quinta-feira, 27 de junho de 2019

Budismo "Nova Era"

A maioria de nós não presta atenção ao que está efetivamente fazendo e dizendo. Quando comemos, não estamos realmente  comendo; nem estamos dormindo quando vamos dormir. Nossas mentes se distraem e os pensamentos se espalham em várias direções. Em geral ou estamos lamentando alguma coisa, agarrados ao passado, ou antecipando outra coisa, com medo do futuro. Em vez de habitar completamente nossos corpos e experimentar o que estamos vivendo, na melhor das hipóteses vivemos semi-conscientes - não inteiramente presentes, mal sabendo onde estamos. Este triste estado se reflete nas coisas tolas e descuidadas que fazemos enquanto corremos pelas rodovias da vida, a toda velocidade, dirigindo no piloto automático.
 Lama Surya Das, O despertar do Buda interior, Rocco, 2001.

Budismo Zen

Todo propósito de ensinamento do Buda é sobre o domínio da mente. Se você conseguir dominar a mente, terá domínio sobre o corpo e sobre a fala...O domínio da mente é atingido através da consciência  constante de todos os seus pensamentos e ações... Ao manter constantemente essa atenção plena durante a prática da tranquilidade e da percepção, você conseguirá sustentar o reconhecimento da sabedoria, mesmo no meio das atividades quotidianas e das distrações. A atenção plena é portanto a base de tudo e a cura para todas as aflições do samsara.
Dilgo Khyentse Rinpoche, Journey of Enlightenment 


terça-feira, 25 de junho de 2019

Budismo nhambiquara.

Tudo é uma questão de manter
a mente quieta,
a espinha ereta
e o coração tranquilo. 
Walter Franco. 
 

Mi capitán - de Lacoste - mandando bala com Jesus!

https://f.i.uol.com.br/fotografia/2019/06/24/15614205285d1162f051e26_1561420528_3x2_xl.jpg

Agência Reuters

Em sã consciência, alguém acreditaria que essa figurinha  que aponta as mãos como se fossem uma arma, com uma alegria infantil estampada no rosto e com Jesus no peito, é o Presidente da República? Kafka definitivamente não viu nada.
E esses evangélicos, hein ? São os milicianos de Deus. Religiosos nunca! Basta ver a apetite que tem por poder e dinheiro. O reino deles é desse mundo. 

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Guerras Culturais: o backlash dos conservadores.

