segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O ano em que a esquerda levou uma surra.

E o Pondé pegou pesado com a esquerda hoje em sua crônica na Folha.
2018 foi o ano em que a direita depois de muitos anos por baixo deu o troco na nossa esquerda que manteve a hegemonia desde que me considero gente, portanto desde os anos 60, nas universidades - em especial nos departamentos de humanas - na cultura, nas artes, na midia e que com a chegada do PT ao poder tomou conta do pedaço.
A partir dos anos 2000, começa a se estruturar um pensamento liberal através de institutos como o Millenium e o Van Mises. e alguns articulistas começam a aparecer na mídia confrontando o pensamento que reinou absoluto nos últimos 50 anos; Pondé é um deles. O embate de idéias revelou o que se suspeitava da esquerda. A tolerância, a aceitação da diversidade defendidos com veemência no seu discurso, não tem contrapartida na prática muitas vezes antidemocrática, autoritária e até desonesta intelectualmente.
Mas o que me incomoda mesmo nela é sua arrogância, sua aura de superioridade ética dada a primazia que dá a justiça social, a certeza de que são suas as soluções para os problemas crônicos do país, mesmo tendo fracassado algumas vezes aplicando-as não apenas aqui mas em  outros países. Confrontada, não argumenta, desqualifica o adversário.  Para comprovar, basta ler  um artigo na Época de 21/12- O ideólogo sem ideologia - em que o antes astrólogo e agora filósofo Orlando Carvalho é comparado ao ornitorrinco. De fato ele tem algumas fixações que fogem do razoável mas a maior parte  do que escreve faz sentido. A comparação é despropositada e mostra como vive numa bolha o  nosso articulista, o roteirista e documentarista Renato Terra. Deve viver o mundo dos cânones que estruturam o imaginário da esquerda que parece não se dar conta de que a vitória do Bolsonaro não é um retrocesso civilizacional e que nem todos seus ideólogos se tratam de pessoas disfuncionais. Há brucutus por lá normalmente pautados pela força e grosseria, mas não se trata da vitória da barbárie contra a civilização. Quem votou em Bolsonaro estava primeiramente farto da obra de 14 anos da esquerda.   Ele talvez represente a face mais radical dessa direita que começa a se expor no debate cultural brasileiro mas é uma escolha democrática e civilizadamente temos que desejar-lhe boa sorte e torcer para que não cometa as insanidades que por vezes proclama.
Ficaria feliz se a emersão da direita mais do que estabelecer o contraponto ao monocórdio - tudo pelo social - da esquerda,  na discussão dos nossos impasses civilizacionais, permita que se passe a  debater e a incorporar valores liberais e conservadores que sempre foram abominados por aqui mas que são prática corrente de povos mais rodados civilizacionalmente, como o valor do indivíduo, da realização pelo esforço individual, o reconhecimento pelo mérito, o ceticismo e a prudência diante dos fatos.
A esquerda mais reativa, entretanto, continua a dar sinais de que nada aprendeu com a surra. Fiel a sua tradição de impermeabilidade aos projetos de quem pensa diferente,  não compareceu à posse do novo presidente e promete um governo paralelo de resistência. 

Anos 60, raiz!

Françoise Hardy. Gata raiz anos 60. Os traços faciais com as maçãs do rosto salientes, o cabelão liso e lavado eram o standard da garota anos 60.  Mas Françoise tinha mais ... tinha olhos azuis....Uauuuu!



