domingo, 27 de janeiro de 2013

Chocado...

...com essa tragédia de Santa Maria!
 Foi lá que morei na Filosofia. Onde fiz minha cabeça. As águas - depois - rolaram sempre diferente prá mim.
Foram 3 anos (1971/1973). Bons tempos. Todos irmãos. Todos duros. Todos de esquerda e tudo pela frente. Tempos em que se acreditava que tinha prá todos. Pensávamos que mudaríamos o mundo. A realidade mostrou, depois, que não é bem assim.
Eu imagino o ambiente dessa festa, que, por sinal, era de 4 faculdades.
 É uma cidade universitária. É sede de uma universidade federal, certamente das maiores do interior do país. Um campus enorme. Polo de atração na região. Para lá convergem garotos e garotas de toda as cidades centrais  e da fronteira do estado.
Refiz os caminhos no Google e me bateu uma saudade enorme. Só faltou chorar. Ando duro prá isso. A vida tem me deixado seco. Toda semana tem  desgraça. Convaleço do aturdimento de uma e agora essa.
Meu Deus... Nada é tão ruim que não possa piorar!
Que esse garotos e garotas descansem em paz!

sábado, 26 de janeiro de 2013

Livraria fashion

Falaram-me bem dela. Entrei animado mas logo fui perdendo o entusiasmo. Saí decepcionado.
Um lugar prá ver e ser visto, diria a turma que indica points badalados. Esse veio prá preencher o lacuna, digamos, da turma mais cultural. O endereço, meio improvável prá isso, é a Senador Dantas no Centro do Rio e a livraria é, - quem diria! -  a Cultura. Prateleiras meio vazias, poucos livros para cada assunto. Fui prá Filosofia, que é sempre onde paro; achei fraco.
E muita gente! Classe mé(r)dia na sua maioria. Procurando alguma coisa prá consumir.
Como - diria o velho Nelson Rodrigues -  sou um cara inatual, prefiro aquelas livrarias de corredores apertados, com prateleiras até o teto e entulhadas de livros. No Rio tem a Da Vinci.
Procurava um livro - O Mapa e o Território - de Michel Houellebeck, bem cotado pela crítica, mas que naquela versão fashion de livraria, obviamente não foi encontrado.

Um trechinho da crítica no site  português Orgia Literária:

Cáustico, egocêntrico, hedonista, irónico, desbocado, misantropo, pessimista, por vezes a raiar o xenófobo, definitivamente incómodo e desbragadamente insolente. A tudo isto junte-se o brilhante. Porquê? Simples. Porque recusa a conformidade e assume as suas personagens de forma saudavelmente realista, expondo todos os seus podres, por muito difíceis que possam ser. Para nós e (quem sabe?) para ele.
 
Promete! No Brasil é vendido pela Record, pela módica quantia de 49 reais. Na Amazon, 11 dólares. Ganhou o Prêmio Goncourt na França. Não sei em que ano!
+++++++++++
Fui atrás desse livro por indicação do João Pereira Coutinho - escreve na Ilustrada da Folha todas as terças - que falava da decadência da França e ao mesmo tempo dizia que o melhor livro que lera no ano passado fora esse (de autor francês) e o melhor filme que vira fora Amor do Michel Hanecke, que é uma co-produção francesa . Aliás, está passando por aqui e uma voz interior diz que devo ir vê-lo. É o que farei. Depois conto procês.

domingo, 20 de janeiro de 2013

...desse cálice até o fim!



Vini Reilly - outro garoto da cinzenta Manchester - lider do Durruti Column, emblemático grupo pós-punk dos anos 80, que sempre recusou o estrelato, esquemas comerciais e que hoje vive de doações depois de 3 AVC´s. Viver à margem tem seu preço...
Pega uma carona na melancolia...

Life is pain and sorrow

Isso foi dito por um personagem shakesperiano, eu não lembro qual.
A propósito leio que pelo menos 70% dos professores e acadêmicos americanos usam   Prozac ou alguma outra forma de droga psicotrópica prá segurar a barra. (Costa, J. F.,2005, O ponto de vista do outro, Garamond)
Quer dizer...prá funcionar só a base de fármacos!
 E isso foi escrito em 2005. Hoje esse número deve ser maior!
Prefiro a solução - perdoem-me os politicamente corretos e feministas - prá macho do Dostoievski adotada por Marmieladov - pai de Sonia -  em Crime e Castigo, que    após ter bebido todas numa taberna disparou:

E quanto mais bebo, mais sinto as coisas. É por isso que bebo, porque na bebida encontro o sofrimento... Bebo porque quero sofrer em dobro!

Nada de Prozac, nem de qualquer outro psicotrópico.
Deus! É como dançar no olho do furacão!

...é juntando os pedaços da tua alma que encarnas o melhor da tua existência. A dor é o amálgama desse rejunte.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Cena Carioca

Eram 5:30h da manhã - ou seria ainda madrugada? - de domingo
Uma impensável fila serpeava o prédio do CCBB. Era a turma da noite esperando sua vez para curtir a Mostra dos Impressionistas que terminava naquele dia. Pelo espírito -  festivo! -  da coisa,  era para curtir mesmo. Estavam alí como poderiam estar em um bar da Lapa ou do Leblon.
Adoraria vê-los lá dentro. Desisti. Estupefato, dei meia volta e... fui trabalhar!   Troquei Manet, Monet, Degas - será que perdí algum quadro com Les danseuses? -   pela tela de um computador.

