na vagina de uma tomada?
O amor não é apenas uma opção entre duas pessoas. Podemos nos dedicar ao amor por alguém, como podemos distribuí-lo por todos. O mundo não se divide entre hétero e homossexuais ou entre monogâmicos e poliafetivos, assim como não se divide entre louros e morenos ou altos e baixos. Existe uma infinidade de desejos que não são satisfeitos apenas com uma opção. A vontade é um exercício intelectual a que aderimos em nome de um projeto; mas o desejo é uma necessidade a que só os muito santos são capazes de resistir.
O amor de verdade é sereno e discreto, um aprendizado de vida, como um barco e suas circunstâncias a atravessar o rio do mundo. Ele aponta sempre para a solidariedade, um veículo de vida em que só se pode viajar acompanhado. O amor não é o fim da estrada, mas a estrada sem fim, a suportar o outro como ele é, na prática diária de um mundo mais ou menos. A Bíblia não deve ter sido bem traduzida — em vez de “amaivos uns aos outros”, o que Jesus deve ter dito foi “suportai-vos uns aos outros”.
Suportar significa também dar apoio. Sem arrogância, é possível ajudar os outros com nossa arte, apesar dos limites. Em carta ao pintor Candido Portinari, o escritor Graciliano Ramos, abordando as preocupações sociais de ambos os artistas, diz que “as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angústia, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? (...) Numa vida tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza. Felizmente a dor existirá sempre, a nossa velha amiga, nada a suprimirá”.
Sei da importância geral da economia e da política. Mas não tenho vontade de viver num mundo em que, todo dia de manhã, tenha que correr ao noticiário eletrônico para saber a quanto anda o dólar e qual a ação da vez. Ao PIB, prefiro um índice de felicidade qualquer, à altura do poema de Jorge Luis Borges: “Já sei que não serei feliz, mas isso talvez não tenha importância, há muitas outras coisas na vida”.
Cansei de ser pós-moderno, agora quero ser pós-eterno. As obras-primas ou as obras execráveis podem desaparecer, o mais ou menos é que nos ajuda a viver sem medo, perto dos outros. Quem sabe tomamos jeito?

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Rio não tá prá peixe!

Há poucos dias atrás visitei minha mãe moradora de uma - ainda pacata - cidadezinha do Rio Grande do Sul. Em uma loja de móveis da cidade onde tentava comprar cadeiras para meu reengenheirado apê, a vendedora fez aqueles olhos de sonho quando falei que morava no Rio de Janeiro. Garota do interior deve ter no imaginário imagens de um Rio de Janeiro vendido pelas agências de viagens. Calei-me. Não quis assustá-la. Meu sentimento era um pouco o que  William Helal Filho deixa transparecer no seu texto na  crônica É Seguro?  em O Globo de 10.10.2014 onde desaconselha um amigo francês a visitar o Rio nesse verão. Ele é nativo e cariocas são generosos consigo mesmos e com sua cidade.
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Pensei no barraqueiro lá perto da Rua Garcia D’Avila, em Ipanema, que pede aos ajudantes para ficar sempre de olho em qualquer sinal de agitação vinda do Arpoador. Pensei na conversa que tive com a atendente da padaria no Humaitá saqueada por mais de cem  no mês passado ao fim de um dia quente e de areias lotadas. No adolescente que roubou o celular da jovem na praia e depois disse que fez por prazer. Nas  blitzes de policiais fortemente armados, espalhadas pela Zona Sul, para inibir os mal-intencionados no fim de semana. Nos PMs levando jovens sem camisa para a delegacia sem nenhum flagrante. Nas gangues dos tais justiceiros usando o Facebook para marcar cercos à linha de ônibus que, aparentemente, virou inimiga pública número 1 (a página de um desses grupos já tem mais de 1.200 seguidores).
Pensei no padre José Roberto Devellard, da Igreja da Ressurreição, no Arpoador, que reza para não fazer sol no fim de semana, com medo de ver seus fiéis da missa de domingo sendo assaltados....
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 Isso tudo descreve um cenário de tensão. Mesmo quando crimes não acontecem, esse clima de suspense, de mau humor, fica no ar, no asfalto, na areia. O cenário está levando muita gente a fazer como o padre, e torcer por um céu encoberto no fim de semana. Chegando perto do verão, boa parte dos cariocas, este povo tão identificado com a estação mais quente, ficou com medo de sol.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Lulopetismo