Françoise Hardy. More

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Nix

Ufa...terminei. Afinal são 650 páginas!
Nix é a melhor literatura de ficção escrita pela garotada, que me apareceu nos últimos 20 anos.  Já havia lido outras coisas, altamente recomendadas por meus gurus da contemporaneidade. Nada, entretanto,  impactou mais que Nix. Melhor do que ele, lido nestes último anos,   Os Maias de  Eça de Queiroz, mas ele é um clássico. Os clássicos, captam melhor as sinuosidades da alma humana, tem um estilo mais harmonioso; os novos, ficam ainda da superfície e por vezes escrevem desajeitadamente. Leiam a descrição do advogado da mãe de Samuel, o personagem principal:
...seu cabelo castanho era curto, penteado naquele inevitável e desajeitado formato de M típico dos primeiros estágios da calvície masculina.
 ...seu rosto tinha ficado vermelho, uma mudança sutil mas perceptível em relação ao tom pálido anterior, que Samuel teria descrito como um amarelo-bebê cremoso e plastificado. Bolhas de suor grudavam-se na sua testa, como aquelas borbulhas de tinta que aparecem em paredes externas em dias de muito calor.
São, entretanto,  ilhotas de descompasso, imersas em  um oceano de bom texto caracterizado por uma crítica mordaz e hilária à contemporaneidade - obsessão pelo celular, pelos videogames, pela comida natural, para citar alguns - e a alguns de seus atores mais em evidência - a imprensa, políticos, advogados/juizes. Talvez o livro tenho me impressionado tanto pois alguns de seus  personagens sofrem das mesmas dores, enfrentam perplexidades  similares às que vivo atualmente.

Faye, mãe de Samuel, hoje uma senhora da minha idade, viveu sua juventude nos anos 60; participou da batalha de Chicago no final do verão de 68.
- uma pessoa que jamais se sente em casa, não importa onde esteja...Fugiu de casa porque fugir é o que ela sabe fazer.
(olha eu aí!)
...ao olhar para o passado, tudo o que enxerga é aquela vontade de estar sozinha.Livrar-se das pessoas, de seus julgamentos, de suas tramas desastrosas. Pois sempre que se envolvia com alguém, as coisas ficavam confusas e acabavam em catástrofe. 
Samuel, seu filho, um mix de professor de literatura e jogador de videogame:
O que você pode fazer ao descobrir que toda sua vida adulta foi uma farsa? Todas as coisas que pensava ter conquistado - a publicação do conto, o contrato editorial, o emprego como professor - só haviam acontecido porque alguém devia um favor  a sua mãe. Nada daquilo era resultado do seu mérito pessoal. Ele é uma fraude. E esta é a sensação exata de ser uma fraude: um vazio total. Samuel sente-se oco. Estripado.
 Bethany, amor de infância e adolescência de Samuel, violinista clássica;
- Samuel? - chama ela, e ele vira-se de um rodopio.
Até que ponto uma pessoa muda em alguns anos? A primeira impressão de Samuel - e esta é a melhor maneira que ele encontra para explicá-la - é que Bethany está mais real. Já não é uma criatura reluzente das fantasias de Samuel. Parece consigo mesma; em outras palavras, parece uma pessoa normal. Talvez ela não tenha mudado nada; talvez a mudança esteja no contexto. Ainda tem os mesmos olhos verdes, a mesma pele pálida, a mesma postura perfeitamente ereta...Mas há algo diferente nela, sim: agora há vincos junto a seus olhos e sua boca. Não são sinais de envelhecimento ou de passagem do tempo: são marcas da experiência, emoção, sofrimento e sabedoria. É uma dessas coisas que a gente detecta num piscar de olhos, mas não consegue apontar especificamente. 
(esse reencontro guarda muitos elementos em comum com algo que aconteceu comigo nos primeiros meses do ano.)

Também personagens mas com um peso menor:

Guy Periwinkle -  o Sebastian de 68 quando era agitador profissional. O amor de Faye.- Hoje um  publisher cínico e implacável. Joga o jogo.
Pwnage, jogador  épico de videogame, líder de um grupo de elfos  ao qual Samuel pertencia no jogo Mundo de Elfscape.
Alice, a moça de óculos grandes da capa do livro - agitadora profissional em 68 e amiga de Faye - mantinha uma relação sado-masô com - logo quem! - o policial Charlie Brown. Hoje vive com uma companheira à beira do lago Michigan, combatendo espécies vegetais invasoras no ambiente.
Charlie Brown - policial em Chicago em 68 - hoje respeitável juiz da cidade, sorteado para julgar Faye.
Bishop, irmão gêmeo de Bethany e amigo de Samuel na infância. Foi abusado sexualmente pelo diretor da escola em que os tres estudavam quando garotos. Virou um cara durão. Como marine se deu mal no Iraque
Laura Potsdam,  aluna de Samuel : a flor da vigarice. Acabou na política. Onde mais seria...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Na verdade, está todo mundo "se lixando" pro que é verdadeiro e falso.

