quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sai cachorro desse mato...

...chamado Brasil?
Com o André Fufuca  como Presidente da Câmara de Deputados, nenhuma chance. Prá piorar, ouvi em algum lugar, que ele chamava o príncipe dos ladrões, Eduardo Cunha, de papi. Ai, Jesus!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Panorama visto da ponte

Na feliz expressão de Josias de Souza no seu blog da UOL, saimos do caos (governo Dilma e a quadrilha petista do atraso) para o pântano (governo  Temer e a quadrilha peemedebista, há muito, tida  e havida como a vanguarda do atraso).
Caso o pântano não produza alguma flor - difícil! -  a ameaça nada desprezível é o retorno ao caos em 2018.
Haja fôlego!

O lugar de fala

Interessantíssimo  esse artigo do Sérgio Rodrigues para a Folha: Chico e os nazistas: o papo nas redes tem feito pouco sentido, onde ele desce o malho na pobreza do debate cultural atual. Lá pelas tantas ele se refere - com pouca simpatia, diga-se de passagem - à  expressão lugar de fala, conceito usado com frequência pelos militantes das políticas de gênero, nossos mudernos libertários, figurinhas carimbadas no circuito das artes, das ciências humanas, da psiquiatria e - bien sur - na redação dos jornais. 
Tomei contato com essa expressão num artigo marcado por uma linguagem de gueto,  de uma militante feminista afro-descendente - prá não ser processado! - e de uma entrevista da Fernandinha Montenegro em que entre outras coisas fazia uma autocrítica de um artigo - muito bom diga-se de passagem -  que lhe custou um desses linchamentos virtuais feito pela tropa de choque feminista. Ela rendeu-se para a turma do desvario - uma pena! -  e usou entre outras expressões - o lugar de fala -  para justificar sua capitulação. 
Corri atrás para descobrir a gênese do enunciado. Pelo que depreendi nasceu do pós-estruturalismo, que recusa a idéia filosófica clássica de verdades únicas e de objetividade. Pulei da cadeira, mas vamos dar um crédito e ver onde essa turma quer chegar.
De acordo com Rosane Borges, ativista de relações de gênero, lugar de fala é a posição de onde olho para o mundo para então intervir nele. Até aí tudo bem. Então começam a aparecer as incongruências: do ponto de vista da legitimidade do discurso e da fala quem sofre na própria pele pode falar de si, segundo Rosane, que continua : ... a idéia de sujeito universal está em pleno desgaste. Na verdade esse sujeito ruiu e o que surge na disputas das  lutas ideológicas são vários sujeitos. Portanto o lugar de fala é muito importante, porque é ele quem diz quais são  os posicionamentos desses  sujeitos. E ela continua : A confusão acerca do lugar de fala acontece porque o conceito tem sido correlacionado com representação (.......) São duas coisas diferentes. As discussões estão muito inflamadas porque, normalmente, confundimos o que é representação e o que é lugar de falar, ou seja, uma pessoa branca jamais pode representar uma pessoa negra, mas repito, do lugar de fala pelo qual ela vê o mundo, espera-se que ela assuma a questão ética relacionada a discriminação e ao racismo.
Há muitas cascas de banana nesse discurso para quem teve uma formação clássica. Renan Quinalha, advogado ativista dos direitos humanos mostra uma delas: A ideia de lugar de fala pressupõe uma coerência ou continuidade entre o lugar e a fala. É como se uma pessoa posicionada de determinado modo na realidade tenha que corresponder à determinada expectativa para veicular determinado discurso. Mais: como se tivesse, normativamente, um único discurso possível de ser enunciado daquele lugar determinado. No entanto, tem-se notado que a autenticidade de um sofrimento não tem por consequência a autoridade política de fala. Pablo Ortellado, filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da USP vê paradoxos nesse discurso. Um deles: (...) o lugar de fala indiretamente reforça na esquerda os argumentos “ad hominem”, interrompendo uma tradição progressista de racionalismo esclarecido. Os argumentos “ad hominem” são falácias condenadas desde a antiguidade clássica porque desqualificam quem fala para não precisar discutir o teor do que diz o adversário. Quando o movimento social condena discursos sobre a opressão que não são enunciados pelos próprios oprimidos, de certa maneira ele resgata e legitima uma modalidade de argumento ad hominem.
Minha formação com  background clássico leva-me a concluir que o conceito é um namoro perigoso com a relatividade dos discursos. A negação dos universais nos leva a um beco sem saída epistemológico. A história da filosofia está cheia desses exemplos: os sofistas na Idade Antiga, os nominalistas na Idade Média. Relacionar verdade com posição do observador fica mais adequado para a mecânica quântica do que para ciências ditas humanas e do comportamento. Na minha modesta opinião, a verdade só seria alcançável se pudéssemos ver a realidade de todos os ângulos, tarefa impossível, ao menos por hora.
Enfim... continuaremos discutindo sobre qual  é a melhor visada. Nos dias que correm a opinião da turma que defende as políticas de gênero parece ganhar corpo. Não passa de perigoso retrocesso.
PS - As citações foram extraídas do artigo O que é lugar de fala e como ele é aplicado no debate público do site Geledes.