A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump da Michiko Kakutani, editora do NYT por muitos anos. É prá ler de uma sentada só esse livro da Intrínseca, publicado em 2018. Confortou-me ler muitas afirmações que vem ao encontro do que penso a respeito e que tem origens filosóficas: o abandono do conceito de universais que vem lá dos gregos e passa pelo Iluminismo e que traduzido em um exemplo  bem prosaico significa o desprezo pelo conceito de homem e de humanidade, com o argumento que isso não passa de mera abstração e da adoção da sua concretude: homem branco, amarelo, preto, gay.... mulher branca, preta, amarela, preta, lésbica e pelo sem número de gêneros que não param de surgir e tampouco cessarão. Há uma atomização de idéias e grupos defensores delas em ghettos incomunicáveis que nos levarão a um impasse. É uma questão de tempo. 
Não é novo na história das idéias; o abandono dos universais nos leva a um relativismo e a um impasse epistemológico. Começou com o Pós-Modernismo dos anos 60, com Foucault, Derrida e o desconstrutivismo, influenciados por Nietzche, com o contracultura e as guerras culturais promovidas pela esquerda. Nesse século a direita é a caudatária dessa tendência. Para comprovar que a marcha para a insensatez continua, estão aí seus arautos: Trump e o nosso representante o capitão Bolsonaro. O problema é até quando e para onde....
Há um desencanto generalizado com o que se passa no mundo atualmente e quem leu um pouco acima da média e conhece um pouco de história compara nossa situação àquela do entre-guerras do século XX. A sensação é de que caminhamos para um beco sem saída para um amargo fim. Alguns trechos do livro:
O súdito real do governo totalitário não é o nazista convicto nem o comunista convicto,  mas aquele para quem já não existe a diferença entre o fato e a ficção (isto é a realidade da experiência) e a diferença entre o verdadeiro e o falso (isto é, os critérios do pensamento). ( Hannah Arendt em As Origens do Totalitarismo, 1951)  (Introdução)
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O nacionalismo, o tribalismo, a sensação de estranhamento, o medo das mudanças sociais e o ódio aos estrangeiros estão novamente em ascensão à medida que as pessoas, trancadas nos seus grupos partidários e protegidas pelo filtro de suas bolhas, vem perdendo a noção de realidade compartilhada e a habilidade de se comunicar com as diversas linhas sociais e sectárias. (Introdução)
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Todo o mundo tem o direito de ter suas próprias opiniões, mas não seus próprios fatos. (Sen. Daniel Patrick Moynihan) (Introdução)
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...o relativismo está em ascensão desde o início das guerras culturais, na década de 1960.  Naquela época foi abraçado pela Nova Esquerda, ansiosa por expor os preconceitos do pensamento ocidental burguês e primordialmente masculino; e por acadêmicos que pregavam o evangelho do Pós-Modernismo, que argumentava que não existem verdades universais, apenas pequenas verdades pessoais - percepções moldadas pelas forças sociais e culturais de um indivíduo. Desde então, o discurso relativista tem sido usurpado pela direita populista, incluindo os criacionistas e os negacionistas climáticos, que insistem que suas teorias sejam ensinadas junta com as teorias baseadas na ciência. 
O relativismo, é claro, combina perfeitamente com o narcisismo e a subjetividade que estão em expansão, desde  A década do eu, de Tom Wolfe, até a auto-estima da era das selfies(O declínio e a queda da razão)
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Em alguns aspectos, o desprezo que a Casa Branca de Trump nutre pelo conhecimento especializado e pela experiência refletem atitudes mais amplas que permeiam toda a sociedade americana. Em seu livro O Culto do Amador....Andrew Keen fez um alerta para o fato  de que a internet havia não apenas democratizado a informação de maneira inimaginável, como também estava fazendo com que a sabedoria das multidões tomasse o lugar do conhecimento legítimo , nublando perigosamente os limites entre o fato e opinião, entre argumentação embasada e bravata especulativa. 
( O declínio e a queda da razão)
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...Tom Nichols escreveu em The Death of Expertise, que uma hostilidade deliberada contra o conhecimento estabelecido havia surgido tanto na direita quanto na esquerda, com pessoas argumentando de forma agressiva que toda opinião sobre qualquer tema é tão boa quanto as outras. Agora a ignorância está na moda. (O declínio e a queda da razão)
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Como certos membros da contracultura de 1960, muitos desses novos republicanos rejeitam a racionalidade e a ciência. Na primeira rodada das guerras culturais, a Nova Esquerda rejeitou os ideais do Iluminismo como vestígios do antigo pensamento patriarcal e imperialista. Hoje, esses ideais de razão e progresso são atacados pela direita para serem vistos como parte de uma conspiração liberal para minar valores tradicionais ou como possíveis indicativos de um elitismo intelectual da Costa Leste. (As novas guerras culturais)