Guy Periwinkle, o cínico mas realista editor de Samuel, conversando com ele a respeito do mundo em que vivemos:
- O que é verdadeiro? O que é falso? Caso ainda não tenha notado, devo lhe dizer que o mundo meio que abandonou o velho projeto iluminista de investigar a verdade por meio da observação direta dos fatos. A realidade é complicada demais, assustadora demais para isso. Em vez disso, é muito mais fácil ignorar os fatos que não se encaixem em nossas idéias preconcebidas e acreditar naqueles que se encaixam. Eu acredito no que eu acredito, e você acredita no que você acredita, e ficamos assim. É o encontro da tolerância liberal com o negacionismo obscurantista. Algo muito na moda hoje em dia.
- Isso parece horrível.
- Nunca fomos tão radicais em política, tão fundamentalistas em religião, tão rígidos em nossos pensamentos, tão incapazes de empatia. A forma como vemos o mundo, é totalizante e irredutível. Estamos evitando completamente os problemas  levantados pela diversidade e a comunicação global. Portanto ninguém mais se importa com idéias antiquadas como a distinção entre verdadeiro e falso. 
Nathan Hill, Nix,  Intrínseca, 2018.
 

Das - cada vez mais! - insuportáveis contradições da vida! (II)

Enquanto  dou piruetas existenciais para manter o prumo e superar  a dor de mais uma rejeição, recebo uma declaração de amor pelo telefone hoje pela manhã (...já suspeitava que havia  um interesse especial dela por mim). O grande, imenso problema é que - como em diversas outras vezes no passado - não sinto nada de especial por essa pessoa.
Ironia suprema ... a situação repete-se  toda vez que estou atordoado por mais um não que recebo da vida! Fico pensando ....  essa repetição reiterada  do paralelismo entre esses dois fatos não estaria querendo dizer: 
- Meu caro, a vida é a arte do desencontro!
Irei me conformar ou continuarei na batalha? Um dia, qualquer dia, talvez eu acerte...
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... a questão é que o tempo, mais e mais, fecha suas asas sombrias  sobre mim.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Devastadora...

a  análise do escritor, articulista e empreendedor social Jorge Maranhão  no 9o Ciclo de Palestras da Academia Brasileira de Letras cujo tema é o Barroquismo Brasileiro. É uma palestra de pouco mais de uma hora mas que vale a pena ouvir. Veja alguns trechos onde atribui ao barroquismo  nossa visão de mundo, nossa identidade, as contradições que nos jogam no impasse civilizatório que vivemos. Abaixo algumas mazelas que resultam da nossa visão barroca de mundo:
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a supremacia do processo sobre a finalidade,  do atributo sobre o ser, da figura do paradoxo sobre a sentença afirmativa, da ironia sobre o trato e da patranha sobre o contrato porque adoramos as contradições, o relativismo moral, o tom sempre exagerado com que colocamos nossas emoções em tudo. Nossa infinita paixão pelo errado, nossa tolerância para com a transgressão, nosso gosto pela farsa e pela burla pois de fato nunca fomos um país clássico no sentido iluminista como não somos de resto um país moderno. Se tanto somos emocionalmente românticos, que nada mais é que uma recidiva dos valores legados pela visão de mundo barroquista. Para não falar do país do carnaval ou da carnavalização geral do país 
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Não somos mesmo razoáveis, assim como não fomos temperados pela Renascença sequer nos bafejou a razoabilidade iluminista. A sensatez passa ao largo das nossas escolhas, adoramos a desmesura,  o trocadilho e a dubeidade,,  o jogo de palavras, o jogo de idéias, a farsa das narrativas, os meios tons de que somos feitos, pois até no pardo da pele somos pretos ou brancos na conveniência da vez
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Então é isso; estacionamos no Barroco, sem termos experimentado a Renascença. Modernos... nem pensar. Sequer fomos bafejados pelo  Iluminismo.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Colhendo do que se plantou.

