sábado, 31 de agosto de 2013

Sorry, periferia!

Desconheço o tédio.
Cortejo as trevas
bordejo o abismo.
Tisnado pela dor,
reverbero
em luz.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

!

Recluso,
vivo off.
Marginal,
vivo out.
Naive,
Engano-me always 
There's no lunch for free!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Se esquecermos as mazelas...

Conheci muitas cidades no mundo e nenhuma é melhor do que o Rio, que oferece praia, montanha, cultura sofisticada e tempo bom, afirma Greenwald. (Folha, 25.08.2013)
Entretanto, afirma, mais adiante que a perspectiva de voltar a morar nos EUA ainda está em seu horizonte.
Ele é Glen Greenwald, o correspondente do The Guardian no Rio que publicou as revelações de Edward Snowden sobre essa grande bisbilhoteira do mundo que é a CIA.

domingo, 25 de agosto de 2013

Ser carioca ... (por um deles!)

E então eu parei o carro, puxei o freio de mão e pensei: “Cheguei em casa”.
Faz 1 ano. Desembarquei com esposa, cachorro e umas malas. A mudança veio no dia seguinte. Levei 33 anos imaginando “como seria”, e agora tenho 1 pra contar “como foi”.
O Rio de Janeiro é a minha Paris. Eu não sonho com a tal de torre, nem me importo com o Louvre e nem acho do cacete tomar café naquela tal de Champs-Élysées. Eu acho charmoso ir a praia de Copacabana, tomar cerveja de chinelo no leblon e ir a um samba numa grande escola.
Sou paulista, nunca tive rivalidade bairrista em casa. Nunca me ensinaram a odiar o estado vizinho, ao contrário, sempre me foi dada a idéia de que estando no Brasil, estou em casa.
Ouvi mil mentiras e outras mil verdades sobre o Rio enquanto morei em São Paulo. Todas justas no final das contas.
Carioca exagera tudo, pra baixo e pra cima. Se elogiar a praia, ele exalta dizendo que é “a melhor praia do mundo”. Se falar que é perigoso, ele não nega. Diz que é “perigoso pra caralho”.
Trata sua cidade como filho. Só ele pode falar mal.
Cariocas não marcam encontro. Simplesmente se encontram.
A confirmação de um convite aqui não quer dizer nada. Você sugere “Vamos?”, eles dizem “Vamo!”. O que não implica em ter aceitado a sugestão.
Hora marcada no Rio é “por volta de”. Domingo é domingo. E relaxa, irmão. Pra que a pressa?
Em 5 minutos são amigos de infância, no segundo encontro te abraçam e já te colocam apelidos.
Não te levam pra casa. Te convidam pra rua. É curioso. Mas é que a “rua” aqui é tão linda que se trancar em casa é desperdício.
Cariocas andam de chinelo e não se julgam por isso. São livres, desprovidos de qualquer senso de sofisticação.
Ao contrário, parecem se sentir mal num ambiente formal e de algum requinte.
“Porra” é um termo que abre toda e qualquer frase na cidade. Ainda vou a uma Igreja conferir, mas desconfio que até missa comece com “Porra, Pai nosso que estais…”.
Cariocas são pouco competitivos. Eu acho isso maravilhoso, afinal, venho da terra mais competitiva do país. E confesso: competir o tempo todo cansa.
Acho graça quando eles defendem o clube rival pelo mero orgulho de dizer que “o futebol do Rio” vai bem. Eles nem notam, mas as vezes se protegem.
Eles amam essa porra. É impressionante.
Carioca é o povo mais brasileiro que há, mas que é tão orgulhoso do que é que nem parece brasileiro.
