terça-feira, 20 de junho de 2017

Truculência, intolerância, cafajestada....(2)

João Pereira Coutinho escreve na Folha de hoje, como Tim Farron, lider do Partido Liberal-Democrata inglês acabou sua carreira pelo fato de como cristão evangélico, ser contra o aborto e considerar o homossexualismo um pecado. Os mudernos ingleses só descansaram quando arruinaram sua carreira. Logo essa turma que exige tolerância acima de tudo! Para quem pensa como eles, certamente...

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Eis a suprema perversão do liberalismo moderno. Tempos houve em que a proposta liberal procurava separar a política da religião. Não cabe ao Estado legislar sobre a alma dos homens, escrevia John Locke. Em matérias de consciência, o indivíduo é soberano. De igual forma, não cabe à alma dos homens determinar os destinos da "polis".

Hoje, o caso de Tim Farron apenas mostra como o liberalismo moderno se transformou numa forma de religião. E de inquisição: quem discorda da cartilha é um herege que merece a fogueira das vaidades progressistas. A política não é uma arena de consensos entre visões distintas do bem comum. É um tribunal onde os pecadores devem confessar os seus crimes (de joelhos) e abraçar a Verdade (com maiúscula).

O problema desta visão medieval das coisas não está apenas na "intolerância" que ela revela. Muito menos na quantidade de "homens vazios" que ela promove: criaturas destituídas de qualquer vida interior, que debitam como se fossem robôs o "software" da moda.

O problema é mais vasto: aqueles que destroem a consciência individual em nome do "bem coletivo" estão a destruir a última barreira contra o poder arbitrário. Uma barreira de que eles podem precisar um dia se o pêndulo do fanatismo mudar de direção.



domingo, 18 de junho de 2017

Faroeste

A cerca de 20 anos atrás,  lí um artigo - acho que no extinto Jornal do Brasil - de alguém que havia recém regressado dos Estados Unidos depois de muitos anos por lá. Achou o Brasil  um faroeste. Gostei tanto que o guardei em papel pois a Internet era coisa do Exército Americano naquela época. Um dia ainda o encontro.
Gostaria de ler o que escreveria da atual situação do país. Com a declaração do Joesley Batista para a Época dessa semana, de que  Temer - Presidente desta Sereníssima  República! - é chefe de quadrilha somadas às citações da PGR de que Lula - ex-presidente da República! - também é chefe de quadrilha, que Cabral, o nosso ex-governador, chefiava uma organização criminosa no Estado, e com as fortes evidências de que Aécio Neves - candidato à Presidência da República pela oposição nas últimas eleições -   também é um honorável capo chega-se facilmente à conclusão que o país está infestado por quadrilhas dos mais variados matizes ideológicos. É  faroeste em estado bruto, com os bandidos dando de goleada no mocinho.
Tombstone City perde! Aliás, o pessoal de House of Cards em  post, avisou que desistiu de competir.
Como criança recitava ufanista os versos de Olavo Bilac: Não verás país nenhum como esse !
De fato, não há nada parecido com a corrupção que corroe as entranhas da nossa sociedade, nem com a desfaçatez dos bem-nascidos e bem-pensantes.
E nós, os pagadores de impostos, assinando a fatura.

Truculência, intolerância, cafajestada...