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PS- Soube depois que poderia ter usado minha condição de velho, - a velhice tem lá suas vantagens - dado um carteiraço e furado a fila.
Tarde demais. Era segunda-feira. A Mostra já era também.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Um carioca que vai além do próprio umbigo...

raro, diga-se de passagem, já que auto-crítica por aqui é comumente associada a complexo de vira-lata, a baixa auto-estima (arghh!)
[...]
A cidade acha que ser assim tão bela já a torna maravilhosa, como alardeia a velha marchinha. Os serviços públicos são terríveis, os privados não ficam atrás, nada funciona muito bem, obras são inauguradas às pressas, obras são malfeitas para serem refeitas, lá vai verba e... Ei, relaxe, cara. Você está na cidade mais bonita da face da Terra.
[...]
Se a vista lá do Cristo é espetacular, por que não fazer vista grossa à bandalheira cá embaixo?
[...]
Vejo quase todos os dias a rapina  que ocorre aos pés do Corcovado. Outro dia, passava de táxi em frente à estação do bondinho. O motorista lamentou o caos e desejou ter alguma autoridade.
[...]
Mas o mundo gira e o táxi roda...Quando emergimos do Rebouças na Lagoa, o motorista anunciou: Esta é a segunda vista mais bonita do mundo. Então o dever do jornalista é perguntar: E qual é a primeira vista mais bonita? O senhor ao volante nem piscou: O Pão de Acúcar, a Urca e a Enseada de Botafogo, vistos do monumento a Estácio de Sá. Concordei com ele.
[...]
De volta ao silêncio, contudo, perguntei-me se ele já tinha saido do Brasil ou viajado pelo país. Há tantas outras belas vistas neste mundão besta...
[...]
Gostei do jeito que ele disse a vista mais bonita do mundo. Ele não mentia. A cidade é seu mundo. A frase traduz a paixão do carioca pelo Rio. Sou carioca, filho de cariocas mas sei que este enamoramento perpétuo...tem um lado negativo.Tendemos a ser autocomplacentes, facilmente engambelados, sopa no mel para os políticos. Também nisso somos o retrato do país, do papo de que deus é brasileiro ... e tudo se resolverá.
[...]
Na América do Sul,  os brasileiros são sacaneados como uma espécie de cidadãos de Itu: para nós, aqui tudo é o maior isso, o maior aquilo.
Não o IDH, estatística combinada de expectativa de vida, educação e PIB.

Trechos da cronica Boeings e Teco-tecos de Arthur Dapieve ( o Globo, 11.01.2013)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Assimetrias (II)

Lá encima,
preguiçosas,
malemolentes
as fragatas descrevem suaves círculos,
ao sabor das térmicas,
como se aflição não houvesse.
Cá embaixo,
um coração tropeça
aos solavancos,
uma existência percorre
obscuros antros,
uma alma recolhe
seus pedaços!
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Não as invejo.
Não amam,
não odeiam,
não sofrem de concupiscência.
Não possuem alma.
Do barro humano
não são feitas!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Assimetrias (I)

Eras substância,
eu, mero acidente.
Eras ato,
eu, potência.
Eras significante,
eu, significado.
Eras protagonista,
eu, figurante.
Eras meu tormento,
eu, simples passatempo.
Eras texto principal,
eu, nota de rodapé.
Eras chuva copiosa,
eu, garoa preguiçosa.
Eras sudeste firme e constante,
eu, terral matinal.
Eras mulher,
eu, figura paternal.
Assimetrias
que, inexoravelmente,
 levariam
ao desfecho fatal.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tudo a ver...

...com o que me vai pela alma nesses dias.

