sábado, 30 de abril de 2022

Prá finalizar com dignidade o mês.

A cena brasileira é um horror só, mas a beleza da arte é sempre uma gota de bálsamo sobre esse país maltratado por seus governantes, sua elite, seu povo. Justiça seja feita, não dá prá livrar a cara de ninguém. Todos tem sua parcela de culpa.

Melhor ainda com música brasileira onde a harmônica (gaitinha de boca) pontifica. Como gosto ouvir esse instrumento.  Fosse um homem com alguma qualidade teria aprendido tocá-la, tamanho o apreço que tenho por ela.



Quem deve, não teme!

Vendo todos os réus da LavaJato desfilando lépidos e fagueiros pelos palcos deste país, Eduardo Cunha pretendendo condidatar-se a deputado federal; Lula, agora visto e autoproclamado como salvador da pátria,  candidato à Presidência,  sendo absolvido pelo Tribunal da ONU;  outros querendo que o  dinheiro que roubaram e que tiveram que entregar à Justiça lhes seja devolvido, sou obrigado a admitir que por estas plagas quem deve, não teme!

Sei, sei... o correto seria :  

- Quem não deve, não teme! 

Não por aqui. Rico ou poderoso, se você se meter numa enrascada, um bom advogado ou até uma banca - a depender do seu poder de fogo! - vai sempre achar uma brecha no nosso ordenamento jurídico para declará-lo - juridicamente - inocente. Quando não, o uso de chicanas fará o caso prescrever por decurso de prazo.

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Num país de tantos estranhamentos, mais um. O livramento de larápios do dinheiro público - os fatos estão comprovados e bem comprovados! - das penas a eles impostas, inclusive em instâncias superiores, é usado como evidência de que nosso ordenamento jurídico funciona e que as leis são cumpridas. Há algo de podre no nosso estado democrático de direito.

Limpando a ... com esses livros. (II)

J.P. Coutinho - também sou fã - foi o entrevistado do Roda Viva da TV Cultura na semana passada. É um conservador, mosca branca entre os formadores de opinião e na esfera do debate público no país, dominado amplamente pelo  autoproclamado campo  progressista. É português, pois raros são os brasileiros que militam na área. Leio sua coluna na Folha quase como um ritual nas terças-feiras pela manhã. Confesso que vê-lo ao vivo, não foi tão gratificante quanto lê-lo. Pareceu-me um tanto pernóstico. Enfim... vai ver sou eu o pernóstico.

Falando sobre jornalismo, chamou minha atenção sua observação de que estando em Londres na época do Brexit, o que ele lia nos jornais e via na TV não era a realidade que  ele observava conversando com as pessoas da rua e que, ao final, se materializou com o resultado das urnas. E aí, entrou o Pondé - outro conservador - para concluir que nosso debate público atual, feito através da imprensa e academia é dirigido apenas a um determinado segmento do público. É vero! A grande maioria não participa, desconhece, está se lixando prá ele. 

É o país profundo ou cinza como querem os progressistas - claro, eles são a luz! - que com as redes sociais encontrou seu canal, away from  grande imprensa e academia,  para protagonizar na esfera pública. Essa massa que vivia à margem é o núcleo do bolsonarismo - evangélicos, mundo rural, camioneiros, militares da polícia e do exército, boa parte do mundo das favelas. Compõem o campo conservador e reacionário da sociedade. Os progressistas olham prá eles com desprezo, e os consideram nuvem passageira. Estão enganados. Vieram para ficar.

As redes sociais, utilizadas competentemente pelo bolsonarismo, deram cabo do sequestro do debate da esfera pública, monopolizado desde os anos 60 pelos que hoje se aninham debaixo do guarda-chuva progressista.  O bolsonarismo que é reacionário, com o conservadorismo que veio a reboque, tornou-se protagonista gostemos ou não. Grande imprensa e academia deveriam levá-los mais a sério pois são, justo bolsonaristas e conservadores, que limpam a .... com  os jornais e publicações do campo que se autointitula progressista.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Dos muitos Brasis (II)

Coincidentemente, Marcos Mendes - sou seu fã -  escreve na sua coluna de sábado na Folha, que sociedades tão estratificadas social e economicamente como a nossa, e da maioria dos países da América Latina conduzem  a um acirramento do conflito distributivo, com a turma do andar superior do nosso andar social dadas as características do nosso ordenamento jurídico e político, impondo suas demandas sobre a grande massa que convive com um a dois salários mínimos e que normalmente se deixa embalar pelos mercadores de ilusão, pregadores de um  populismo distributivista. O resultado é a instabilidade política quase que permanente que conduz à estagnação econômica na maior parte dos países do continente 

terça-feira, 19 de abril de 2022

Dos muitos Brasis...

