domingo, 31 de dezembro de 2023

O desafio da montanha (VI)

 As cidades

Andradas e seus cafezais

Ouro Fino e... o Menino da Porteira.

Inconfidentes e suas bordadeiras

A avenida da pequenina  Tocos do Mogi 

Paraisópolis

A européia Campos do Jordão.

Luminosa, a mais formosa

Não é cidade, apenas um distrito de Brazópolis. Localizada no meio de um vale rodeado pelas montanhas da Mantiqueira brilha mais que as demais.









o desafio da montanha (V)

 Pelas estradas dos Caminhos

Rumo ao Pico do Gavião

No alto da Serra do Caçador

Entre Consolação e Paraisópolis (2)

Pântano dos Teodoros

Vale da Luminosa

Sísifo redivivo
Morro abaixo até a Barra para depois subir a Pedra do Sabão.

Subindo tudo o que se desceu anteriormente. (puro suco de Minas)

o desafio da montanha (IV)

 As muralhas de pedra 




Serra da Mantiqueira (3 fotos)

Serra do Caracol (?) -  Pico do Gavião à direita


Como eram verdes os vales e as encostas

No alto da Serra do Caçador

No sopé da Mantiqueira

Na saída de Consolação

Pântano dos Teodoros

Vale da Luminosa

O desafio da montanha (III)

 ...como eram íngremes as  subidas e descidas de cada dia.

Morro acima...


...subindo a Serra da Luminosa (2) 

...deixando prá trás o Pântano dos Teodoros

Começando a subir a Porteira do Céu

Próximo ao topo da Porteira do Céu

Derradeira curva da Serra dos Lima

Morro abaixo...



A descida da Serra dos Lima

...descendo o Pântano dos Teodoros

...descendo para Andradas

Iniciando a descida das Pedrinhas (Mantiqueira)

...descendo as Pedrinhas (Mantiqueira)


Uma vida decente.

 J.P. Coutinho na sua crônica semanal para a Folha (23.11.23) sugere alguns compromissos éticos que definiriam um padrão de decência para nossos vidas.  Foram  legados pelo cristianismo e moldaram a civilização ocidental. independente do fato de sermos de esquerda ou de direita, crentes, agnósticos ou ateus. 

  • Compaixão pelos mais fracos;
  • Capacidade de perdão;
  • Responsabilidade moral por seus atos;
  • Respeito pela dignidade de todo o ser humano.

 Assino embaixo. Creio que não faço feio  em três quesitos, mas enfrento dificuldades especiais com o segundo. Perdoar é um bocado difícil prá mim.

2023 ficando na poeira...

A passagem de ano é sempre uma oportunidade para pensar no tempo. Quem é afinal essa entidade? Ele tem existência física como queria o poeta  Drummond quando falava em fatiar o tempo ou não passa de uma intuição pura a priori,  uma grandeza  infinita que a tudo abrange à semelhança do espaço,   como o classificou  KantPassamos por ele ou ele passa por nós?

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...mas deixemos de lado poesia e filosofia. O fato é que : 

O tempo passa,
O tempo voa,
e a vida continua numa boa!

como cantava-se num versinho de uma campanha publicitária que fez muito sucesso no passado. Como passa e voa rápido, digo eu no alto - ou seria baixo? - dos meus 72 anos. As impressões fortes do ano construiram-se  a partir dela. 

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Como morreram contemporâneos, tanto pessoas do bairro, como vizinhos e também aquelas pessoas públicas que compuseram o caldo de cultura da minha geração. Lembro apenas um nome dada sua importância para nós brasileiros: Pelé. Parafraseando Maysa devo admitir que meu mundo está a cair.

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A ano trouxe-me o convencimento - já era hora! - de que arroubos juvenis, planos utópicos, decisões  do tipo - apostar contra a banca... navegar contra a corrente... -  tanto no plano dos relacionamentos pessoais, quanto institucionais trazem mais sofrimento do que satisfação. Um projeto de vida só terá consistência se fundamentado no que a vida é e  não no que deveria ser. 

