quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Bolsonaro, vá tomar no c...!

...cantavam as crianças de uma escola infantil postadas ao longo do trajeto da motociata liderada pelo capitão pelas ruas de Petrolina-PE, no seu último dia de campanha no Nordeste. (Deu no blog do Noblat)

Homenagem justa,  com termos prá lá de adequados,   ao unusual modus vivendi e modus operandi do nosso presidente que por eles será distinguido na história do país.

De como os poderes constituidos podem destruir sua vida.

A didática reportagem da Piaui não deixa dúvidas quanto ao destino que pode tomar a vida de um simples cidadão como eu, você... que ouse desafiar os poderosos do país. De um lado a família Leite, dona da fazenda Cotia com 136 hectares em Corumbá de Goiás (GO), de outro - olha a constelação! - um político, uma delegada, amigos influentes, um promotor e um juiz. Depois de um processo que durou 10  anos, a  família, além de ter três de seus membros presos, dois mortos, perdeu a casa, as terras, o gado e o dinheiro. Atualmente, conseguiu reaver a posse da fazenda através de liminar, mas lá não se instalou, temendo que a decisão seja derrubada e eles percam novamente a posse. É o enredo clássico daqueles filmes do velho Oeste, que desapareceram do cinema, mas sem final feliz. Poderosos com a sempre necessária cumplicidade/submissão  das instituições fazendo valer seus direitos sobre quem ouse se interpor no seu caminho.  

E há quem diga que vivemos em uma democracia onde as instituições funcionam, em que o estado de direito é respeitado. Certamente a turminha do político deve argumentar que todo o  processo se desenvolveu respeitando os ditames da lei,  o ordenamento jurídico vigente. Entretanto, vá pedir para os membros da família Leite que ficaram na rua da amargura como eles vêem o funcionamento das nossas instituições que de republicano nada tem, infiltradas que estão pelos interesses dos poderosos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Meus heróis morreram todos.(II)

Roger Federer não se foi definitivamente, mas abandonou as quadras. Foi o último grande tenista por quem torci e, certamente, um dos maiores desportistas que conheci. Elegante, sóbrio, enfim, um clássico como pessoa nas quadras e pelo que sei fora delas. Foi comovente vê-lo despedir-se às lágrimas, diante dos grandes - especialmente Nadal (são amigos) e Djokovic -  contra os quais fez partidas memoráveis. 

 
(Blog Bola Amarela)

 Tecnicamente era um jogador completo que alternava o jogo de fundo de quadra com subidas à rede, na minha humilde opinião de leigo. São raros atualmente. A turma do saque e voleio praticamente desapareceu. Prepondera o pessoal que limita-se a trocar bolas no fundo de quadra. 

O tênis masculino está cada vez mais chato, assim como o mundo. Raramente dedico a ele meu tempo diante da TV.

sábado, 17 de setembro de 2022

God save the Queen! (II)

Não deixa de ser surpreendente e principalmente gratificante, nos tempos distópicos em que vivemos onde uma mulher é avaliada pelo  tamanho da sua bunda - nem as gestantes escapam da fixação como mostra a emblemática foto que ilustra a matéria da Folha  - assistir tanto espaço na midia dedicado a uma mulher que pode ser distinguida por virtudes como entrega total ao seu dever, controle emocional e sacrifício pessoal conforme escreveu Brendan O'Neill, o republicano editor-chefe da Spectator

As bundudas que a midia exalta com furor, refletindo a cultura que domina nossos tempos, certamente desconhecem tais atributos. Nem devemos culpá-las, porque sequer os conhecem. Outros valores mais altos - uma bunda grande, por exemplo -  se alevantam no século XXI. E não faltam estímulos para que sejam utilizados, até porque seu sucesso é enorme. 

Talvez o passamento da rainha seja o suspiro derradeiro de uma época. Virtudes que a distinguiram, provavelmente farão parte do passado. Torço para que minhas previsões não se cumpram.

God bless Elisabeth II!

Arco-iris que apareceu no céu junto ao castelo de Windsor, quando a Union Jack desceu a meio-pau no anúncio da morte da rainha. (Getty Images)

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O que realmente importa

A parábola do filósofo sul-coreano Byung-Chul Hang citado por J.P. Coutinho é  um oásis em meio ao deserto de idéias em que estamos jogados. Um tempo dominado por metanarrativas,  onde  tudo é relativo, mera construção  cultural, jogo de palavras; em que as identidades são fluidas e onde razão e os universais foram jogados no lixo.

A fotografia Boulevard du Temple de Daguerre apresenta de fato uma rua parisiense muito animada. Mas, devido a um tempo de exposição extremamente longo, característico do daguerreótipo, tudo o que se move é levado a desaparecer. Só é visível o que permanece imóvel. O bulevar du Temple irradia uma paz quase aldeã. Além dos prédios e das árvores, vê-se uma única figura humana, um homem a quem engraxam os sapatos e que, por esse motivo, está parado. Assim, a percepção do longo e lento só reconhece coisas imóveis. Tudo o que se apressa está condenado a desaparecer. O Bulevar du Temple pode interpretar-se como um mundo visto com o olhar divino. Ao seu olhar redentor só aparecem aqueles que permanecem numa imobilidade contemplativa. É o silêncio que redime."   