 Recebi do meu gerente de conta bancária:

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Olá, bom dia! Tudo bem?

Tenho uma ótima novidade: chegou o Assistência Amigo Pet!

Conte com diversas assistências para seu Pet (cão ou gato):

Consulta veterinária;

Atendimento ambulatorial;

Consulta com especialista;

Consulta de rotina;

Exames laboratoriais e de imagem;

Cirurgias;

Internação;

Aplicação de vacinas;

Assistência funeral;

 Caso queira conhecer melhor o produto e opções de plano , me sinalize para agendarmos uma conversa e falarmos a respeito.

At.te,

 Thiago Lima, CPA-20

Gerente Relacionamento

Agência 8236 - Centro Rio

Tel.: (21) xx04-xx36 

E-mail: thiago.a.lima-silva@xxxx.com.br

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Tamanhas facilidades  oferecidas para cuidar de cães e gatos não causariam estranheza se vivêssemos em um país nórdico. Poderia-se até ponderar... mas na África ainda há muita miséria! E aí esgrimir um argumento um tanto malandro de que seria em outro continente!

O Brasil - um caleidoscópio social - permite a coexistência dentro de uma única nação, de vários países. Um  muito assemelhado ao dos nórdicos,  para quem é oferecida a oportunidade de financiamento assistencial para os pets dos seus habitantes e de outros  mais próximos aos africanos como aquele onde 47% da população não tem acesso a serviços de esgotamento sanitário; ou ainda de um outro em que 16% de seus  habitantes  não recebem água tratada. Há  também  aquele que possue apenas 46% do seu esgoto  tratado. (Dados do Sistema Nacional de Informações sobre  Saneamento referentes a 2018). 

Há outros mais, bastaria abordar  distribuição de renda,  acesso à educação e à saúde... e por aí vai.

domingo, 17 de abril de 2022

limpando a .... com esses livros

Transcrevo o comentário de um  leitor,  ao artigo do Hélio Schwartzmann para a  Folha de domingo, onde o articulista manifesta sua preocupação com o crescimento das idéias de extrema-direita e com a sua penetração no mundo de idéias liberal. Dei boas gargalhadas com a frase final. Ela é crua mas dolorosamente verdadeira.

Aí você vê uma geração globalizada pela internet que tem menos de 30 anos muito preocupada com metaversos, Bitcoin's, NFT'S, veículos elétricos, viagens espaciais, conversando e interagindo com o mundo todo em diversos idiomas, miscigenado a vontê e os profetas do apocalipse juram que a questão de "poder" é sobre conservadorismo x liberalismo. Elon Musk, Bessos, Gates e Cia. limpam a ... com esses livros.

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As voltas que a  vida dá, fizeram-me  frequentar os dois mundos; o das ciências humanas, especialmente nos tempos de universidade, e o das ciências da natureza e exatas com suas aplicações, já como profissional no mundo do trabalho. Enquanto a turma do primeiro elocubra, a dosegundo,  mete a mão na massa. Estes não estão nem aí para o que fazem e pensam aqueles. Criam e inventam instigados pela forte competição em que estão imersos. Não há espaço na sua mente, tampouco tempo na sua agenda para ocupar-se ou preocupar-se com os temas que afligem os intelectuais de plantão. O paralelo pode também ser estabelecido entre os temas que ocupam o dia-a-dia destes intelectuais e a vida do povo pobre do nosso país, objeto da maior parte da sua produção acadêmica. 

Muitos, provavelmente, repetiriam o gesto - bem pouco educado -  da geração globalizada a que se refere o nosso leitor. 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Longe dos extremos

Jovens e ainda verdinhos para a vida,  nos apaixonamos pelas opções extremas do arco de possibilidades que ela nos  oferece, mas o tempo e os fatos nos conduzem para opções mais ao centro. O dia-a-dia é pródigo em fatos que só fazem confirmar um velho provérbio português:

 - Os extremos se atraem.

Um artigo da BBC publicado no UOL do dia 14 ilustra com perfeição a sabedoria do pessoal da terrinha. Para o segundo turno da eleição presidencial francesa, parte significativa (entre 18% e 30% segundo diferentes pesquisas) de extrema esquerda francesa que votou em Mélenchon no primeiro turno, votará em Marine Le Pen, candidata, nem tanto assim - moderou o discurso! - da extrema-direita. 