Ví um video em que um militante de esquerda molesta um jornalista da Globo no aeroporto (Alexandre Garcia). Há poucos dias um grupo de petistas que participaram do congresso do partido em Brasilia,  tinham feito o mesmo com outra jornalista (Miriam Leitão) da mesma organização. A atitude já é asquerosa de per si, porque o cara era cínico e debochado mas ouvir a ladainha de impropérios do rapaz era um suplício à inteligência e racionalidade. Lá pelas tantas mostrou-se defensor de gays, mulheres e negros, autoproclamados vítimas maiores da intolerância da sociedade, ele próprio numa atitude de intolerância rasa. O princípio da contradição, entretanto, deve ser  de difícil inteligibilidade para um militante, de qualquer matiz ideológico, diga-se de passagem.
Atitudes truculentas de militantes, conheço desde a infância. Sempre as ví partindo da esquerda. Na distante década de 60, elas eram comuns entre brizolistas que criaram células chamadas de  Grupo dos 11 (Gr-11) com lendas ou não, associadas a ações truculentas. Foram extintas com a Revolução de 64. Há muitos anos, no Rio presenciei a ação de uma tropa de choque, possivelmente com matriz brizolista - nessa época Brizola morava no Rio -  molestando o falecido governador Mário Covas na saída da Assembléia Legislativa da cidade. A agressividade assustava. Mário Covas passou com cara de paisagem. Incrível o comportamento dele. Haja disciplina para guentar na marra tanta provocação.
Os petistas que são primo-irmãos dos brizolistas herdaram o triste hábito. Há poucos dias, em um grupo de Rede Social, que discute apenas futebol, esse clima de intolerância que vige na política ameaçou se insinuar. Partiu de um militante de esquerda, per supuesto. Um dos integrantes com quem tenho divergências políticas passou a usá-las para desqualificar meus argumentos restritos exclusivamente ao futebol com aquele tratamento especial que só eles sabem usar. Reagí. Obriguei-me a sair do grupo para evitar um desconforto maior entre os participantes. Ele se foi também.
Com esse pessoal funciona assim. Ou você está a favor das causas democráticas, populares e progressistas ou é coxinha, reacionário, machista, homofóbico e por aí vai. Não se discutem idéias jamais. Parte-se imediatamente para a desqualificação do opositor. Desconhece-se que entre 8 e 80 há 72 diferentes maneiras de ver o mundo. Se você não baixar a guarda o enredo final pode ser a pancadaria que pode começar verbal e terminar física. São incapazes de conviver com a diferença, eles próprios defensores dos grupos que a pregam. São pobres em tudo e por tudo. Muito mais pobres daqueles que dizem defender. Esses, pelo menos em sua maioria, tem dignidade.

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Não quero atribuir apenas a esquerda esse tipo de atitude. Minha experiência pessoal é com eles. Acontecem na direita mais extremada, particularmente em outros países. As brigadas fascistas são um exemplo do passado. No Brasil, na história recente, entretanto, eles parecem ser primazia de grupos de esquerda. Talvez com Bolsonaro e sua turma a direita encontre seu lugar ao sol nessa área. É uma atitude comum aos extremos do espectro político, normalmente associada a regimes totalitários; fascismo, nazismo, comunismo. Prova inconteste de que os extremos  se tocam. Porisso, prefiro o meio. Afinal, diziam os latinos: In medio, stat virtus.

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Usei direita e esquerda aqui sem aspas, mas  essa clivagem - particularmente hoje -  está ficando demodé. Em particular em Pindorama, onde ambas assaltam o Estado - leia-se eu, você, nós, os contribuintes - sem a menor cerimônia.
Precisamos de novos rumos para nosso país fora dessa camisa de força que balizou o debate no século XX. Emmanuel Macron e seu La République en Marche, estão nos indicando o caminho. Temo, entretanto, que só sairemos desse atoleiro, com uma solução verde-amarela, que necessarioamente terá que passar por  cachaça, samba e mulata misturados. Nosso imaginário e nossa história, tem pouco a ver com Liberté, Egalité, Fraternité, queijos e vinhos.


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Réquiem ...

... para a Nova República, para o TSE e para o PSDB.

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Para os primeiros decretou-o o Ministro Herman Benjamin quando pronunciou seu voto na farsa que foi a sessão do TSE que inocentou a chapa Dilma-Temer por excesso de provas : Eu, como juiz, me recuso a fazer o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar do velório, mas não carrego o caixão.

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Quanto ao último, ao invés de ouvir a voz da rua, preferiu o abraço de afogados com o - resumo de tudo o que está aí - PMDB na decisão tomada quando da última reunião de sua executiva. Abaixo, dois textos pertinentes a respeito dos motivos que levaram à formação desse partido, comparando aquela situação e a atual diante da equivocada decisão. Além da compostura, perderam a memória.

