segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Se ele que "passou a regua", escreveu isso...

por mais preconceituosa e machista que a frase possa ser - as feministas devem odiá-la! - de algum conteúdo ela deve  estar imbuida. Está escrito lá na epígrafe do livro Mulheres de Charles Bukowski:

Muito cara legal foi parar debaixo da ponte por causa de uma mulher.

Henry Chinaski 

Chinaski era o alter ego do escritor e no livro ele literalmente leva para a cama todas as mulheres que  - vamos dizer assim! - se atravessam na sua vida

P.S. Lí Mulheres lá nos anos 80 em que Bukowski fez muito sucesso por aqui. Eu tinha sofrido um baque sentimental sério.  O livro da extinta Brasiliense foi publicado em 1984 e dormia nas minhas estantes. Meu irmão o descobriu e resolveu lê-lo. Ele anda meio desiludido com as mulheres.

 Não perderia meu tempo, mas enfim... que faça bom uso da sua leitura.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Bingo!

 Não é necessário ser de esquerda para defender a democracia

foi o que disse o presidente uruguaio Lacalle Pou, um quasi-solitário representante da centro-direita,  na cúpula da CELAC (Cupula de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) que  aconteceu em Buenos Aires , segundo matéria da Folha de ontem. Marcou posição face aos representantes de esquerda - majoritários - que aproveitaram os lamentáveis acontecimentos protagonizados pelas falanges bolsonaristas em Brasília no dia 8 de janeiro para faturar sobre o episódio e afirmar-se como paladinos da democracia. 

Falou o óbvio; quem formulou pela primeira vez o princípio da separação dos poderes, um dos pilares dos sistemas democráticos modernos surgidos com o Iluminismo, foi Montesquieu, o mais britânico dos iluministas franceses - um conservador por temperamento e condição social -  no seu Espírito das Leis (Livro 11). Ele viveu na Inglaterra por 3 anos com o propósito  deliberado de estudar as instituições políticas inglesas e se inspirou no Segundo Tratado do Governo Civil de Locke, cujas idéias inspiraram a Revolução Gloriosa de 1688 na Inglaterra e na fundação da sua Monarquia Parlamentar e Constitucional. Foram  essas as fontes  que inspiraram  as constituições das modernas democracias ocidentais, os redatores de The Federalist, um corpo de literatura política até hoje utilizado na América e a Encyclopedie francesa que teve em Montesquieu um de seus redatores.  

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As eleições mostraram um país dividido e que o bolsonarismo, um movimento marcadamente reacionário de extrema direita visto com simpatia por 25% da população segundo pesquisa do DataFolha  não pode ser confundido com todos aqueles que não comungam com o ideário de esquerda mas que acreditam e defendem os  valores democráticos.

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Nossa esquerda latino-americana é paladina da democracia, pero no mucho. Apenas quando lhe convém. Vários desses dirigentes tem relações muy amigas com  alguns países onde a democracia é espezinhada diuturnamente, tipo Cuba, Venezuela, Nicarágua. Para justificarem, invocam o princípio da autodeterminação dos povos (?!?)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Erros processuais.

Na proxima sexta-feira o incêndio da boate Kiss onde morreram 242 pessoas, estará comemorando 10 anos. Até o momento, ninguém foi responsabilizado pela Justiça pelo que aconteceu. Um juri popular que condenou dois empresários, um músico e um assistente de palco  a penas entre 18 e 22 anos de prisão foi anulado por dois desembargadores. Motivo: erros processuais. É matéria da Folha do dia 21.

É só mais um exemplo para mostrar como é muito difícil enquadrar os poderosos pelos crimes que cometeram. A justificativa usada pela Defesa neste caso e na grande maioria dos casos em que um peixe graúdo é incriminado é  recorrente: erros no processo. Diante da impossibilidade de anulá-lo quanto  ao mérito, utiliza-se a estratégia do pente fino nos seus ritos. Não sou do ramo, mas imagino, que sejam raros os processos que não contenham algum tipo de imperfeição. Nossos causídicos enveredam por esse caminho e safam a turma do andar de cima invariavelmente. 

É incrível como nossa Justiça dá tamanha importância aos ritos, a ponto de colocá-los em pé de igualdade com as questões de mérito. Somos um caso peculiar - mais um caso de realismo fantástico... -  ou esse tipo de abordagem vige em outros sistemas jurídicos?