Tem um sorriso gostoso, um ar arrogante de quem “se garante”.
Papudos, malandros, invocados. Faaaaalam pra cacete. E sabem que estão exagerando.
Eles acham que sabem o que é frio. Imagine, fazem fondue com 20 graus!
A Barra é longe. Buzios, logo ali!
Niterói é um pedaço do Rio que eles não contam pra turista. Só eles aproveitam.
Nilópolis é longe. Bangu também.
Madureira é um bairro gostoso. O Leblon, vale os 22 mil por metro quadrado sugeridos pelos corretores.
Aliás, corretores no Rio são bem irritantes.
Carioca, num geral, acha que está te fazendo um favor mesmo se estiver trabalhando. É tudo absolutamente pessoal, informal.
Se ele gostar de você, te atende bem. Se não, não.
Tá com pressa? Vai se irritar. Eles não tem pressa pra nada.
Sabe aquela garota gostosa que sabe que é gostosa? Cariocas sabem onde moram.
O bairrismo deles é único. Nem separatista, nem coitadinho. Apenas orgulhoso. Ao invés de odiar um estado vizinho, o sacaneiam e se matam de rir de quem se ofende.
Cariocas tem vocação pra ser feliz.
São tradicionais, não gostam que o mundo evolua. Um novo prédio no lugar daquele casarão antigo não é visto como progresso, mas sim com saudades.
São folgados. Juram ser o povo mais sortudo do mundo.
E quem vai dizer que não?
No Rio você vira até mais religioso. Aquele Cristo te olha todo santo dia, de braços abertos. Não dá! Você começa a gostar do cara…
E aí vem a sexta-feira e o dom de mudar o ambiente sem mexer em nada. O Rio que trabalha vira uma cidade de férias. As roupas somem, aparecem os sorrisos a toa, o sol, o futebol, o samba, o Rio.
Já ouvi um cara me dizer um dia que o “Rio é uma mentira bem contada pela mídia”. Ele era paulista, odiava o Rio, jamais tinha vindo até aqui.
E é um cara esperto. Se você não gosta do Rio de Janeiro, fique longe dele.
É a única maneira de manter sua opinião.
Em quase toda grande cidade que vou noto uma força extrema para fazer o turista se sentir em casa. Um italiano em São Paulo está na Itália dependendo de onde for. Um japones, idem. Um argentino vai a restaurantes e ambientes argentinos em qualquer grande cidade.
No Rio de Janeiro ninguém te dá o que você já tem. Aqui, ou você vira “carioca”, ou vai perder muito tempo procurando um pedaço da sua terra por aqui.
Não é verdade que são preconceituosos. É preciso entender que o carioca não se diz carioca por nascer aqui. Carioca é um perfil.
Renato, o gaúcho, é um dos caras mais cariocas do mundo.
Tem todo um ritual, um jeitinho de se aproximar.
Chame o garçom pelo nome, os colegas de “irmão”. Sorria, abrace quando encontrar. Aceite o convite, mesmo que você não vá.
Faça planos para amanhã, esqueça-os 10 minutos depois. Faça amigos, o máximo de amigos que conseguir.
Quanto mais amigos, mais cerveja, mais risadas, mais churrascos, mais carioca você fica.
E quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio. Como eles.
Gosto deles. Gosto de olhar pra frente e não ver onde acaba. Gosto de sol, de abraço, de rir muito alto e de não me achar um merda por estar sem grana.
Gosto de como eles se viram. Gosto da simplicidade e da informalidade que os aproxima do amadorismo.
A vida não tem que ser profissional.
Tem que ser gostosa.
E de gostosa, convenhamos, o Rio tá cheio.
Ops! Desculpa, amor! Escapou.
abs, merrrrmão!