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.... não é bem o que um velho deveria estar dizendo! 

Mais uma  vez estou remando rio acima... desafiando o coro dos contentes... Sou incorrigível, mesmo!

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O ano revelou-me também  o quanto Millor Fernandes estava acertado ao escrever: -  Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem. Haja fraternidade cristã prá aturar as idiossincrisias daqueles que nos são próximos! É o surplus que deve ser acrescentado àqueles quatro ítens indispensáveis para se ter uma vida decente citados em  post anterior.

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Além do sentimento de perda e das dolorosas constatações, há o sentimento de satisfação  por uma meta buscada desde o final da pandemia e alcançada quase ao final do ano:completar o Caminho da Fé, solito no más, com uma mochila de 6,5kg nas costas no seu trecho canônico: Águas da Prata/Aparecida. Foi uma longa preparação, várias desistências em função de limitações físicas impostas pela idade, mas finalmente o caminho foi completado. Arrumei duas hérnias inguinais somando preparativos e a própria aventura e devo submeter-me a uma cirurgia em janeiro para  os devidos reparos. Mas valeu a pena...

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E viver continua valendo a pena? Sei lá... vamos caminhando. Sou expert em resiliência.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

O desafio da montanha (II)

 ... tornou-se realidade. Com muito suor, algum sangue e nenhuma lágrima.

Foi a grande realização pessoal do ano. Projeto acalentado desde a aposentadoria e postergado devido a uma série de problemas: pandemia, impedimentos físicos e até climáticos. Inicialmente seria o Caminho de Santiago, depois surgiu a idéia do Caminho da Fé como um laboratório - na realidade ele é muito mais,  dado seu maior grau de dificuldade. 

Fi-lo por motivos religiosos em parte, mas acima de tudo  com o intuito de testar meus limites físicos, mentais e anímicos. Afinal...sou um velhinho; navego por  72 anos nesta vida.

Mais do que um exercício físico, é um exercício mental pois há uma Serra para cada dia exceto o último, com trechos que incluiam subidas e descidas íngremes em cada uma delas. Era necessário  dosar a energia com parcimônia para não correr o risco de  acabar estourado e ser obrigado a abandonar o caminho. Foi o que ocorreu na minha primeira tentativa em julho, quando desisti no 2o dia com uma torção no pé esquerdo provocada pelos excessos físicos e equívocos mentais.

O fato é que depois de muitas idas e vindas - literalmente - atingi meu objetivo. Alcancei Aparecida-SP partindo de Águas da Prata-SP (caminho-raíz),  depois de  14 dias, que poderiam ter sido 13, caso não tivesse parado um dia para uma visita a uma vinícola em Andradas. Foram quase 300km por estradas não-asfaltadas (85/90% de um percurso com gráu de dificuldade média/alta), caminhando sozinho com uma mochila que começava a jornada pesando 6,5 kg e a terminava com peso de 5,0kg. Saia no raiar do dia e parava no máximo por volta das 13:00h. Com exceção dos dias iniciais, enfrentei altas temperaturas, particularmente nos dois dias finais e nenhuma chuva, fato inusitado para a época.

Foram muitos litros de suor, algum sangue - no último dia fui acometido de rabdomiólise (informação do meu médico),  uma síndrome provocada pelo esforço físico extremo que provoca o rompimento das fibras musculares e as joga na urina, dando-lhe um aspecto de sangue - e nenhuma lágrima. O forte calor do dia final desgastou-me brutalmente; estive a ponto de desfalecer quando recebi meu certificado de participação no Santuário.  

....e nenhuma bolha no pé; tampouco o joelho esquerdo incomodou. Era uma preocupação pois optei por fazer o Caminho sem os bastões de caminhada.

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Perrengues? Eles não poderiam estar ausentes em 14 dias de caminhada.