..... e prá não deixar a peteca cair....

uma das brigadas dos nossos ativistas de gênero, a das feministas não poupou sequer Chico Buarque, tido e havido pelos nossos mudernos e periferia como  profundo conhecedor  da alma feminina. Tascaram-lhe a pecha de machista em razão dos versos:

Quando teu coração suplicar,
Ou quando teu capricho exigir, 
Largo mulher e filhos
E de joelhos vou te seguir.

da canção Tua cantiga do álbum Caravanas recém lançado.
Querem mais exemplos? Há dias li por aí uma queixa das mulheres a respeito das poucas oportunidades dadas a elas nas cozinhas dos chefs. Caramba! até pouco tempo queixavam-se de que as tarefas de cozinhar e lavar roupa que as estigmatizava eram a marca registrada de opressão masculina.
Vou encerrar com o que video que assisti em um desses jornais vespertinos da TV onde foi exibido um bate-boca entre os senadores Marta Suplicy e Lindemberg Farias, em uma comissão do Senado. Lindemberg tentava educadamente colocar uma questão de ordem - sim, ele é capaz disso! - a Marta que presidia a sessão. Depois de inúmeras negativas para conceder-lhe  a palavra, Marta encerrou a querela chamando-o de machista. Simples assim.

É muita paranóia. Beira a histeria.


sábado, 26 de agosto de 2017

Ruína civilizatória.

Ouço no rádio que dos 125 dias de aula deste ano letivo, apenas em 8 deles todas as escolas municipais do Rio de Janeiro cumpriram sua função integralmente. Nos demais, os tiroteios e as ordens  da bandidagem dona do pedaço impediram que isso acontecesse. 

Escracho

As imagens mostradas nos jornais televisivos de ontem, daqueles políticos do Mato Grosso metendo a mão na bufunfa,  é o retrato acabado do beco sem saída em que nos metemos como projeto civilizatório. Toda a decadência do ser humano estava traduzida naqueles olhos ávidos, naquelas expressões faciais de ganância e cupidez daqueles engravatados e distinta senhora ao receberem maços e mais maços de dinheiro. A distinta senhora superou-se. Queria porque queria mais, insistindo junto ao corruptor para que avançasse na divisão do butim sobre as parcelas dos outros integrantes da quadrilha. Até aceitava cheque!
Adoraria saber como essas criaturas se justificaram perante os filhos que porventura tenham visto essas cenas deprimentes.

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PS - Os advogados desses quadrilheiros devem estar arquitetando narrativas para tentar provar que nada de ilegal aconteceu ali. Afinal, para que servem mesmo os advogados?

Vida reclusa

Para fechar a trilogia sobre minhas idiossincrasias, um insight que já se insinuava fazia tempo nas minhas análises interiores, e que a leitura de um artigo do J. P. Coutinho na Folha - '13 Reasons Why' é pobre como drama porque é literal e pedagógico -  fez com que se tornasse evidência.  Como a adolescente da série sofrí bullying na minha adolescência. Interno num seminário com cerca de 300 alunos, divididos em maiores (os mais velhos) e menores (os mais novos), minha pouca idade colocou-me no último grupo onde sofrí horrores na mão de alguns dos maiores - os donos do pedaço. Esses caras despertam em mim tamanho asco até hoje  que se os encontrasse - não sei se os reconheceria - certamente partiria para a agressão verbal com grandes chances de acabar num confronto físico. 
A garota suicidou-se. Eu  me afastei do mundo e das pessoas. Vivo recluso até hoje.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O que dá sentido à vida.