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Graças ao nosso Estado Democrático de Direito não me surpreenderia de dar com o Cabral ou o Cunha desfilando livres, alegres e desimpedidos em um dos muitos blocos que vão agitar a cidade neste carnaval. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Historinhas de uma cidade decadente. (No dia do seu padroeiro...)

Estamos revoltadas com a total falta de carinho e empatia do ator Antonio Fagundes e sua equipe para com o público. Desejo ao profissional que volte para São Paulo, porque o Rio não é sua praia. 

Foi o que escreveram na seção de Cartas dos Leitores de O Globo,  Rita Araujo e Marly Gutierrez, criticando o fato de terem encontrado as portas fechadas ao chegarem atrasadas para o espetáculo Baixa Terapia em temporada no Teatro Clara Nunes no Shopping da Gávea. Não é uma gracinha? Chegam atrasadas, atrapalham a vida de quem chegou no horário e ainda falam em falta de carinho e empatia? Ao invés de meter o rabo entre as pernas e se recolher envergonhadas, passam ao ataque... Em que mundo vivem essas senhoras? No carioca, certamente, onde chegar atrasado não passa de uma carioquice!

Mas a coisa não ficou por aí, de acordo com matéria de o Globo, no último sábado a polícia teve que ser convocada porque 50 pessoas que chegaram atrasadas passaram a esmurrar as portas do teatro e o espetáculo teve que ser interrompido.

Depois falam que as coisas não dão certo por causa dos políticos. Aliás eles tem mandato, graças ao nosso voto!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Falsa simetria

É o bordão com que somos contemplados pelo lulo-petismo - ou pelos luloafetivos segundo Madeleine Lackso -  quando equiparamos algumas de suas posturas com aquelas do bolsonarismo. É chamar urubu de meu louro, rebatem.

Leiam está historinha - Luana e Goretti - um dos sub-títulos da coluna que Elio Gaspari publicou na Folha e depois conversamos.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Menos... bem menos...

 Manifestação antidemocrática...ação de vândalos...invasão dos Três Poderes... destruição do patrimônio público... Intentona... Sim!

Ação terrorista... tentativa de golpe de estado...  Não!  Fosse uma coisa ou outra, a ação não teria sido deflagrada num domingo com todos os prédios desocupados, nem teria sido feita por uma turba desarmada onde haviam  mulheres, velhos e até crianças... Seriam necessários pelo menos um cabo e um soldado, parafraseando um filho do ex-presidente. Nem um, nem outro estiveram por lá.

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Há linhas de comparação com a invasão do Capitólio, ocorrida um ano atrás, mas considero aquela mais grave pois pretendia impedir a sessão do Congresso em que se faria  a contagem oficial dos votos e seria proclamada a vitória de Joe Biden. Aqui Lula tinha sido empossado seis dias antes e sequer estava em Brasilia. 

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Tão desimportante foi a ação no quotidiano do país que no dia seguinte, instituições, mercado financeiro funcionaram normalmente. O dolar não subiu, nem a Bolsa despencou...Entretanto,  nossa esquerda e nossa midia mainstream usaram e abusaram dos dois  termos tentando superdimensionar uma ação  que não passou de uma desastrada operação de um  exército Brancaleone tupiniquim. Pior, certamente esses fatos serão reportados com esse viés ideológico nos nossos livros de história dado que a grande maioria dos nossos historiadores é simpático às teses de esquerda.

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Até mesmo do ponto de vista legal, haverá dificuldade de enquadrar a ação como um crime terrorista já que a Lei 13.260 de março de 2016 define como terrorismo, atos promovidos por razão de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião. Razões políticas foram excluidas por exigência de parlamentares da esquerda temerosos que houvesse criminalização dos movimentos sociais (!?!).

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Marcus André Melo na sua coluna na Folha de ontem faz uma análise desassombrada dos fatos do dia 8, citando vários analistas internacionais que manifestaram seu espanto com tamanho amadorismo e falta de um objetivo claro para a ação.

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P.S. Que os órgãos responsáveis investiguem e punam quem promoveu e financiou os atos  - os peixes grandes - e deixem em paz os bagrinhos que foram a Brasilia sem muita noção do que estavam fazendo. Ou você acha que o cara que derrubou o relógio que D. João VI recebeu de presente do Rei da França, ou aquele que rasgou a tela de Di Cavalcanti, sabiam o que estavam destruindo?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

...e a Janja, hein?

Será que estamos diante do desabrochar de  uma Evita tupiniquim? Era só o que nos faltava nessa estranha obsessão que temos em seguir os descaminhos  dos nossos vizinhos argentinos. Lembram-se do efeito Orloff:  - Eu sou você amanhã?