Dentre as razões para o paradoxo da escolha - segundo o artigo, não para mim! - estão as semelhanças do programa econômico dos candidatos.  Ainda de acordo com o artigo, Marine Le Pen, promete um estado protetor e se diz adversária do poder do dinheiro - notas melódicas para os ouvidos de esquerda!

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Por aqui também há muitos pontos de contato entre bolsonaristas e esquerda-raíz. A comparação enfurece, particularmente, aos últimos. Exemplos? Não há como negar que ambos detestam a LavaJato e a Rede Globo. Ambos são negacionistas; os primeiros negam a eficácia das vacinas, a ação antrópica sobre as mudanças climáticas;  a esquerda-raiz até hoje nega que houve corrupção nos governos do PT, além da sua conhecida arrogância em negar toda a análise da conjuntura - econômica, por exemplo - que não se coadune com seus cânones. 

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Fosse francês, cravaria Macron. Pena que não apareça nada semelhante por aqui e no segundo turno, provavelmente, tenhamos que optar, entre um larapiozinho de varejo - pelo que se sabe até agora! - e outro mais sofisticado, aluno exemplar da escumalha que  nos dirigiu na maior parte dos 500 anos de existência do país.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Retratos do Brasil (II)

 O imbroglio envolvendo a troca de presidente da companhia e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás é riquíssimo para elucidar como funcionam as coisas em Pindorama. Os indicados envolvidos em inúmeros conflitos de interesse tiveram que desistir graças  aos sistemas de governança, risco e conformidade implantados na  companhia depois de Petrolão. 

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Alvíssaras,  a entidade  conflitos de interesse foi levada em consideração ao sul do Equador!  Até ministros do STF,  passam por cima dela,  utilizando-se de piruetas intelectuais que causam espécie  mesmo para os menos dotados intelectualmente.

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Há um podcast de O Globo em que Malu Gaspar trata com riqueza de detalhes o episódio. Vale a pena ouvi-lo.  Chamou-me a atenção a fala do Artur Lira, presidente da Câmara,  ao final, queixando-se da barragem dos dois nomes que contavam com forte simpatia de seu grupo no Legislativo, o Centrão. Classifica a atitude de falso moralismo, julgamento precipitado....Ironiza afirmando que teriam que buscar entre outros, um arcebispo para o cargo.

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Nesta terra onde canta o sabiá e onde o leite e o mel jorram em abundância para a turma que conseguiu se alojar nos andares superiores do nosso edifício social, barrar alguém por conflito de interesse é falso moralismo. Por essas e outras, somos o que somos.

A encrenca em que nos metemos...

 É puro non sense mas  dolorosamente real.

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A moça postou no Twitter uma foto com 5 potes de sorvete que ganhou do pai pois precisava comer coisas geladas por alguns dias provavelmente por algum problema de saúde e foi obrigada a aturar poucas e boas, Vejam esta pérola:
Aqui percebemos a riqueza implícita na sociedade burguesa. Um pai que desembolsa 300 reais em SORVETE é provavelmente quem açoitou meu bisavô no passado.
Mais detalhes na coluna Cozinha Bruta na Folha de 5 de abril. 

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João Pedro Salgado é estudante de Biologia da UFRJ e fotógrafo. Na sua primeira ida ao Pantanal registrou em imagens o ataque de uma onça a uma capivara e postou no Twitter - olha ele aí outra vez!. As imagens viralizaram e por momentos foram canceladas, segundo matéria publicada na Folha de hoje (veja as imagens). Ele precisou aturar pérolas do tipo:
Quem consegue ficar feliz vendo uma capivara morrendo?

Não tem absolutamente nada nessas imagens que deva ser romantizado. 

 

terça-feira, 5 de abril de 2022

Retratos do Brasil

Quando da volta para o PSG após participação na seleção brasileira na última data FIFA, Neymar Jr precisou aturar essa charge do L'Équipe:


Os franceses, parece, cansaram dele. E saber que ele tem futebol prá ser o melhor do mundo, ainda mais com a visível decadência de Messi e Cristiano Ronaldo.

Neymar Jr., entretanto, é a cara do Brasil. Como o país, é uma virtualidade desperdiçada. Com ambos a natureza foi pródiga, mas eles insistiram em não perder a oportunidade de perder oportunidades. A banda foi passando e eles se deixaram ficar na janela.