Angustiado” com a crise econômica, “descrente de partidos políticos que não correspondem ao voto de confiança recebido do eleitorado” e “chocado com o espetáculo do fisiologismo político e da corrupção impune”, um grupo de peemedebistas formou um novo partido. Faz 29 anos. Com essas expressões de indignação em seu manifesto de fundação, nascia o PSDB, com a promessa de ser a antítese do governo José Sarney — hoje um dos maiores aliados de Michel Temer.
Lydia Medeiros - O Globo, 13.06.2017
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No seu mito de criação, o PSDB pariu-se como costela limpinha do PMDB. Na realidade de hoje, os tucanos podem acabar como a costela roída pelos dentes podres do PMDB.
Vinicius Torre Freire - Folha, 11.06.2016



Folha, 15.06.2017

domingo, 11 de junho de 2017

Na sexta, o país dançou...

... e dançou feio. Mas há de chegar o dia em que a corja vai dançar também.
Mariliz Pereira Jorge, Folha, 10.07.2014
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Não sou um otimista, ainda mais tratando-se do ser humano mas vá lá...Deus te ouça! Mariliz.

Dois homens dignos...

... em meio aos escombros da minha geração que foi tragada pelo sistema, rebatizado como mecanismo  por José Padilha em artigo para o O Globo que circulou muito pelas redes sociais. Justo  ela que com sua proposta de contracultura colocou esse conceito na berlinda. Ironias da história...

Ministro Herman Benjamim
Ex-Secretário de Estado e ex-Diretor do FBI  James Comey

domingo, 4 de junho de 2017

Insanidade a níveis intoleráveis em dois episódios..

Neste salvou-se a Prefeita de Paris.
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A Prefeitura de Paris proibiu um festival feminista em julho. Erro meu. O festival não é apenas feminista. É negro e feminista. Motivo?
Discriminação. No referido festival existem espaços não autorizados a brancos. Para Anne Hidalgo, a prefeita, o caso é intolerável. E várias organizações que lutam pelos direitos dos negros condenaram o racismo óbvio dos organizadores. O que diria o mundo, a começar pelo mundo negro, se houvesse um festival só reservado a brancos?
A resposta foi dada pela jornalista Charlie Brinkhurst-Cuff no "The Guardian": a comparação não faz sentido, diz ela. Quando os brancos se reúnem em espaços exclusivos, isso representa "preconceito" e "superioridade étnica". Quando o mesmo é praticado por negros, isso é partilha de um sofrimento comum. No caso, o sofrimento dos negros às mãos dos brancos. 
João Pereira Coutinho, UOL, 02.06.2017 

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Já no segundo, a polêmica ainda corre solta no NYT.
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Não é todos os dias que um ensaio filosófico inicia uma polêmica na mídia. Aconteceu.
A professora Rebecca Tuvel escreveu na revista Hypatia  um artigo sobre o transracialismo (In Defense of Transracialism ). Explico: será que ser negro é apenas uma questão de ancestralidade ou de pigmentação da pele? Ou qualquer um pode reclamar-se como negro?
A título de exemplo, a prof. Tuvel relembra a odisseia de Rachel Dolezal, a ativista americana dos direitos dos negros que sempre se apresentou como negra –e que foi denunciada pelos pais (ambos brancos) como uma farsante.
Ninguém gostou, muito menos a comunidade negra que acusou Dolezal de loucura, desrespeito, oportunismo. Em sua defesa, Dolezal afirmou que a negritude não é uma questão hereditária ou biológica. É uma questão mental, emocional, existencial. E cultural: ela, branca, via-se como negra. E como negra desejava ser tratada.
Para a prof. Tuvel, as reivindicações dos transracialistas devem ser respeitadas. Exatamente como respeitamos a comunidade transgênero na luta contra o preconceito. Não é legítimo condenar Rachel Dolezal e aplaudir Caitlyn Jenner. 

 João Pereira Coutinho, Folha , 23.05.2017

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Eles, sempre eles.


O advogado atende um cliente que paga em cash. O advogado recolhe, passa o recibo, recolhe imposto pertinente. Ele tem que ficar perguntando para o cliente de onde veio o dinheiro?

(Torquato Jardim, novo ministro da Justiça em entrevista a Camila Bonfim no Jornal Nacional.)

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Pois é, doutor, se fosse prática generalizada haveria muito advogado desempregado, e muita escola de Direito fecharia suas portas.
Pensando bem... até que não seria uma má idéia.