A passagem de ano é sempre uma oportunidade para pensar no tempo. Quem é afinal essa entidade? Ele tem existência física como queria o poeta Drummond quando falava em fatiar o tempo ou não passa de uma intuição pura a priori, uma grandeza infinita que a tudo abrange à semelhança do espaço, como o classificou Kant. Passamos por ele ou ele passa por nós?
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...mas deixemos de lado poesia e filosofia. O fato é que :
O tempo passa,
O tempo voa,
e a vida continua numa boa!
como cantava-se num versinho de uma campanha publicitária que fez muito sucesso no passado. Como passa e voa rápido, digo eu no alto - ou seria baixo? - dos meus 72 anos. As impressões fortes do ano construiram-se a partir dela.
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Como morreram contemporâneos, tanto pessoas do bairro, como vizinhos e também aquelas pessoas públicas que compuseram o caldo de cultura da minha geração. Lembro apenas um nome dada sua importância para nós brasileiros: Pelé. Parafraseando Maysa devo admitir que meu mundo está a cair.
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A ano trouxe-me o convencimento - já era hora! - de que arroubos juvenis, planos utópicos, decisões do tipo - apostar contra a banca... navegar contra a corrente... - tanto no plano dos relacionamentos pessoais, quanto institucionais trazem mais sofrimento do que satisfação. Um projeto de vida só terá consistência se fundamentado no que a vida é e não no que deveria ser.
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.... não é bem o que um velho deveria estar dizendo!
Mais uma vez estou remando rio acima... desafiando o coro dos contentes... Sou incorrigível, mesmo!
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O ano revelou-me também o quanto Millor Fernandes estava acertado ao escrever: - Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem. Haja fraternidade cristã prá aturar as idiossincrisias daqueles que nos são próximos! É o surplus que deve ser acrescentado àqueles quatro ítens indispensáveis para se ter uma vida decente citados em post anterior.
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Além do sentimento de perda e das dolorosas constatações, há o sentimento de satisfação por uma meta buscada desde o final da pandemia e alcançada quase ao final do ano:completar o Caminho da Fé, solito no más, com uma mochila de 6,5kg nas costas no seu trecho canônico: Águas da Prata/Aparecida. Foi uma longa preparação, várias desistências em função de limitações físicas impostas pela idade, mas finalmente o caminho foi completado. Arrumei duas hérnias inguinais somando preparativos e a própria aventura e devo submeter-me a uma cirurgia em janeiro para os devidos reparos. Mas valeu a pena...
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E viver continua valendo a pena? Sei lá... vamos caminhando. Sou expert em resiliência.
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