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Desde a década de 1960, tem ocorrido uma queda progressiva da confiança nas instituições e nas narrativas oficiais. Parte desse ceticismo tem sido um corretivo necessário - uma resposta racional às calamidades do Vietnam e do Iraque, a Watergate, à crise financeira de 2008 e aos preconceitos culturais que havia muito contaminavam tudo, desde o ensino da história nas escolas primárias até as injustiças do sistema jurídico. Mas a democratização libertadora da informação possibilitada pela internet, não apenas estimulou a inovação e um empreendedorismo de tirar o fôlego, como também deu origem a uma enxurrada de desinformação e relativismo, conforme evidenciado pela atual epidemia de notícias falsas.
Um elemento fundamental para o colapso das narrativas oficiais na academia foi a constelação de idéias que se enquadram no amplo cenário do Pós-Modernismo, que chegou às universidades americanas na segunda metade do século XX por meio de teóricos franceses como Foucault e Derrida ( cujas idéias, por sua vez, devem muito aos filósofos alemães Heidegger e Nietzche) (O declínio e a queda da razão)
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...de um modo geral, os argumentos Pós-Modernistas negam a existência de uma realidade objetiva independente da percepção humana, argumentando que o conhecimento é filtrado pelos prismas de classe, gênero e outras variáveis. A linguagem é vista como não confiável. Ao rejeitar a possibilidade de uma realidade objetiva e substituir a idéia de verdade pelas noções de perspectiva e posicionamento, o Pós-Modernismo consagrou o princípio da subjetividade. A linguagem é vista como não confiável e instável (parte da lacuna intransponível entre o que é dito e o que se entende); e mesmo a noção de pessoas que agem como indivíduos totalmente racionais e autônomos é descartada, pois cada um de nós é moldado, conscientemente ou não , por um tempo e uma cultura específica. 
Abaixo a ideia de consenso. Abaixo a visão da história como narrativa linear. Abaixo as grandes metanarrativas universais ou transcendentes. O Iluminismo, por exemplo, é descartado por muitos pós-modernistas de esquerda como uma leitura hegemônica ou eurocêntrica da história, destinada a promover noções colonialistas ou capitalistas de razão e progresso. A narrativa cristã da redenção também e rejeitada, assim como o caminho marxista para uma utopia comunista. Para alguns pós-modernistas, observa o acadêmico Christopher Butler, até os argumentos dos cientistas podem ser vistos como não mais que seminarrativas que competem com todas as outras por aceitação. Não se encaixam de uma forma particular ou confiável no mundo, não possuem nenhuma correspondência inquestionável com a realidade. São apenas uma forma de ficção.  (O declínio e a queda da razão)
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O multiculturalismo enfatizava a incompletude de muitos registros históricos...além disso...oferecia a possibilidade de uma perspectiva mais inclusiva e plural, Mas eles também advertiram (Joyce Appleby, Lynn Hunt e Margaret Jacob em Telling the Truth About History) que pontos de vista extremos poderiam levar à crença perigosamente reducionista de que o conhecimento sobre o passado é simplesmente uma construção ideológica destinada a servir interesses particulares, fazendo da história uma série de mitos, estabelecendo ou reforçando identidades grupais.
A ciência também foi atacada por pós-modernistas radicais, que argumentaram que as teorias científicas são socialmente construidas - influenciadas pela identidade da pessoa que postula a teoria e pelos valores da cultura em que é formada; portanto, a ciência não pode alegar neutralidade ou verdades universais. 
(O declínio e a queda da razão)
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O Pós-Modernismo não apenas rejeitou todas as metanarrativas, como também enfatizou a instabilidade da linguagem. Um dos fundadores do Pós-Modernismo, Jacques Derrida....usou a palavra desconstrução para descrever um tipo de análise textual da qual foi pioneiro e que seria aplicado não apenas à literatura, mas também à história, à arquitetura e às ciências sociais. A desconstrução postulou que todos os textos são instáveis e irredutivelmente complexos, e que os significados, eternamente variáveis, são imputados pelos leitores e observadores. Ao se concentrar nas possíveis contradições e ambiguidades de um texto (articulando os argumentos com uma prosa deliberadamente empolada e pretensiosa), promulgou um relativismo extremo que foi, em última análise, niilista em suas implicações: qualquer coisa poderia significar qualquer coisa; a intenção do autor não importava e não podia ser discernida objetivamente; não havia uma leitura óbvia ou de senso comum, já que tudo tinha uma  infinidade de significados. Em suma, não existia uma verdade. (O declínio e a queda da razão)