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Meus heróis morreram todos.

 ... raros de overdose, lamento informá-lo meu caro Cazuza.

Caramba, em 15 dias se foram Gorbachev, Elisabeth II. Não consigo vislumbrar mais nenhum grande estadista alive. A partir de agora não há mais ninguém para prantear. A caminhada torna-se cada vez mais solitária. 

Pensando bem.... Restou a turma da overdose.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

God save the Queen!


Certamente ela foi a maior representante da nobreza do século XX e quiçá de todo o século XXI, dada a baixa credibilidade que atinge atualmente as monarquias do mundo.

Estoica, discreta, humilde, sacrificou sua vida pelo dever da função. Certamente, numa época de proeminênia de direitos como a nossa, onde desfrutar é prioridade, não haverá alguém que lhe faça sombra a curto prazo. A nobreza atual em boa parte circula pelo duvidoso mundo dos famosos  que sobrevivem das fofocas que produzem  na midia tradicional e nem tanto. 

Com ela se vai toda uma era. É a última grande testemunha da história, protagonista em um mundo que se estende da 2a Guerra Mundial - trabalhou como motorista de ambulância nos raids da Lutwaffe sobre Londres - até os dias de hoje. Conheceu todos os grandes personagens da história do período - de Churchill passando por Kennedy, Obama, Mandela, os papas, Gorbachev - claro! -  e porque não, Putin. 

Elisabeth II é outra personalidade - provavelmente a última! -  de quem era fã incondicional. Deu dignidade às monarquias inglesa e do resto do mundo. Sem ela, perderão muito da sua substância, até o surgimento de algum representante com a mesma estatura.

Rest in peace, Her Majesty!

P.S.
  1. J.P. Coutinho, as usual, dá uma aula de erudição ao comentar o papel da monarquia nas instituições políticas britânicas que Elisabeth II, representou com quase perfeição.
  2. Lygia Maria, comenta o patrulhamento das milícias da raça, da identidade e do gênero (essa turma está demais!) quanto ao que consideram omissão da rainha a respeito do passado colonialista/racista do Império Britânico.


quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Imagem do dia

Coube ao  manjado 474 (Jacaré-Jardim de Alá) que cansei de ver, por obra e graça de motoristas malucos em desabalada carreira pela N. Sra. de Copacabana, desafiando todas as leis de trânsito,  dar um toque inusitado a este 7 de setembro que virou o Bolsonaro's Day.

Não é que algumas figurinhas que o frequentam usualmente, responsáveis por alguns assaltos e arrastões na orla, hoje resolveram enfrentar as hordas bolsonaristas que invadiram a minha praia em Copa? Veja eles aí, pendurados nas janelas,  xingando, alguns motoqueiros adoradores do capitão. No vídeo ouvem-se gritos de Lula, Lula...!

Imagem UOL

A imagem é emblemática. Nas janelas do ônibus, está o povo de Lula; pobres e favelados onde ele goza de uma confortável maioria nas pesquisas. Os motoqueiros são o povo bolsonarista; viajei com eles no trajeto que fiz de metrô entre o Jardim Oceânico e minha casa. Vinham para a pajelança em Copacabana. É um pessoal de classe média que ganha entre dois e dez salários mínimos, muito entusiasmado com o seu lider. Goste-se ou não do capitão, ele despertou um movimento que estava sufocado na sociedade brasileira e que a nossa esquerda, míope, insiste em não ver; quando o faz, despreza. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Que belo exemplo o Chile nos dá.

Sempre tive uma particular afeição pelo Chile. Com o Uruguai é o que mais se aproxima do que se pode considerar como um país desenvolvido em Sud América. Estranhei muito as violentas manifestações de 2019 que me pareceram manipuladas por uma minoria extremada. Há de fato problemas com a previdência do país e talvez com o ensino mas os demais, nem de longe assemelham-se aos enfrentados pelos outros países sulamericanos, à exceção do Uruguai. O Chile é o maior PIB per capita do continente, posição conferida por várias instituições econômicas mundiais. 

Uma das reinvindicações dos protestos foi a elaboração de uma nova constituição redigida por uma Assembléia Nacional Constituinte democraticamente eleita e amplamente dominada pelos segmentos progressistas da sociedade num país tido como de maioria conservadora. Dos 155 membros, 52 eram de listas de partidos de esquerda, 48 de listas autodenominadas independentes, 38 de listas de partidos de direita e  17 reservadas para representantes indígenas segundo a DW. A ampla maioria progressista lançou-se à tarefa de refundar o país, redigindo um texto que garantiria à  sociedade chilena mais direitos do que qualquer outra carta redigida até hoje; direito à moradia, educação, ar puro, água, comida, saneamento, acesso à internet, aposentadoria e serviços médicos do nascimento até a morte de acordo com o NYT. Depois de um ano o caudaloso texto com 338 artigos, foi votado e rejeitado por ampla maioria no último domingo. 