Apetite não lhe falta, e ela não esconde de ninguém. Uma reportagem na Folha de hoje fala que sua superexposição já causa incômodos até junto a aliados. Ela faz questão de estar em todas, como se diz por aí.

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Estranho mesmo é a justificativa encontrada para todo esse protagonismo; dar uma visão moderna ao papel de primeira-dama. 

Entendo que se ela quiser passar o recado de que é uma mulher antenada com seu tempo, deveria exercer sua profissão de socióloga trabalhando regularmente em uma empresa ou instituição. Lembro da esposa do ex-primeiro ministro inglês Gordon Brown que saia todas as manhãs para trabalhar numa empresa de relações públicas em que era sócia-fundadora. Mulher moderna tá aí. Continuou exercendo sua profissão, não necessariamente na política. 

Mas a Janja parece querer mais. Participa de reunião com governadores, com membros do STF... Se ela quer participar da vida política, devia ter se candidatado a um cargo eletivo e ir prá Câmara ou Senado. Ou então ter sido nomeada Ministra - seria constrangedor, mas bem menos do que sua presença em diversas reuniões políticas do Presidente. Vai ver que ressignificar o papel de Primeira-Dama seja assim entendido nessa imensa porção de terra a sul do Equador que parece ter sido abandonada por Deus.

Não tenho notícias de que a Michelle Obama - que ela diz admirar - participava de reuniões políticas com os ministros do marido. Conheço pouco da história relacionada a Evita, mas como estamos em LatinoAmerica, é bem provável que sua participação tenha sido mais direta. 

No nosso caso, muito se escreveu sobre a dificuldade atávica que temos em separar o público do privado. Aqui o público, o impessoal são atravessados pelo espaço da casa. Torna-se difícil viver uma democracia representativa liberal com esses condicionantes. O protagonismo da Janja, à qual foi destinada uma sala no mesmo andar da Presidência no Palácio do Planalto, é só mais um capítulo nessa história. 

P.S. Mais sobre nossas dificuldades com o público e o privado no artigo A cultura personalista como herança colonial em Raízes do Brasil

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Sei não... pressinto que estão querendo fazer dela um balão de ensaio para uma possível sucessão do Lula.  Vai que dá certo...

Tudo muito parecido com o que aconteceu em certo país vizinho ao nosso. Peronismo por lá, lulismo por aqui. Caminho certo para o atoleiro mas realismo fantástico é com a gente mesmo.

"É a revolução dos manés"

 ...é o que teria postado nas redes o protético matogrossense Felipe Cisneros, enquanto participava da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes no domingo que passou. Está na coluna de Bernardo Mello Franco para O Globo de 11.01.

A frase chamou minha atenção para algo que passa desapercebido pela midia, preocupada em qualificar o furdunço em golpe, ato terrorista, em caracterizar os manifestantes como baderneiros, golpistas, fascistas, destruidores do patrimônico cultural do país. Quem estava lá eram os manés, o povão. Não deve haver pesquisa sobre os perfis dos baderneiros mas pelo que lí, vi e ouvi a maior parte parece ter vindo do interior do país... do Centro-Oeste, São Paulo, eram classe média-média, média-baixa. Raros devem ter curso superior.  Não eram elite de coisa alguma... cultural, econômica, política, intelectual... . Eram o Brasil profundo, sem movimentos sociais que os representem, invisíveis para a midia. Felipe Cisneros, que viajou da distante Cáceres, na fronteira com a Bolívia é o protótipo perfeito dessa turba.

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Sei lá por qual razão, veio-me à cabeça uma crônica - impagável - que Nelson Rodrigues fez da célebre passeata dos Cem Mil promovida por estudantes e artistas em 1968. Abaixo alguns trechos transcritos do site Aventuras na História

E outra observação que me deu o que pensar: - os Cem mil tinham uma saúde dentária de anúncio dentifrício. (...) E a marcha de 100 mil sujeitos sem uma cárie, sem um desdentado, assumia a forma de um pesadelo dentário (...) “E o povo? Onde está o povo?” O povo era ausência total. Não havia uma cara de povo, um paletó de povo, uma calça de povo, um sapato de povo.” 

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Dois momentos emblemáticos que mostram a distopia que somos como país; eu diria que ela não é privilégio nosso mas da maior parte dos países da América Latina. Em um deles está na rua o povão, e quem diria representando o que se convencionou chamar de direita do país, a mais retrógrada; noutro, sem nenhum sinal de povo, a nossa assim chamada esquerda. Vai entender...