Desencanto


Eu faço versos como quem chora
 De desalento. . . de desencanto. . .
 Fecha o meu livro, se por agora
 Não tens motivo nenhum de pranto.
 Meu verso é sangue. Volúpia ardente. .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
 Cai, gota a gota, do coração.
 E nestes versos de angústia rouca,
 Assim dos lábios a vida corre,
 Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira 

A mão invisível do atraso

... parece nos governar por largos períodos de nossa história. Esta década é um deles. O achado da expressão, inspirada provavelmente na mão invisível do mercado de Adam Smith e tão cara aos liberalismo econômico clássico, está na coluna do Elio Gaspari de ontem para a Folha, comentando a situação atual da nossa indústria. 
Com todas as consequências negativas que possam advir de uma submissão total e irrestrita ao mercado, preferia esta a ser governado pelo atraso. O Brasil escolheu o atraso porque a turma do andar de cima, num arco amplo que engloba a maior parte do que hoje autointitula-se esquerda e direita - entre outros motivos - não quer perder as boquinhas através das quais mamam do  Estado desde sempre. Didático é observar o  movimento dessa turma para desidratar a reforma da Previdência e manter os privilégios que eles - cinicamente - chamam de direitos.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Pindorama não toma jeito

O Brasil é um país reduzido a pasto dos seus governantes, e anima vilis dos seus charlatães, é um país vaca de leite, um país gado de açougue, um país carniça de hospital. Sua administração, sua política e seu governo, fundados na incompetência, regidos pelo nepotismo, arruinados pelo desbarato financeiro, resume-se numa só palavra: dilapidação. Toda política há de se inspirar na moral. Toda política há de emanar da moral. No Brasil, porém, a política renega a moral: o que vale para o indivíduo, não vale para o Estado e o que vale a pena para o governante não vale para o cidadão. A política brasileira é radicalmente amoral, convencida e professamente imoral. Renegou a moral, caluniando as nossas instituições com a profissão da irreligiosidade, que eles confundem com liberdade religiosa. Renegou a moral, estabelecendo como coisas distintas duas leis de moralidade: uma para os indivíduos, outra para o Estado.
Tão atual, mas foi escrito a cerca de 100 anos por Rui Barbosa no volume 46 de suas Obras Completas. Muitas luas já se passaram mas nada muda por aqui

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Valentine's Day gift.

Já que não me queres,
Que me repeles,
Que me manténs à distância,
Ouça minha sonora, suave, doce vingança.



terça-feira, 11 de junho de 2019

A razão cínica

Foi movido por uma frase:
eles não sabem o que fazem e continuam a fazer do mesmo modo 
escrita num artigo enviado por um colega e retirada da Critica da Razão Cínica, que me decidi encará-lo. O livro  estava jogado na prateleira do  escritório quase como um troféu, aguardando  minha leitura para depois da aposentadoria; são 550 páginas de um inglês difícil, que me obriga a recorrer frequentemente ao dicionário. É  datado pois  escrito na década de 80 na Alemanha, antes ainda da queda do Muro, e paradoxalmente,  atual pois brota de um sentimento de desencanto diante da falência das propostas libertárias dos anos 60 e do cinismo do discurso oficial e do poder que digeriu bem aqueles libertários. Hoje há desencanto por toda a parte - a sensação de que os bandidos venceram e, pior, levaram tua amada com eles - mas os motivos são outros.
A solução proposta: o sarcasmo e o cinismo (kinicism) praticado por  Diógenes não me parece ser a melhor. Eu sou um desencantado-raiz - está lá na minha apresentação do blog- e luto para não transformar desencanto em amargura,  tampouco em sarcasmo ou cinismo.
Aguardemos os próximos capítulos do livro. Comentarei por  aqui.