O artigo do Marcelo Gleiser sobre as origens do universo - Do mito à ciência: Será que podemos entender a origem de todas as coisas? - abre a oportunidade prá que fale de outra das minhas idiossincrasias, expostas em Quem sou eu, onde confesso meu desencanto em viver em um universo carente de sentido.
Ao final do artigo, depois de se confessar impotente com as ferramentas que a física dispõe para decifrar esse enigma, e sentindo a necessidade de uma metaciência - prá minha felicidade de metafísico - Marcelo cita Tom Stoppard: o que dá sentido à vida é o querer saber.
Para um buscador de sentido como eu, um achado! Vou incorporá-lo aos outros dois que descobri ao longo da minha peregrinação de 65 anos por essa vida: afeto e beleza.
Pelos três, viverei! 

domingo, 13 de agosto de 2017

O homem só

 Pensando nas misteriosas influências que nos fazem ser o que somos, da loteria do DNA à escolha dos caminhos, dos afetos e dos empregos, passando pelos vizinhos, namoradas, família, heróis da infância e da vida adulta, azares e acasos, olho para trás tentando localizar alguns pontos de impacto –os instantes realmente marcantes que parecem mudar o nosso rumo. É uma tarefa impossível, porque somos parte interessada demais. Mas, afinal, somos mesmo feitos de tarefas impossíveis, e aí é que está a graça.
A primeira sensação é a de que fui feito de leituras, o que é obviamente uma mentira, se fosse para dar um peso moral a este primeiro erro de avaliação. A leitura é uma duplicação de um confuso mundo pré-existente, o qual, quando se lê e se escreve, tenta-se retificar e ratificar –chegamos à palavra escrita já cheios de vontades e escolhas, mais como um engenheiro curioso numa quadra de entulhos do que como uma vítima ingênua na escuridão. 
O momento histórico é especialmente importante, a barulhada em torno, e isso independe de nós. E a idade pesa –gostamos tanto de ordenação que nos imaginamos formatados em décadas, pessoas de proveta, um ser diferente por decanato. Não se reage do mesmo modo em tempos diferentes (embora muitas pessoas se jactem de ser sempre as mesmas, como quem faz praça da própria estátua). E há, ainda, a insídia da emoção, que nos cega e justifica.
"É cousa demais", como se dizia antigamente. Baixando a bola, fiquemos nas leituras. Como um bom sessentão, tive formação iluminista, o otimismo pós-Segunda Guerra. Tudo pode ser racionalizado, a inteligência é o valor supremo, a clareza e a nitidez são entidades éticas e o mundo só anda para a frente.
Uma mistura de Sherlock Holmes, o herói de Conan Doyle –os sinais do crime estão à vista, basta cabeça fria para revelá-los–, e de Júlio Verne, com a boa crença na ciência e a desconfiança do mal, que existe e deve ser combatido; e os finais são felizes. Cresci na atmosfera laica de um mundo que, enquanto arrastava seu passado sinistro e glorioso, tentava inventar um novo futuro, o que realmente aconteceu, na fratura geral dos anos 1960.
Cria daquele tempo, exatamente ali me reconheço. Como diz a célebre citação de William Faulkner (1897-1962), o passado não está morto; aliás, nem mesmo é passado. Como um louco circular, retorno sempre àquele ponto cego, atrás de uma chave-mestra.
Porque havia duas, incompatíveis: "Cem Anos de Solidão", a "Ilíada" da América Latina inventada por Gabriel García Márquez (1927-2014), nos dizia que a história era um ser vivo, fatal e inexorável como os deuses gregos, e que homens, árvores, nuvens e borboletas giram sob leis poéticas e transcendentes inacessíveis ao gesto humano, e é nesta entrega ao tempo que reside a surda beleza que nos cabe. 
A outra chave surgiu inteira deslocada e contraditória, e no entanto me pegou, no instante exato, as variáveis todas conjuminadas num belo e irresistível eclipse total: adolescente, anos 1960, contra os grilhões da família e a hipocrisia da sociedade, e sob influência de um guru barbudo, W. Rio Apa (1925-2016), que, num projeto mais emocional que intelectual, passou boa parte da vida tentando conciliar Nietzsche com Rousseau (o que, pensando bem, é um retrato do presente), mais a sombra do teatro como o caminho possível da libertação pessoal –e eis que me caem nas mãos as peças do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906).
Ibsen é um monstro que inventou a dramaturgia moderna. Dos confins da Noruega, criou uma obra que empalideceu automaticamente todo o teatro que se fazia no século 19. Para mim, uma peça foi especial: "Um Inimigo do Povo". Resumindo: um homem descobre que as águas da cidade estão poluídas, mas a cidade depende comercialmente delas para sobreviver. 
Na luta por denunciar o crime, acaba ficando contra todos. Ele resiste, e uma frase me bateu na cabeça: o homem mais forte é o homem mais só. Naquele momento, isso era tudo que eu queria ouvir. Até hoje gosto de acreditar que ela me livrou, com um toque quase aristocrático, do rebanho. O que é engraçado para alguém que, como eu, vê numa roda de amigos bebendo cerveja uma das faces mais concretas da felicidade.