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Luiz Felipe Pondé

Intimidade
[...]
Sou um homem de obsessões. Uma delas é que não controlamos a vida. Mas, mesmo assim, devemos tentar ter algum controle sobre ela. Ao final, sempre somos derrotados. Se pensarmos nisso, nada vale a pena. Mas, antes da morte, tudo vale a pena justamente porque nunca venceremos a batalha. Não há qualquer outra dignidade na vida além da do herói épico que combate 1 milhão de inimigos.
Revi o maravilhoso "Revelações", com Anthony Hopkins (Coleman Silk) e a bela Nicole Kidman (Faunia Farley). O filme é baseado no romance de Philip Roth "A Marca Humana".
Este romance guarda um segredo que não deve ser revelado, sob pena de destruir seu impacto. Ele devia ser lido por todo mundo acometido da doença do século: a superficialidade de alma. Não se combate essa doença com alguma teoria sobre a vida (como pensam os superficiais ilustrados), mas unicamente com o mais puro impasse.
Silk é um "scholar" de literatura que tem sua vida destruída porque usa a palavra "spook" ("fantasma", mas que tem um segundo possível significado, "negro", no sentido pejorativo) para dois alunos que nunca iam à aula.
Apesar de que ele não os conhecia, e, portanto, não sabia que eram negros, os dois alunos "se ofendem" mortalmente e, por isso, Silk sofre um processo na universidade por racismo. É humilhado por seus colegas. Pede demissão. Sua mulher morre do coração de desespero. Ele tem sua vida arruinada.
[...]
Sou um vocacionado à tristeza, mas resisto bem. As pessoas a minha volta sempre me salvam, mesmo que sem querer. Livros e filmes como esses me deixam felizes porque vejo neles o que vejo em mim: o sentido da vida que brota do fracasso, do impasse.
Roth sempre narra como indivíduos são esmagados por processos históricos. Neste caso, a hipocrisia neopuritana que se alimenta do antirracismo, fruto imundo da luta pelos direitos civis nos EUA, e que corrói a universidade como uma "peste do bem". Todos devem provar que não têm preconceitos (como em outros tempos teriam que provar a fidelidade ao partido ou a pureza racial) e, por isso, as palavras e os gestos são controlados no detalhe.
Coleman e Faunia se apaixonam. Ele, um velho deprimido ("Graças a Deus inventaram o Viagra"), ela, uma jovem pobre desgraçada, faxineira, com três empregos, que "matou seus filhos" num incêndio, espancada pelo marido, abusada pelo padrasto, abandonada pelos pais.
Todos são contra. Seus amigos, ex-amigos, inimigos, advogado. Ele é acusado de abusar de uma mulher jovem e pobre. Mulheres mais velhas odeiam quando mulheres mais jovens se apaixonam por homens mais velhos. Ela é acusada de querer dar o golpe da barriga. Ele é culto e sofisticado, ela fala "to fuck" ao invés de "fazer amor". Vulgar, se veste mal e limpa a merda dos outros o dia todo, todos os dias.
Mas eles têm aquele tipo de amor que brota dos restos do gozo e da intimidade suja, do afeto úmido que mora entre as pernas das mulheres. Um microcosmo no qual o materialismo vence sua pobreza. Uma vitória do corpo sobre o medo.
O filme é uma profunda prova do fracasso do sentido das coisas. Tudo na narrativa constrói a destruição do sentido da vida. O único lugar onde Coleman e Faunia existem é na solidão gloriosa do sexo.
Num dado momento ela chama a atenção dele para que tudo que existe entre eles é sexo. Ele insiste que não. Ela diz para ele que ele pensa assim porque não faz sexo há muito tempo.
A intimidade física entre uma mulher e um homem é de fato uma das maiores experiência da vida. Em meio aos restos dela, no encontro entre a saliva e o sexo, podemos encontrar alguma alma que valha a pena.

Folha, 07.01.2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

2013

Com o adeus às ilusões em 2012.
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Menos...
auto-engano,
wishful thinking.
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Mais...
pés no chão.

Personagens Rodrigueanas

Saiu de casa para viver com um lutador de MMA que lhe batia a ponto de ser internada . No hospital, os pais, desesperados, tentaram convencê-la a voltar para casa. Recuperada, voltou para os braços do algoz.

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Foi roubado, traido.  Entretanto, seus olhos brilhavam toda vez que falavam nela.

(Histórias reais de pessoas que me são próximos)

Balanço

As ilusões?
Perderam-se.
A esperança?
Era vã.
Os sonhos?
Todos roubados.

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Sigo
só,
silente,
minha sina.
Sou resiliente.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2012

Foi um ano difícil; marcado por reveses importantes que remetem à   precariedade de nossa existência. Tiveram o contraponto de poucas, pequenas mas importantes alegrias, pontos de luz nessa waste land que é nossa passagem por essa vida.
Foi duro perder boa parte da visão do olho direito e de ainda não saber onde isso poderá terminar.
Doloroso constatar na própria família que laços de sangue não são necessariamente laços de afeto.
Quanto às relações pessoais, a desolação de ver um sonho liquefazer-se. Consumira, se posso comparar, o esforço necessário para um maratonista completar sua prova, que dizem ser supremo, porém fora privado da recompensa da chegada. A realidade, a pior possível - um pesadelo! -  revelou-me que continuava no ponto de partida.  Quisera a significância, continuava significado.
Nem tudo, entretanto, foi waste land. Houveram iluminações. Pequenas, cabem  em duas frases:
- Obrigado por tudo. Você é um exemplo prá todos nós - de um aluno meu ao se despedir  ao final do curso que coordeno na empresa.
- Conheci dois canalhas a menos na minha vida. Um deles é você - de um recente amigo meu. 

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O ano se vai e me deixa forte na alma, melhor como pessoa. Na dor nos forjamos. As desventuras se esfumam na poeira do tempo. A alegria de ver minha mãe com 87 anos, sorridente e falante na passagem de ano, é o milagre da vida que se reinventa mesmo onde é baixa a esperança.
Começo o novo ano com uma certeza -  perigosas são as certezas! Como Sísifo, há que  recomeçar sempre, mesmo que o esforço seja vão.
É o drama - ou seria tragédia? - da existência. Comédia... certamente não o é.

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Que 2013 nos faça melhores!