Não sei se o Hélio Gurovitz é carioca, porque é difícil para para quase todos eles, alcançarem essa percepção, dada sua  autossuficiência e ausência de autocrítica. Entretanto, a conclusão da sua crônica para  Época de 10.12 em que faz a resenha e critica um livro sobre o nosso inefável Cabral é muito lúcida. No último parágrafo escreveu:
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O mais preocupante é outro encantamento, pouco explorado no livro: o transe hipnótico que toma conta da população do Rio, a credulidade no destino glorioso, nos milagres da natureza, na sorte grande, na esperteza que tudo resolve, num passe de mágica, qual um drone que vem do céu é extermina o crime e a corrupção.
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O título do livro comentado:
Se não fosse o Cabral - a máfia que destruiu o Rio e assalta o país.
Tom Cardoso, 
Tordesilhas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Tem jeito?

A Ermenegildo Zegna fechou suas lojas no Rio de Janeiro (já foram duas) por uma boa razão:falta de clientes. Mais especificamente 25.
As filiais eram sustentadas basicamente por 25 fregueses. Só que, desse total, 23 foram arrolados ou presos na Lava-Jato na contabilidade da grife italiana.

Lauro Jardim em sua coluna de O Globo de ontem.

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Fui ontem com um colega à Igrejinha - é Basílica! - da Penha. Depois da missa para voltarmos para a Zona Sul tentamos um Uber sem sucesso. Optamos pelo BRT, mas desistimos e acabamos apanhando um táxi até a estação Vicente de Carvalho do metrô.
Na bilheteria da estação do BRT, após termos desistido de comprar a passagem,  fomos abordados por uma usuária que nos aconselhou a que entrássemos sem pagar  - afinal não há controle no acesso. Estranhou que quiséssemos fazê-lo, e arrematou:
- Aqui  ninguém paga. Todos entram direto no ônibus.

Os "turbulentos" anos 50!

A gestação do que viria a acontecer nos 60,70,80...


Os "doces" anos 50 (II)




Os "doces" anos 50 (I)


sábado, 1 de dezembro de 2018

A vida é bela!

diálogo entre Samuel - o nosso herói - e seu editor Periwinkle. A primeira frase é de Samuel.
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- Qual é a grande lição de vida do livro de Molly Miller?
- Simples: A vida é ótima!
- Bem é fácil para ela dizer isso. Nasceu rica. Escolas chiques no Upper East Side. Bilionária aos 22 anos.
- Você ficaria surpreso com a quantidade de fatos que as pessoas estão dispostas a ignorar para acreditarem que a vida é, de fato, ótima.
- A vida não é nem um pouco ótima.
- E é por isso que precisamos de Molly Miller. O país está ruindo ao nosso redor. Isso está claro até mesmo para a multidão distraída, até mesmo para os eleitores desinformados e indecisos. Está ruindo na nossa frente. As pessoas estão perdendo emprego, as aposentadorias desaparecem da noite para o dia, elas recebem extratos mostrando uma defasagem de dez por cento pelo sexto trimestre consecutivo, suas casas valem a metade do que pagaram por elas, seus chefes não conseguem um empréstimo para fechar a folha de pagamento, Washington é um circo, mas suas casas estão cheias de itens tecnológicos interessantes e elas olham a tela do celular e dizem: "Como é possível que um mundo capaz de produzir coisas tão legais seja uma merda tão grande?" 
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Nathan Hill,  Nix , Perspectiva, 2018

O que nos faz humanos.

Para além da óbvia e manjadérrima  razão - vem lá da Grécia! - penso que a ética também. Somos humanos porque temos a opção e a possibilidade de  sermos  éticos. Alguém conhece alguma outra criatura que tenha essa possibilidade? Desperdiçada na maioria das vezes. No Brasil, pelo menos...
Pois lendo João Pereira Coutinho ontem na Folha, descobri mais uma - notável, diga-se de passagem.

 - ....é a imperfeição que nos torna humanos, ou seja, despertos para a compaixão, para o amor, para o riso ou para as lágrimas.

Leia o artigo para saber como Frankstein era humano, demasiadamente humano.