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Traz alguma luz sobre o problema, embora não o explique, uma frase de Gabriel Boric, presidente chileno - parece-me alguém da esquerda inteligente e arejada latino-americana, espécime raro em Pindorama - em entrevista publicada na Folha:

Uma pergunta que temos que nos fazer como esquerda é por que, em que momento, a ideia da rebeldia foi apropriada pela direita no mundo.

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Eu faria mais uma:

Como explicar a direita associada ao povão e a esquerda às elites como mostram os dois episódios da nossa história recente? 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Operação Tabajara

...foram os atos antidemocráticos e de vandalismo provocados pelo bolsonarismo em Brasília no domingo, com a estranhíssima omissão dos poderes constituidos. Há quem os classifique de terrorismo, mas haja viés ideológico para considerá-los como tais, com crianças e velhos participando. Pode ter sido a intenção dos organizadores - precisam ser investigados e presos - mas claramente 99% daquele povo que vandalizou as casas dos Três Poderes, não sabia direito  a que viera. Li que andaram urinando - será que não foram além? - em alguns gabinetes de poderosos da República. Devo confessar que bem lá no fundão da minha alma dei umas risadinhas bem ao estilo daquelas do impagável Muttley* ao saber desses detalhes. Alguns notáveis da nossa República enfim sentiram o cheiro do povo. 
(na verdade nada sentiram, pois só entraram lá depois de tudo ter sido limpo e rearrumado/substituido)

* cão invariavelmente maltratado por seu dono: Dick Vigarista, personagem da série Corrida Maluca

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As versões para o ocorrido são muitas, mas o fato é que tudo o que os organizadores/artífices da patacoada conseguiram  foi dar um tiro no pé. Com tamanho fiasco, colocaram uma azeitona na empada da novo governo que vinha tropeçando nos próprios erros na primeira semana de atividade. 
- Agora vai! 
Foi o que li/ouvi de alguns jornalistas mais alinhados com as propostas da novo governo.

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Temo que a ação legitime a ala radical que assumiu o governo,  tanto na política, como na economia e na pauta dos costumes e lhes dê carta branca para implementarem sua visão de mundo. Aí sim é que o caldo pode entornar de vez com  a confusão e o descontentamento aumentando. Ficou claro no episódio o que já se sabia de antemão, que boa parte da polícia é simpática ao bolsonarismo, e que há  também bolsões no Exército. Apesar da desaprovação de 90% da população ao que ocorreu, cabe lembrar que a vitória nas urnas foi por margem apertada e que o país está dividido.
Aqui na planície, a militância da esquerda sentindo-se legitimada, está deitando e rolando.
- Pau nos reaças!  é um dos bordões que um amigo meu de esquerda - felicíssimo! -  não cessa de bradar. A ver onde tudo isso vai desembocar.

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Leio e vejo muito pouco o material que recebo dos  - poucos - amigos bolsonaristas que tenho. Dos raros que abro, impressiona o mundo paralelo em que esse pessoal vive. Anunciam uma data para a  intervenção do Exército que não acontece... criam outra que também não acontece... e outra... é incrível a resiliência... esperam com uma fé cega o milagre. 
Um hábil manipulador da mente humana deve estar por detrás disso. Deve usar técnicas que  marqueteiros e profissionais  de vendas já utilizam faz tempo, prá nos induzir ao consumo desenfreado. Bernardo Guimarâes em artigo para a Folha de hoje aborda com mais detalhes o quanto nossa mente é  vulnerável a ação desses predadores.
Começo a desconfiar que a definição de animal racional dada ao homem pelos gregos, está começando a fazer água, o que é péssimo para o nosso futuro como espécie. 
 

Prá começar bem o ano.

Acrescento outras  constatações a que cheguei depois de ter passado dos setenta e que não foram incluidas no post que pretendeu terminar bem o ano:

  • Existem os fatos e as versões dos fatos. Dê crédito apenas aos fatos. As versões deixe para os políticos, advogados, marqueteiros e jornalistas. E corolário dessa...
  • Confie  apenas nos atos das pessoas, não nas suas palavras.
  • Muito mais do que possa imaginar...você é massa de manobra. 
  • Fuja dos extremos. O caminho do meio é o mais virtuoso, já ensinavam os clássicos gregos, latinos e ensina o budismo.