sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Só porque é primavera! (2)

O silêncio,
amável companheiro da insônia
e das minhas leituras
nas frias madrugadas
deu lugar a
a uma polifonia desafinada
quase insana,
que irrompe da mata
sem cerimônia.
A passarada animada
dá o tom,
faz travessura.
O nascer do dia
perde o recato,
joga pro ar a compostura,
é tempo de alegria.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Consciência... prá que te quero? (2)

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O mais interessante de Jobs, filme de Joshua Stern sobre o criador da Apple, está no que consegue mostrar da pura brutalidade, verbal e moral, que parece prevalecer no mundo corporativo. 
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A julgar pelo filme, ele era antes de tudo um monstro. Desde sua entrada no mundo da informática, desenvolvendo aqueles joguinhos primitivos de Atari, Steve Jobs grita, humilha, apunhala e pisoteia quem passa pela sua frente.

Sua primeira negociação, com o proprietário de uma lojinha de acessórios eletrônicos, já se apresenta como duvidosa, para dizer o mínimo. Jobs mente, ou blefa, a respeito de suas possibilidades como fornecedor de um novo tipo de aparelho --no qual, mente de novo, inúmeras outras lojas estavam interessadas.

O aparelho, claro, é um modelo de computador que se pode usar dentro de casa, acoplado à tela de TV. A genialidade técnica da invenção não proveio de sua mente autocentrada, cujo caráter visionário e persistente se confunde com os defeitos do açodamento e da cegueira.

Ele percebeu que o mundo poderia ser outro, se surgisse alguém capaz de saber o que o consumidor deseja, antes mesmo que esse desejo fosse percebido.

O preço a pagar durante o caminho é de não ver mais nada, nem ninguém, entre o primeiro passo e o objetivo final. Jobs ignora tudo --até a namorada grávida e depois a própria filha-- em favor desses aparelhos que, por sua vez, tanto nos ajudam a conhecer e a ignorar o mundo.

Isso seria o de menos, não fosse a presença de outros humanoides tão determinados e impiedosos quanto ele. São os que terminam por destituí-lo da própria empresa. Jobs só era suportável se desse lucros aos acionistas; mas sabemos de que modo as novas tecnologias têm o poder de emperrar e não dar certo.

Quando ele volta para a Apple, supostamente mais humano e sábio, o espectador já está farto de torcer por um sujeito tão detestável. O próprio Jobs se deixa amolecer, e os produtos da empresa começam a ganhar a aparência que têm hoje. 
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Marcelo Coelho - Folha, 25.09.2013
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Já tinham me falado desse filme e das patranhas que o Jobs armara prá chegar lá - o objetivo final a que se refere o texto. Veio-me a lembrança um video que rodou na Internet, logo após sua morte, com  um discurso que ele fizera a formandos de uma dessas universidades da Ivy League. Impressionou-me. Era fantástico. Repassei-o, inclusive. Depois... esse filme.  Mostra bem como é importante chegar lá. Não importam os meios. Se você é alguém de sucesso, o rei da cocada preta, um winner enfim... você  legitima seu discurso, seus atos, sua pessoa. Você é o cara. Adquire o respeito dos outros. Não o meu. Só acredito no que as pessoas fazem; no que dizem, definitivamente não. Ainda mais nos tempos marqueteiros em que vivemos onde a imagem é que importa.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Consciência...prá que te quero?


O escritor russo Alexander Soljenítsin (1918-2008) escreveu um dia que os piores vilões de Shakespeare já não metiam medo aos homens do século 20. Motivo?
A consciência, claro. Nas peças do bardo, eles podem conspirar, atraiçoar, matar. Mas a consciência acaba sempre por ajustar contas com eles no final.
Exatamente como ajustou contas com Raskólnikov, o personagem central de "Crime e Castigo", de Dostoiévski, que não aguenta dois cadáveres a boiar na consciência e se entrega às autoridades do czar. Raskólnikov é talvez o último vilão clássico a sentir ainda "o céu sobre ele e a lei moral dentro dele".
Depois de Raskólnikov, a ideologia substituiu a consciência. E quem tem uma ideologia pode conspirar, atraiçoar e matar à vontade. Nada é pessoal. É tudo em nome do partido, ou da história, ou da raça.
O século 20 é a prova dessa miséria moral: de como os homens deixaram de sentir "as compungidas visitas da natureza" que tanto assustavam Lady Macbeth enquanto matavam milhões em nome de um ideal.

Trecho de uma crítica de João Pereira Coutinho na Folha de 13 de julho ao livro O Zero e o Infinito relançado agora pela Amarylis ( já escrevi sobre ele e até trechos publiquei em julho)

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No século XXI a ideologia - meio fora da moda - cedeu seu lugar ao sucesso pessoal. Nem Raskólnikov  entra no palco desse século, tampouco há compungidas visitas da natureza a Lady Macbeth. Se é necessário matar e esfolar para chegar lá, por que não?  A maldade sempre existiu, agora porém, o mal ficou banal. É artigo de todo o dia. Maldade, hoje tem seu charme; ser mau dá um quê de personalidade forte. É obvio que com arquétipos como esse, esse tipo cada vez mais comum, durma todas as noites o sono dos justos; pela manhã  o espelho certamente o contempla cinicamente e não se parte. Pruridos? ... ora os pruridos...
Assisto de vez em quando a novela das 19:00h na Globo. Como é rica a fauna de cafajestes  entre seus personagens.  Sem qualquer cerimônia, sem nenhuma culpa todos apunhalam-se naturalmente. Quem não joga o jogo é fraco, otário, mal-resolvido,  sem graça...
Que porre - ou seria buraco -  existencial!


domingo, 22 de setembro de 2013

Só porque é primavera!

Que dor,
por  lancinante...
Que maldade,
por  desatada...
Que alma
por mal amada...
resistirá ao encanto
de uma flor?






Feliz comigo mesmo!

Ao tentar postar essa música ontem, surgiu a dúvida: Já o teria feito no passado?
...e voltei no tempo. Fui lendo velhos textos, versos... e gostei! Mesmo nos textos mais doídos há elegância, delicadeza, sensibilidade; há também alguma ironia em alguns - quase sempre criticando usos e costumes do nosso cotidiano. Mantive o nível. Poderia ter usado o espaço para agredir; reservei-me a traduzir a alma. Os textos transbordam minha personalidade. Quem me lê é um pouco meu psicólogo, psiquiatra. Não tenho muita simpatia por eles; nunca frequentei seus consultórios. É uma tarefa a vocês delegada.
Que continue assim!
PS - Podem achar que é presunção, narcisismo. Às vezes - mesmo homem de poucas qualidades! - sinto-me gente prá caramba. Eu sobro na turma.