Paulista travestido de Carioca
(Recebí por email)

Montaigne

....
Quem foi afinal Montaigne? Para Auerbach, podemos dizer que ele foi o primeiro escritor.Ou, pelo menos, o primeiro a esboçar a imagem moderna do escritor. Para quem ele escreveu seus célebres Ensaios - cerca de mil páginas, redigidas ao longo de 20 anos? Para ninguém, afirma Auerbach, embora Montaigne sustentasse que escrevia apenas para si mesmo. Seu objetivo, dizia ainda, era traçar (e também dissimular) os limites do seu mundo interior. Resumiu assim: É preciso fazer como os animais, que apagam as pegadas à entrada da toca. 
Aos 38 anos, Montaigne se recolheu à solidão. Restringiu  sua vida, a partir daí, à busca eu interior. Não se trata de uma fuga, Aurbach analisa. Foi uma experiência que, no século XVI, ainda não tinha um nome. Falava de um território alagadiço e escuro que, só trezentos anos depois, Sigmund Freud conseguiu delimitar. Nos Ensaios, Montaigne, abandona-se a si mesmo. Em outras palavras: mergulha em si.
.....
Para Montaigne, a vida é apenas uma travessia. Uma longa viagem a cavalo, como as que ele tanto apreciava. Não retrato o ser, retrato a passagem, disse. O homem está sempre sozinho, a morte é certa. Nunca está em casa, está sempre em viagem. O que possui, o que lhe resta? Só ele mesmo, pensava.
Com seu cavalo, Montaigne bordejava o abismo. Do sentimento vertical que exprime o abismo e também a consciência da morte, forjou o destino de escritor. Escravo da morte, desfrutou, com mais gosto, da liberdade. Todos os dias caminham em direção à morte, escreveu, o último nela chega. Dessa certeza tirou forças para viver. Começou a escrever os Ensaios em 1571. Três anos antes, sofreu grave queda de cavalo, que quase o matou. Assim descreve a experiência: Pareceu-me que um relâmpago me revolvia a alma e que eu voltava de outro mundo. Esse bafejo da morte, clarão repentino o levou a escrever.
.......
Costumamos achar que o mundo de hoje é turbulento e incompreensível, mas já é esta a imagem do mundo que, no século XVI, Montaigne nos ofereceu. Veveu na era das Guerras Religiosas, em uma França sangrenta e em desordem. Contudo, nunca se exclui do mundo que vê. Tanto que diz: Sou eu mesmo a matéria do meu livro. Adota o desalinho como destino. A desordem como alma.
Para Montaigne, a vida não impõe leis, oferece possibilidades. Se vamos morrer, é porque temos a chance de viver. Se somos escravos, só por isso aspiramos a liberdade. Gostava da síntese que Lucrécio, ainda no século I antes de Cristo ofereceu: No manancial dos prazeres, uma certa amargura sobressalta. Todo prazer traz consigo uma dose de mal e de inconveniente. É só por contraste com a infelicidade que podemos experimentar alguma felicidade.
.......
Michael de Montaigne foi um apreciador da impureza que, feita de contrastes e de agitação sintetiza o humano. Para ele, os deuses nos vendem todos os bens que nos dão - o que significa dizer que nada nos dão de puro e de perfeito. Pior: somos obrigados, sempre, a pagar com algum mal.  Essa atração para o impuro o afastou dos fanatismos e dos dogmas. E o aproximou do desassossego que caracteriza o ensaio.
Foi um homem de coração aberto, que não excluia a queda da sua existência.. Não é por outro motivo que só depois de um acidente grave se torna escritor. Como excluir a queda da aventura? Por que satanizar a derrota? Montaigne apreciava uma idéia de Horácio: Quem salva a alguém contra a sua vontade, faz o mesmo que matá-lo. (10/11/2007)

Josué Castello - Sábados Inquietos

sábado, 24 de agosto de 2013

Minha estrela

Ela brilhava só, no escuro céu retangular
moldado pela  pequenina janela do avião.
Apurei o olho e descobri mais uma,
discretíssima,
a bombordo de ré.
Esquadrinhei de diversos ângulos,
descobri outras.
Junto ao zênite,
miríades delas.
Nunca vira tantas.
Não importava.
Aquela era a minha estrela.

Nas luzes tênues da cabine,
no silêncio da madrugada,
oprimido  pelo
som permanente das turbinas,
todos dormem.
Minha alma desperta,
descansa em paz.

Os arquétipos do carioca

Contei para um colega carioca o episódio da compra d'água pelo motorista de táxi. O comentário:

Otário esse motorista de táxi. Nenhum deles presta e mesmo assim ele não se deu conta de que o estavam passando prá trás!

Benvindos ao Inferno (7)

Pouso: 9:00 horas da manhã. Adiantados 20 minutos. Ôba!
A passagem pela Alfândega foi rápida. Ôba, ôba!
Depois...
...começou com a esteira. No avião anunciaram que seria a 5;  10-15 minutos após, descobriu-se era a 4.  Ela deve ser nova, pois está em uma área ampliada do aeroporto no Terminal 1, mas pára com frequência... joga malas prá fora (deve ser de qualidade inferior, e, provavelmente foi superfaturada por quem negociou sua compra!). 
 Prosseguiu  com a enorme fila para a averiguação da bagagem, que serpeava pela sala de embarque dificultando a circulação das pessoas.Após a hora e meia que tomou-me o desembaraço das malas e a compra de alguns licores, chocolates e queijos no free-shop consigo sair do aeroporto.
Tomo o táxi que estava em lugar suspeito - mais tarde dei-me conta de que poderia estar apanhando passageiros irregularmente. Contei ao motorista das minhas desventuras e ele concordou plenamente com a desorganização da cidade. No quase-engarrafamento para a cidade ele toma o acostamento para ultrapassar os outros carros.
 Até onde permite o vergonhoso muro corta-som instalado a beira da rodovia - justificativa infame inventada pelas otoridades - contemplo as casinhas da favela, containers de tijolo a vista, empilhados uns contra os outros. Adiante, o motorista pára o carro junto a um ambulante. Compra uma garrafa d'água que descobre depois não estava lacrada. Era água da bica mesmo.
Outro engarrafamento na Perimetral me aguardava.
Ufa! Duas horas e meia mais tarde consigo alcançar meu apê.
São 11:30 da manhã de uma tépida quinta-feira de agosto. A cidade é o Rio de Janeiro - Cidade Maravilhosa e bonita por natureza -  sede da próxima Copa do Mundo e das Olímpiadas. O país é o Brasil, a 7a economia do mundo.
Éramos infelizes e não sabíamos!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Francisco