Nada diz mais do lulopetismo do que essa frase de Lula quando inquirido sobre o sucesso financeiro do seu filho Lulinha: Eu tenho culpa se o Lulinha é o Ronaldinho dos negócios?  Foi dita anos atrás e lembrada agora por Ruy Castro em sua coluna da Folha (14.10.2015) quando o Lulinha voltou à berlinda com  denúncias de delatores da Lava-Jato. 
Ronaldinho dos negócios? Ele pode ser para os beócios, os néscios, os nefelibatas.
Ele é sim o protótipo do empresário que floresce à sombra dos conchavos, do tráfico de influência, dos lobbys escusos que depredam o Estado desde sempre. Enfim ele é o deja-vu a se perpetuar na história desse país, que o PT - ironia! -  prometeu acabar. Incorporou-se ou foi incorporado por ele.
E saber que eu ví coleguinhas meus, em transe, depois de terem comparecido a  evento na empresa onde o Lula compareceu e operou - êpa! - discursou. Frases como a citada, os levavam ao êxtase:
- Que presença de espírito! 
- Desarmou o interlocutor!
O tempo, velho senhor da razão, está colocando os pingos nos iis.
Seriam eles beócios? Vítimas da ideologia? Iludidos pela onipresente justificativa  da inclusão social dos mais pobres?
Convenço-me cada vez mais que não...O militante de esquerda narrow minded me parece ser cada vez mais um oportunista a procura de uma boquinha ou sinecura num órgão do estado ou de governo que eles confundem facilmente com estado, e com o partido.

sábado, 10 de outubro de 2015

Das agruras de morar na periferia...

Explica bem o país e a situação que vivemos, o creme de barbear que utilizo. É o creme Nívea. Comprava nos Estados Unidos, era cremoso, espesso, sua espuma permanecia. Pagava 3-4 dólares.
Como não viajo para o exterior lá se vão dois anos, meu estoque acabou. Compro o similar nacional. Faz uma espuma rala,  que se desfaz quase que imediatamente ao passar e me obriga a usar grandes quantidades a cada barba que faço. Custa 15 reais. O similar americano ainda seria vantajoso, mesmo com o dólar beirando 4 reais. 
 Misérias de um gigante de pés de barro  que arrotou grandeza nos últimos anos.

Esse país é uma merda!

Ouví esse desabafo ao telefone, do meu médico, desencantado com a realidade do país. Eu consumi mais anos do que ele para chegar a essa conclusão. Fazem uns 10 anos - tenho 64. Ele deve andar na casa dos 35-40 anos. É serio, competente, trabalhador. É uma das poucas pessoas em quem acredito.
Na idade dele eu ainda botava fé no país, nas pessoas... Jovem, acreditava que esse era um país abençoado por Deus, do futuro... todas aquelas baboseiras que nos puseram na cabeça. A vida me deu razões de sobra para concluir que estava errado. Esse é um país prá poucos. Poucos que não largam o osso. Passam o poder de pai prá filho. Eternos donatários das capitanias hereditárias no eixo do poder, capitães da mato na sua periferia. Nascemos tortos, e pau que nasce torto...
Mas, voltando ao nosso médico... É duro ouvir isso de alguém mais jovem, normalmente movido pelo ímpeto dos ideais, dos projetos de vida, ou mesmo da prosaica ambição de subir profissionalmente. Fica melhor prá gente mais avançada nos anos como eu, que já viu e ouviu  - um pouco - de tudo.
É um claro sinal de que as coisas não andam bem. E não andam mesmo! O desencanto é geral. A política, a economia, as relações pessoais, a ética - até o futebol! - estão em crise. E pior, não se vislumbram rotas de fuga, luzes no fundo do túnel. Os medíocres pululam.
Quem está feliz com o que está aí certamente não passa da nata da mediocridade.

As flores e o pântano

O Fundão
dos odores fétidos,
das águas podres
do Canal do Cunha,
é o Fundão
dos aromas suaves
do colorido das flores
dos inusitados ipês brancos
e da alegre  aurora
primaveril.