quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Democracy has prevailed

 Confesso que me emocionei com a cerimônia da inauguration. Prá lá da pompa e circunstância que a situação exigia, havia muito respeito e pareceu-me uma vontade enorme de reafirmar a democracia, depois do estrago nela provocado pelo furacão Trump. Como disse Joe Biden ela prevaleceu.

Entretanto, Donald Trump no discurso de despedida declarou:

We will be back in some form...

Preocupante, pois ele é o ícone daquela turba que invadiu o  Capitólio, dias antes, - incentivada pelo próprio - diga-se de passagem. Não acredito que ele vá se acomodar na Flórida, destino comum dos milionários americanos em final de carreira.

Há quem compare a invasão, com o putsch fracassado da cervejaria em Munique protagonizado por Hitler em 1923. Dez anos depois ele chegou ao poder pela via democrática e foi o que se viu...

Trump voltará em 2024? A ver...

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Se houve um tudo a ver na posse, foi a saida do Trump pela porta dos fundos da Casa Branca. Um final digno para seu governo.


domingo, 17 de janeiro de 2021

...e o Rio de Janeiro, hein?

Números e gráficos do site Poder 360, comprovam a decadência ampla, geral e irrestrita do estado que lidera o ranking dos mortos por milhão de habitantes no país; maior até que a do Amazonas onde a  situação é caótica. Por lá, até oxigênio deixaram que faltasse nos hospitais....

Fosse um país, o RJ estaria em segundo lugar no mundo, atrás apenas da Bélgica.

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Recebo diariamente um jornal online - Notícias do Rio - que está em campanha para tornar a cidade a segunda capital do Brasil.  Falta tanta coisa por aqui, autocrítica para os cariocas, por exemplo.


E a vacina chegou...

...após uma patética Corrida Maluca por ela, protagonizada pelo Capitão e pelo liliputiano João Dória. Difícil saber quem é pior.

Foi um espetáculo de abjeto marketing político - não faltaram apelos de raça e gênero! - estrelado por João Dória, um mestre na arte; provavelmente sua única especialidade, além de sua ambição política e capacidade de traição.

A classe média e a jornalística, desesperada pela vacina, viesse de onde viesse, aplaudiu. De embrulhar o estômago.

sábado, 16 de janeiro de 2021

...o sr lamenta mas a vida continua, não é Capitão?

Superamos a marca dos 200 mil mortos - a população de Passo Fundo, como escreveu a Zero Hora - 10 meses após a primeira morte e após ter atingido 100 mil,  cinco meses atrás.  A depender do rapidez  da vacinação e da eficiência da vacina talvez cheguemos aos 300 mil antes dos cinco meses necessários para atingir cada uma das marcas anteriores.  

Nosso bravo capitão lamenta os fatos, e vida que segue... mesmo com Manaus tendo se tornado  um caos. 

A cada dia aumenta a minha certeza de que o inferno te espera, capitão.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Dos porões escuros (?) das redes sociais para o mundo

As duas figuras - figuraças! - que estavam em meio à mob que invadiu o Capitólio, tem muito a dizer do mundo em que vivemos. O  barbudo - lembrei do Charles Manson e sua turba! - ostenta na sua mão esquerda o símbolo de um game da Internet - Disohonored - em que um grupo secreto tenta desestabilizar um governo corrupto. O chifrudo é Jack Angeli - Q Shaman - um dos porta-vozes do QAnon, um grupo de extrema-direita que defende a idéia de que um grupo de pedófilos e defensores de Satanás está infiltrada nos altos escalões do governo americano. Nada a ver com jovens universitários, nem com a cultura dos campi,  atores e palco das grandes manifestações de protesto da segunda metade do século passado.

O mundo em que os chamados formadores de opinião - mídia e academia, principalmente... -  davam as cartas na cultura e nos costumes, está perdendo terreno para o povão das redes sociais que passam longe dessa turma. Os porões escuros da  alma do mundo do nosso tempo estão repletos de figuras assemelhadas aos dois personagens da foto. Sua cabeça é feita nas redes, não nas universidades. O tempo dirá para onde isso nos leva.

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Duro mesmo é saber que a maioria do eleitorado republicano - 64% de acordo com uma pesquisa feita pelo YouGov para a Economist - era favorável a que o Congresso não validasse a vitória de Biden. A fé parece estar se sobrepondo à razão.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Amor

 

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 
Luis de Camões

domingo, 3 de janeiro de 2021

Dylan Thomas

Recado prá mim e para os demais velhinhos desse mundo. Thomas fez o poema para seu pai quando este começou a se entregar para a velhice. 

NÃO ENTRES NESSA NOITE ACOLHEDORA COM DOÇURA

                    Tradução: Ivan Junqueira


Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva
                                               [ lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha
                                               [ esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela
                                               [ alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde
                                               [ baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea
                                               [ altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua
                                               [ travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os
                                              [ transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se
                                              [ alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti,meu pai, te imploro agora, lá na cúpula
                                              [ obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima
                                              [ bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.


DO NOT GO GENTLE INTO
THAT GOOD NIGHT

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

poesia.net 107


Que te vayas, 2020 ! (II)

Infelizmente, 2020 não terminou. O virus não está nem aí para a passagem de ano e corre solto por todas as quebradas. As autoridades - especialmente as federais - esbanjam incompetência e irresponsabilidade e o povão vai na valsa. Nesta semana chegaremos aos 200 mil mortos. Uma indecência para o mundo. Já escrevi que o capitão não se escapa do inferno por essa façanha.

Não me vejo relaxando em nenhum dos cuidados atuais - máscara, álcool-gel, higiene obsessiva das mãos -  até o meio do ano. Vacinado? na mais otimista  das hipóteses no final de março.

Dizem os especialistas que imunidade do rebanho para esse virus só com 80% dos candidatos à vacina, vacinados. A população-alvo no país  é de 160 milhões de pessoas. Não vislumbro nenhuma possibilidade para que alcancemos a imunidade em 2021. 

Sorry... 2020 deve ser o ano mais longo de nossas vidas. O ano que não vai terminar. É claro, à exceção do último.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Inconstância

 

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer…
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando…
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há de partir também… nem eu sei quando…

Florbela Espanca, Sonetos de amor e desamor