Ele não trazia nem ouro nem prata (os mundanos tremeram!), é jesuita, mas fala e vive como um franciscano. Lembrou meus tempos de seminário. Ele e seus jovens trouxeram leveza, alegria, beleza para essa cidade pesada, hedonista e de uma alegria triste - passe pela Rio Branco depois do Bola Preta nos seus desfiles de Carnaval e saberás.
Encarei a chuva e o frio (!) carioca  e - tiete - o melhor que consegui foram essas fotos. Em meio ao frisson das pessoas, era um estranho no ninho - arrastando meu deserto, exibindo meus talentos de leproso sorridente, de comediante do irreparável - parafraseando  Cioran. Perguntava-me: Será tudo um engodo? Ou toda essa energia em volta dele é a prova definitiva - prá mim - da existência de Deus?
O Rio nunca esteve tão leve e tão belo quanto nesses dias.



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Um Benê sem...

Sou
um Tristão sem Isolda,
um Lancelot sem Genevière,
um Romeu sem Julieta,
um Quixote sem Dulcineia,
um Abelardo sem Heloisa.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cioran II

A mentira imanente

Viver significa: crer e esperar, mentir e mentir-se.Por isso a imagem mais verídica que se criou do homem continua sendo a do Cavaleiro da Triste Figura, esse cavaleiro que se encontra mesmo no sábio mais realizado.
........
Nem todos os homens podem ter êxito: a fecundidade de suas mentiras varia... Tal engano triunfa: disso resulta uma religião, uma doutrina ou um mito - e uma multidão de fiéis; outro fracassa: não passa então de uma divagação, de uma teoria ou de uma ficção. Só as coisas inertes não acrescentam nada ao que são: uma pedra não mente: não interessa a ninguém - enquanto que a vida inventa sem cessar: a vida é o romance da matéria.
Pó apaixonado por fantasmas, tal é o homem: sua imagem absoluta, idealmente semelhante, encarnar-se-ia em um Dom  Quixote visto por Ésquilo.
(Se na hierarquia das  mentiras a vida ocupa o primeiro lugar, o amor lhe sucede imediatamente, mentira na mentira. Expressão de nossa posição híbrida, cerca-se de beatitudes e de tormentos graças ao qual encontramos em outro um substituto para nós mesmos. Por qual embuste dois olhos nos apartam de nossa solidão? Há fracasso mais humilhante para o espírito?  O amor  adormece o conhecimento; o conhecimento desperto mata o amor.A irrealidade não pode triunfar indefinidamente, nem mesmo disfarçada com a aparência da mais estimulante mentira. E, de resto, quem teria uma ilusão tão firme para encontrar no outro o que buscou em váo em si mesmo? Um calor nas entranhas nos dará o que o universo inteiro não soube oferecer-nos? E, no entanto, esse é o fundamento desta anomalia corrente e sobrenatural: resolver a dois  - ou antes, suspender - todos os enigmas; graças a uma impostura, esquecer esta ficção em que está mergulhada a vida: com uma dupla carícia preencher a vacuidade geral : e - paródia do êxtase - afogar-se, finalmente, no suor de um cúmplice qualquer. )

Breviário da Decomposição.

domingo, 4 de agosto de 2013

Só a beleza salva!

Outro fracasso na conta.
Para comemorar...
Furtivas lágrimas.
(Não haviam secado?)
Generosos goles de vinho do Porto
e o melancólico e delicado oboé do Adágio de Albinoni.

sábado, 3 de agosto de 2013

Crossroads

Ler Cioran e seu niilismo devastador...
ouvir a palestra do Pondé  e tomar consciência que gastamos enormes quantidades de energia psíquica mentindo prá nós mesmos diante da nossa condição de  náufragos existenciais (ai de quem não o faz!)...
 ver a alegria genuina da garotada da JMJ que tomou a cidade na semana que passou...
coloca-me em meio a uma miríade de caminhos que se cruzam.
Em alguns deles o beco sem saída, a falta de sentido, a treva... em outros para além da dor, a esperança, a utopia e voilá, a luz.
A julgar pelas opções,  Deus seria a solução. Como muleta existencial, jamais! Fruto de uma fé genuína, talvez.
Onde a encontro?