Vários são os fatores que determinaram a esmagadora rejeição. Arrisco-me a dizer que, se aprovado, seria o primeira constituição nacional de cunho marcadamente pós-moderno - o pós-modernismo dos anos 90, repleto de reivindicações das minorias e pautas identitárias.  Assim, povos e nações indígenas são citados 47 vezes no texto; a palavra gênero associada aos termos perspectiva, enfoque, paridade e diversidade aparece 39 vezes.  

O artigo primeiro estabelece o Chile como um estado plurinacional. Tenho dificuldades para entender o termo; seria para respeitar os povos indígenas que são 13% da população? A autonomia a eles concedida em termos de governo, cultura,  território e de jurisprudência (artigos 34 190, 234,309), sugere que eles seriam um estado dentro do estado chileno. 

O artigo sexto, estabelece representação paritária de homens e mulheres em todos os órgãos colegiados do Estado, diretorias de empresas públicas e semipúblicas. Igualdade de direitos seria representação paritária? Será que as habilidades e preferências pelos mais diversos ramos da atividade humana são exatamente iguais entre homens e mulheres?

São alguns dos temas polêmicos apresentados pelo texto e não fica difícil entender porque em um país de maioria conservadora, ele acabou tendo uma desaprovação tão significativa. Torço para que eles se entendam nessas questões e redijam um texto mais alinhado com os valores e o imaginário da maioria da população.

Fica a lição de que em uma democracia, minorias jamais imporão suas pautas. Para isso terão que se tornar maiorias. 

Ricos e poderosos continuam dançando à beira do abismo.

O post da Malu Gaspar em seu blog ancorado em O Globo digital mostra como ricos e poderosos com a ajudinha da Justiça, amparada no ordenamento jurídico nacional, invariavelmente conseguem safar-se dos mal-feitos dos quais são acusados.

Diante das novas descobertas do estranho fascinio que a famiglia Bolsonaro tem pelos negócios com dinheiro vivo - uma forma consagrada de lavagem de dinheiro -  a jornalista analisa os caminhos às vezes tortuosos, por onde transitam os processos movidos contra o clã,  até serem considerados nulos pela Justiça. Investigações do MP e da imprensa, relatórios do COAF mostram evidências sobre uma série de irregularidades em que estão envolvidos filhos, ex-mulheres e irmãos do presidente. 

Mas aí entra a Justiça com decisões marotas e inéditas para invalidar provas (relatório do COAF), suspender decisões de tribunais inferiores, transferir processos para outros foros até se chegar ao arquivamento dos processos como os da rachadinhas em que está envolvido o filho Flávio. A materialidade dos fatos nunca foi negada nas decisões, o argumento usado para a anulação baseia-se em questões processuais. 

Já vimos esse filme em diversos processos movidos pela LavaJato (Lula é o exemplo maior). Não deixa de ser irônico, uma vez que  o descrédito nas instituições é uma das razões apontadas para a ascenção do bolsonarismo que não se envergonha de  fazer uso dos mesmos expedientes quando se trata de limpar a própria cara

Nossa Justiça com suas interpretações da lei de acordo com as conveniências da hora, com a primazia que dá aos ritos, em detrimento da materialidade das ilicitudes,  alarga cada mais mais o fosso entre o que é de direito e o que é de fato. É um tiro no pé, uma vez que desacredita a si própria e perigoso para a democracia e o tal estado de direito que nossos democratas  defendem com fervor, desde que funcione a seu favor, de seus prepostos e apaniguados.

Vai que um dia o povão canse e bote para quebrar jogando no abismo essa turma que se diverte como se não houvesse amanhã,  à beira dele. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A marcha da insensatez (III)

O artigo de Sylvia Colombo para o UOL mostra com clareza que a insensatez não é privilégio apenas do Rio de Janeiro... do Brasil... mas também da América Latina. 

Ela considera uma ambiguidade dos argentinos o fato de Cristina Kirchner manter  sua popularidade alta, conseguindo concentrar diuturnamente um grande número de apoiadores em frente a sua residência, mesmo acusada em quatro casos de corrupção e agora ter contra si um pedido de prisão de 12 anos feito por um promotor local. É nessa popularidade que ela aposta sua defesa, de acordo com a colunista.

Qualquer semelhança com o acampamento instalado em frente à carceragem da Polícia Federal em Curitiba, durante a prisão de Lula não é mera coincidência.

Nosso imaginário torto de latinoamericanos está sempre a espera de um cavaleiro andante que venha nos redimir. Um salvador que transcenda o bem e do mal, acima da Constituição - pacto soberano escrito por todos -  que deveria ser a instância máxima de uma democracia liberal. Tais demiurgos são inimputáveis. Peça a um lulo-petista, a um peronista ou a um bolsonarista a respeito dos mal-feitos dos governos dos seus jefes, capitães, ou seja lá como o milagreiro é chamado. Eles desconhecem. No caso do lulo-petismo basta ler os comentários ao artigo.

Tamanha insensatez não tirará esse insignificante continente - superamos tão somente a África - do secular atoleiro em que se meteu.