...como um ataque de cachorros.  Foi no trecho Andradas/Barra, quando dois deles surgiram de um cafezal. Não fosse a intervenção do dono que apareceu logo após, teria encontrado dificuldades para deles me livrar. Um bastão de caminhada teria sido útil para afastá-los, mas como tinha optado por não levar...

...ou um esquecimento, tão familiar nesta fase da vida. Deixei meu celular na capela da Nha Chica no trecho entre Inconfidentes e Borda da Mata. Dei-me conta da sua falta depois de ter caminhado 1,5km, com uma subida íngreme na parte final. Retornei meio desesperado,. Para minha sorte, ele ainda estava lá. Eram as primeiras horas da manhã e pouca gente ou ninguém deviam ter passado pela capela. Além da preocupação, custaram 3kms de caminhada.

Mais para o inusitado e contando com a ajuda da sorte, foi o que aconteceu na descida da Porteira do Céu quando saí do caminho. Ao dar-me conta, depois de caminhar 2/3 km, busquei informação mas não encontrei ninguém em  todas as casas próximas. Estava um desalento só uma vez que teria que retornar por um trecho íngreme de subida. Eis que do nada  surge na estrada um carro preto,  - acho que um velho Chevette - dirigido por uma senhorinha - Graça ou Rosa não lembro - que retornava de uma cidade próxima para a fazenda/sítio em que morava e que  estava localizada  junto ao Caminho. Ela me deu uma carona e - voilà! - eu reencontrava o rumo. Sorte ou milagre? Sou cético demais para  acreditar em milagres, mas muitas pessoas para quem contei o episódio, disseram que estava diante de um deles. Graça ou Rosa, pediu orações para quando chegasse ao Santuário. Foi atendida. Era o agradecimento possível.

Outra ajuda fundamental aconteceu no trecho entre Consolação e Paraisópolis. Desta vez uma moça bonita que dirigia um carro de apoio de um pessoal de bike cedeu-me gentilmente um litro de água; graças a ele livrei-me  de maus momentos ao enfrentar trechos íngremes de subida que não haviam sido previstos, naquela hora de dia e com aquele calor. O apoio no trecho era precário e  aquele litro de água que relutei em aceitar no início, revelou-se salvador.

O fato hilário deu-se no último dia na Rodoviária de Aparecida - SP enquanto aguardava o ônibus para retornar ao Rio. Ficou por conta de um meio-bebum  que ao se deparar comigo vestido com a indumentária do caminho (ver nas fotos abaixo)  chamou-me de Indiana Jones. Corolário perfeito para o final da aventura!

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Foi uma experiência incrível, como muitos relatam? Provocou uma mudança radical na minha vida? Não. Pelo menos até o momento. Aprendi com o caminho a ser paciente com as dificuldades que iam surgindo a cada dia da jornada e a trabalhar com um grau baixo de expectativa para não ser surpreendido pelo imprevisível, quando ocorresse. 

Os 14 dias de caminhada também  desmentiram aquela frase feita de que um projeto é construido paciente e linearmente como o colocar dos tijolos para erguer uma edificação. No caminho, para cada subida havia uma descida. Colocava-se os tijolos para em seguida  retirá-los diariamente. Tem muito mais a ver com o mito de Sísifo dos velhos gregos que sabiam muito mais das coisas do que os (pós)-modernos coachers espirituais. Por se achar mais esperto que os deuses, Sísifo foi condenado  a carregar eternamente uma pedra até o  alto de uma montanha do Hades, que deixada no topo era de lá rolada para baixo. 

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Projetos para o futuro?

Em princípio,  percorrer a pé a Estrada Real no trecho Ouro Preto/Paratí em abril/maio e para setembro/outubro, o roteiro principal do Caminho de Santiago. Conseguirei? 

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Selecionei uma série de fotos para ilustrar a aventura. Dado seu número elevado as distribuirei por várias postagens. Nesta coloco as que marcaram o início e o fim da caminhada.

A largada em Águas da Prata  (05:05hs de 05/11)



O ponto de partida

A chegada em Aparecida (10:55hs de 18/11)

O relógio da torre por testemunha  .