Cristóvão Tezza, Folha, 13.08.2017

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Solidão é uma questão que me toca profundamente. Lembro de uma mulher com quem me envolvi no passado ter-me feito a observação: Você é tão só. Mulheres não apreciam solitários, o que nos coloca em flagrante desvantagem frente a  concorrência. Mantenedoras da espécie preferem machos integrados ao grupo, uma garantia maior para a prole. 
Mas... há que se considerar o que escreve o Cristóvão: solidão é para os fortes. É fato! Custa  caro manter-se no prumo, de pé quando só. É investimento pesado. Vive-se em condições anóxicas de afeto,  combustível essencial para uma vida bem vivida.  Não há ombro amigo, refúgio seguro, enseada protegida, saia da mãe. É você com você, em eterna vigília. 
O solitário é um borderline. Brinca sobre o abismo, negocia com a loucura diariamente. Não por acaso,  serial killers são pessoas solitárias, anti-sociais. A cada crime cometido por um eles, a inquietação se apossa de mim: Pode acontecer comigo!
Entretanto, ser um velho lobo que nunca andou em bando - está lá em Quem sou eu - tem  suas alegrias. Cristóvão fala em não fazer parte do rebanho. Como sou um velho lobo, referencio-me  a bando. É menos elegante mas estou mais para bicho-do-mato do que para ovelha. Se rebanho ou bando,  dá um orgulho, uma satisfação imensa não fazer parte deles, ainda mais nos dias que vivemos. Olho ao redor e vejo uma hecatombe, com uma malta de cínicos e desqualificados dando as cartas, tentando nos dizer de que lado o vento sopra. Não prá cima de mim!
Como o (anti)-herói de o Inimigo do Povo, sou e sempre fui um resistente. Devo confessar, entretanto, que estou cansado. Matar um leão todo o dia, é para os fortes. Eu não sou tão forte assim.

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Afora as qualidades literárias -  sou um pigmeu perto dele -  tenho muito em comum com o Cristóvão. Somos sessentões, adolescentes na década de 60, que ele considera uma fratura;  eu diria que foi o início da fratura que se abriu de fato na década de 90.
Embora ele não seja simpático à expressão - homem feito de leituras - sou um deles, no sentido de que, introspectivo, sempre amei mais os livros do que a ação. Um teórico mais do que um experimental. No campo das idéias, ele foi educado numa atmosfera laica e iluminista, eu, em atmosfera religiosa,  iniciado na metafísica de gregos e escolásticos. Embora a clivagem divina das minhas fontes, criei um background fundado no senhorio da razão. Entretanto, dois irracionalistas: Dostoievski e Sartre, vieram bagunçar minhas certezas metafísicas e colocaram na minha agenda, o homem trágico e angustiado. Freud foi a pá de cal. Como sou ponto fora da reta mesmo, das grandes modas da minha geração:  Nietzche, Foucault, Deleuze, só conheço um pouco de Foucault. Vem daí que sou um homem inatual, parafraseando Nélson Rodrigues.
Não me arrependo. O século XX não fez muito pela filosofia, afora o existencialismo e a escola de Frankfurt. As ditas ciências humanas perderam... e muito! para as exatas. Os velhos filósofos produziram caldos bem mais consistentes. A metafísica sossobrou frente a física.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Esse foi grande!

Enfim alguém com pedigree para salvar essa minha geração que fracassou na política.
Ambos nascemos em 1951. Eu continuo na batalha, ele se foi no sábado aos 66 anos.
O negão era dos bons; comprou  briga com o mainstream. A indústria do entretenimento, porém, cobrou seu preço e o pôs a margem.
Fica em paz onde estiveres, negro gato! 



Salmos 143;4

O homem é como um sopro; seus dias como a sombra que passa.

(Da lembrancinha impressa para marcar a morte do meu pai - 29.04.1998)